As reuniões do Grupo Oficina Literária de Piracicaba são realizadas sempre na primeira quarta-feira do mês, na Biblioteca Municipal das 19h30 às 21h30

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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Joia dos meus Sonhos

 


Leda Coletti

 

Joia dos meus sonhos !... Deixo escapar em voz alta minha admiração e a musa me sorri tão bonita!! Como que embalada pelas palavras acariciantes, desliza nas águas de um caudaloso rio suavemente. Parece mesmo sumir numa densa névoa de esplendor. Vou ao seu encalço mas, ela num rodopio gostoso, desaparece nas águas claras e profundas.

Fico estático, olhando fixamente para o ponto onde sumiu. Sua impressão deveras forte continua a ocupar o espaço a minha frente. Acompanho sua trajetória até o fundo do rio, e consigo enxergá-la na paisagem embaçada, recostada ás outras companheiras. Seu colorido se sobressai sobre as de diferentes matizes, lembrando ouro, esmeraldas. Nelas se recosta tranquila  e soberana.  No silêncio  se impõe

Sou mesmo um felizardo, pois  vou ao seu encontro e candidato-me a embalar seu sono repousante e velar pela sua proteção. Construo para ela um nicho incrustado de diamantes, safiras, ouro. Nada quero em troca. Só o puro prazer do êxtase.

E, nessa magia de deslumbramento, acordo sobressaltado, com o tilintar de algo próximo a  mim. O despertador era, pois eu conhecia muito bem o  seu som estridente e mais demorado.

Procurei o objeto do barulho, causador da interrupção do sonho inesquecível.

Qual não foi minha surpresa ao constatar que se tratava da aliança de ouro de minha mulher, que a deixara no criado-mudo. Acredito que devo tê-la derrubado ao solo com o meu braço direito, ávido em tocar a musa dos meus sonhos. Apanhando-a, observei sua parte interna, onde estava meu nome gravado. Olhei enternecido para  a mãe dos meus dois filhos que dormia sossegada, e sussurrei-lhe ao ouvido: -“mulher, você é joia mais linda que possuo na vida!”

*Cartas de Amor

Ivana Maria França de Negri

            As novas gerações jamais vão sentir a emoção que os mais antigos vivenciavam ao receber uma carta. Principalmente as de amor, tão ardentemente aguardadas.

            Numa época em que não existiam redes sociais e e-mail, o correio era a única forma de se corresponder. A telefonia ainda estava engatinhando e raras pessoas possuíam aparelhos telefônicos. Hoje em dia, trocam-se mensagens instantâneas com pessoas de qualquer parte do planeta!

            O carteiro era aguardado no horário habitual. Quando trazia uma carta, havia todo um ritual. Abrir com cuidado para não rasgar, sentir o perfume - os namorados sempre davam um jeito de perfumar as cartas ou colocar dentro pétalas de rosas ou pedacinhos de mata borrão com o perfume que usavam. Depois, ir para algum cantinho sossegado e saborear cada palavra, ler e reler tudo para captar o que o outro dizia nas entrelinhas porque as cartas eram muito respeitosas e formais, e muitas passavam pelo crivo dos pais mais rígidos.

            Eu sempre soube da existência daquela caixa vermelha amarrada com fita de cetim na casa dos meus pais. Sabia que continha correspondências de quando foram namorados, mas nunca tive a curiosidade de lê-las.

            Quando minha mãe faleceu, a caixa ainda ficou esquecida numa gaveta por doze anos, até que meu pai partiu também para encontrar-se com seu grande amor. Arrumando as coisas da casa, a caixa reapareceu. O que fazer com aquelas cartas?

            Ao abri-la, encontro um bilhete com a letrinha da minha mãe: “Lindas cartas de amor! Podem ler à vontade, são cartas sinceras como quem as escreveu. Um dia devem ser queimadas, quando o casal não mais existir”.

            Foi então que comecei a ler, já que havia autorização de um dos autores. Emoções começaram a fazer minha vista embaçar. Cartas escritas entre 1942 e 1950. Transporto-me para aquela época. Cada carta é um testemunho histórico daquele tempo. Meu pai contava as últimas notícias da guerra, das viagens que fazia nas jardineiras, uma aventura, ainda mais quando chovia e a estrada de terra fazia a jardineira atolar. Todos desciam e ajudavam a desatolar. As viagens eram demoradas e cansativas. Não havia lugar reservado. Vendiam mais passagens do que havia lugares e muitos ficavam horas e horas em pé, e o transporte era precário e balançava muito!

            Dentro de várias delas, santinhos, cromos, desenhos, coraçõezinhos vermelhos, marcas de batom... Como não se emocionar?

            Minha mãe, jovem professora do Grupo Moraes Barros, contava sobre seus amados aluninhos, e numa delas, sobre uma visita solene do governador Ademar de Barros na escola, quando ensaiou seus alunos para se apresentarem. Ela mesma inventava os figurinos, as danças e as canções.

            Fernando Pessoa disse certa vez que “todas as cartas de amor são ridículas”, mas ele se enganou, são maravilhosas! As palavras que mais aparecem em todas as cartas são “saudade” e “amor”.

            Eu ficaria aqui horas escrevendo minhas impressões sobre elas.  Falavam sobre as músicas que ouviam, dos sonhos que sonhavam, da contagem dos dias que os separavam para estarem juntos e todas essas doçuras que o amor coloca no coração dos apaixonados.

            Depois se casaram e viveram felizes por quase sessenta anos!

            Agora, a dúvida cruel...Queimo ou não queimo???...


*Texto publicado na Gazeta de Piracicaba

 



 











sábado, 20 de fevereiro de 2021

Silêncio


Elisabete Bortolin

Silêncio quer dizer interiorizar-se.

Aprofundar-se, mergulhar no âmago do seu ser.
EU SOU o silêncio da alma ouvindo a voz de Deus.
EU SOU a plenitude manifestada no silêncio.
EU SOU o silêncio do nascer do sol.
EU SOU o silêncio do entardecer na Ave-Maria.
EU SOU realizada no silêncio conquistado na mente.
EU SOU imaculada no silêncio da pureza.
EU SOU o silêncio da velocidade da luz.
EU SOU o silêncio desvendando mistérios.
EU SOU o silêncio da noite nas profundezas do ser.
EU SOU a Presença manifestada no silêncio do olhar.
EU SOU a meditação no Silêncio.
Silêncio!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Minha língua em sua vida


 


Olivaldo Júnior


Para o "Anjo de Lisboa"

 

Minha língua em sua vida

não importa nem um pouco,

mas eu driblo a despedida,

marco um gol e acabo rouco...

 

Uno as línguas que há no mundo

numa língua condoreira,

que, ao morrer no mar profundo,

funda a língua brasileira...

 

Feito um santo do pau oco,

canto versos para um "anjo"

que me deixa quase louco...

 

Anjo luso, de asas rubras,

traga paz a este marmanjo

e esta língua redescubras!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Motemas



Irineu Volpato


quantas eram as cadeiras na calçada
aos sábados à tarde em nossa porta
- amigas de mamãe amavam celebrá-la

era tão pobre nossa vida ali roça
que havia uma só lamparina em nossa casa

quando voltarão as tardes de nuvens derrubadas
comboiando-se ocaso-sol ?

naquela hora em que sol fica cochilando
sua preguiça despedindo-se do dia

vamos rezar pelos que insistem

enfeitar a vida