ASILO DE INSANOS
Elias Jorge
Naquele fim de tarde, Adib El Adib, que pretendia se consagrar como artista plástico, postava-se diante da triste nudez de um solitário Ipê. E sentia que uma tênue brisa, que tocava o seu rosto, abraçava a planta para consolá-la com os seus leves sopros. Adib El Adib, naquele momento, emocionava-se com uns nascentes pontinhos verdes nos galhos engelhados do Ipê. Esses pontinhos seriam o seu modo de reconciliação com o seu ciclo de Vida. Uma forma de existência sempre sujeita ao tempo de calor, de frio, e da chuva. Tempo, num ir e vir, ora a preceder as suas floradas, ora a desnudá-la por completo. Tempo que Adib El Adib também entendia viver igual ciclo. E continuava com o seu olhar fixo no Ipê, preso à sensação de estar havendo entre eles uma conversa de igual para igual. Por isso pretendia celebrizar o Ipê na sua tela de pintor. E procedia como um namorado apaixonado. Não uma paixão pela beleza das flores, que já conhecia. Mas uma paixão por entender que entre eles existia apenas uma diferença de forma, não de essência, uma vez que ambos nasceram de uma semente que se transformou em Vida, num ventre materno. O Ipê, na sua raiz, foi alimentado, cresceu e tomou o seu formato na natureza, e ele, Adib El Adib, que, nos seios de sua mãe foi aleitado, cresceu e tomou forma, como o Ipê. Diferentes, entretanto, no formato do corpo, mas iguais nos ciclos de Vida. Nessa certeza – de singular lucidez –, Adib El Adib reagiu ao ser afastado do Ipê e reconduzido com a sua tela ao quartinho do asilo de insanos onde vivia.
Elias Jorge
Naquele fim de tarde, Adib El Adib, que pretendia se consagrar como artista plástico, postava-se diante da triste nudez de um solitário Ipê. E sentia que uma tênue brisa, que tocava o seu rosto, abraçava a planta para consolá-la com os seus leves sopros. Adib El Adib, naquele momento, emocionava-se com uns nascentes pontinhos verdes nos galhos engelhados do Ipê. Esses pontinhos seriam o seu modo de reconciliação com o seu ciclo de Vida. Uma forma de existência sempre sujeita ao tempo de calor, de frio, e da chuva. Tempo, num ir e vir, ora a preceder as suas floradas, ora a desnudá-la por completo. Tempo que Adib El Adib também entendia viver igual ciclo. E continuava com o seu olhar fixo no Ipê, preso à sensação de estar havendo entre eles uma conversa de igual para igual. Por isso pretendia celebrizar o Ipê na sua tela de pintor. E procedia como um namorado apaixonado. Não uma paixão pela beleza das flores, que já conhecia. Mas uma paixão por entender que entre eles existia apenas uma diferença de forma, não de essência, uma vez que ambos nasceram de uma semente que se transformou em Vida, num ventre materno. O Ipê, na sua raiz, foi alimentado, cresceu e tomou o seu formato na natureza, e ele, Adib El Adib, que, nos seios de sua mãe foi aleitado, cresceu e tomou forma, como o Ipê. Diferentes, entretanto, no formato do corpo, mas iguais nos ciclos de Vida. Nessa certeza – de singular lucidez –, Adib El Adib reagiu ao ser afastado do Ipê e reconduzido com a sua tela ao quartinho do asilo de insanos onde vivia.
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