Pedro
Israel Novaes de Almeida
Escrever é bem mais complicado e
consequente que falar.
Contratos e acordos, ultrapassada a
tênue e incerta credibilidade da antiga
“palavra empenhada”, são escritos, com direito a testemunhas, garantias
e registro. Há escritos de toda ordem, comerciais, literários, científicos,
opinativos, poéticos, narradores, etc.
Há arranjadores de textos, comuns
nas redações de jornais e revistas, que partem de fragmentos de notícias e
opiniões para a elaboração do texto final.
Tornam a informação mais completa e compacta.
Há penas de aluguel, que geram
textos sob encomenda de terceiros, interessados comercial, política ou
pessoalmente nas repercuções das obras. Quando tais textos visam desmerecer
pessoas ou demolir conceitos, os autores podem ser comparados a mercenários da
escrita.
Escrever pode significar meio de
sobrevivência, forma de colaboração ou simplesmente deleite, quase necessidade
pessoal. Cento e dez por cento dos textos publicados são oriundos de autores
não remunerados, que escrevem por necessidade de foro íntimo, seja prazer ou
compartilhamento de idéias.
Escrever com regularidade retarda a
ferrugem cerebral e fustiga a criatividade, obrigando ao raciocínio. O primeiro
beneficiário da escrita é o próprio autor.
A elaboração de textos segue o ritmo
e o rumo das idéias, e não é raro alguém sentar-se ao teclado com ânimo de
condenar algo e terminar por apoiá-lo. Existe entre nós o falso conceito de que
o rebusque valoriza o texto. É fácil escrever difícil, e é difícil escrever com
simplicidade e acerto.
A escrita começa pela leitura, hoje
pouco praticada. As frases escritas estão sendo substituídas por torpedos e as
palavras transformadas em abreviações enigmáticas.
A pirataria via internet dissemina
livros e tratados, tornando milagrosa a sobrevivência de autores, hoje forçados
à busca de patrocínios ou venda quase circense de palestras e participação em
debates. A boa nova fica por conta da progressiva diminuição do preço do livro
impresso.
Autores de livros didáticos
tornam-se cada vez mais raros, pela disseminação de apostilas,
generalizadamente adotadas. A onda já ameaça o ensino superior.
Apesar dos novos tempos, a escrita
continua reunindo adeptos, atraindo leitores, incentivando debates e
disseminando culturas. Em tempos de liberdade, escrever é documentar um momento
da história, materializar opiniões, críticas e sensações.
Não é verdade que, enquanto houver
leitor, haverá alguém escrevendo. Findos os leitores, continua a escrita, até
que alguém, no futuro, a descubra, no fundo solitário de uma gaveta qualquer.
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