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Reunião na Biblioteca

terça-feira, 23 de março de 2010

Mudanças na Comunicação - Plinio Montagner


MUDANÇAS NA COMUNICAÇÃO
Plinio Montagner

Tudo muda e tudo se transforma. As amizades, o amor, o telefone, o disco, o carro, o avião, os remédios. Então é normal, e necessário, que a língua pátria e a fala sofram mudanças, pois se até a linguagem formal suporta alterações; haja vista as sentenças dos magistrados, antes indecifráveis e ininteligíveis para os mortais, e agora, menos.
As fotos dos álbuns não ficam amarelas?
As máquinas fotográficas há algumas décadas eram raras. Quem tinha, ou era fotógrafo profissional ou rico. As famílias chamavam um fotógrafo para tirar fotos dos pais, do nono, e na parede da sala ficavam por mais de 50 anos.
Agora temos centenas e milhares de fotos arquivadas no computador que enviamos num segundo a parentes e amigos que estão no outro lado do planeta. Acabou o álbum.
Algumas amizades com o tempo se descoloram, ficam chochas.
Os lugares de nossa infância se transformam, e até somem do mapa. Os sentimentos mudam, e o que era repulsivo, agora os costumes consentem.
São bem-vindas as mudanças na comunicação. Não seria horroroso escrever “pharmácia” e dizer amanhã eu vou tirar retrato?
Também seria impensável redigir uma carta assim: “Escrevo estas mal traçadas linhas... ou, esta missiva...”. Não dá a impressão que quem escreveu desse jeito ficou 50 anos longe da civilização?
Mudar pode; o que é errado é o desrespeito à gramática. Isso é outra coisa.
Juntei algumas expressões antigas que desapareceram de vez, e outras praticamente abandonadas.
“Data” - sabem o que significava essa palavra? Antigamente, não significava apenas um registro num documento, significava terreno. Comprava-se uma “data” para construir uma casa.
Cuidado que ela “dá tábua” era uma expressão que os moços odiavam, mas agradeciam. Mulher “dava tábua” quando recusava convite para dançar.
Outra palavra morta: indês.
“Joãozinho! Vá ao galinheiro e ponha um ovo de indeis no ninho”.
Quando uma galinha estava procurando lugar para botar era hora de pôr um ovo de indês no ninho.
Indês era um ovo, de madeira ou de pedra, pintado de branco, colocado no ninho para atrair as sábias galináceas a botar.
“Diacho” e “encafifado” também não se ouve.
Quando uma vaca prendia o leite, o retireiro (aquele que cuida da ordenha) dizia: “Diacho, esta vaca está me deixando encafifado”. Hoje seria assim: - “Droga, essa vaquinha está me deixando incomodado”.
Ainda não desapareceu a expressão “tico-tico no fubá”. - Mulher ou homem que namora e namora, e não casa, seu estado civil é tico-tico no fubá. É uma analogia com o pássaro tico-tico, que cisca e cisca, e não come nada (comer bicando o chão duro é difícil).
Pessoa idosa, quando ia dormir dizia: “É tarde, vou me recolher”. Hoje o marido ronca no sofá mesmo.
Vendedor de carro, para ressaltar que um veículo tinha pneus bons, argumentava: “Este carro está bem calçado”.
Eram tempos difíceis, pneus com câmara de ar, que quando furavam o dono do carro improvisava, mandando colocar “manchão”.
Chofer (chauffeur) dirigia os carros de praça. Táxis eram chamados de carro de aluguel.
“Mãe, por que não chama um carro de praça?”
Quem pedia coisas demais era pidico (analogia com ridico), ou pidonho, ou pidão. Quem não dava (“mão fechada”) era “ridico”.
Película (filme) não se fala mais. “Assisti ontem a uma película”. Não dá! Nem “morou” (entendeu?), “alcaide” (prefeito), “desgranhento” (malcriado, ruim), “brotinho” (mulher nova), “ceroulas” (cuecas).
Seja pela nova, seja pela antiga, que nossa língua seja respeitada e não vilipendiada pela juventude e pelo povo.

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