Maria Madalena
Tricanico de Carvalho
Seu filho vai
visitá-lo e sempre fala:
- Quando você
quiser voltar para nossa casa é só avisar!
- Você acha que
vou voltar para a casa deles? Não posso, tiro a liberdade deles e a minha também. Meu único filho, casado, chefe de família,
trabalhador....vai elogiando o filho com muita emoção e orgulho.
Fica muito
triste em lembrar do falecimento de sua
esposa que deve uma morte
repentina. Mulher corajoso,
trabalhadeira e de valor. Tive sorte no meu casamento, com minha família.
Viviam muito
bem, combinavam em tudo, diz ele. Depois que ela partiu não consegui morar
sozinho, fazer minhas coisas, cuidar da minha vida.
Fui morar com
meu filho. Um dia conversando com um amigo viemos visitar o Lar e gostei de
tudo que eu vi, continua.
Tem orgulho de
seu nome de família, de ter trabalhado em uma das mais importantes metalúrgicas do pais e demonstra saudade de seu tempo de trabalho.
Começa contar algumas passagem acontecidas
no trabalho, mas logo para, percebendo que eu não conseguia acompanhar suas explicações, por não entender o que ele
queria passar sobre o tralhado metalúrgico. Ficou melancólico, saudoso.
- O trabalho é
que nos mantém vivo. O homem sem trabalho vai ficando cada dia mais triste.
Quando chequei
para conversar com ele, as cuidadoras estavam fazendo curativos no seu pé esquerdo, que pela diabete precisa de cuidados especiais. Curativos também em
seu braço que pelo fato da pele estar muito fina, se rompe com facilidade, mas
tratado com todo carinho não reclama e agradece pela atenção.
Gostava de
criar passarinhos, conta ele todo entusiasmado, depois que eu o provoco
perguntando se ele gostava de animais. Explica todo animado que, quando era metalúrgico, antes de ir trabalhar, tratava-os, com água,
alpiste, verdura, ovo cozido e ia pendurando-os nos ganchos colocados estrategicamente no seu quintal,
debaixo de uma frondosa mangueira, para
maior conforto das aves.
Gostava de
contar que sua mulher era de estatura média e ele sendo alto discutiam sobre a
altura dos varais, onde ela estendia a roupa, explicava ele entre risos. Ela
abaixava o varal e quando eu ia pelo
quintal, distraído, olhando para a
gaiola com o passarinho, ia de encontro ao varal que batia na gaiola, no pescoço ou no rosto. Eu sempre ficava bravo e ela
ria.
Gosta de viver
na comunidade do Lar, onde já vez amigos e também encontrou conhecidos. No
momento está de repouso para sarar logo,
mais sente falta de passear e sentir a natureza bem perto...
Como seria triste se não tivéssemos nossas
lembranças! Elas vão voltando conforme vamos alimentando-as: Alguns só tem
recordações tristes e sofredoras e outros tem lembranças alegres e divertidas.
Será que
depende somente de nós alimentarmos as que nos faz feliz ou as tristes nos
afloram para serem trituradas, esmiuçadas e levadas de uma vez por todas ao
esquecimentos?
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