As reuniões do Grupo Oficina Literária de Piracicaba são realizadas sempre na primeira quarta-feira do mês, na Biblioteca Municipal das 19h30 às 21h30

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domingo, 10 de abril de 2022

Alguns frutos



Olga Martins

O tempo da inocência ficou de vez para trás
Nutrir a vida de esperanças torna-se imprescindível
Contudo, já não é possível crer em todas

O tempo através do qual crescemos,
amadurece alguns frutos amargos
e faz com que outros caiam ao chão sem valor,
secos e sem gosto.
Faz-se premente saborear com máximo prazer
aqueles cuja doçura, as mãos reconhecem.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Animais, companheiros de viagem

http://blogolgamartins.blogspot.com/

Animais, companheiros de viagem
Olga Martins

Já contei aqui no blog sobre o cabritinho Cravinho que entrou na minha vida e nunca mais deixou minha memória em uma experiência infantil muito positiva com relação aos animais.Eu tinha 5 anos.
Fiquei pensando sobre o que gostaria de postar sobre esses companheiros de viagem que enchem nossos dias,nossas vidas e que me permitisse não ser piegas,redundante como um cachorro correndo atrás do próprio rabo.
O problema é que as ideias , às vezes têm vida própria e brincam de esconde-esconde.Surgem radiantes para em seguida se esconderem tão bem que não me resta nada além da sua faceta momentânea sem profundidade,sem continuidade,sem corpo.E num raio de muitos minutos fico vasculhando sua sombra e só encontro o vazio.
Então, concluo que hoje não postarei nada de novo sobre o assunto, apenas colocarei um poema que fiz há alguns anos a pedido da Ivana (Centro Literário, Grupo Oficina Literária, Sociedade Protetora dos Animais de Piracicaba).
Quando acompanhei alguns alunos em um acampamento, havia um jardim naquele lugar uma estátua de São Francisco de Assis entre pedras de uma fonte.Era uma coisa linda de se ver e a atmosfera serrana trazia um burburinho de lá de dentro da alma.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Em junho


EM JUNHO
Olga Martins

A friagem judiava desde o outono, mas era mesmo na época das Festas Juninas que a gente sentia as temperaturas desabarem.Na região do Parque Bristol, colada à Mata do Governo - complexo que abriga ainda hoje o Jardim Zoológico,o Zoo-Safári e o Jardim Botânico - e sob a umidade vinda da Represa Billings , o frio,como dizia minha avó Olinda não era bolinho!Sabe a famosa garoa?Ela existia e insistia.
Não havia toalha de mesa porque não havia mesa, as pessoas da rua não combinavam nada e nem celebravam os santos do mês.Pelo menos isso nunca evidente,embora uma ou outra colega ensinasse uma simpatia qualquer para saber o nome do futuro namorado, marido...Simpatia ou brincadeira?
Da maneira mais ancestral a molecada maior reunia pedaços de pau e erguia uma pilha ordenada.Logo , feito rastilho de pólvora a notícia se espalhava pelas casas da rua: " vai ter fogueira!"A pilha de madeira ia sendo alimentada pela molecada menor também que saía à cata do que pudesse ser usado.
A tarde de amarela passava para os tons ruivos.De dentro das casas brotavam alguns odores.Nélson trazia o violão e logo era rodeado enquanto desfiava seu repertório de serestas e canções juninas.
Dona Lia aparecia com algumas cocadas,alguém trazia quentão.Aparecia então uma bacia de pipoca aqui alguns pedaços de bolo, até pinhões cozidos que eram partilhados sem a menor cerimônia. Na rua sem asfalto equilibravam-se alguns banquinhos, algumas cadeiras e a fogueira se acendia para aquecer e iluminar a noite que descia sólida, gélida e úmida.
Não tardava e os estalidos de bombinhas me enchiam de medo.Sempre senti muito medo das bombinhas e das brincadeiras com fogo. Com folhas de jornal, a turminha fazia galinhas chocas que subiam faiscantes para em breve se tornarem cinzas e os pacotes de bom-bril desapareciam em luminosas fagulhas que giravam em círculos nas mãos ágeis.
Subiam aos céus o balões de papel de seda.Não eram vistos como vilões ainda e eram celebrados com o famoso: " Cai, cai, balão..." Eu torcia para que não caíssem....Eles bem que podiam levar para os ares as pequenas tristezas dos meus dias, pulverizando a falta de esperança que às vezes batia doído.
Alguns ousavam pular a fogueira e eu não me atrevia a ir além da igreja Assembleia de Deus que ficava próxima à esquina de baixo.Minha mãe ficaria uma fera!
Era um entra e sai das casas e se repetia o alerta " Coloca o gorro, menino";"Menino que brinca com fogo, acorda molhado!"
E quando o movimento ia diminuindo como as labaredas que minguavam na fogueira, assávamos batatas-doces entre as brasas.Assávamos segredos que deveriam morrer ali e desejávamos que a noite fosse infinita para revolvermos as cinzas até que uma fênix despertasse.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Recicriando - Olga Martins



RECICRIANDO
Olga Martins

Antes de deitar, às vezes, vasculho a grande sala sem janelas. Nela , esparsas , as ideias. A sala é um grande vão. As ideias , uma grande confusão.
Antes de fechar os olhos , já deitada, faço uma coleta seletiva ... Aqui, ali, acolá, pilhas...montes...
E, quando o sono é uma realidade, parte do que foi separado se torna reciclado. Posso reconhecer nos sonhos as ideias com nova roupagem.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

