História sem fim
Carmen M.S.F.Pilotto

Puxe a cadeira e sente no chão! Emília me põe à vontade, lado a lado, desvelando e revelando meu universo infantil. Tento engolir a pílula que está há anos em minha garganta, ou será que está cravada em minha alma? Delineio uma roda de amigos, dou animação virtual aos companheiros que necessito. Exacerbando sorrio alto, e o espantalho ao lado me belisca. Contenho marotamente meus impulsos, Poliana de outro lado, vestido azul de seda, tange-me um olhar compreensivo. Negrinha, a minha esquerda, vestido de chita, me fita com olhos de jabuticaba doce. Minha mão inconscientemente alcança a mão de Emília, que enlaça Alice e puxa Carlitos. Forma-se um círculo grande de devaneios e acalantos, onde a lenda se refaz em vida, o inanimado perfaz-se em movimento. Num frenesi todos personagens formam um caleidoscópio multifacetado de emoções e viagens etéreas.
Como Pinóquio acreditava firmemente, também estou convicta de que um desejo pode transformar minha dureza urbana novamente em menina pueril. Uma nesga de luz na janela entreaberta traz a realidade abruptamente. No céu ao longe Wendy retorna furtivamente à Terra do Nunca...