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quarta-feira, 21 de junho de 2023

AVES E ALMAS


(uma brincadeira que fizemos há muitos anos...)
Quartetos de Lino Vitti e tercetos de Ivana Negri

Esperamos que um dia esta gaiola,
onde nossa alma vive aprisionada
e a gente, pouco a pouco, se estiola,
se parta e a alma saia em revoada.

E que o mundo, infeliz e triste bola,
muitas vezes vaidosa e malograda,
role pelo infinito, como rola
a bola por atletas mil, chutada...

A vida vai além desta gaiola,
toda vaidade é vã, não somos nada.
E  chega o dia em que ela se extrapola!

E noss´ alma no fim desta jornada                                         
saltará do corpo como uma mola
 para viver eternal alvorada.       
                                     
Eu vejo o mundo como grande escola,
viver não é nenhum conto de fada
e nem passeio numa barcarola

Termina um dia aqui a nossa estada,
salta do corpo a alma como mola
 rumando ao infinito, burilada.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Eu e a Poesia



 Lino Vitti - Príncipe dos Poetas Piracicabanos



        Meus primeiros versos, escritos a medo, pois o seminário religioso não admitia alunos poetas porque a poesia de nada servia para a vida sacerdotal, foram de cunho religioso e dedicados a Nossa Senhora. Não os guardei, mas lembro perfeitamente que agradaram a um clérigo poeta vindo de outra congregação de religiosos para a dos Padres Estigmatinos, e que vaticinou-me: o senhor vai ser um poeta de verdade.
Profecia cumprida. Há mais de 60 anos assumi o grato dever de poetar, publicando meus sonetos e poemas nos jornais, revistas e semanários da terra piracicabana, cuja conseqüência foi a edição de 7 livros de poesia e contos, distribuídos aos milheiros ao povo de Piracicaba e, ao que sei, aprovados por ele, tanto que a Academia Piracicabana de Letras me honrou com o significativo título de “Príncipe dos Poetas Piracicabanos”. Guardo-o com carinho, com alegria, como troféu e prêmio maravilhoso aos meus longos e felizes anos dedicados à arte escrita e rimada dos Bilacs, dos Raimundos Correia, dos Guilhermes de Almeida, dos Gustavos Teixeira, dos Franciscos Lagreca, das Marinas Tricânicos e de outros mais que dignificam a poesia desta terra, chamada que foi, de Atenas Paulista.
O professor universitário de literatura de São Paulo, Hildebrando de André, meu companheiro de seminário no Colégio Santa Cruz de Rio Claro, em correspondência trocada entre nós, afirmou sempre que Piracicaba era uma terra privilegiada, uma terra de poetas verdadeiros, um santuário de poesia – dizia ele – que tem a graça de contar com a cooperação feliz dos seus jornais matutinos, semanários, ou revistas, aqueles oferecendo semanalmente uma página de sua edição à poesia dos seus poetas, como podemos ver na sexta-feira, em A Tribuna e aos sábados( foi suprimido) no Jornal de Piracicaba, a cargo dos escritores Ivana Maria F. de Negri e Ludovico Silva.
Poucos têm a felicidade de ver seus poemas e ou sonetos publicados durante seis décadas para mais, por isso me julgo honrado pelos nossos jornais, dignificado pelos leitores da minha terra, realizado na arte dos versos, estrofes e rimas, graças à compreensão dos diretores, editores, paginadores, distribuidores, leitores e todos quantos trabalham para nos entregar a cada manhã, um nobre jornal como o Jornal de Piracicaba, a Tribuna de Piracicaba e o semanário Folha Cidade, todos acolhedores incontestes de minhas elucubrações poéticas de mais de 60 anos.
E diante de tão flagrante acolhida, diante do respeito que em Piracicaba a Poesia merece, diante da proliferação da arte que dignificou poetas como Dante, Shakespeare, Victor Hugo, Olavo Bilac, Gustavo Teixeira, Vicente de Carvalho, Guilherme de Almeida, Camões, e uma infinidade de nomes gloriosos e reais poetas, eu me curvo em dar graças a Deus, Poeta Criador do Universo, do Homem e do Amor, por haver premiado o mundo de Poesia e Poetas, e agradecer igualmente aos poetas do mundo e do universo por terem aprendido a Poesia de Deus, e por lhe darem continuidade até a consumação dos séculos, com tanta dedicação e tanto carinho como merece essa graça de Deus.
A Poesia é a história dos povos, escrita em estrofes, em versos, em baladas, em sonetos, em poemas, em rimas. Numa linguagem sublimada, figurada, sintetizada, onde falam mais a alma e o coração do que as datas, os fatos, as personalidades, a ciência. Ser poeta é ser beija-flor: sugar o mel da vida, ao librar das asas sempre no espaço e sem tocar o desencanto do solo. É sonhar que se é angelical e não ser nunca envolvido pelo pó. Ser beija-flor, cujos beijos pousam sobre qualquer tipo de flor, sem olhar para a cor, sem olhar para as alturas em que ela bebe a luz do sol, buscando sempre o dulçor melífluo que se esconde no âmago de cada uma delas. Ser poeta é isso: buscar sempre o que é belo, cantar sempre as harmonias das coisas e da vida, ter os pés na terra, mas o olhar nas alturas do  infinito. Poesia há de ser alegre, pois se for triste não será poesia, será dor.
São mais de 60 anos que poetizo. São mais de 60 anos que me sinto feliz, pois a minha poesia rendeu frutos, foi lida, foi julgada, foi amada. Haja vista que se tempos atrás os poetas eram raros como os diamantes, hoje eles florescem como seara e a poesia deles espalha um perfume de beleza, de sonhos, de encantamento.
        Graças a Deus, a picada que tentei abrir está transformada em caminho florido.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

SANTO DA PAZ



Poeta Lino Vitti

De irmão chamava ao passarinho arisco,
De irmã chamava a besta cavalar.
E ele era santo, ele era São Francisco,
Aves e feras tinha para amar.

A riqueza para ele – apenas cisco –,
O mundo – um triste e exótico lugar.
E aspirava reunir, num grande aprisco,
O Céu e a Terra e  o Deserto e o Mar.

Nesse amor envolvia o mundo inteiro,
Da luz da caridade, o alto cruzeiro,
- Caminho eterno da felicidade.

