Margarete de Oliveira Pagotto*
Ao ouvir o conto “A moça tecelã” de
Marina Colasanti, contado no último ATPC na escola onde sou professora, lembrei-me
de minha própria origem.
Nasci em um lar onde minha mãe, até
altas madrugadas, tecia e tecia com agulhas de crochê, blusas, casaquinhos,
onde desenhos formavam-se, tornando os
trabalhos cada vez mais admiráveis. Fui
batizada por uma costureira aposentada que também confeccionava
trabalhos maravilhosos; por outro lado, sou crismada por uma professora que,
com muita paciência, auxiliou muitas
crianças na arte de ler e escrever, e sou uma delas. Com muito carinho e
atenção, a “tia Otília” me tomava a
tabuada e me ensinava o abecedário, na
cartilha,ela tecia comigo as primeiras
palavras. Esse é o começo....
Aos dezoito anos decidi traçar meu
caminho e escolhi fazer o curso de letras, até tentei fugir dessa profissão, ao
me formar trabalhei em outras áreas que não pertenciam a da educação, porém de
nada adiantou, porque, talvez pela convivência com mulheres tão trabalhadoras e
decididas desde a infância, iniciei, um pouco tardiamente, a arte de auxiliar
outras crianças a viajar através da leitura e transmitir sua opinião pela escrita.
Arte difícil essa, trabalhar com
crianças que muitas vezes trazem de lares desestruturados problemas muito
maiores que os nossos ; a leitura e a
escrita são pouco atraentes para elas. Muitas vezes, já entro ou entrei em sala de aula desejando
não estar ali,porém ao conseguir auxiliá-los a aprender e valorizar
esse aprendizado, ... de repente ,tudo se transforma ,quando dentre eles
aparece um, pelo menos um, que traz um texto bem elaborado, que conta sobre um
livro que leu, que demonstra que você participou de seu aprendizado, enfim, que valoriza a educação como um meio para ter
um futuro melhor.
Deparo-me então com outra grande
dificuldade, como trabalhar com a maioria que vem para escola sem atenção, sem
incentivo para o aprendizado? Como
atingi-los? Sei que não há uma resposta pronta e que devemos tentar...tentar e continuar
tentando, tecendo a cada dia uma nova manhã,
valho-me do poema de João Cabral de Melo Neto, “ um galo sozinho não tece uma
manhã: “ ele precisará sempre de outros
galos...para que a manhã ... se vá tecendo...” Esse tecer é o nosso
aprender, o fazer, o transformar ...o que faz com que todos, professores e alunos,
construam o futuro.
* Professora de Língua Portuguesa da EE Profª Catharina Casale Padovani
Um comentário:
Minha mãe era professora,
eu lecionei durante 32 anos,
minha filha é professora,
e minha neta de 8 anos adora brincar de escolinha, mesmo ensinando tudo que aprende para alunos imaginários...
Escolhi, adorei e considero a " melhor profissão do mundo".
Parabéns pelo texto!!!!!
Dirce Ramos de Lima
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