Coisas de Madame (in Tardes de Prosa)
Raquel Delvaje
Todos os empregados acordaram muito cedo. Havia um corre-corre pela casa. Desciam e subiam escadas organizando os últimos preparativos. A ansiedade tomava conta de todos.
Gertrudes, a governanta, queria tudo perfeito. Por inúmeras vezes, penteara as franjas dos tapetes e lustrara o corrimão da entrada principal. E as almofadas eram apalpadas compulsivamente.
Tudo deveria estar perfeito. A governanta decidiu: daria tudo de si para que nada saísse errado.
Os preparativos haviam sido iniciados no dia anterior. Os empregados da casa foram chamados e Gertrudes, com seu ar autoritário e imponente, aproveitou para dar as ordens e tirar todos da “boa-vida”, pois assim os intitulavam. E, mesmo contrariados, todos obedeciam.
Deveriam as camareiras deixar o quarto impecável, pois chegaria o filho caçula de Dona Esmeralda, da “patroinha”, como todos a chamavam. O cozinheiro deveria preparar um banquete com todas as pompas e o jardineiro retocar os jardins.
O motorista recebeu ordens para fazer novos uniformes e lustrar os sapatos. Todos estariam muito ocupados até a chegada do tão esperado filho da “patroinha”.
Uma das camareiras, um pouco mais atenta, observou como uma mulher tão mais velha poderia ter tido filho, pois antes de viajar não possuía nenhum.
– Psiu! Não estamos aqui para questionar nada. E sim para trabalhar – retrucou a outra.
E continuaram seus trabalhos.
Dona Esmeralda não viria. Estava na Europa há mais de dez anos. A governanta não podia perder a oportunidade de exercer seu poder. Nunca esteve tão enérgica!
Pois bem! Chegou a tão esperada hora. Foram todos para o porto.
A chegada do navio estava marcada para as onze horas da manhã. Gertrudes se colocou a postos, juntamente com todos os empregados, às dez horas, e não deixou de fazer a última vistoria em todos. Estava tudo um luxo; aproveitou para tirar um pelo do uniforme do motorista e consertar uma gola da blusa da camareira. E como se não bastasse, ajeitou a touca da outra camareira e lhe tirou uns fios de cabelo da testa. Olhou tudo com muito orgulho, como um artista contemplando sua obra de arte.
Suavam naquele sol forte, mas estavam todos ali, firmes em suas posições.
Enfim chegou o navio. Somente uma hora atrasado. Que satisfação para a governanta que aguardava ansiosa a chegada do tão esperado visitante. Cada pessoa que descia, seus olhos seguiam-na e o coração palpitava. E ela percebia que não era quem tanto esperava.
Quando todos desceram, meio confusa, Gertrudes perguntou sobre o filho da Dona Esmeralda. O capitão, segurando uma lista enorme nas mãos, perguntou se era o Peter. Ela balançou a cabeça aliviada, dizendo que sim. O capitão pediu para que o acompanhasse. Desceram até o convés e pararam defronte a uma caixa com uma grade na frente e um pequeno cachorro, exausto de tanto latir.
Não é preciso dizer da cara de mau humor com que a governanta chegou em frente dos empregados, segurando aquela caixa na mão. E o Peter abanava o rabinho feliz, cumprimentando a todos com uma deliciosa lambidela.
Tudo deveria estar perfeito. A governanta decidiu: daria tudo de si para que nada saísse errado.
Os preparativos haviam sido iniciados no dia anterior. Os empregados da casa foram chamados e Gertrudes, com seu ar autoritário e imponente, aproveitou para dar as ordens e tirar todos da “boa-vida”, pois assim os intitulavam. E, mesmo contrariados, todos obedeciam.
Deveriam as camareiras deixar o quarto impecável, pois chegaria o filho caçula de Dona Esmeralda, da “patroinha”, como todos a chamavam. O cozinheiro deveria preparar um banquete com todas as pompas e o jardineiro retocar os jardins.
O motorista recebeu ordens para fazer novos uniformes e lustrar os sapatos. Todos estariam muito ocupados até a chegada do tão esperado filho da “patroinha”.
Uma das camareiras, um pouco mais atenta, observou como uma mulher tão mais velha poderia ter tido filho, pois antes de viajar não possuía nenhum.
– Psiu! Não estamos aqui para questionar nada. E sim para trabalhar – retrucou a outra.
E continuaram seus trabalhos.
Dona Esmeralda não viria. Estava na Europa há mais de dez anos. A governanta não podia perder a oportunidade de exercer seu poder. Nunca esteve tão enérgica!
Pois bem! Chegou a tão esperada hora. Foram todos para o porto.
A chegada do navio estava marcada para as onze horas da manhã. Gertrudes se colocou a postos, juntamente com todos os empregados, às dez horas, e não deixou de fazer a última vistoria em todos. Estava tudo um luxo; aproveitou para tirar um pelo do uniforme do motorista e consertar uma gola da blusa da camareira. E como se não bastasse, ajeitou a touca da outra camareira e lhe tirou uns fios de cabelo da testa. Olhou tudo com muito orgulho, como um artista contemplando sua obra de arte.
Suavam naquele sol forte, mas estavam todos ali, firmes em suas posições.
Enfim chegou o navio. Somente uma hora atrasado. Que satisfação para a governanta que aguardava ansiosa a chegada do tão esperado visitante. Cada pessoa que descia, seus olhos seguiam-na e o coração palpitava. E ela percebia que não era quem tanto esperava.
Quando todos desceram, meio confusa, Gertrudes perguntou sobre o filho da Dona Esmeralda. O capitão, segurando uma lista enorme nas mãos, perguntou se era o Peter. Ela balançou a cabeça aliviada, dizendo que sim. O capitão pediu para que o acompanhasse. Desceram até o convés e pararam defronte a uma caixa com uma grade na frente e um pequeno cachorro, exausto de tanto latir.
Não é preciso dizer da cara de mau humor com que a governanta chegou em frente dos empregados, segurando aquela caixa na mão. E o Peter abanava o rabinho feliz, cumprimentando a todos com uma deliciosa lambidela.
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