Nosso irmão São Francisco,  o mundo sofre,
Abre do teu  amor o santo cofre,
Cofre da Paz à irmã Humanidade.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

AS VOZES DA FLORESTA


Lino Vitti

Na longínqua infância, nascido em paragens roceiras, bebendo a saúde dos ares campesinos, tostando a epiderme frontal sob os raios intensos do sol, ouvindo os hinos alados da passarada silvestre, contemplando o colorido das flores tropicais, atento a todos os rumores da floresta virgem, costumava eu penetrar esse templo verde da criação, quiçá para satisfazer os nascentes pendores poéticos que evoluiriam até os dias de hoje navegados no barco de 90 anos, longo prêmio de vida de que sou grato a Deus.
Só quem, como eu, tiver essa felicidade, entenderá quão maravilhosa é a contextura de vozes e sons que a floresta reserva para aqueles que saibam ir até ela para ouvir-lhe os segredos, os rumores multiplicados, as vozes intensas ou sussurradas que ela guarda para quem a ama, para quem a compreende, para quem a quer decifrar e a busca com esse intento encantador e feliz.
Prestemos atenção, calemo-nos porque amanhece e a floresta desperta e a vida animal da floresta acorda, cheia de saudações e cumprimentos ao deus sol que se compraz em enviezar seus raios por entre a folhagem onde dormiram o sono da beleza florestal, aves, animais, insetos, embalado pela suavidade da brisa noturna que sempre vem envolver a mata como um lençol diáfano para cobrir o sono da passarada e dos insetos múltiplos que na floresta moram.
Como canta divinamente bem o sabiá de peito vermelho, uma jóia de penas rubras a enfunar-lhe o peito, de onde brota a melodia, diria eu, ensinada por mágicos da música. Fusas e semifusas, às vezes mínimas e semínimas, ah! meu canoro sabiá, onde foste encontrar essa página de sons maviosos com que saúdas o vir e o despedir do dia? E esse martelar sobre madeira, será algum carpinteiro madrugador que montou sua oficina em meio do arvoredo? Que nada! É simplesmente o pica-pau que resolveu martelar os troncos à cata de alimento. E a floresta ressoa certamente! Olha aí agora! Que gritaria de guerra essa que chega aos ouvidos do visitante matinal! ? Sabem, é um bando de maritacas que deixou o pouso e saiu matracando por sobre o arvoredo em busca do dejejum da manhã.
O visitante desse reino de verdores e sonoridades aladas, pára por momentos, porque o que lhe chega ao ouvido tem o poder de deter-lhe os passos. Que variedade de notas, que longa ópera musical! Tudo se transforma numa maravilhosa composição bethoviana, ou num oratório mozartino. São muitas as gargantinhas aladas que querem participar deste acordar da mata, juntando suas canoras partituras, umas a outras, num coro espetacular de sonoridades. E o visitante se extasia, o visitante fica de boca aberta e ouvidos mais abertos ainda, para não perder uma nota só daquela orquestração de pássaros que acordam.
Quando a floresta acorda, acorda a sinfonia de seus pássaros, muitas vezes unida à sinfonia dos animais silvestres que urram, guincham, gritam, entrelaçam-se numa estranha orquestra de vozes, para mostrar que lhes compraz, e muito, saudar a chegada da luz, participar da festa do amanhecer na mata, conversar, à sua maneira, com a vida e com o vir da luz.
Haveria ainda a dizer aqui algo mais sobre o trilar dos grilos sob a alfombra, o zumbir das abelhas em busca de flores e mel, o estalar de galhos secos que estouram de repente, o eco de rumores distantes que reboam pela floresta a dentro, ruídos de passos sobre as folhas ressequidas do chão, grunhidos e ulos, tudo compondo essa orquestra indescritível, mas real, das vozes da floresta virgem, de que tenho saudade, porque hoje a floresta desapareceu pela ação nefasta do homem e com ela todas aquelas vozes significativas da vida que em seu recesso acolhedor habitavam.
Quiçá se houvera o IBAMA, floresta virgem ainda fosse o que escrevi acima.!

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O VALOR DA CRÔNICA


Lino Vitti

Crônica – termo oriundo de cronologia – registro diário dos eventos e pessoas, é um texto escrito em poucas linhas de estilo elevado, conciso, nobre, podendo pender para a poesia ou num recheio de figuras literárias, capazes de chamar sobre si a atenção dos espíritos evoluídos e incontestavelmente inteligentes.
Aprecio sobremaneira a crônica e durante toda minha vida jornalística me empenhei em cultivá-la, com prazer e aperfeiçoamento. No valioso Jornal de Piracicaba, onde lidei anos e anos como redator, em certa época tive a meu cargo a edição da crônica chamada “Prato do Dia”, a que o diretor Losso Netto dedicava carinhos especiais. Deve ter agradado a muitos, pois recordo que dezenas de anos depois de haver sido extinta pela incompreensão de um editor que passou por aquele matutino, ao encontrar com leitores e assinantes me interrogavam: “ seu Vitti, por que tiraram fora o “Prato do Dia”? Ou então “quando vai voltar o “Prato do Dia”, de novo?”
O testemunho entretanto do valor inconteste da crônica e em especial do “Prato do Dia”, me veio às mãos lá pelos idos de 1983, de uma das mais altas autoridades nacionais da língua pátria, o eminente mestre de Português e Dicionarista famoso, prof. Napoleão Mendes de Almeida, responsável durante décadas de sua vida pela coluna ‘QUESTÕES VERNÁCULAS’ , célebre coluna de “O Estado de São Paulo” que, diariamente levava a professores, alunos, jornalistas e redatores, ensinamentos sobre o correto uso do idioma e solucionava quaisquer dúvidas que a respeito lhe fossem enviadas e solicitadas. Remexendo, como todo escritor, poeta, redator faz, em sua velha estante onde se amontoam desordenadamente livros, cadernos, papéis, arquivos, etc., encontrei a seguinte preciosidade, vinda daquele inimitável dicionarista brasileiro: “Caro professor Lino Vitti: Estou a cometer grave falha: é a conclusão a que chego ao folhear neste instante duas grossas pastas de correspondência, numa das quais dei com a sua gentileza de 5 de fevereiro de 1981 , dia em que no “Prato do Dia” anunciou de maneira mais amiga possível o lançamento deste meu “DICIONÁRIO DE QUESTÕES VERNÁCULAS”. Dois rápidos anos se passaram mas creio estar ainda em tempo para trazer-lhe o exemplar prometido.
Não me leve a mal o atraso do cumprimento da promessa então feita; estou quase três anos sem férias e passo meses inteiros sem fins-de-semana .
Com um abraço, meus votos de saúde ao distinto professor e bondoso amigo. São Paulo, 29-3- 83 – assim. Napoleão Mendes de Almeida”.
Não preciso acrescentar mais nada.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Espaço Poesia - PAZ *

A PAZ FUJONA
Lino Vitti (Príncipe dos Poetas Piracicabanos)

Que foi feito da Paz? Que foi feito da Paz?
Foi um sonho talvez que o tempo já apagou?
Mas um sonho se vai como a brisa fugaz,
Deixando uma ilusão nas mãos de quem sonhou...

