SÓ AS BORBOLETAS?
Elda Nympha Cobra Silveira
Num jardim florido as rosas sorriam e as orquídeas abraçavam com carinho o tronco do coqueiro que fazia pose, e com toda aquela elegância, se derretia com aquele enlevo.
Bem no meio deste jardim as águas límpidas de um chafariz aspergiam milhares de gotas reluzentes, enquanto jorravam para o alto em jatos transparentes.
As borboletas fizeram do lugar sua morada, construindo uma comunidade com leis, seus lideres e operários e princípios próprios. Para aquela comunidade voadora, que se divertia volitando e pousando nas madressilvas, petúnias, papoulas, calêndulas e demais flores multicoloridas, e que sedentas, se saciavam dos mais variados sabores de néctar, por exemplo, a expectativa era de que todas as novas borboletas nascidas fossem belas.
A cada primavera, sentia-se o ar carregado de apreensão quando as famílias nidificavam naquele paraíso, botando cuidadosamente seus ovos, num berço fofo e perfumado construído de grama e de pétalas macias. Os casulos iam rompendo e nasciam lindas borboletinhas, que já voavam libertas ao lado de suas mamães, que ensinavam de tudo, para que suas filhas se destacassem das demais.
Matriculavam-nas em escolas de vôo, de boa postura, elegância, cultura, onde eram avaliadas, e faziam esforços inaudíveis para ficarem perfeitas, para quando se apresentassem para a bancada legal, que cuidava de escolher aquelas que seriam aceitas pela comunidade. De acordo com a legislação vigente, as mais bonitas seriam aquelas que tinham leves asas azuis e amarelas, asas de cores bem contrastantes, manchadas em magenta e preto, e até algumas com pintas negras que pareciam olhos esbugalhados, que causavam bastante impacto.
As borboletas que não se enquadrassem em beleza, elegância e no ruflar perfeito das suas asas, eram relegadas ao ostracismo. Isso gerava depressão, insegurança e perda da auto-estima nas condenadas, que se tornavam adolescentes que perderam toda a ilusão e nada mais esperavam da vida. Verdadeiras párias da sociedade, viciadas em néctares alcoólicos e tóxicos, que se isolavam nos esgotos, nos bueiros, e em outros lugares impregnados de cheiros nauseabundos. Com o tempo, acabaram formando um gueto apartado da comunidade, onde acorriam, pela afinidade do infortúnio, outras borboletas, vindas de outros jardins, e que foram, como elas, também desprezadas.
Como nenhum mundo pode ser perfeito, em compensação, as borboletas inseridas nos padrões sociais e instigadas pela comunidade alada para o sucesso, começaram a competir entre si, ao despertar sentimentos de inveja, usura e luxúria, desejos que as faziam procurar elogios das outras borboletas para alimentar os egos exacerbados. Apresentavam-se numa alameda do jardim florido, em desfiles que aconteciam numa passarela acarpetada de folhas verdes brilhantes. Na passarela, abrindo e fechando suas asas, ora languidamente, ora num vôo rasante, as concorrentes se entreolhavam com rancor e falta de amizade, enquanto encenavam coreografias de top model, preocupadas só com seu sucesso, para o deslumbramento da multidão, que a tudo assistia, empolgada com a performance, que iria revelar quem era a mais esguia e elegante, quem voava mais alto, quem se vestia melhor e quem morava no local mais belo do jardim.
Assim a fraternidade que havia entre elas foi sendo anulada, porque seus pais, seus amigos e o povo, todos cobravam esse desempenho para suas vidas, pois todo mundo ali vivia pela Lei de Gerson! Uma borboleta não contava para outra amiga onde havia uma nascente de água fresquinha ou o néctar mais abundante de certa flor rara. Esse não era mais seu objetivo. Seu objetivo era o preconceito de raça, de cor, beleza, peso, idade, cultura e por aí afora.
Muitas borboletinhas se sentiam frustradas na vida, por não se enquadrem nos padrões, nos anseios que essa lei impunha àquela comunidade.
Por isso, todas almejavam um lugar ao sol e assim, perdiam o melhor da vida no afã de competir, ao invés de viverem tranqüilamente, usufruindo do amor recíproco e repartindo as delícias da natureza dadivosa que Deus lhes oferecia.
Assim, como a vida delas era efêmera, perderam-na sem proveito algum, sem usufruir do amor fraterno, sendo levadas a cometer os pecados capitais.Nasceram para melhorar o mundo e assim não fizeram. E nós?
