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Reunião na Biblioteca

domingo, 20 de junho de 2010

A casa azul


A casa azul
Ivana Maria França de Negri

Todos os dias Maria Laura era obrigada a passar em frente à casa azul. Um sobrado antigo, com as sacadas salientes voltadas para o poente.
Achava tão fria aquela tonalidade, e à tardinha, com a incidência dos raios solares, a casa confundia-se com o céu e se tornava invisível. Que esquisito! Uma casa invisível!
Por anos a fio, enquanto ia ou voltava do colégio e depois enquanto fazia o caminho de ida e de volta do trabalho, a casa azul a intrigava, sempre fria e deserta, apenas o gato siamês de olhos tão azuis quanto as paredes, dormitava no muro aproveitando o ar fresco das tardes, era o único a dar sinais de vida.
Diziam que a casa era habitada por uma senhora desiludida da vida porque perdera seu grande amor num acidente, pouco antes do casamento. Nunca a vira nestes anos todos, reclusa que era, prisioneira da própria casa.
O gato continuava sendo visto, ora no telhado, ora no muro, outras vezes caminhando ou correndo atrás de algum inseto nos gramados do jardim.
Nunca soube explicar o porque daquela casa exercer um fascínio tão grande sobre ela.
Naquela tarde, como em tantas outras, passando em frente à casa azul, viu o portão abrir-se e emergir dele um par de olhos tão azuis quanto os do gato e as paredes da mansão. Ficou tão atrapalhada que derrubou a pasta e os livros que carregava.
O moço de olhos de céu ajudou-a a recolher o que derrubara, abriu um enorme sorriso e ficaram conversando por longo tempo, nem sabia precisar quanto. Estava hipnotizada por aquele olhar azul. Ficou sabendo que a senhora falecera e ele era o único sobrinho e herdeiro dela. O sobrado, os móveis e certamente o gato, agora lhe pertenciam.
Como o mundo dá voltas! Depois de um ano de tórrida e fulminante paixão, os dois se uniram e vieram morar na casa azul, não sem antes pintarem-na de cor de rosa.
E chegaram as lindas crianças trazendo mais cores, alegria e movimento àquela casa. Gritinhos infantis ecoando pelas paredes outrora azuis. O frio do anil, substituído pela quentura do rosa. E quando chegava a tardinha, abraçada pelos raios solares, a casa refletia todas as cores alegres de um arco-íris.
E nunca mais se tornou invisível.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sem duvida Ivana, foi um nobre ato ,o seu. Adorava Saramago, para mim foi uma grande perda.
Abraços,
Valéria