ÁLBUNS DE FIGURINHAS DE FUTEBOL
Ludovico da Silva
No tempo do futebol romântico, mesmo quando passou a ser profissionalizado, mas jogado com espírito amador, dificilmente um atleta trocava de clube com tanta facilidade como acontece nos dias atuais. Escolhia o clube do seu coração e de lá não saía mais, a ponto de muitas agremiações erguerem em seus recintos estátuas como merecida homenagem. Hoje é muito raro acontecer isso.
Bem a propósito, naquelas priscas eras havia a publicação frequente de álbuns de figurinhas de craques do futebol, sobretudo dos dois maiores centros, São Paulo e Rio de Janeiro, que reuniam as maiores figuras do esporte das multidões, atletas consagrados e nomes certos para as seleções brasileiras.
Em razão do interesse e curiosidade que despertavam os álbuns eram disputados entre os garotos, que se reuniam para a troca de figurinhas divulgadas em número maior, que satisfazia os dois lados, ou em disputa no “bafo”, tão renhida como os próprios jogos em que os craques se enfrentavam. Havia, também, a figurinha carimbada, tão difícil de ser encontrada na distribuição que se fazia e que valia uma nota alta para quem quisesse completar o álbum. Não raras vezes, isso só acontecia quando se completava a coleção, que merecia prêmios. Daí a valorização como uma jogada de bolsa de valores. Mas valia a pena para quem colecionava, pelo orgulho de poder guardar a riqueza que se constituía o desfile de notáveis craques daqueles tempos.
Parece-me que hoje a garotada não se interessa muito pelo assunto. Aliás, com certa razão, porque, ao contrário de outrora, os craques não esquentam cadeiras nos clubes, atraídos pelo dinheiro que rola lá fora entre os clubes milionários.
Antigamente, o campeonato brasileiro era disputado entre seleções dos Estados e sempre havia renovação de valores que ganhavam destaque todos os anos. Não como agora, naturalmente, dado que se dedica mais atenção aos jovens, desde as categorias menores até a profissional. Claro que igualmente o fato de haver maior número de clubes e campeonatos facilita essa tarefa. Ademais, hoje, desde tenra idade, os meninos contam com as chamadas escolinhas de futebol, com mais facilidades para ganhar orientação e se dedicar à prática do futebol.
Elencar craques que faziam parte desses álbuns de figurinhas seria registrar uma lista enorme de nomes, mesmo porque anualmente a editora que se dedicava a essa finalidade sempre renovava a relação, o que era bom e despertava mais interesse entre os afeiçoados do futebol. Citar Oberdã Cattani, Leônidas da Silva, Teleco, Araken, Telê Santana, Zizinho, Domingos da Guia, Jair da Rosa Pinto, Ademir Menezes e outros é pouco e deixar fora Pelé, Rivelino, Tostão, Gerson, Didi, Nilton Santos e outros craques que lhes sucederam seria uma enorme injustiça.
Claro que muitos garotos que acompanham o futebol hoje nunca viram esses craques em ação e, talvez, pouco ouviram falar. Mas eles deixaram nos anais do futebol brasileiro uma história digna de registro, só possível conhecê-la através de raros livros publicados ou matérias que, vez ou outra, saem em programas de televisão, jornais ou revistas. Se tive que recorrer rapidamente à memória para citar tão pequeno número de craques devo ter cometido injustiça, não me lembrando de outros que rodaram por muitos clubes. Afinal, não daria mesmo para citar algumas centenas de futebolistas que tiveram seus nomes registrados e fotos publicadas em álbuns de figurinhas a que me refiro neste breve texto. Em vista disso, provavelmente, poderei estar magoando alguns afeiçoados de outros atletas que ficaram de fora deste registro. É uma pena, mas sei que serei perdoado.
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