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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

AS VOZES DA FLORESTA


Lino Vitti

Na longínqua infância, nascido em paragens roceiras, bebendo a saúde dos ares campesinos, tostando a epiderme frontal sob os raios intensos do sol, ouvindo os hinos alados da passarada silvestre, contemplando o colorido das flores tropicais, atento a todos os rumores da floresta virgem, costumava eu penetrar esse templo verde da criação, quiçá para satisfazer os nascentes pendores poéticos que evoluiriam até os dias de hoje navegados no barco de 90 anos, longo prêmio de vida de que sou grato a Deus.
Só quem, como eu, tiver essa felicidade, entenderá quão maravilhosa é a contextura de vozes e sons que a floresta reserva para aqueles que saibam ir até ela para ouvir-lhe os segredos, os rumores multiplicados, as vozes intensas ou sussurradas que ela guarda para quem a ama, para quem a compreende, para quem a quer decifrar e a busca com esse intento encantador e feliz.
Prestemos atenção, calemo-nos porque amanhece e a floresta desperta e a vida animal da floresta acorda, cheia de saudações e cumprimentos ao deus sol que se compraz em enviezar seus raios por entre a folhagem onde dormiram o sono da beleza florestal, aves, animais, insetos, embalado pela suavidade da brisa noturna que sempre vem envolver a mata como um lençol diáfano para cobrir o sono da passarada e dos insetos múltiplos que na floresta moram.
Como canta divinamente bem o sabiá de peito vermelho, uma jóia de penas rubras a enfunar-lhe o peito, de onde brota a melodia, diria eu, ensinada por mágicos da música. Fusas e semifusas, às vezes mínimas e semínimas, ah! meu canoro sabiá, onde foste encontrar essa página de sons maviosos com que saúdas o vir e o despedir do dia? E esse martelar sobre madeira, será algum carpinteiro madrugador que montou sua oficina em meio do arvoredo? Que nada! É simplesmente o pica-pau que resolveu martelar os troncos à cata de alimento. E a floresta ressoa certamente! Olha aí agora! Que gritaria de guerra essa que chega aos ouvidos do visitante matinal! ? Sabem, é um bando de maritacas que deixou o pouso e saiu matracando por sobre o arvoredo em busca do dejejum da manhã.
O visitante desse reino de verdores e sonoridades aladas, pára por momentos, porque o que lhe chega ao ouvido tem o poder de deter-lhe os passos. Que variedade de notas, que longa ópera musical! Tudo se transforma numa maravilhosa composição bethoviana, ou num oratório mozartino. São muitas as gargantinhas aladas que querem participar deste acordar da mata, juntando suas canoras partituras, umas a outras, num coro espetacular de sonoridades. E o visitante se extasia, o visitante fica de boca aberta e ouvidos mais abertos ainda, para não perder uma nota só daquela orquestração de pássaros que acordam.
Quando a floresta acorda, acorda a sinfonia de seus pássaros, muitas vezes unida à sinfonia dos animais silvestres que urram, guincham, gritam, entrelaçam-se numa estranha orquestra de vozes, para mostrar que lhes compraz, e muito, saudar a chegada da luz, participar da festa do amanhecer na mata, conversar, à sua maneira, com a vida e com o vir da luz.
Haveria ainda a dizer aqui algo mais sobre o trilar dos grilos sob a alfombra, o zumbir das abelhas em busca de flores e mel, o estalar de galhos secos que estouram de repente, o eco de rumores distantes que reboam pela floresta a dentro, ruídos de passos sobre as folhas ressequidas do chão, grunhidos e ulos, tudo compondo essa orquestra indescritível, mas real, das vozes da floresta virgem, de que tenho saudade, porque hoje a floresta desapareceu pela ação nefasta do homem e com ela todas aquelas vozes significativas da vida que em seu recesso acolhedor habitavam.
Quiçá se houvera o IBAMA, floresta virgem ainda fosse o que escrevi acima.!

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