As reuniões do Grupo Oficina Literária de Piracicaba são realizadas sempre na primeira quarta-feira do mês, na Biblioteca Municipal das 19h30 às 21h30

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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Literatura e Felicidade




Raquel Alves

Tudo o que decidimos na vida é, por mais que não tenhamos consciência disso no momento, uma tentativa de sermos felizes: fazer uma graduação, desistir dela, casar, separar, comprar um carro, plantar um jardim, fazer terapia, ter um ou vários pets, praticar um esporte, escolher um livro para ler ou uma série para assistir.

A grande questão é, contudo, saber quais são as escolhas que de fato combinam conosco e que podem nos conduzir a uma vida mais feliz. Para isso precisamos resgatar a nossa essência humana, as nossas verdades e os nossos valores. Não temos como encontrar isso em propagandas de marketing dedicadas em acordar desejos ocultos em nós, mas no nosso silêncio íntimo e profundo, residente de um lugar onde só nós, diante de uma relação sincera e consciente com a vida, podemos acessar.

E a literatura tem papel fundamental na construção desse caminho. Em primeiro lugar porque precisamos silenciar para conseguir ler e, com isso, nosso corpo vai aprendendo a se conectar com o mundo interno que os habita, senhor de muitas respostas. Em segundo lugar porque nosso dia a dia não é acelerado e tão cheio de informações como o mundo das telas. A vida não é hiperestimulante. E a literatura tem um ritmo que se conecta com o do viver. Quando fechamos um livro, a vida não nos parece desinteressante, mas quando desligamos o celular após longos momentos entre feeds e vídeos sim. E por fim, a grande magia da literatura: a tecnologia do livro!

        Livros são simples, um monte de papel escrito, diagramado, às vezes ilustrados, que podem ser grampeados, colados ou costurados. Tecnologia zero. Errado! A tecnologia dos livros não é neles em si, mas no que fazem com a gente quando os lemos: “abrem”  em nós um universo de imaginação e criatividade onde ativamos nossos pensamentos, nossos sentimentos e nossa capacidade de nos manter concentrados, atributos fundamentais para acessarmos aquele lugar onde moram nossas verdades.

Quando lemos para uma criança, para muito além de oferecer um brinquedo feito com letras para ela, a convidamos para acessar uma conduta que a faça ter relação mais profunda com sua vida. E quando um adulto lê para uma criança, oferece a ela o que temos de mais precioso para dar aos pequenos: momento de qualidade, no qual estamos inteiros para eles. Esses momentos comunicam, sem palavras, que estamos ao lado delas   amando-as e protegendo-as. E isso é fundamental para que crespam emocionalmente seguras.

E a literatura infantil, mesmo sendo direcionada a crianças, dialoga com todos, até a velhice. Comunica muito com poucas palavras, por envolver metáforas, simbologias e ilustrações. O adulto que ler “O Pequeno príncipe” confirmará minha tese: é uma história que dialoga fundo com a natureza humana, de forma que só os adultos podem compreender. Cada “criança” acessa e extraída história o que consegue, a partir do seu repertório de vida.

Meu pai, o escritor Rubem Alves (1933 - 2014), um dos principais nomes da educação e da literatura brasileira, apostou nas histórias como fonte para a construção da minha segurança emocional já que, por ter nascido com lábio leporino e fenda palatina, teria adversidades para enfrentar desde cedo. E para além disso, a literatura foi o meio que ele encontrou para despertar em mim o desejo profundo de viver, apresentando-me por meio dela a sensibilidade, a beleza e o mundo mágico dos sentimentos e dos pensamentos.

Eu, que depois de adulta tive que enfrentar o duro processo de perda de visão, carrego em mim a seguinte pergunta: de que adianta ter visão perfeita se os olhos da nossa alma forem míopes? Pois bem, a literatura oferece para a nossa alma as lentes necessárias para que veja de forma clara e cristalina... Quer coisa melhor?

  

Raquel Alves, pensadora, autora de cativantes livros infantis e palestrante, traz consigo uma história extraordinária influenciada desde cedo pelo legado de seu ilustre pai, o renomado Rubem Alves. Sua jornada de vida, marcada por desafios de saúde física e emocional desde a infância e a adaptação a deficiência visual na vida adulta, molda sua perspectiva única de enxergar e experienciar o mundo. Um exemplo notável de resiliência e determinação, Raquel compartilha, por meio de suas narrativas e reflexões, a essência humana e a beleza da vida, encantando e inspirando tanto crianças quanto adultos.

 


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