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Reunião na Biblioteca

sábado, 4 de junho de 2016

Nossas Limitações


Plinio Montagner

 Arthur Schopenhauer, um dos maiores filósofos do século XIX, nascido em Danzig, Polônia (1788-1860), dedicou um capítulo de sua obra Aforismos Para a Sabedoria na Vida à alegria de viver, afirmando que todas as limitações do homem são fontes de felicidade.
A tese é: que quanto mais bens materiais e espirituais o indivíduo tem, mais conhecimentos ele adquiriu durante sua vida, menos tempo ele tem para si, para seu corpo, para sua alma, para seus prazeres.
 Um atleta que se esforça para melhorar seu desempenho, e consegue ultrapassar sua marca, certamente ele vai ficar contente porque ultrapassou seu limite, mas com o tempo – agora vem a desvantagem - ele vai precisar continuar a se esforçar para manter sua marca ou superá-la. Isto vai torná-lo continuamente insatisfeito e angustiado. O desejo de melhorar não para.
À primeira vista o paradoxo é estranho mesmo. Quanto mais limitado for o nosso domínio intelectual e visual, e quanto menor for o campo de nossos conhecimentos e contatos, tanto mais bem-aventurados, mais prósperos e felizes seremos.
Acho que um amigo tinha razão quando me disse: - Comecei a ser infeliz quando comprei minha segunda camisa; eu era sozinho, tinha só um par de sapatos e uma camisa; agora tenho casa, carro, cartões de crédito, uma chácara, e um monte de problemas.
Então é isso: quanto mais riquezas, mais trabalho e... menos tempo para prazeres. Schopenhauer disse mesma coisa de modo diferente: quanto mais se alargam nossos conhecimentos, tanto mais nos sentimos atormentados e atemorizados.
Muitas desvantagens são agregadas às vantagens. Por exemplo: dinheiro enseja desejos de se adquirir coisas. Mas são coisas de que não precisamos e que vão nos dar trabalho imenso para tomar conta delas: guardar, zelar, registrar, vender, doar, e ainda perdê-las, vão ficar em desuso, enferrujar, se estragar pelo prazo de validade vencido.
Quem pouco tem e menos sabe, vive na simplicidade, gasta menos porque não conhece supérfluo, que não é nada mais do que esse conforto extravagante que é o luxo desnecessário.
O indivíduo que consegue ficar imune a isso, se satisfaz com o suficiente, porque o pouco lhe será bastante.
As pessoas deficientes, os cegos, por exemplo, aparentemente não são tão infelizes como deviam ser a priori, ao contrário, eles têm uma aparência e fisionomia quase risonhas, serenas e doces.
Tentando ainda entender a questão dos limites de nossas aptidões, observe que na segunda metade de nossa vida começamos a ficar menos alegres do que éramos na primeira. O corpo sadio e bonito muda, a diversão diminui e o trabalho aumenta, os horizontes se ampliam, nossos contatos se estendem, os caminhos ficam perigosos e distantes.
Felizmente na infância tudo parece que fica perto, e menor; a vida é risonha, descomplicada e simples por culpa da inocência.
Começo a entender o filósofo. O ecletismo intelectual e a sabedoria em excesso desfavorecem as possibilidades de sermos alegres.
É isso mesmo: a limitação favorece nossa felicidade.
Já ouvi algumas vezes esta citação: “Está cada vez mais difícil encontrar homens inteligentes felizes”. Goethe, contemporâneo de Schopenhauer, afirmou: “Na medida em que vamos adquirindo conhecimentos instala-se a dúvida”. E mais perto do nosso tempo, Nelson Rodrigues escreveu em uma crônica: “Finge-te de idiota que terás o céu e a terra”. Traduzindo: o humilde, o desinformado e o menos lapidado sofre menos e tem mais prazeres.
As pessoas têm pena dos fracos e ao mesmo tempo têm resquício de inveja dos vencedores e dos inteligentes. Menos excitações resultam menos vontades, menos frustrações e tédio.  E para fugirmos de nossa angústia experimentamos a luxúria, o luxo, o jogo, a bebida, a droga, tudo que causa prejuízos, ruínas e desgraças.
Na pintura e na literatura temos observado o único gênero dos autores é pintar momentos felizes projetadas por criaturas felizes em ambientes restritos e na simplicidade. É a constatação de que o menos é o mais. O trabalho intelectual puro dá ao espírito mais força para realizá-lo do que os temas da vida material.
Quanto mais alto está alguém na escala do sucesso, tanto mais solitário estará. Ser diferente ou muito inteligente pode ser ruim, o homem acaba se isolando da sociedade.

O sábio se isola da sociedade não por soberba, mas por não ter outra opção. 

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