O olho do golfinho
Cassio Camilo Almeida de Negri
O entardecer mostrava um céu azul escuro, que no horizonte parecia uma cúpula fechando o sol vermelho sobre o esverdeado do mar.
O verde quase tudo cobria e sob o reflexo do poente, se transformava em um leito de brilhos metamorfoseantes, dançando entre tons alaranjados.
Entre a areia da praia e o quebrar das ondas, uma faixa de água avermelhada, cor de sangue.
Eu passava por ali, sem saber porque aquela praia da Birmânia estava com uma faixa rubra.
Intrigado, pensava se não seria coloração devido a algas.
À distancia vi um objeto tentando rolar para o mar, mas sempre sendo jogado de volta à areia. Era escuro e redondo com mais ou menos seis centímetros.
Fui me aproximando, os pés mergulhados na água ate os maléolos, e tomei nas mãos a pequena bolinha e quando a olhei, ela também me olhou.
Olhamo-nos por alguns segundos.
Observo então que era um olho com a pupila dilatada, parecendo congelado em um momento de terror. Noto bem no seu fundo, um rosto gravado como em uma fotografia.
Na sua retina estava fixado um rosto humano, com um facão na mão, e ao redor, muitos golfinhos mortos, corpos decepados, cérebros esmigalhados, olhos arrancados.
Devolvo o olho ao mar e bem longe, para que não mais volte e sem entender, retorno ao hotel.
À noite, vendo o noticiário da televisão, fico sabendo que ali era costume exterminar com facões os delfins que ficavam presos nas redes,para que não voltassem a atrapalhar a pesca. Por isso a água se tingia de sangue.
No dia seguinte, voltando à praia, a água estava verde de novo e além da arrebentação, um golfinho saltava feliz.
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