Sabedoria é um presente! Ou não...
Maria Madalena Tricânico de Carvalho Silveira
Lúcia casou-se e foi morar em uma das casas da família de seu marido, que era praticamente o dono de todas as casas do quarteirão. Família de imigrantes italianos que trabalharam muito e investiram em propriedades. Tinham também um sítio muito produtivo.
Aprendeu com sua avó materna, vinda da alta Itália, que mulher honrada não fala mal do marido. Então, todas as vezes que encontrava com as vizinhas ou com as conhecidas, fazendo compras ou nas quermesses da igreja, escutava com “cara de paisagem” o que as vizinhas falavam, principalmente mal do marido ou dos empregados.
Lúcia não retrucava nada sobre as histórias que ouvia, mas não deixava de enaltecer a sua família e principalmente seu marido.
– Na minha casa não tem gritos. Meu marido fala comigo com o maior respeito. Não blasfema como é costume dos homens, não fala nome feio nem quando martela o dedo.
Sueli, a vizinha, escutava e perguntou:
– Ele é miserável, avarento?
– Capaz! Quando recebe o salário traz inteirinho para casa. Sempre decidimos juntos o que vai pagar ou comprar.
Sempre que tinha uma oportunidade elogiava a família e o esposo. Explicava como era a divisão de tarefas. Quem ensinava a lição para os filhos e como tudo era harmonioso.
Tanto elogiou que, um dia, a dona Sueli, a vizinha, que só falava mal do marido e da sogra, lógico, fugiu com o marido de Lúcia, sem deixar rastro.
A família do Onofre, esse era o nome do marido fujão, promessa que sua mãe tinha feito ao santo para não ter filho “bebum”, ficou desolada. Cercou Lúcia de todo o carinho. A sogra deixou bem claro que ela jamais passaria necessidade e muito menos seus três netos. Tudo fizeram para que os filhos não sentissem a falta do pai.
O marido de Sueli mandou buscar sua mãe para cuidar dele e das três crianças, e a vida deles melhorou muito. Bem alimentados, andavam nos “trinques”, bem arrumados e penteados. De marido abandonado passou a ser um solteiro bem alinhado. Vivia nos linhos engomados.
Passados uns seis meses, Sueli, volta e entra na casa de Lúcia como um furacão, gritando: – Sua mentirosa, sua traidora – e lhe dá uma sova. Todos que escutaram os gritos correram para ver e ficaram admirados pois a Lúcia não revidava, só se defendia.
Quando conseguiram segurar Sueli, Lúcia, ainda sentada no chão da sala de jantar e com um semblante de felicidade, começou a se explicar:
– Com a educação que eu recebi, como ia me livrar de um marido folgado, gritador, sovina? Eu não estava aguentando mais, e não podia reclamar, pois a situação ficava ainda pior, então resolvi embrulhá-lo para presente, e a Sueli o levou.
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