Por que a Paz foi embora e por que desertou?
Faltou talvez amor – o amor que tudo traz?
Foi quiçá criminosa e o mundo a encarcerou
Numa inóspita e atroz e insólita Alcatraz?...

Decerto a humanidade, invés de muito amá-la,
Do nosso mundo a fez fugir tragicamente
Armou-se do desprezo e quis assassiná-la.

E por isso no céu, na terra e no universo
- Caim que busca amor, mas tudo inutilmente-
O homem vive infeliz, solitário, disperso...


O PREÇO DA PAZ
Francisco de Assis Ferraz de Mello

Esse é o preço da paz,
disse a América orgulhosa.

Esse é o preço da paz,
repetiu a astuta Europa.

Esse é o preço da paz,
ouviram mudos, atônitos,
os miseráveis do mundo.

E não se cala a pergunta:
Qual o preço da paz?
A paz, criação sublime,
mas os tiranos a esmagam
com a força de suas botas.

PAZ, ONDE ENCONTRÁ-LA?
Ivana Maria França de Negri

Procure-a nas mansões,
nos casebres e nas prisões

Procure-a nos mosteiros,
nas igrejas e nos estaleiros.

Procure-a nas escolas, na rua,
nas estrelas e na lua.

Procure-a nas crianças felizes
nas santas e nas meretrizes

Procure-a nos animais
nas plantas e nos vegetais

Procure-a na arte do pintor,
do poeta e do agricultor

Procure-a nas mães, nos soldados
nos loucos e nos condenados

Procure-a onde puder
na terra, no céu, e no mar

E terá que mudar somente
a sua maneira de olhar.

Veja tudo com outros olhos
e a Paz irá encontrar...

PAZEAR
Carmen M.S.Fernandez Pilotto

Entre na roda da Vida
com uma canção em sua alma
faça de sua rotina uma sina
que acalente multidões

Somos partículas de Deus
a serem espargidas pela terra
responsáveis em ser guarida
mesmo ao inimigo mais atroz

É um prazer compartilhar
de um sorriso ou de um abraço
força motriz necessária
aos fracos e desesperançados

E em uma cantiga serena
a vida vai se transformando
pois só com alegria e paz
podemos salvar nosso mundo...

UTOPIA
Dulce Ana da Silva Fernandez

A cor branca é poderosa!
No horizonte do mundo
Pomba alva, alegre, alvissareira
Trazendo no bico um ramo de oliveira
Rente ao ramo, rebentos verdejam...
O coração cheio de amor festeja!
Num tempo de Paz,
Que não existe.

PAZ
Leda Coletti

Se no mundo existir paz
o amor vai prevalecer
e o homem será capaz
de na terra bem viver.

Quando o homem compreender
que foi feito para o Além,
irá procurar viver
em paz, só fazendo o Bem.

TEMPO DE PAZ
Maria do Carmo Cherubim

As profecias
já estão chegando
rompendo o ritmo das catedrais
Mudos anjos esquecidos
se pensam sós
em seus cantos ancestrais

Aprisionados à inércia
que no Universo impera
vivem a vida.
Sem pensar as dores
desse mundo que se altera.

E o badalo dos sinos revela
a cadência nova das eras
Nova Terra...novo tempo de Paz

PAZ E POESIA
Raquel Delvaje

Quero me sentir em Paz!
A paz do coração
Que me faz solto
Como num porto
Barco a vela a velejar
Mar calmo, céu azul...
Quero me sentir em paz!
Na estrada, no céu,
E voar para bem longe,
No espírito de quem sonha
Com a paz...
E não quer encontrar
Nem armas, nem assaltos
Nem violências nem fome
Nem o frio da alma.
Quero me sentir em paz!
Em uma estrada sem buracos,
Sem curvas...
Para uma nova era
Somente paz!
Nada de guerra.
Deposito desde já
Em forma de poesia
Minha flor,
Símbolo do amor e da paz.

MINHAS BANDEIRAS DA PAZ
André Bueno Oliveira

Adoro a nuvem branca em céu sereno,
a brisa virginal das madrugadas,
a luz rubro-carmim das alvoradas,
o som da passarada em canto pleno!

Eu amo da cascata o pranto ameno,
os rios de minha infância: as enxurradas...
Poeta infante-idoso, eu creio em fadas,
que aos céus proveem estrelas, num aceno!

Não dá para aceitar que um ser humano,
ansioso por tornar-se soberano,
destrua os seres vivos desta terra!

Países, povos, lares dizimados...
Os sonhos, fauna, flora, decepados...
Não posso concordar que exista a guerra!

PAZ
Cassio Camilo Almeida de Negri

Todos os seres do mundo desejam a paz.
No entanto, notamos que a violência cresce a cada dia e ficamos mais e mais sem a paz desejada.
Tentamos então, encontrá-la de todas as maneiras, pedindo a Deus que a coloque em nosso caminho, divulgando-a através de passeatas, artigos nos jornais, frases de efeito, no entanto a violência continua...
Acabamos por perceber que a paz está diretamente ligada à autotransformação que se processa dentro de cada um de nós.
Temos de mudar, nos comportando como seres de paz. Nos nossos relacionamentos do dia a dia, nos papéis que exercemos de pais, professores, alunos, esposos.
Quando mudarmos, a paz interna será refletida no comportamento, nas ações e relações pessoais.
Assim, nos transformando, e através de nossos exemplos, vamos expandindo a onda vibratória de paz para todos.
“Quando eu mudo, o mundo muda”. Na próxima vez que nos observarmos com raiva, vamos transformar essa energia negativa em energia positiva de paz.
Ao acender a luz da paz em uma alma, o mundo inteiro pode ser aceso. De um, dez acenderão. De dez, cem acenderão. De cem, mil acenderão. No final, o mundo inteiro será aceso e então haverá a paz!
* Estas poesias e texto foram publicados na coluna "LETRAS E RIMAS" do Jornal de Piracicaba no dia 28 de maio de 2011

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Que tal esta fábula?

