
Ivana Maria França de Negri
Nunca acreditara em bruxaria, entes fantásticos ou fantasmas. Zombava até quando alguém fazia qualquer menção ao sobrenatural, magia ou coisa parecida.
Foi àquela festa com a ideia de que iria apenas divertir-se. Vestiu a fantasia de cetim negro, o chapéu pontudo de abas largas e a saia com fartas camadas de tule lilás. Os sapatinhos de fivela combinavam perfeitamente com o resto da fantasia. Passou o cajal preto fortemente sob os olhos, sombreando-os com profundas olheiras e por último, fez o arremate final com batom cor violeta. Gostou do resultado ao mirar-se no espelho oval do seu quarto. Estava aterrorizantemente bela.
Na festa conheceu um lindo “vampiro”, perfeito cavalheiro, alto, atlético, em trajes negros e vestindo uma capa de um tom escarlate bem forte. Sobressaiam-se os óbvios dentes caninos muito alvos, que pareciam tão reais... Achou-os até atraentes e charmosos. Mas o que a encantou de verdade foram os olhos. Eram grandes, negros e expressivos.
Dançaram a noite inteirinha e por incrível que pareça, não se cansou. Só queria aproveitar aqueles momentos mágicos. Ele quase não conversava e também pouco sorria, mas uma atração inexplicável a fazia ficar ali, como que hipnotizada e presa ao sedutor, que a segurava de maneira sensual, apertando-a contra o peito. Parecia flutuar no salão ao som da música envolvente e suave.
Os outros convidados da reunião já iam embora e a madrugada se findava. Os primeiros raios de sol surgiram tímidos, mas cheios de fulgor. O rapaz retirou-se por instantes e ela ficou aguardando enquanto tomava um café forte que alguém oferecia no final da noitada, pois todos estavam exaustos. Como o moço estava se demorando muito, resolveu procurá-lo. Buscou-o em todos os recintos, mas não o encontrou em lugar algum. Parecia até que havia desaparecido como num passe de mágica. Muito estranho.
Caminhou até a janela para tomar um pouco de ar e viu o vulto de um imenso morcego sobrevoando o local, bem próximo ao parapeito. Por uma fração de segundo encarou o bicho de frente. E o que lhe chamou mais a atenção foram os olhos: grandes, negros e expressivos...