Rosani Abul Adal
Olhar triste cabisbaixo,
rabo entre as pernas.
A fome e o medo,
os seus companheiros.
As marcas do abandono
na costela quebrada.
Passos trêmulos se aproximou.
Saciou a sede e a fome,
sem forças para caminhar,
deitou-se ao meu lado.
Trocamos afagos e carinhos,
uma lágrima deslizou até o focinho
- não resisti e ele me adotou.
Bijou, a minha jóia do Nilo,
acompanha meus passos,
conhece meus segredos
e me acolhe nas noites de solidão.
Na calada da noite conversamos
através de mantras caninos,
Bijou suspira aliviado.
Dormimos e sonhamos sem medo.
HAIKAIS
Carmen M.S.F.Pilotto
Gatos nas telhas
Em eternas melodias
É outono...
Pássaros voejam
Encantos de poeta
Sonhos de verão...
Ventos rastejam
Tristezas de um cantor
Dor daquele inverno...
As flores cantam
Os prados verdejantes
É primavera...
Poemazul
Ivana Maria França de Negri
Compus um poema azul
etéreo,
com versos brancos
leves como as nuvens do céu
Queria que trouxesse paz
felicidade e alegria.
Mas surgiu um poema forte
pulsante e cor de sangue
arrebatando minha alma
como o vento do outono
que sacode as árvores
e carrega as folhas.
Criou asas meu poeminha azul
Era feito de sonho
e voou como pluma
para os mares do sul.
Ficou o rútilo poema,
denso, quente e vibrante
e dei-lhe o nome de Vida.
TROVA
Leda Coletti
Ser poeta é não ter medo
de extravasar emoção,
mesmo que escape segredo
que até mereça sanção.
O POETA
Lino Vitti
Quando o enxergam passar, passos pequenos,
A face magra, quieto, entristecido,
Lançando, às vezes, no ar, mudos acenos
Em gestos de abraçar o indefinido;
Quando o enxergam passar (e o seu ouvido
Não atende aos insultos dos terrenos)
Todos, num quase acento comovido,
Dizem: "Deve ser louco, mais ou menos".
Um dia (nem eu sei como se deu)
Conversamos. Contou-me todo o seu
Viver cheio de angústias e revezes.
É poeta. . . arrependo-me dizê-lo,
Pois eu sei que dirão, agora, ao vê-lo:
"Poeta?. . . então é louco duas vezes!"
POETISAS
Esio Antonio Pezzato
Carla, Ivana, Ivani, Leda, Carmen, Marisa,
Myria, Shirley, Raquel, Sílvia, Cecília, Helena...
E outras mais, tantas mais... Junto à brisa serena
Tecem inspirações junto à serena brisa.
E cada alma sublime evoca a cantilena
Dos amores sem fim de maneira precisa.
Cada alma evoca a luz, cada alma – poetisa! –
Poetiza o sublime e o amor, no céu, acena.
Glória ao Sublime Deus que as fez cantar em versos,
Modelando em canções dos timbres mais diversos
Conquistam nosso ser no sonho que seduz.
Poetisas que eu amo! A vós de almas inquietas
Há um séquito de amor de todos os Poetas
Que aplaudem com prazer vossos fachos de luz!
SONETO
Irineu Volpato
O sol veio domingo de requinte
Inda alindavam-se morros de sereno
Ventinho desses brandos tom ameno
Manhã toda de luz quase um acinte.
Na estrada uma charrete perseguia
carregando família impertigada
No Vilar missa de ano anunciada
Em paisagem comum se acontecia.
Missa rezada obrigação cumprida
Marido indo cuidar coisas da lida
E mãe fez-se visita nuns parentes.
Dia nadou entre prosas e escambo
Voltavam quando dia ia zambo
e tarde debruçava-se entrementes.
DIA DA POESIA
André Bueno Oliveira
O Sol poeta do espaço
sorvendo a etérea poesia
em compassado compasso,
ao declamá-la dizia:
“ Quero a Lua em meu sistema,
em meu sistema solar;
ela é musa, causa, tema,
de meu rimado cantar.
Hoje é dia da Poesia,
vou compor-lhe uma canção
extraindo a melodia
do amor de meu coração.
Mas por que um dia exato
pra brindar a Poesia?
Se sou poeta de fato,
o seu dia, é cada dia...”
AOS POETAS
Carla Ceres
Quisera saber mais sobre esta lida
De ver a própria dor de dor repleta
Surgir como cantiga enternecida,
Fazer valer a pena ser poeta.
Quem dera tal vontade desmedida
De ver como o poema se completa
Mostrasse como se completa a vida
Qual dor que no cantar se faz concreta.
No entanto meu caminho já termina.
Mal deixo a quem seguir a mesma sina
Poemas mapeando falsas metas.
Mas sei que, após andar assim a esmo,
O verso é quem se escreve por si mesmo,
A vida é quem se inscreve em nós, poetas.
OH! VIDA!
Maria Emília L.M. Redi
Vidinha tonta sem sonhos desliza
Doida a galopar horas indomáveis,
A seguir velhos rumos e onde pisa
Deixa laços nos rastros incontáveis.
Sinos dobram as esquinas sob a brisa
Das ilusões perdidas e inefáveis...
E nos olhos a alegria agoniza
A escorrer em prantos infindáveis.
O brilho da saudade entardecida
Chicoteia o céu impunemente,
No crepúsculo, triste luz perdida...
Segue longe a esperança emperdenida
Carregando seu fardo inutilmente:
-Tão surda se fazendo a ti – Oh! Vida!
O DURO RETORNO
Francisco de Assis Ferraz de Mello
Dizia: “- Nunca mais bebo desta água!
Nem deste pão amargo provarei.
Já não pertenço a esta maldita grei
De sofredores em perene mágoa.
Deixei o pântano onde a dor deságua.
No império da fortuna me amparei
E vou vivendo como vive um rei
- A vida que vivi, da mente apago-a.”
E extinguiu da memória a experiência
Então, a sorte, com feral demência,
Para o lodo de antanho o arremessou.
E foi beber exato daquela água,
Comer do pão e reviver na frágua
Do passado que tanto desprezou.
TRISTEZA SEM SORRISO
Vilma L. Ducatti
A vida esquecida
clama por justiça
Sofrendo as dores
da solidão
ficou apenas
um pássaro
Só...
Nenhum comentário:
Postar um comentário