São Longuinho Estressado
Olga Martins

Quem o conhece não se espanta. Quem se espanta ainda não ouviu um terço das teorias mais incríveis elaboradas por esse homem. Assim é meu amigo Gláucio. Cada dia uma novidade e um desfolhar de gargalhadas.
Toca o telefone:
-Você não vem não?
-Daqui a pouco.
-Está ocupado?
-Mais ou menos. Estou estressando São Longuinho.
-Como é?
-Perdi a chave do carro. Fiquei mais de meia hora feito louco procurando. Revirei tudo quanto é lugar. O sangue subindo ...
Risadas do outro lado da linha.
-Escute, você não tem chave reserva ?
-Filho de Deus, se não acho a chave titular como vou saber onde está a reserva? -Mas e a história de São Longuinho?
- Pois é, fiquei nervoso porque não consegui encontrar. Deixei o serviço para São Longuinho. Ele que se estresse e encontre.
-Vai ficar esperando a chave cair na sua cabeça?
-Que seja! Enquanto ele se estressa no meu lugar, vou ficar aqui sentadão na boa vendo televisão. Já arranquei o sapato. Vou relaxar.
-Ninguém merece.
Mais tarde toca o telefone na outra casa..
-Achei. Não falei que o santo se virava?
-Onde estava?
-No sofá...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tanto Vaga-Lume

Tanto Vaga-Lume
Olga Martins

Só me lembro da correria doida da molecada. Mal voltavam da escola e a noitinha começava a roçar as horas, aparecia lá no final da rua um tremeluzir enlouquecido.Verdadeira constelação .
Rua sem asfalto. Rua sem modernidade dos postes iluminados. (Nem precisava que o céu vinha nos visitar algumas vezes.)
Era rua porque se chamava assim, mas lá pra baixo perto do morrão era um mar de mato.
Os anjinhos sem asas disparavam de suas casas-nuvem carregando potinhos para fazer lampião.
Estrelinha acendia aqui, piscava lá , mudando de lugar a todo instante como se o próprio céu se movesse . Pegava-se uma estrelinha e mais outra e outra mais e parecia interminável a multiplicação delas.
Era um tempo assim à toa, de algazarra luminosa, cheia de planos individuais em que cada um imaginava o que faria com aquele brilho todo. Talvez por uma espécie de compaixão não me lembro do destino das fagulhas vivas capturadas..
De volta para casa, depois do banho, do prato de comida, da conversa ligeira , enquanto os olhos não se despregavam da novela das oito, as estrelinhas viraram fogueirinha na memória.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O gato que tudo sabe
Olga Martins

-Sente-se e fique à vontade.
-Obrigada.
Mas enquanto agradecia nem poderia imaginar que difícil tarefa seria essa. Não naquele dia.
Depois de algum tempo, a gente se acostuma com as frases feitas e elas sopram tão naturais com uma simples fungada no nariz, ou um suspiro casual.
A conversa correu naturalmente naquele dia. Senta. Levanta. Senta de novo. Um pequeno auxílio aqui, uma gargalhada acolá. Domingo transcorrendo como domingo.
Um jornal e uma poltrona depois do café. Ótimo!Mas o que fazer com aqueles olhos?Penetrantes, insistentes olhos felinos. Junto ao pé da poltrona, patas juntas e cauda estanque. Levanta e abaixa o jornal e ele ali.
Ela adora os gatos que faz em tecido, obra de seu artesanato delicado. Adora a plasticidade felina, suas curvas, sua sutileza, mas do bicho propriamente dito não pode dizer o mesmo. Há algo de inquietante e desconfiável nos gatos. Abaixou o jornal novamente. Não conseguia se concentrar, pois sabia que os olhos a perscrutavam. E ali estavam eles, implacáveis e constrangedores. Por que motivo ele se fixava nela daquela maneira? Olhou em volta. Teria se apropriado do espaço do gatinho?Afinal ela era a estranha no pedaço.
Voltou a pousar os olhos nas manchetes, mas ainda sentia-se invadida, desnudada. O incômodo a asfixiava como se alguém tivesse descoberto um segredo recôndito. Resolveu levantar-se e sair de fininho sem chamar a atenção de ninguém, nem mesmo do gato. Virou-lhe as costas, supondo que o bichano se instalaria no calor da poltrona. Seguiu com passos leves para a cozinha. Um copo de água. Um copo de água talvez trouxesse alívio para esses minutos desconfortáveis.
Que estaria pensando esse pequeno ser?O que ele sabia sobre ela?Por que ele a incomodava tanto?Fechou os olhos em intranqüilos segundos, enquanto caminhava e quase suspirou, então notou que o bichano seguia seus passos. O coração afligiu-se e fez força para não demonstrar o incompreensível drama que vivia ali.
Tomou a água e voltou para a poltrona com uma agitação barulhenta que ecoava nos labirintos de seus pensamentos. Por fora, a televisão, cadeiras, samambaias e almofadas pareciam rir daquela ridícula situação somente as pessoas continuavam alheias.
Foi então que no limite e desejando preservar o que julgava ser sua única propriedade legitimamente privada que apelou:
-Vamos fazer o seguinte?Eu fico aqui, lendo meu jornal e você procura um outro lugar para ficar.Eu não incomodo você e você não me incomoda.Pode ser?
O gatinho já adivinhara esse desejo, mas agora que ouvia em alto e bom português, dobrou-se sobre seu dorso, lambeu umas três vezes a cauda, deu meia volta e concordou. Sem olhar para trás entrou pelo corredor carregando os segredos dela.