QUE TAL ESTA FÁBULA?
Lino Vitti

Para mim, acho que as fábulas não envelheceram e elas podem muito bem ser entendidas, apreciadas e aplicadas na atualidade, de vez que o homem interiormente não muda com o tempo. O que disseram, escreveram, comentaram Esopo, Phedro, La Fontaine e outros mais, serve perfeitamente para os nossos tempos, quando o mundo está cheio de lobos e cordeiros, serpentes e tolos, asnos e raposas, rãs e aves, cães e urubus, tal e qual os havia ao tempo dos geniais fabulistas.
Vejam esta pequenina fábula que fui buscar no livro de Phedro, uma preciosidade guardada pelo mano António que também lidou com elas no seu tempo de seminário dos Irmãos Maristas, e por mim mesmo passada para o vernáculo: é a de n. 72 e sob o título “O ASNO E A LIRA. Um asno, no campo, viu uma lira deitada no chão relvoso. Chegou-se a ela e tentou tocar suas cordas com as grandes unhas. Tocadas por elas, começaram a soar.- Bela coisa, disse o burro, mas, por Hércules, tive má sorte porque sou ignorante na arte. Se fosse encontrada por alguém mais hábil poderia ferir os ouvidos com divinas melodias. ( Moral da fábula que encerra sempre o texto de qualquer delas). É ASSIM QUE MUITAS VEZES SE PERDEM OS GRANDES GÊNIOS.”
Percebe-se no fundo, que o azêmola se considerava um gênio que perdia a oportunidade de exibir toda a sua cultura de conhecimentos musicais, numa hora em que poderia fazê-lo, entretanto impossível se tornava, devido ao tamanho das unhas (casco).
Mutatis mutandi, ou em português, uma coisa pela outra, a humanidade guarda em seu seio muitos “burros”,como aquele, que pretendem ser gênios e tocar uma harpa com seus enormes dedos, cheios de incapacidade, para mostrar aos outros que é aquilo que estes não conseguem ver: a sua sapiência, a sua arte, o seu trabalho, a sua cultura, a sua genialidade, longe de corresponderem ao que intenta demonstrar.
E aí poderiam dizer como o burrico: “bela coisa, mas tive má sorte porque sou ignorante na arte. Se fosse encontrada por alguém mais hábil poderia ferir os ouvidos com divinais melodias”.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Meus noventa anos! Lino Vitti


MEUS NOVENTA ANOS
Lino Vitti

São raros os felizardos que alcançam, abençoados por Deus e pela vida, aos generosos e apreciados 90 anos de idade, lúcidos, dotados de uma visão feliz, dando para trincar almoço e jantar sem problemas, com possibilidades de ler 4 jornais diários, caminhar, passear de carro levado pelos filhos ou netos, ao lado de uma amada esposa octogenária, enfim vivendo ainda com todos os direitos e atuações advindos de uma vida memorável e repleta de atos e fatos que perlustram os anos.
Incluo-me entre esses felizes viventes humanos. Observo porém que tenho dois dias de aniversário: um, a dezesseis de janeiro, segundo aquela que me gerou e me trouxe ao mundo; outro, segundo registro do cartório de Vila Rezende, marcado em 8 de fevereiro de 1920. Explico: naqueles longínquos tempos, os que nasciam na roça, eram registrados oficialmente semanas depois ou até meses, quando o pai ou algum parente cioso em prestar favores, vinham à cidade para outros fins, aproveitando a oportunidade para passar no cartório do Mario Telles, da Vila Rezende ou dos Godoys aqui na cidade, e oficializar o nascimento. E nem sempre colocavam a data exata, daí o quid-pró-quó.
Pelo sim, pelo não, estou nos noventa anos, e me sinto uma pessoa grata a quem o Criador concedeu vida longa, sem os traumas que em geral acompanham os que desfrutam de idade avançada.
Alguém, entretanto, poderá perguntar se valeu a pena atingir a provecta idade, e ser agraciado por alguma felicidade por isso? Digo que sim, pois correndo os olhos pelos idos de vida, verifico que muito coisa de útil, de valioso, de importante, de necessário, de social, de religioso, de sonhado, de esperado, de realizado, enfim. Verifico que servi quanto pude e me permitiram as forças humanas à sociedade onde vivi,à terra onde nasci, à Fé que os pais me transmitiram, à cultura onde me envolvi, realizando sonhos e realidades, distribuindo os talentos de cultura com que Deus me dotou, criando uma família numerosa, servindo por mais de 40 anos ao povo de Piracicaba, como servidor municipal (Diretor da Secretaria da Câmara de Vereadores),escrevendo(até hoje) prosa e versos para os jornais da terra, dando instrução superior a todos os meus sete descendentes, todos engajados em altos postos da sociedade, unido em matrimônio a uma única esposa (Professora Dorayrthes S. SchmidtVitti), praticando a mesma religião católica, herdada dos pais e da família) respeitando a sociedade e seus lídimos princípios, preservando a própria família unida e amada, vivendo a felicidade de quem faz o bem e cumpre a vontade de Deus.
Acho assim ( devem outros concordar comigo) que vivi muito bem meus 90 anos, e (sem balofo orgulho) digo quiçá, possa ser imitada e melhorada muito por quem vem caminhando atrás. Quem sabe até ela poderá servir de um apagado modelo, o que me traria felicidade e prazer.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Chegamos a um novo fim? - Lino Vitti

CHEGAMOS A UM NOVO FIM?
Lino Vitti


Muitos crêem no fim do mundo, muitos não crêem, embora a sua realidade esteja prevista nos evangelhos e textos bíblicos, com a ressalva feita por Deus de que não será pelo dilúvio de águas, despejadas do céu durante 40 dias e 40 noites, não deverá existir novamente a arca salvadora, nem o Noé construtor e dirigente dela, atopetada de familiares e de casais de todos os animais e aves então criados. Não deverá haver novos pássaros em busca do raminho denunciador, nem um Arará em cujas encostas encalhou a nave carregando os últimos seres humanos que a misericórdia divina entendeu salvar, para recompor a humanidade. Uma nova humanidade, aliás, expungida do pecado e dos vícios a que haviam chegado os filhos de Adão e Eva.
O homem e a mulher e seus descendentes haviam alcançado ao máximo da devassidão e o Criador, aborrecido decerto com a criatura pecadora, decidiu em sua onipotência, eliminar o que tão digna e divinamente criara, mas preservando aquele varão exemplar e seus familiares, para que nova e mais pura descendência viesse povoar a terra, depois de havê-la lavado e purificado com as águas lustrais do batismo diluviano.
E assim foi. Noé e seus filhos repovoaram a Terra com seu exemplo de amor a Deus e à sua obra universal. Restaurou-a e tornou-a agradável aos olhos do Criador. Até quando, porém? Lá se vão milhares de anos e tudo pareceu transcorrer segundo os desígnios de Deus, conhecendo, amando e cumprindo seus mandamentos, cada qual preservado uma vida condigna e digna da graça e da misericórdia do Senhor.
Os séculos, entretanto, têm como sua deferência progredir, criar, inventar, modificar, melhorar, ou, ao contrário, piorar a vida, a história, as religiões, os costumes, transformando a beleza divina da vida em malversações humanas, o que quer dizer, afastar-se de Deus, abandonar a Fé, pecar, transformando o santuário da vida em lupanar de desejos imorais, em ofensas à divindade, em fuga dos deveres e da oração, retornando àquele clima de devassidão que já povoou a Terra e provocou as iras do Senhor.
O que vemos e ao que assistimos hoje, é algo a demonstrar que Deus está descontente, que a humanidade está retornando aos caminhos do ateísmo, do pecado, do abandono da religião, e ingressando pelos caminhos tortuosos dos tempos idos, numa demonstração de que o homem continua ingrato, devasso, desarvorado da fé, fugindo cada vez mais dos ensinamentos, mandamentos, favores divinos e se emporcalhar nos lodaçais de uma vida esquecida de Deus, de consciência desatrelada dos conhecimentos e cumprimentos religiosos, de uma vida feita de imoralidades, integrada numa devassidão sem termos .
Não sei possa ser verdadeiro, mas para este tolo poeta e bisonho escrevinhador, todas as desgraças que o mundo hoje mostra, muitas e terríveis, evidenciam que Deus não está contente e que tudo de mal que acontece pode ser sinal desse descontentamento, rumo a novos dilúvios, por água ou por fogo, segundo os desígnios do descontentamento da divindade suprema e justa. Terremotos, inundações, fogo lavrando sem piedade, guerras, desamor, injustiças, horrores de todos os feitios, que serão senão avisos divinos de que a humanidade está caminhando por ínvios atalhos da imoralidade e da falta de crença na sua Eterna Divindade?
Dá o que pensar, sem dúvida.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Saudosos anos escolares


