Maria Cecilia Graner Fessel
Os
balões coloridos que sobraram da festa da menina estavam lá pendurados,
murchando tristemente nas paredes, onde tantos risos e gritos infantis haviam
ecoado há pouco. A tarde que terminava ainda exibia aquela luminosidade quase
branca que me ofuscava os olhos, o azul do céu decorado com algumas nuvens da
cor de sorvetes de limão em formato de
cavalos, cabeças de cão e de gigantes, ou o que mais a imaginação dissesse que
eram.
Então
a mãe da garotinha, ainda radiante com o aniversário da filha, juntou os balões
em duas longas tiras de barbante e correu para a área aberta entre os prédios,
perseguida pelas crianças e pelo pai da aniversariante com sua máquina fotográfica.
Corremos
para lá também, pois a cena tinha um quê de mágico e irresistível.
Ficamos
a nos divertir com os volteios e corridas dos pequenos , arrastando os cordões
de bexigas lilazes, azuis, vermelhas, róseas, que saltavam pelo piso, davam
súbitos arrancos para o ar, enrolavam-se nos seus braços e pernas em
entusiasmada evolução.
De repente, uma súbita rajada de vento invadiu
o local, quase como se tivesse sido atraída pela pura alegria daquele momento e
quisesse dele participar. Num rodamoinho, fez os balões girarem em círculos,
rolando-os de lá para cá, erguendo-os do chão e logo trazendo-os de volta para
colearem como cobras coloridas no solo, levando as crianças a darem pulinhos
para não pisar nas bolas meio flutuantes, num prazer intenso e imprevisto .
Mas
a lufada de vento logo foi erguendo egoistamente as leves fieiras, de certo
para poder brincar sozinha com elas, e acabou arrebatando-as em volteios cada
vez mais altos, mais altos, em direção às nuvens salpicadas no anil.
Ficamos
então ali quietos, a olhar longamente os balões se elevando e se afastando de
nós, querendo assim guardar para sempre,
não apenas aquela cena na memória, mas especialmente a sensação da
alegria perfeita e da pura harmonia que
nos uniu naquele instante.
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