M. Madalena Tricanico Silveira
Sento
perto dela e não falo nada, só dou um sorriso tímido sentindo um verdadeiro
envolvimento carinhoso pela nossa aproximação.
Olho para suas mãos e me dá um desejo irresistível
de tocá-las. Ela não se opõe. Olho atentamente – muito, muito idosa,
aumenta meu carinho e minha curiosidade.
-
Pega minha filha nesta mão que realizaram tantos benzimentos! Você sabe que fui chamada para explicar
meu benzimentos por dois padres? O primeiro foi na Igreja Bom Jesus do
Monte e a segunda na Igreja São Judas Tadeu. Na primeira fui sozinha e na
segunda eu já era mais idosa e levei meu neto junto, isto é, ele me acompanhou.
Eu
fiquei curiosa para saber e lembrei aflita do tempo de “a caça às bruxas” e
pela minha cara de espanto ela completou!
-
Sabe o que eles disseram, os dois? Onde a senhora aprendeu? Na Itália, de onde
eu vim para este maravilhoso pais!
-
Vai em paz! Isto não é benzimentos. É uma oração muito forte e que a senhora
deve rezar mesmo e para todo mundo.
-
O segundo ainda acrescentou – Deixa comigo que eu vou conversar de perto com
“aquela” que te denunciou!
-
Sabe que eu fiquei muito pensativa: denunciou? Falei para meu neto,
denunciou na delegacia? E meu neto
respondeu: No nonna, deixa para lá o padre vai resolver.
-
A senhora continuou sua missão? Perguntei.
Ah!
Minha filha, como continuei com meus benzimentos e minhas orações: benzia
“simioto”, quebrante, inveja, ciúmes, sapinho, ah! Eram tantos que não dá nem
para contar. Quando as pessoas ficavam felizes
eu orientava elas também a rezarem e benzerem seus filhos e elas admiradas
falavam “eu” a senhora tem certeza?
-Vou
te ensinar, preste atenção: Pelo batismo nós nos tornamos sacerdote, profeta e
rei ( sempre mistura algumas palavras em italiano), então pega a sua
Bíblia, ( fazia os gestos como se
tivesse folhando uma), abre no livro Números e no fim do Capítulo 6, “E Javé falou a Aarão: Vocês abençoarão seus
filhos....entendeu?
-
Tenha fé minha filha! Jesus já deixou tudo pronto e o Espirito Santo está aí
para nos ajudar. Minha geração sabia que tínhamos três tipos de quebrante: de amor, ódio e inveja. Quando sabemos fica fácil de lidar com eles. Quantas vezes são os parentes que põem
quebrante nas crianças. Pega a Bíblia e benze a criança enquanto dorme. Tem os
que nos visitam e gostam tanto dos
nossos vasos e quando vão embora o vaso seca. Se você
prestar atenção, dá o vaso para ela de presente.
Pergunto
se ela gosta do Lar e ela responde rápido:
-
Muito! Tenho vários amigos e venho
sempre aqui visitá-los. Dá licença que estou vendo uma amiga lá e vou conversar
com ela. Qualquer dia venho aqui para ficar de uma vez por todas.
Fiquei
olhando ela sair com passos firmes e
toda senhora do seu destino e me perguntei: esta era a muito, muito idosa da
primeira vista?
“Eta
comunidade feliz”.
*RETRATOS DA VIDA - Livro comemorativo dos 110 anos
do Lar dos Velhinhos de Piracicaba
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