UMA BLUSA DE CROCHÊ
Ruth Carvalho Lima de Assunção
Eu me encantei. Em dias de hoje, naquele sarau tão moderninho aquela blusa, ainda fazendo sucesso, numa tarde de primavera, naquele evento, recordando uns dias gloriosos do ontem.
A imagem de minha avó Elvira, tão compenetrada, tão absorvida em seu trabalho me veio à mente. Curvada em seus oitenta anos bem vividos, não se entregava ao ócio e nem à contemplação. Resolvia seu tempo livre fazendo suas toalhinhas, bicos e sapatinhos para doar às criancinhas. Que bom! Não teve tempo para as doenças.
Voltando à blusa de crochê (não tem mais o t?) Percebia-se que era antiga, há muito tempo guardada e só saia para dar uma volta em ocasiões especiais. E era uma ocasião especial, a dona da blusa acertara, trabalhada em linha de seda pura, muito fina, num trabalho artístico e geométrico formava um mosaico de formas firmes e precisas.
- Que linda blusa, eu disse, que jóia!
Mexi com a sua vaidade, e quem não a tem, em se tratando de suas coisas preciosas?
- Eu a tenho há muitos anos, e só saio mesmo para exibi-la nestas ocasiões.
Vão dizer que coisas simples me atraem, ocupam minha atenção. Mas não é assim não, só os que nunca pegaram em uma agulha e se debruçaram sobre este trabalho de paciência e perseverança poderão menosprezar um trabalho dessa natureza.
. Duvido, que nos dias de hoje, estas mocinhas de barriga de fora, que perambulam por aí com seus vestidinhos lindos de morrer tenham a coragem de ficar horas a fio, fazendo rodinhas de crochê.
Outra surpresa. Eu vivo reclamando das porcarias que vem da China. De fato, são muito baratas, mas são descartáveis. Não duram nada. Quanto dura um guarda-chuva? Uma chuva, e ficamos à mercê dos pingos d’água.
Pois bem, a dita cuja veio da China. A dona da blusa comprou-a numa certa exposição, onde figuravam muitos trabalhos de crochê.
Então, velhinhas chinesas, em seu artesanato silencioso e solitário, matematicamente contando os pontos, multiplicando e dividindo oferecem ao mundo suas obras de arte.
Neste mundo global, artistas desconhecidas, vão tecendo...tecendo... até...
(Eu pretendia falar sobre o evento que aconteceu nessa tarde tão amena. Um acontecimento de grande importância para a literatura. O jornal Linguagem Viva completou em 30 de setembro 20 anos de periodicidade, sem interrupções
A blusa de crochê marcou esta data. Vou deixar os comentários sobre um possível próximo trabalho para outro dia).
Ruth Carvalho Lima de Assunção
Eu me encantei. Em dias de hoje, naquele sarau tão moderninho aquela blusa, ainda fazendo sucesso, numa tarde de primavera, naquele evento, recordando uns dias gloriosos do ontem.
A imagem de minha avó Elvira, tão compenetrada, tão absorvida em seu trabalho me veio à mente. Curvada em seus oitenta anos bem vividos, não se entregava ao ócio e nem à contemplação. Resolvia seu tempo livre fazendo suas toalhinhas, bicos e sapatinhos para doar às criancinhas. Que bom! Não teve tempo para as doenças.
Voltando à blusa de crochê (não tem mais o t?) Percebia-se que era antiga, há muito tempo guardada e só saia para dar uma volta em ocasiões especiais. E era uma ocasião especial, a dona da blusa acertara, trabalhada em linha de seda pura, muito fina, num trabalho artístico e geométrico formava um mosaico de formas firmes e precisas.
- Que linda blusa, eu disse, que jóia!
Mexi com a sua vaidade, e quem não a tem, em se tratando de suas coisas preciosas?
- Eu a tenho há muitos anos, e só saio mesmo para exibi-la nestas ocasiões.
Vão dizer que coisas simples me atraem, ocupam minha atenção. Mas não é assim não, só os que nunca pegaram em uma agulha e se debruçaram sobre este trabalho de paciência e perseverança poderão menosprezar um trabalho dessa natureza.
. Duvido, que nos dias de hoje, estas mocinhas de barriga de fora, que perambulam por aí com seus vestidinhos lindos de morrer tenham a coragem de ficar horas a fio, fazendo rodinhas de crochê.
Outra surpresa. Eu vivo reclamando das porcarias que vem da China. De fato, são muito baratas, mas são descartáveis. Não duram nada. Quanto dura um guarda-chuva? Uma chuva, e ficamos à mercê dos pingos d’água.
Pois bem, a dita cuja veio da China. A dona da blusa comprou-a numa certa exposição, onde figuravam muitos trabalhos de crochê.
Então, velhinhas chinesas, em seu artesanato silencioso e solitário, matematicamente contando os pontos, multiplicando e dividindo oferecem ao mundo suas obras de arte.
Neste mundo global, artistas desconhecidas, vão tecendo...tecendo... até...
(Eu pretendia falar sobre o evento que aconteceu nessa tarde tão amena. Um acontecimento de grande importância para a literatura. O jornal Linguagem Viva completou em 30 de setembro 20 anos de periodicidade, sem interrupções
A blusa de crochê marcou esta data. Vou deixar os comentários sobre um possível próximo trabalho para outro dia).
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