A ÚLTIMA GOTA
Lídia Sendin
A torneira pingando parecia acompanhar o tic-tac do relógio da sala. Por alguns segundos sua atenção foi desviada para o dueto compassado, mas logo a mulher voltou-se para os afazeres na cozinha, desligou o forno, espiou a panela cozinhando lentamente, passou um pano na pia e cuidadosamente arrumou pratos e talheres na mesa.
Com a esperança renovada suspirou e sentou-se no sofá olhos fixos no telefone, “ não toque, não toque”, pensou. Levantou, espiou pela janela tentando afastar os pensamentos indesejáveis, marido atrasado, dinheiro contado, cara feia e pouca atenção e a comida no forno desligado. Agora era seu coração que fazia dueto com os pingos na cozinha. Não conseguia fechar a torneira, emperrada como sua vida. O soar do telefone estremeceu seu corpo, não precisava atender para ouvir a voz do outro lado: “não vou jantar”.
Foi para a cozinha guiada pelo pingar da torneira. Desligou a chama do fogão e a esperança.
Entre dois pingos o avental estava no chão, o pente ajeitava os cabelos e o batom vermelho realçava sua boca.
Agora sua raiva foi forte o suficiente para fechar a torneira. O que ouviu foi a porta batendo atrás de si, era o última gota, para ela também.
Lídia Sendin
A torneira pingando parecia acompanhar o tic-tac do relógio da sala. Por alguns segundos sua atenção foi desviada para o dueto compassado, mas logo a mulher voltou-se para os afazeres na cozinha, desligou o forno, espiou a panela cozinhando lentamente, passou um pano na pia e cuidadosamente arrumou pratos e talheres na mesa.
Com a esperança renovada suspirou e sentou-se no sofá olhos fixos no telefone, “ não toque, não toque”, pensou. Levantou, espiou pela janela tentando afastar os pensamentos indesejáveis, marido atrasado, dinheiro contado, cara feia e pouca atenção e a comida no forno desligado. Agora era seu coração que fazia dueto com os pingos na cozinha. Não conseguia fechar a torneira, emperrada como sua vida. O soar do telefone estremeceu seu corpo, não precisava atender para ouvir a voz do outro lado: “não vou jantar”.
Foi para a cozinha guiada pelo pingar da torneira. Desligou a chama do fogão e a esperança.
Entre dois pingos o avental estava no chão, o pente ajeitava os cabelos e o batom vermelho realçava sua boca.
Agora sua raiva foi forte o suficiente para fechar a torneira. O que ouviu foi a porta batendo atrás de si, era o última gota, para ela também.
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