SAUDOSOS ANOS ESCOLARES
Lino Vitti

Ah! se a adolescência voltasse! Ah! se por um estranho milagre os tempos voltassem e nos levassem de novo àqueles dias de surpresas, de encantamento, de fuga, de sonhos, de esperanças, em que nos matricularam pelos primeiros anos no templo de cultura e saudade que é a primeira escola, a escola primaria, quando e onde zelosos e pacientes professores tudo faziam para destravar as inteligências infantis e incutir nelas o ABC, as contas de somar, subtrair, dividir, multiplicar, a maneira de fazer uma boa e louvável leitura, a história do Brasil, a geografia da Pátria, e até a ser músico ou poeta!
Todos, mas todos mesmo aqueles que tiveram esse privilégio recordam com nitidez, com infinita saudade, com esperanças de um retorno impossível, os dias em que, às mãos do pai ou da mãe, adentramos aquelas portas escancaradas, porque livres e acolhedoras, e nos dirigimos à mesa do diretor, de um mestre encarregado ou de um excelente funcionário, para dar o nosso nome, nossa filiação, nossa data de nascimento, e receber as palavras de alegria: “pronto, já estás matriculado. Agora e só aparecer todos os dias, comprar cadernos, lápis, e livros com o passar dos dias, e aprender a ler, escrever, contar, e “sonhar” com o dia de receber o diploma como passaporte para ensinos superiores e novos vencimentos e fortalecimentos da inteligência e para ser um dia algo na vida, com aproveitamento integral do trabalho condigno dos mestres primeiros que ficaram atrás, mas brilham como um farol indicativo de vitórias e saber.
Nunca na vida se esquece dos mestres que nos alfabetizaram e nos deram chances irretorquíveis de vencer na vida, e embora a quase totalidade os traga na memória cercados de luzes como num altar, de onde nos apontaram o caminho certo e vitorioso, há sempre os ingratos que dos mestres não gostam, que dos mestres se esquecem, que os mestres não amaram e quiçá não amem nunca. Eles nos guiaram como pais, nos conduziram como santas mães, nos transformaram de pessoas broncas e incapazes, em “filhos” iluminados e corajosos para sermos vitoriosos nas lutas inarredáveis da vida. Ser grato aos primeiros (e posteriores) mestres é ato divino, é ser um cidadão formado no idealismo e na cultura, na fé e nas realizações. Como é possível existir alguém que se esqueça deles, que os não lembre, que os não respeite, que não os ame, chegando alguns ao cúmulo de os odiarem, como se foram inimigos.
O inverso entretanto ocorre com a maioria daqueles que tiveram um generoso mestre primário, Daquele ou daquela que não tiveram duvidas nem receio de enfrentar o sertão, a solidão, os perigos de uma região rural, silenciosa e solitária, sem transporte e sem o calor da família e dos amigos, como herói (e heroína), para assumir o ensino primário, o ensino das primeiras letras e os primeiros números aos humildes moradores infantis do sertão. Ah! são mestres inesquecíveis, mestres vindos do céu trazendo à mão o facho de luz de Deus, dignos portanto de amor e gratidão, luz essa que procuram com carinho repassar aos seus filhos intelectuais para toda a vida.
Minha esposa Dorayrthes foi professora primária nos “sertões” de Santo Anastácio, no início de sua carreira, e conta sempre o que foram aqueles anos de ensino às inocentes mas queridas crianças da zona rural. O transporte era sobre toras de madeira transportadas por carros de boi, a água, a dos regatos próximos, o alimento o arroz e feijão sem mistura, a iluminação do quarto a fumacenta lamparina de pavio alimentado a querosene ou o luar adentrando pela janela. Mas valeu a pena, diz ela, porque seu trabalho abriu os luzores do saber a inúmeras cabecinhas sequiosas de conhecimentos e sonhadoras de um futuro mais feliz.
Jamais esquecerei os meus mestres primeiros: João Pecorari (diretor) Dona Josefina, dona Mercedes, “seo” Paternack, dona Helena, dona Valdomira, dona Ester, e Seo Euclides Orsi (que sei haver chamado meu nome nos últimos minutos de sua vida!!!). Tenho certeza de que estão no céu e talvez um dia nos encontremos na eternidade feliz, se eu a merecer, como a mereceram eles.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Natal vai, ano novo vem - Lino Vitti