Elda Nympha Cobra Silveira
Num jardim florido as rosas sorriam e as orquídeas abraçavam com carinho o tronco do coqueiro que fazia pose, e com toda aquela elegância, se derretia com aquele enlevo.
Bem no meio deste jardim as águas límpidas de um chafariz aspergiam milhares de gotas reluzentes, enquanto jorravam para o alto em jatos transparentes.
As borboletas fizeram do lugar sua morada, construindo uma comunidade com leis, seus lideres e operários e princípios próprios. Para aquela comunidade voadora, que se divertia volitando e pousando nas madressilvas, petúnias, papoulas, calêndulas e demais flores multicoloridas, e que sedentas, se saciavam dos mais variados sabores de néctar, por exemplo, a expectativa era de que todas as novas borboletas nascidas fossem belas.
A cada primavera, sentia-se o ar carregado de apreensão quando as famílias nidificavam naquele paraíso, botando cuidadosamente seus ovos, num berço fofo e perfumado construído de grama e de pétalas macias. Os casulos iam rompendo e nasciam lindas borboletinhas, que já voavam libertas ao lado de suas mamães, que ensinavam de tudo, para que suas filhas se destacassem das demais.
Matriculavam-nas em escolas de vôo, de boa postura, elegância, cultura, onde eram avaliadas, e faziam esforços inaudíveis para ficarem perfeitas, para quando se apresentassem para a bancada legal, que cuidava de escolher aquelas que seriam aceitas pela comunidade. De acordo com a legislação vigente, as mais bonitas seriam aquelas que tinham leves asas azuis e amarelas, asas de cores bem contrastantes, manchadas em magenta e preto, e até algumas com pintas negras que pareciam olhos esbugalhados, que causavam bastante impacto.
As borboletas que não se enquadrassem em beleza, elegância e no ruflar perfeito das suas asas, eram relegadas ao ostracismo. Isso gerava depressão, insegurança e perda da auto-estima nas condenadas, que se tornavam adolescentes que perderam toda a ilusão e nada mais esperavam da vida. Verdadeiras párias da sociedade, viciadas em néctares alcoólicos e tóxicos, que se isolavam nos esgotos, nos bueiros, e em outros lugares impregnados de cheiros nauseabundos. Com o tempo, acabaram formando um gueto apartado da comunidade, onde acorriam, pela afinidade do infortúnio, outras borboletas, vindas de outros jardins, e que foram, como elas, também desprezadas.
Como nenhum mundo pode ser perfeito, em compensação, as borboletas inseridas nos padrões sociais e instigadas pela comunidade alada para o sucesso, começaram a competir entre si, ao despertar sentimentos de inveja, usura e luxúria, desejos que as faziam procurar elogios das outras borboletas para alimentar os egos exacerbados. Apresentavam-se numa alameda do jardim florido, em desfiles que aconteciam numa passarela acarpetada de folhas verdes brilhantes. Na passarela, abrindo e fechando suas asas, ora languidamente, ora num vôo rasante, as concorrentes se entreolhavam com rancor e falta de amizade, enquanto encenavam coreografias de top model, preocupadas só com seu sucesso, para o deslumbramento da multidão, que a tudo assistia, empolgada com a performance, que iria revelar quem era a mais esguia e elegante, quem voava mais alto, quem se vestia melhor e quem morava no local mais belo do jardim.
Assim a fraternidade que havia entre elas foi sendo anulada, porque seus pais, seus amigos e o povo, todos cobravam esse desempenho para suas vidas, pois todo mundo ali vivia pela Lei de Gerson! Uma borboleta não contava para outra amiga onde havia uma nascente de água fresquinha ou o néctar mais abundante de certa flor rara. Esse não era mais seu objetivo. Seu objetivo era o preconceito de raça, de cor, beleza, peso, idade, cultura e por aí afora.
Muitas borboletinhas se sentiam frustradas na vida, por não se enquadrem nos padrões, nos anseios que essa lei impunha àquela comunidade.
Por isso, todas almejavam um lugar ao sol e assim, perdiam o melhor da vida no afã de competir, ao invés de viverem tranqüilamente, usufruindo do amor recíproco e repartindo as delícias da natureza dadivosa que Deus lhes oferecia.
Assim, como a vida delas era efêmera, perderam-na sem proveito algum, sem usufruir do amor fraterno, sendo levadas a cometer os pecados capitais.Nasceram para melhorar o mundo e assim não fizeram. E nós?
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