Ludovico da Silva
É conhecida uma frase popular que define a situação de um cidadão, sobretudo, com respeito à condição financeira: “de mãos abanando”. A pessoa tinha uma situação econômica apreciável e acabou ficando na pior. Perdeu tudo. No carteado, maus negócios ou qualquer outro motivo, relevante ou não. Daí ter ficado de mãos vazias.
Mas as mãos usam de outros meios para transmitir mensagens entre as pessoas, que perdurarão, ao que tudo indica, por toda a vida. Aliás, maneira de agir que não depende de nenhuma tecnologia avançada, nenhum estudo de pesquisadores, porque é uma expressão que decorre de forma natural, espontânea. Nasce com a pessoa e se desenvolve ao passar do tempo, como uma manifestação que surge diante da necessidade de uma explicação pormenorizada. Refiro-me aos gestos, prática utilizada com frequência, uma vez que é muito mais fácil no momento que se faz necessário um detalhamento completo da finalidade proposta.
Nos encontros fortuitos entre as pessoas os gestos são comuns no bate-papo para matar o tempo. Dificilmente deixam de completar uma palavra sem utilizar as mãos, mexer os braços, o corpo e até a cabeça e os olhos para expressar ideias e sentimentos. São gestos que completam uma informação. Funcionam como ligação para entendimento ou esclarecimento de uma situação. Observem quando alguém num ponto qualquer da cidade pede uma informação. Nem precisa ser um visitante. Mesmo alguém que mora na periferia e vai para o centro ou bairro distante isso acontece. Quer saber onde fica uma rua, uma instituição pública ou uma loja comercial. É que a cidade se desenvolve por todos os cantos. O informante fala e com as mãos faz um traçado, contornando ruas, passando por esquinas, para a pessoa chegar onde deseja.
É interessante observar uma pessoa falando ao telefone. A impressão que causa é que ela está à frente de seu interlocutor, olhando no seu semblante, ou até mesmo aguardando qualquer alteração, tanto são os gestos que faz. É claro que esse comportamento ocorre em pensamento que quer indicar e facilitar a compreensão de quem está do outro lado da linha. É feito nesse sentido, ainda que seja apenas uma tentativa de transformar o imaginário em realidade.
Mesmo na conversa frente a frente é comum os interlocutores usarem as mãos na explicação de qualquer assunto. Os gestos esclarecem de maneira bem definida a interpretação que o ouvinte deve ou quer ter.
Colocar laço com nó em um dos dedos da mão para se lembrar de algo a fazer é uma boa recomendação. Mas nem sempre isso funciona ou ajuda. Primeira manifestação da pessoa ao se lembrar de que esqueceu o que devia fazer é exatamente bater com a mão na testa e exclamar: diabos, esqueci!
Entrevistas através de canais da televisão são uma boa amostra na observação de detalhes dessa natureza. Instado a responder a uma pergunta de fácil manifestação, o entrevistado se prolonga por largo espaço de tempo e com a ajuda das mãos tenta esclarecer minuciosamente o assunto em tese. Se necessário, o entrevistador fica apenas na observação ou, caso contrário, intervém delicadamente e “corta” o papo.
O locutor de rádio, solitário no estúdio, não deixa de utilizar esse expediente quando quer mandar um recado ao ouvinte, lendo as anotações publicitárias à sua frente. Da mesma maneira quando deseja curtir um abraço com seu amigo encostado ao balcão de uma lanchonete, saboreando uma bebida gelada, batendo com as mãos às suas próprias costas.
É comum alguém com algum problema pessoal ou de família sair gesticulando no andar pelas ruas da cidade. Nem sempre se trata de algo emocional que toma conta do indivíduo, mas pode ser que ele esteja resolvendo a situação com a sua própria maneira de ver as coisas. Ou, então, para ele, sei lá, nada tenho a ver com isso. E segue em frente.
As mãos servem como ajuda indispensável para um esclarecimento.
Não são só italianos que gesticulam em prosa animada e, para que não pairem dúvidas, sou de descendência italiana. Por isso não tenho do que reclamar. Faço parte.
texto publicado no Jornal de Piracicaba em 27/09/2011
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