Natal vai, Novo ano vem
Lino Vitti


“Tudo muda, tudo passa – neste mundo de ilusão – vai para o céu a fumaça – fica na terra o carvão”. Não sou eu quem o diz. Diz-no-lo o “príncipe dos poetas paulistas prezadíssimo e saudosíssimo Guilherme de Almeida. Tudo muda, sim, e tudo passa, e jamais retorna. Na voragem dos tempos não há volta pois a vida é um caminhar para frente, sempre e para todos. O que fica como fumaça, segundo diz e escreveu o poeta, é a saudade, sentimento profundo que se aboleta na alma e na memória de cada um, para, de quando em quando, ressurgir e invadir o presente, por pouco tempo, talvez minutos, alagando, em geral, de lágrimas os olhos que se aprofundam em ver o que ontem aconteceu conosco de bom ou de mau, de feliz ou de tristeza, de encantado ou de terrível.
A saudade é bom? Ou é um mal necessário? Não sei, e quem o pode dizer são aqueles que compõem versos e estrofes, rimam amores e dores, legam –nos poemas sublimes, sonetos generosos, quadrinhas valiosas, tudo envolto nessa penumbra do passado a que chamamos Saudade. Voltar, fisicamente ninguém volta, mas dentro da arte da prosa e poesia podemos atingir pináculos saudosos, reviver dias e momentos que nos alegraram ou entristeceram e como num vídeo-tape desfilam na tela cinematográfica da nossa memória,
Duas expressões de vida universal que costumam vir povoar a nossa saudade são Natal e Ano Novo. Duas datas sublimadas, constantes, anuais, com que a humanidade se compraz em encerrar um ano e passar para o seguinte, numa sucessão a um tempo feliz e preocupante: feliz porque, em sua imensa maioria, os corações se alegram, celebram, cantam, riem, se abraçam, se cumprimentam, festejam, banqueteiam-se, osculam-se, rezam, enquanto outros, embora em número menor, choram, voltam na saudade, refletem, fazem contas, arquitetam viagens e sonham riquezas vindouras. Contraste do ser homem, esse perpétuo insatisfeito, esse bandeirante da vida em busca de uma felicidade que lhe foge e se lhe esconde, fugaz como o lume de um pirilampo ou o luzir de um relâmpago nas trevas.
Natal foi ontem. Tudo quanto dele poderia nos vir foi enterrado no tempo. Logo mais virá Ano Novo, trazendo malas de bagagens felizes ou não, definitivas ou passageiras, encantadoras ou tristonhas, sabe-se lá o que o amanhã nos esconde e no momento oportuno nos mostra, queiramos ou não queiramos, pois nosso destino é desconhecer o amanhã, entregue aos desígnios de Deus, nosso destino é cultivar esperanças. Nosso destino é caminhar sempre rumo a um futuro incerto e malandro muitas vezes.
Agora, algo de despropósito. No final da Serra de São Pedro, lá em direção a Charqueada, vê-se um monte agudo, chamado Gorita. Quando seminarista cheguei a escalar o fenômeno geológico e de lá, do pico, contemplar a paisagem indefinida em todas as direções. E pensava: isto é o momento que passa , mas vê em todos os pontos cardeais, esmaecido, tudo quando existe lá em baixo. Pode ser comparado ao futuro, espraiado, mas misterioso. Está aí o amanhã com todas as suas nuançes, indecifráveis. Está aí a imagem da vida que se vê, mas não se distingue, que virá mas não se sabe quando. No meio de tudo, se encontram os Natais e Anos Novos vindouros, imprevisíveis, embora para muito felizes e generosos e para outros tristonhos e indefinidos.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Os pássaros não voltaram mais... - Lino Vitti


(desenho de Geraldo Victorino de França Júnior)


"OS PÁSSAROS NÃO VOLTARAM MAIS!"
Lino Vitti (Príncipe dos Poetas Piracicabanos)

Os meus inteligentes leitores verificarão que o título da crônica de hoje vem colocada entre aspas, por isso sabem tratar-se de algo escrito por mãos alheias, se é que assim posso chamar as hábeis mãos de minha esposa Dorayrthes (esposa de príncipe, princesa é) que durante 30 anos tornaram hábeis as mãozinhas de talvez milhares de crianças, sequiosas de aprender a escrever e contar.
Eis, a seguir, o que a mestra escreveu:
“OS PÁSSAROS NÃO VOLTARAM MAIS
Tudo começou com um punhado de arroz jogado no chão do jardim. Veio um casal de rolinhas, comeram e se foram sei lá para onde!
Esse punhado de arroz jogado ao léu, foi crescendo, crescendo, e aumentando até se tornar cinco quilos de alpiste, mais apreciado por aqueles pássaros.
Assim como os grãos se multiplicaram as rolinhas aumentaram na mesma proporção tão grande chegando a duzentas.
Na belíssima trepadeira repleta de flores lilazes e brancas fizeram elas seus ninhos e ali criaram seus frágeis e pequenos filhotes que esperavam de bicos abertos os alimentos trazidos pelos pais.
Um bico de lacre, assim chamado devido ao seu bico vermelho construiu também seu ninho. Olhando para cima parecia uma bola intrincada de galhos secos em cujo topo uma abertura tão pequena por onde passaria apenas aquele minúsculo pássaro.
Quando o sol começava a desaparecer no horizonte ouvia-se o chamado melancólico da rolinha talvez despedindo-se do astro-rei, deixando vagarosamente a terra. É nessa hora que o coração da gente se tornava apertado evocando talvez algum ente querido longe dali,
Os bentevis não se fizeram de rogados. Apareceram como, porque , de onde? Para terror da pobre rolinha querendo comer-lhe os filhotes.
O beija-flor vinha bebericar a água fresca e adocicada do reservatório, colocado no galho da árvore.
As roseiras com poucas flores estavam secando devagar.
Os ninhos ficaram vazios. Os pássaros se foram. O silêncio desceu lúgubre sobre aquele lugar.
Chegou o jardineiro e no seu linguajar meio caipira foi logo dizendo: “Oi , dona, é perciso cortá a trepadeira, ela já tem gaios grosso como um bambu. As roseiras tão pedindo uma enxada e a mão forte de um caipira como eu.”
Assim aconteceu. A trepadeira foi ao chão e as roseiras arrancadas daquele lugar onde nasceram, cresceram e deram muitas flores para alegrar o jardim.
O bico de lacre desapareceu. Até os bentevis não vieram mais.
A tristeza tomou conta de tudo, uma solidão desceu sobre aquele pedacinho de chão.
O tempo passa e passa tão rápido que não se sente passar. Dois esses já se foram.
Para nossa alegria a trepadeira já está brotando. Seus galhos em riste, parecem querer alçar ao céu. Galhos com muitas folhas se espalham pelo caramanchão.
Outras flores já abrem suas pétalas amarelas, vermelhas, e as orquídeas brancas exalam seu perfume.
As azaléias começam a encachar nos ramos e duas roseiras novas brotam com vigor.
Um vaso com hortências exibe, desafiando as outras flores, tufos de flores róseas, como que dizendo: estas são as mais lindas flores.
Rolinhas, bicos de lacre, corruíras, beija-flores e até vocês bentevis espero vê-los novamente alegrando o quintal.


