Cassio Camilo Almeida de Negri
Fins dos anos sessenta. Parecia que o tempo passava mais lento naquela época.
As tardes corriam preguiçosas, transformando-se em noites calmas.
Quando o sol se escondia, lá estava ela. Tez bem clara, olhos azuis, rosto emoldurado pelos cabelos negros, com perfil de uma deusa grega, em pé, no portão de sua casa.
A separar os dois, apenas uma rua de paralelepípedos, parecendo um rio intransponível.
Todas as tardes, quando havia as trocas dos astros maiores no firmamento, lá estávamos os dois a nos olhar, olhar este, que fazia o meu coração disparar.
Quando a noite chegava, às dissonantes de um assobio da música “Tema de Lara”, uma silhueta espiava por detrás da veneziana, fazendo meu coração feliz.
Nunca mais vi tardes tão lindas, reflexos daqueles olhos azuis.
Ela, com uns doze anos, eu, com dezesseis, e um amor platônico a nos aproximar.
Dois anos se passaram bem lentos, e nós, nas margens daquela rua de paralelepípedos, todas as tardes, nos abraçando através de nossos olhares.
Um dia, porém, o grande “rio” da rua foi vencido.
O tempo continuou a caminhar vagaroso e nossas mãos se tocaram num êxtase de felicidade. Havíamos atingido o paraíso, que se transformou em céu, num dia chuvoso de outubro.
Desde então, as almas gêmeas, fundidas em uma, deram origem a muitas outras almas, num mar de felicidade.
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