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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

sábado, 4 de setembro de 2010

No tempo do pó-de-arroz

NO TEMPO DO PÓ-DE-ARROZ
Ludovico da Silva
Não sei, mas as moças que fazem tratamento com cremes na atualidade, por certo, não têm conhecimento de como outrora eram utilizados os produtos para a limpeza e conservação da pele. Mas as jovens senhoras da década de quarenta do século passado devem bem se lembrar dos cosméticos usados na época. Bem diferentes das indústrias multinacionais de hoje, não havia tanta multiplicidade de escolha. O pó de arroz “Lady”, o ruge e o batom e praticamente só. Havia, também, o creme Rugol, desnecessário acentuar a sua finalidade, senão como preparado para mandar às favas as rugas. Esses produtos eram vendidos em lojas de armarinhos e boticas, usados para torná-las mais bonitas, claro, sobretudo, em festas familiares, como casamentos, batizados e missas, assim necessário sempre que um visual menos castigado pelo tempo o exigisse em qualquer comemoração. Até vendedores ambulantes, que perambulavam pelos bairros retirados da área central da cidade, sítios e fazendas, levavam em suas bugigangas esses produtos, além de botões, rendas, peças de tecidos de brim, colchetes, carretéis de linhas para diversos tipos de costura, dedais e outros tantos objetos de interesse das senhoras. Não raras vezes, na falta de moeda corrente, a venda tinha sentido de troca, como antanho acontecia, com ovos, frangos, galinhas, mesmo produtos hortifrutigranjeiros.

Hoje já existe um número incontável à escolha, inclusive no tratamento da face, colo e braços, tendo em vista as mudanças de clima, principalmente o sol inclemente que prejudica muito a pele.

Naquele tempo, as senhoras chegavam até o balconista das lojas de armarinhos ou das boticas e pediam uma caixinha, que era de papelão, do pó de arroz “Ladi”, assim mesmo, e não “Leide”, a verdadeira pronúncia, título dado a certas damas da aristocracia inglesa. Época em que os Farmacêuticos preparavam em seus laboratórios particulares, que ficavam nos fundos das farmácias, as poções recomendadas pelos médicos, para tudo quanto era doença. Por sinal, as farmácias tinham um aspecto muito próprio para a especialidade, armários envidraçados de madeira escura e uma espécie de divisória, mais ou menos de um metro de altura, com colunas artisticamente confeccionadas por marceneiros, que separavam no atendimento ao público. Claro, não faltava um banco para descanso enquanto o interessado aguardava o preparo do remédio ou até mesmo para bate-papos entre amigos, em momentos de descontração. Lembro-me muito bem disso, não estou enganado. Vale lembrar ainda que em todo início do ano os boticários distribuíam almanaques, muito procurados, como Capivarol, que trazia dicas as mais variadas sobre época de plantações, curiosidades, como uma carta enigmática, e Saúde da Mulher, dirigida exclusivamente às senhoras.

Na verdade, muito tempo se passou até que a vaidade feminina exigisse novos produtos, para sua satisfação, bem como atrativo aos jovens conquistadores. Então, a multiplicidade de bases para a aplicação dos produtos essenciais passou a fazer parte do consumo diário de uma forma mais atraente para mocinhas e senhoras de todas as idades.

Uma volta ao passado faz bem, não apenas como recordação de uma época muito especial para senhoras, mas igualmente tantas são as curiosidades, que, por certo, ficaram guardadas na história do tempo.

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