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quinta-feira, 14 de julho de 2011
O TERCEIRO OLHO
A velha senhora, hoje com seus oitenta anos, estava com uma solidão e depressão muito grandes.
Durante toda vida tivera esse incômodo, mas conforme a idade foi avançando, o processo foi avançando. Quando jovem, entretida com os estudos, namoro, na explosão dos hormônios, pouco sentia, somente às vezes, quando ficava só. Nesse caso, ligava o rádio e se distraia com as canções românticas.
Já mulher feita, ainda se entretinha com os filhos, cuidando do marido e deixando sempre a televisão ligada, disfarçava sua depressão.
O horror de estar só piorou muito quando os filhos alçaram voo para a vida e o marido para o céu. Não queria mais sair de casa, vivia deitada e se imaginava na mais completa solidão e escuridão, como que presa num caixão, com o ar já rareando.
Vez ou outra, ligava a televisão e num momento iluminado, viu parte de uma novela que ocorria na Índia. Ficou curiosa para saber o que significava aquele ponto entre os olhos dos artistas travestidos em indianos. Procurou a velha e empoeirada Enciclopédia Britânica, há muito não manuseada. Leu que aquilo significava a terceira visão, o olho da alma.
Deitada no travesseiro alto, vencida pelo sono, o velho livro caiu de suas mãos. Sonhou que via o mundo através dos olhos da alma.
Viu uma cidade brilhante e seres belíssimos, leves e luminosos que pareciam flutuar quando se locomoviam. Todos sorriam alegres. Lá não havia pobreza, ladrões, fome, políticos corruptos, ninguém precisava reivindicar seus direitos, pois todos cumpriam seus deveres.
Ela se viu feliz entre os felizes.
À sua frente notou um grande muro com dois pequenos orifícios, escrito embaixo: Espie aqui e veja com os olhos do corpo.
Quando olhou abaixo de si, abriu-se um bueiro escuro no qual caiu uma longa queda. Quando parou, viu-se novamente deitada em sua cama. Abriu os olhos físicos, mas procurou ver tudo e todos com os olhos da alma.
Sua velha cadela de pelos ralos e sem dentes entrou no quarto. Achou-a linda.
Quando sua acompanhante chegou, confundiu-a com um anjo.
Na visita semanal da nora, achou-a a melhor mulher do mundo.
Aprendeu a ver com a terceira visão, a da alma, e seu mundo transformou-se em paraíso, sua solidão e tristeza terminaram.
Anos mais tarde, quando foi colocada no caixão, viu-o como se fosse a carruagem da cinderela que iria levá-la de volta ao seu príncipe encantado.
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Texto de Cassio Camilo Almeida de Negri
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