sábado, 14 de novembro de 2009

Deslumbramento - Lino Vitti

(pintura de D.Zolan)
Deslumbramento
Lino Vitti

Batizaram-no de Manuel. Ficou para a vida, depois, o simpático apelido de Manequi. Interessante como se penduricam apelidos nas pessoas. E como todos: pais, familiares, mestres, amigos e outros se unem em torno da alcunha, a repetem, a conservam, a eternizam. Assim, era Manequi daqui, Manequi dali, Manequi de cá, Manequi de acolá. E o Manequi sorria, um sorriso gostoso de quem aprova o nome que de batismo não é. Talvez porque, o Manuel, trazia aquele diabo de hiato de mau gosto “ue” tornando-o de certo modo antipático ao uso e meio mole de se pronunciar.
O menino, entretanto, cresceu como todos os meninos da roça, pois na roça havia nascido. Quem baixa a este mundo, em noite escura, arrancado das entranhas maternas por mãos de parteira amadora, já chega berrando, colocando em polvorosa a casa e as vizinhanças, com a força de seu choro valente e promissor. Manuel assim prometia, e mantinha, ao caminhar da vida roceira, a valentia necessária para uma existência difícil, sempre a exigir algo, como eram e são ainda as vidas que brotam, florescem e frutificam na liberdade do campo.
Não quero me deter, por exigências aprisionadoras dos espaços muito preciosos dos jornais de todo o mundo, em desfiar em detalhes os dias de infância do Manequi, em muito semelhante a de todos os meninos roceiros, não poderia deixar de dizer entretanto que o nosso herói nascera com um espírito de observação incomum, porquanto se os demais de sua idade e de origens assemelhadas não davam trela observativa aos fenômenos da natureza campesina, a alma de Manequi como que se deixava imantar pelas maravilhas de um amanhecer ou de um entardecer, de um dia de sol, de uma árvore frondosa, de um lavrador lutando de enxada à mão ou arando, de um temporal a toldar os horizontes natais, de uma floresta cheia de todos os arcanos vegetais e animais, de um plenilúnio seresteiro, de um regato a conversar com as ervas e as flores da mata espessa, enfim, de tudo quanto constitui as belezas, os encantos, o amor e o sonho de uma vida campestre.
E sonhava também. Sonhava com um mundo imenso, generoso, rico, feliz e fantástico que deveria existir e brilhar além dos limites de sua roça, como lhe faziam chegar aos ouvidos e ao seu mundo de fantasia, as conversas das visitas forasteiras, as aulas das professoras escolares, o noticiário radiofônico, e especialmente os livros sobre os quais muitas vezes e feito um poço de curiosidade se debruçava o garoto, sedento de conhecer e desejar um dia, quiçá (?), ver de perto, tocar com as mãos gulosas de esperanças e novidades.
Manequi sonhava muito, aliás. Além das fronteiras domésticas que se estendiam até onde os olhos curiosos podiam deduzir, era possível existirem grandes cidades, fabulosas cidades, novas terras, novos horizontes, novas gentes, novos e muitos lares, novos e muitos amigos ! E como os desejava ! Muitas vezes, na luminosidade do dia, tocando as nuvens alvas e movediças, roncando como estranho animal voador, Manequi contemplava o vôo metálico de um avião e vibrava com a idéia de que lá, nas alturas infinitas , dentro daquele pássaro de ferro, havia pessoas, pessoas que buscavam outras terras, outras gentes, outros horizontes. E invejava, e desejava, e batia palmas ao espetáculo, ansioso de um dia também voar aprisionado no seio da ave de aço que comia as distâncias espaciais como se nada fossem.
* * *
O meio-dia sufocava. A roça diluia –se sob a glória do sol. E o calor, e a hora, e o silêncio e tudo convidava para a sesta. Pássaros e bichos silvestres ou domésticos calaram seu canto e seu mugido, buscando a sombra e a tranqüilidade. E o ronco do avião destoava como um absurdo, na imensidade azul do dia.
Ao longe, de súbito, o horizonte se abriu e se distendeu fantasticamente. E na fímbria do infinito foram se delineando, como um milagre, inúmeros arranha-céus. Subiam, subiam, quase arranhavam verdadeiramente o céu. Encostavam nas nuvens. E a festa das vidraças faiscava, tremeluzia, caleidoscopicamente, fantasticamente. E ele via. Manequi via. E a curiosidade do menino escorria por aquelas paredes intermináveis, rumo ao chão. E aqui fervilhavam veículos e mais veículos, de todas as cores, de todos os tipos, num festival fremente de vida e progresso. E homens, mulheres, crianças, velhos, jovens, brancos, negros, orientais, europeus, americanos, fervilhavam num caminhar apressado, como quem vai em busca de uma existência feliz, trabalhosa e sonhada. Regurgitavam lojas, casas comerciais, casas de espetáculos, livrarias, estúdios de rádio e televisão, redações de jornais e revistas, escolas, estádios esportivos, trepidavam passos rumo às fábricas, aos supermercados, às praias, aos hotéis e motéis, às repartições públicas, estaduais, municipais, federais... E se fez noite. E a escuridão da noite se iluminou, como se o sol continuasse a sua missão diurna de brilhar. E os entes humanos prosseguiam em sua faina de trabalho, de atividades, de lutas e labutas, sem interrupção entre o dia e a noite. A vida, o caminhar, o trabalhar, o agredir as dificuldades e o viver sonhando com riquezas e belezas, era uma constante, empurrava as multidões apocalípticas para diante , para um porvir fabuloso, na conquista do amor, da esperança, da expectativa, da felicidade enfim.
E Manequi via. Via e se sentia envolto naquela trepidação de vida extraordinária. Via que além de sua vidinha de roça, havia uma enormidade de existência, que ele ignorava, mas que agora contemplava, pressentia, desfrutava. Como era imenso o mundo ! E quantos mundos o mundo abarcava !
O pintassilgo da gaiola abriu o biquinho. E cantou. E acordou Manequi de seu sonho, nada mais do que uma realidade que está presente na glória de São Paulo. O menino sonhara? Talvez, não. A televisão mostrava a ciclópica capital paulista, com todo o seu fausto, com todos os seus problemas, com todas as suas conquistas, com todas as suas vitórias e derrotas, em fantástica reportagem, enquanto Manequi, entre a penumbra do sono e da vigília, se deixara envolver pelo deslumbramento da quase ou maior cidade do mundo.
Sonhara de olhos abertos pois a visão que vislumbrara era sim a fabulosa São Paulo, festiva e sensacional comemorando seus 450 aniversários de fundação.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

