TODA OUVIDOS
Carolina Luiza Prospero
Quando completou dezoito anos, disseram que ela deveria entrar numa faculdade. Deveria preparar-se desde cedo, era preciso. Mulher, se quisesse independência, tinha é que estudar para arranjar emprego.
Então ela entrou para a faculdade. Mas disseram a ela que agora deveria namorar sério. Conheceu um bom rapaz – um tanto quanto “sem sal” – mas um esforçado rapaz, e eles começaram a namorar. A família aprovou totalmente.
Disseram então, que assim que se formasse, deveria se casar. Ela então se formou, arranjou um emprego, ganhando pouco e trabalhando muito e subiu ao altar. Todos ficaram felizes!
Passados alguns meses, disseram a ela que estava na hora de ter um bebê. O marido era da mesma opinião, e eles então tiveram um belo menino. Noites em claro, fraldas e choro, mas todos a cumprimentavam pela bela família.
A empresa na qual trabalhava, a pressionou. Disseram que o mercado estava difícil, e que sem uma especialização, seu trabalho estaria comprometido. Entrou então num mestrado, de bebê em punho e vassoura na mão – já que o dinheiro ainda não dava para uma faxineira.
Um dia, o marido disse a ela que queria mais um filho. Obediente, veio mais um e mais outro. Enquanto isso, a empresa disse que o mercado estava difícil...Antes de terminar a frase, ela já se inscrevera para o doutorado.
Disseram a ela também que precisava de um carro. O marido concordou e eles compraram um carro. Todo o seu salário ia para pagar as prestações, e o carro só servia para levar as crianças na pintura, na natação e na escola...
Quando completou quarenta anos, disseram a ela que precisava de uma plástica. Parecia tão acabada, coitadinha...Ela foi para o hospital, tomou a anestesia e nunca mais acordou. Agarrou sua única oportunidade de sossego com unhas e dentes, para que não dissessem a ela o que viria depois. Não queria saber, não queria. Queria só que dissessem a ela: “pronto, você já pode ir agora”.
Carolina Luiza Prospero
Quando completou dezoito anos, disseram que ela deveria entrar numa faculdade. Deveria preparar-se desde cedo, era preciso. Mulher, se quisesse independência, tinha é que estudar para arranjar emprego.
Então ela entrou para a faculdade. Mas disseram a ela que agora deveria namorar sério. Conheceu um bom rapaz – um tanto quanto “sem sal” – mas um esforçado rapaz, e eles começaram a namorar. A família aprovou totalmente.
Disseram então, que assim que se formasse, deveria se casar. Ela então se formou, arranjou um emprego, ganhando pouco e trabalhando muito e subiu ao altar. Todos ficaram felizes!
Passados alguns meses, disseram a ela que estava na hora de ter um bebê. O marido era da mesma opinião, e eles então tiveram um belo menino. Noites em claro, fraldas e choro, mas todos a cumprimentavam pela bela família.
A empresa na qual trabalhava, a pressionou. Disseram que o mercado estava difícil, e que sem uma especialização, seu trabalho estaria comprometido. Entrou então num mestrado, de bebê em punho e vassoura na mão – já que o dinheiro ainda não dava para uma faxineira.
Um dia, o marido disse a ela que queria mais um filho. Obediente, veio mais um e mais outro. Enquanto isso, a empresa disse que o mercado estava difícil...Antes de terminar a frase, ela já se inscrevera para o doutorado.
Disseram a ela também que precisava de um carro. O marido concordou e eles compraram um carro. Todo o seu salário ia para pagar as prestações, e o carro só servia para levar as crianças na pintura, na natação e na escola...
Quando completou quarenta anos, disseram a ela que precisava de uma plástica. Parecia tão acabada, coitadinha...Ela foi para o hospital, tomou a anestesia e nunca mais acordou. Agarrou sua única oportunidade de sossego com unhas e dentes, para que não dissessem a ela o que viria depois. Não queria saber, não queria. Queria só que dissessem a ela: “pronto, você já pode ir agora”.
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