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sexta-feira, 22 de julho de 2011
USOS E COSTUMES
Ludovico da Silva
Embora possa ser entendido como redundância o título que encima este texto, tendo em vista a repetição de termos com o mesmo significado, as considerações a seguir têm como objetivo focalizar comportamentos de muitas pessoas. Podem não ser comuns, mas chamam atenção porque se repetem no dia a dia e em ocasiões as mais variadas. A maior parte das vezes como absoluto respeito e outras automaticamente porque ensejam a continuidade que vem de gerações.
Relativamente ao respeito, nos tempos antigos os filhos pediam a bênção aos pais quando era hora de se recolher para o descanso da noite. E não se tratava apenas das crianças ainda em processo de preparação educativa. Os mais velhos, também, tinham o mesmo costume. Era ponto sagrado para a continuidade de respeito entre os familiares. Não era um compromisso puramente de rotina, em obediência à perpetuação que vinha dos antigos, mas sim um ato de profundo significado cristão.
Quantas pessoas costumam fazer o sinal da cruz na passagem em frente a uma capela! Claro, aprendizado de família católica, que transmite aos filhos o que significam as tradições religiosas. Já quando passam em frente a um campo santo é o respeito aos que ali descansam, um gesto de oração e saudade.
Observem o comportamento de atletas, sobretudo de futebol, quando assumem o compromisso à entrada de campo. Benzem-se com o sinal em nome do Pai, não sem antes tocar com a mão direita o gramado. É certo que muitos, como se tem ouvido, trata-se de um pedido para que tudo corra bem, ninguém se machuque, mas não se esquecem de que, naquele momento, o importante é ganhar o jogo, chegar à vitória, para sua satisfação e da torcida. O mesmo não acontece quando marcam um gol? Não repetem quando o perdem? O que fazem quando visitam as redes após longo jejum? Assumem aquele ato de tirar uma carga pesada dos ombros, que o dito popular chama de descarrego, mandando o azar para longe, deslizando as mãos de alto a baixo, dobrando o corpo em reverência a um personagem de sua devoção.
Entrando na apreciação de comportamentos populares, é comum pessoas que tomam refeições em restaurantes procurarem sempre as mesmas mesas, um costume fácil de se perceber. Inclusive, chegam mais cedo para não encontrar alguém menos avisado a tomar-lhes a reserva do assento. E se o encontram olham dos lados, ficam meio baratinados na procura de outro espaço.
Nos ofícios religiosos não é diferente. A capela pode estar com muitos bancos à disposição, mas o bom ou o certo é sentar-se sempre no mesmo lugar. Quando a velhinha encontrou sua área ocupada não teve dúvidas, pediu licença e discretamente afastou o intruso, convencendo-o de que aquele era o seu posto costumeiro de assistir à cerimônia.
Em estádios de futebol acontece o mesmo. O torcedor entra e a primeira atitude é fazer uma verificação nas cadeiras das arquibancadas ou mesmo nas escadarias de cimento armado. Ele sabe onde encontrar amigos dessas horas de lazer, para um bate-papo, enquanto não se inicia o jogo e depois, bem, depois, dependendo da situação, aplaude ou vaia.
Esta eu soube por ouvir dizer. Um cidadão, ferrenho defensor de suas práticas econômicas, tinha o costume de repartir palito de fósforo ao meio, para aproveitá-lo por duas vezes, embora isso se caracterize mais pela sovinice.
Precisava de uma técnica apurada, dado que, tão fino o palito, corria o risco de ferir-se com o objeto cortante. A não ser que tivesse em mãos um palito de fósforo de Itu. Enfim, usos e costumes que atravessam o tempo.
(Crônica publicada no Jornal de Piracicaba de 21/07/2011)
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Texto de Ludovico da Silva
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