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Reunião na Biblioteca

quarta-feira, 29 de maio de 2019

A velha Singer

Vestidinho que minha mãe costurou para mim na sua máquina Singer
(tem quase sessenta anos!)


Ivana Maria França de Negri

            Depois de mais de uma década, reencontrei a velha máquina de costura Singer da minha mãe.
            Ficou esquecida no quartinho do quintal em meio a caixas com jogos de xícaras, aparelhos de jantar, copos, prataria e papeis, muitos papeis.
            A correia gasta de tanto rodar. E o móvel, serviu nesse tempo todo para morada de ávidos cupins.
            Abri curiosamente cada uma das gavetas. Elas ainda guardavam velhos botões, linhas empoeiradas,  retalhos descorados e alfinetes enferrujados.
            Os vorazes cupins destruíram toda a parte de madeira. Mas em minhas nítidas  lembranças, a vejo ainda  possante, o móvel lustroso, e  posso até ouvir o som do vai e vem do pedal que minha mãe dominava com destreza.
            Eu, menina, ficava frustrada porque não conseguia fazer o pedal funcionar. Era preciso força e prática. E as perninhas não alcançavam o pedal. Então, agachada,  o fazia funcionar com as mãos. Então ficava muito feliz!
            Quantos vestidinhos de festa foram confeccionados nessa máquina. Meus e de minhas irmãs. Batinhas brancas de bordado inglês e muitas sinhaninhas. As  alças de fitas de cetim. Passanamarias na roda da saia, e passafitas nos acabamentos, onde mãos experientes passavam as fitas com o auxílio de um grampo de cabelo, e resultavam em lindos vestidos para ocasiões especiais. Depois de prontos, eram engomados levemente com Goma Pox para ficarem armados. As mangas bufantes, difíceis de passar a ferro, eram afofadas com as mãos e as golas eram carinhosamente ajeitadas.
            Eu ainda tenho guardado um vestidinho da minha infância feito por minha mãe. As rendas são de crochê, elaboradas com capricho pela minha avó.
            Por curiosidade, pesquisei na internet sobre a evolução das máquinas de costura. Foi Isaac Singer que obteve a patente do primeiro modelo em 1851. E ele teve a certeza de que criara um produto que iria revolucionar o milenar processo de armar e unir os pedaços de tecido.
            A máquina de costura passou a ser um importante objeto nos lares brasileiros, tornando-se um item indispensável nas listas de presentes de casamento. Além de fazer reparos domésticos e economizar, as mulheres também costuravam para fora, e ajudavam a contribuir com a renda da família. Muitas viraram modistas famosas e muito requisitadas para vestidos de noivas e debutantes. O velho Isaac Singer há muito se foi, mas sua invenção continua evoluindo e sendo sucesso. As atuais são digitais e fazem de tudo: bordam, fazem zigue-zague e overloque.
            E eu, quando ganhei a minha nos anos setenta, confeccionei muitos vestidinhos para minha filha. O tecido era cortado no molde, e a máquina já  funcionava com motor.
            Meu Deus, por que o tempo passa tão depressa? Eu era menina, e minha mãe costurava para mim, depois minha filha era a menina, e era eu quem costurava. E me lembro que cantava a valsinha do Toquinho para ela dormir : “menininha, não cresça mais não, fique pequenininha na minha canção”... Mas ela não me obedeceu e cresceu. E agora tem suas próprias menininhas, minhas amadas netas.
            É a roda da Vida que não para de girar. E as netinhas vão crescendo também porque a roda é eterna e não pode parar.
            E as avós costureiras e bordadeiras, vão partindo para costurar em outras dimensões suas colchas de retalhos, entrelaçando  tantas vidas...

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