As reuniões do Grupo Oficina Literária de Piracicaba são realizadas sempre na primeira quarta-feira do mês, na Biblioteca Municipal das 19h30 às 21h30

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Com o escritor Ignacio Loyola Brandão

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Reunião na Biblioteca

quinta-feira, 20 de maio de 2021

A FONTE



Elda Nympha Cobra Silveira

Não sabia que iria nascer e irromper pela fissura da terra na montanha. A mãe Terra se abriu e devagarzinho, como se fosse despejar um dejeto de suas entranhas lentamente, aos poucos, mais forte, mais forte, foi surgindo como uma nascente.
Deslizando e dando os primeiros passos, foi se espalhando meio titubeante, até com o tempo tornar-se um regato. Transpôs vales e matas verdes e sombreadas onde somente havia paz e sossego. O corpo líquido era fresquinho e transparente. Aos poucos peixinhos nadavam acompanhando a massa de água nessa viagem prazerosa, margeando vales, prados e matas, quando saciava a sede dos animais que vinham à sua procura e ganhavam seu retrato ao se debruçarem nas suas margens, através do reflexo de suas cabeças e corpos. Depois de saciados, se afastavam pisando firme empolgados com suas belas imagens refletidas naquele cristalino espelho.
Outros ribeirões se juntaram e engrossaram o regato, que passou assim à categoria de rio. Por causa de seu caudal transportava barcos de passeio e de pesca e todos  amavam, aquela bonita corrente de água, que era muito útil para o transporte de víveres. Os barcos e iates grã-finos desciam e subiam aquelas águas e iam ouvindo durante à viagem todo gênero de conversa, desde os causos do pescador, do trabalhador rural, do fazendeiro ou do turista, cada um dentro do seu tipo de assunto e vocabulário.
Com tanta experiência de vida, aquela massa de água começou a sonhar com o seu destino e descobriu que um dia encontraria o mar, onde haveria outros tipos de peixes, de pessoas, transatlânticos de luxo e as margens seriam de outros países que nunca havia visto.
Ansiando por esse destino começou a correr cada vez mais, e mais, deslizando, formando cascatas, como se empurrasse um tobogã, naquelas alturas vertiginosas. Ufa! Enfim, o rio e o mar se tornaram um só e eles conheceram juntos centenas de seres marinhos e as conchas recheadas de perolas. Então, misturado com as águas marinhas, descansou nas areias amarelinhas, e cheias de crianças e jovens lindas, que tomavam sol e acariciavam as ondas que quebravam nas praias de muitos países.
Em alguns momentos aquela corrente de água doce, além de se sentir muito maior, tinha momentos de mau-humor, por causa da lua, que lá no céu, bem longe,  insistia em brigar com ele. O caudaloso rio transformado em mar convivia também com as estrelas que não eram do céu, mas do mar. Pensava que naquelas lonjuras, tudo era muito diferente do tempo em que ele tinha margens, onde os pássaros eram outros muito diferentes das aves marinhas que voavam acima daquele rio que agora era parte do mar... Mas ninguém deixa de pensar no passado e sentir saudades do tempo em que ele era apenas um regato inocente, a procura de novas experiências.

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