EU E A POESIA
Lino Vittti

Meus primeiros versos, escritos a medo, pois o seminário religioso não admitia alunos poetas porque a poesia de nada servia para a vida sacerdotal, foram de cunho religioso e dedicados a Nossa Senhora. Não os guardei, mas lembro perfeitamente que agradaram a um clérigo poeta vindo de outra congregação de religiosos para a dos Padres Estigmatinos, e que vaticinou-me: o senhor vai ser um poeta de verdade.
Profecia cumprida. Há mais de 60 anos assumi o grato dever de poetar, publicando meus sonetos e poemas nos jornais, revistas e semanários da terra piracicabana, cuja conseqüência foi a edição de 7 livros de poesia e contos, distribuídos aos milheiros ao povo de Piracicaba e, ao que sei, aprovados por ele, tanto que a Academia Piracicabana de Letras me honrou com o significativo título de “Príncipe dos Poetas Piracicabanos”. Guardo-o com carinho, com alegria, como troféu e prêmio maravilhoso aos meus longos e felizes anos dedicados à arte escrita e rimada dos Bilacs, dos Raimundos Correia, dos Guilhermes de Almeida, dos Gustavos Teixeira, dos Franciscos Lagreca, das Marinas Tricânicos e de outros mais que dignificam a poesia desta, chamada que foi, de Atenas Paulista.
O professor universitário de literatura de São Paulo, Hildebrando de André, meu companheiro de seminário no Colégio Santa Cruz de Rio Claro, em correspondência trocada entre nós, afirmou sempre que Piracicaba era uma terra privilegiada, uma terra de poetas verdadeiros, um santuário de poesia – dizia ele – que tem a graça de contar com a cooperação feliz dos seus jornais matutinos, semanários, ou revistas, aqueles oferecendo semanalmente uma página de sua edição à poesia dos seus poetas, como podemos ver na sexta-feira, em A Tribuna e aos sábados no Jornal de Piracicaba, a cargo dos escritores Ivana Maria F. de Negri e Ludovico Silva.
Poucos têm a felicidade de ver seus poemas e ou sonetos publicados durante seis décadas para mais, por isso me julgo honrado pelos nossos jornais, dignificado pelos leitores da minha terra, realizado na arte dos versos, estrofes e rimas, graças à compreensão dos diretores, editores, paginadores, distribuidores, leitores e todos quantos trabalham para nos entregar a cada manhã, um nobre jornal como o Jornal de Piracicaba, a Tribuna de Piracicaba e o semanário Folha Cidade, todos acolhedores incontestes de minhas elucubrações poéticas de mais de 60 anos.
E diante de tão flagrante acolhida, diante do respeito que em Piracicaba a Poesia merece, diante da proliferação da arte que dignificou poetas como Dante, Shakespeare, Victor Hugo, Olavo Bilac, Gustavo Teixeira, Vicente de Carvalho, Guilherme de Almeida, Camões, e uma infinidade de nomes gloriosos e reais poetas, eu me curvo em dar graças a Deus, Poeta Criador do Universo, do Homem e do Amor, por haver premiado o mundo de Poesia e Poetas, e agradecer igualmente aos poetas do mundo e do universo por terem aprendido a Poesia de Deus, e por lhe darem continuidade até a consumação dos séculos, com tanta dedicação e tanto carinho como merece essa graça de Deus.
A Poesia é a história dos povos, escrita em estrofes, em versos, em baladas, em sonetos, em poemas, em rimas. Numa linguagem sublimada, figurada, sintetizada, onde falam mais a alma e o coração do que as datas, os fatos, as personalidades, a ciência. Ser poeta é ser beija-flor: sugar o mel da vida, ao librar das asas sempre no espaço e sem tocar o desencanto do solo. É sonhar que se é angelical e não ser nunca envolvido pelo pó. Ser beija-flor, cujos beijos pousam sobre qualquer tipo de flor, sem olhar para a cor, sem olhar para as alturas em que ela bebe a luz do sol, buscando sempre o dulçor melífluo que se esconde no âmago de cada uma delas. Ser poeta é isso: buscar sempre o que é belo, cantar sempre as harmonias das coisas e da vida, ter os pés na terra, mas o olhar nas alturas do infinito. Poesia há de ser alegre, pois se for triste não será poesia, será dor.
São mais de 60 anos que poetizo. São mais de 60 anos que me sinto feliz, pois a minha poesia rendeu frutos, foi lida, foi julgada, foi amada. Haja vista que se tempos atrás os poetas eram raros como os diamantes, hoje eles florescem como seara e a poesia deles espalha um perfume de beleza, de sonhos, de encantamento.
Graças a Deus, a picada que tentei abrir está transformada em caminho florido.

sábado, 10 de outubro de 2009

AS LIÇÕES DAS FÁBULAS
Lino Vitti

A Fábula é um repositório de cultura. É uma historieta de poucas linhas onde se descrevem ações humanas, onde se acentuam lições de moral universal, onde se mostram fatos que envolvem toda a categoria de pessoas, tudo sintetizado ao máximo, sendo a pessoa humana em geral representada por animais domésticos ou selvagens aos quais se atribuem os dons da fala, do pensamento, da ação, unindo-se homens e irracionais para expressar sentimentos, desejos, anseios, paixões e ensinamentos. Da historieta, o fabulista extrai um conceito final de moral pública ou individual, resultante do conteúdo da própria fábula.
Como maiores fabulistas da História pontificam dois nomes: Esopo, entre os gregos e Phedro entre os latinos. Centenas e centenas delas chegaram até nós, embora seja certo que outras tantas devam ter-se perdido na voragem dos tempos, por falta de quem as transmitisse através da arte literária até nossos dias.
Escolhi para conhecimento dos meus leitores, mas certo de que todos os que correm as linhas deste zeloso semanário saberão apreciar, uma fabulazinha do latino Phedro (lê-se Fedro, com F), tratando, já naqueles longínquos tempos, de um assunto muito atual : a política e os pobres. E como é curtinha, peço licença aos queridos editores para a publicar na íntegra. É assim: “Um humilde ancião apascentava seu burrinho no campo. Amedrontado por súbito clamar de inimigos persuadiu o burro a fugir, para não ser capturado. Então, calmamente, ele (o burrinho) respondeu:
“- Acaso julgas que o vencedor não iria me impor as mesmas duas albardas (sacolas ou malas) que carrego?”
O velho disse, não. Portanto continuou o asno: “que importa a mim a quem deva servir, uma vez que tenho de carregar sempre as mesmas albardas?”
E a moral da historieta: “Na mudança de governo, muitas vezes o nome do dirigente em nada muda a situação dos pobres.”
Esta pequena fábula nos mostra que isso é verdade.”
Sim, é verdade. E continuadamente nós, povo, mormente pobres e trabalhadores, verificamos essa afirmativa e a moral da fábula. Verificamos que elegemos governos, mudamos dirigentes executivos e legislativos, mas a situação continua sempre a mesma: carregados de impostos, falta de empregos, salários mixurucas, aumentos de preços, falcatruas entre membros de Câmaras altas e baixas, roubalheiras, CPIs, falta de decoro, criminalidade às pampas, etc.etc.
O burrinho representa, na fábula fedriana, o povo sofredor em qualquer tempo e sob qualquer governo, e o desalento de que estamos tomados por verificar que se mudam governos, mudam-se pessoas, mudam-se dirigentes, mas nada muda em favor das classes sociais menos favorecidas e mais sujeitas às dificuldades da vida. E assim tem razão o burrico da velha fábula...