Ludovico da Silva
Aquela estátua de mármore não era uma representação figurativa erguida na rua deserta. Provavelmente, homenageando alguma alma feminina. O menino, cansado de fugir, aconchegou-se em seu colo. Ao vento, que a tornava mais fria, embalava o sono. Faltavam-lhes as roupas. Pouco importava. A imaginária canção de ninar os alimentava no carinho do amor.Ele olhava aquele rosto angelical e retribuía com um sorriso de inocente. Por que estavam a sós? Ela bem que sabia. Mas preferia transmitir com o olhar de mãe a certeza de sua missão. O abandono era circunstancial. Nem os cabelos os separavam. Compridos e loiros, dela. Encaracolados, curtos e escuros, dele. Sentiam-se seguros como os fortes.A sombra amiga os reconfortava e o perfume das flores os envolvia nos laços eternos do profundo amor a que se entregavam. A troca recíproca de sentimentos os afastava da solidão. Eram solidários e cúmplices de um momento de desventura.O tempo, no caminhar implacável, foi abreviando-lhes a vida. O sol e as chuvas desbotando o olhar e danificando os corações. A troca de sorrisos foi perdendo o significado mais forte e minando-lhes as forças. O ninar não lhes dava mais descanso. Na última vez que se olharam, a tristeza embruteceu os semblantes. Os olhos fechados não eram de quem dormia. Ela só parou de embalar quando sentiu frio aquele corpo franzino.O menino parecia sorrir.
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