O silêncio de nossas ruas...
Gabriel Araújo dos Santos
Entra ano, sai ano, ainda não me conformei com o silêncio de nossas ruas. Com o silêncio de vozes, em especial e, sobretudo, vozes de crianças... Nem de dia, nem de noite.
Há barulho de carros, que passam velozes. E dos cães, confinados em espaço exíguo. Quando não, o barulho ensurdecedor dos alarmes que disparam.
Ausência de transeuntes, a não ser os atletas solitários. Uns, jovens esbeltos. Outros, de meia idade, barrigudos. E aqueles já bem chegados, de andar moderado. Nem bom dia, boa tarde ou boa noite, têm pressa de chegar.
Ainda bem que o novo vizinho tem duas crianças. Às vezes, do lado de cá do muro eu chamo por elas. Ou então, tento um proseio quando as vejo — o que é raro — no pequeno jardim de frente da casa.
Na casa mais de cima também tem crianças, igualmente duas. Ausentes o dia inteiro, chegam bem de tardezinha das escolas onde passam o dia.
Nas demais casas, só gente adulta, todos já de idade, como aqui em casa, que até há poucos anos era um santo sufoco, as duas netas esparramando alegria e ânimo pela casa e quintal afora.
As histórias que eu contava, os causos, elas querendo saber como foi minha infância, de que e com quem eu brincava.
Falei do pegador e das cantorias de roda. Boca de forno e tatu-passa-aqui. Dos cavalos de bambu, dos barcos e aviões de papel. Dos papagaios de duas corres, os rabos enormes, aquilo subindo às alturas, acima das nuvens, quem sabe até à morada de Deus...
Falei dos cavalos em pelo, do nadar pelado nos corgos e no calabouço do monjolo. Da fugida pelas matas, pelos pastos e pomares dos vizinhos.
“Vô, o que é monjolo?”.
Foi aí que montei um no jardim, com água e tudo, e ele socava que socava, para deleite das meninas, que se molhavam que só vendo, a vó preocupada com a gripe e os resfriados.
Fiz carrinho de direção, coisa que ninguém mais conhece. Na trazeira está escrito (ainda o conservo): “Eu era feliz e não sabia...” Mas no meu tempo, falei pra elas, eu era feliz, e sabia!!!
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