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terça-feira, 31 de maio de 2011

Espaço Poesia - PAZ *

A PAZ FUJONA
Lino Vitti (Príncipe dos Poetas Piracicabanos)

Que foi feito da Paz? Que foi feito da Paz?
Foi um sonho talvez que o tempo já apagou?
Mas um sonho se vai como a brisa fugaz,
Deixando uma ilusão nas mãos de quem sonhou...

Por que a Paz foi embora e por que desertou?
Faltou talvez amor – o amor que tudo traz?
Foi quiçá criminosa e o mundo a encarcerou
Numa inóspita e atroz e insólita Alcatraz?...

Decerto a humanidade, invés de muito amá-la,
Do nosso mundo a fez fugir tragicamente
Armou-se do desprezo e quis assassiná-la.

E por isso no céu, na terra e no universo
- Caim que busca amor, mas tudo inutilmente-
O homem vive infeliz, solitário, disperso...


O PREÇO DA PAZ
Francisco de Assis Ferraz de Mello

Esse é o preço da paz,
disse a América orgulhosa.

Esse é o preço da paz,
repetiu a astuta Europa.

Esse é o preço da paz,
ouviram mudos, atônitos,
os miseráveis do mundo.

E não se cala a pergunta:
Qual o preço da paz?
A paz, criação sublime,
mas os tiranos a esmagam
com a força de suas botas.

PAZ, ONDE ENCONTRÁ-LA?
Ivana Maria França de Negri

Procure-a nas mansões,
nos casebres e nas prisões

Procure-a nos mosteiros,
nas igrejas e nos estaleiros.

Procure-a nas escolas, na rua,
nas estrelas e na lua.

Procure-a nas crianças felizes
nas santas e nas meretrizes

Procure-a nos animais
nas plantas e nos vegetais

Procure-a na arte do pintor,
do poeta e do agricultor

Procure-a nas mães, nos soldados
nos loucos e nos condenados

Procure-a onde puder
na terra, no céu, e no mar

E terá que mudar somente
a sua maneira de olhar.

Veja tudo com outros olhos
e a Paz irá encontrar...

PAZEAR
Carmen M.S.Fernandez Pilotto

Entre na roda da Vida
com uma canção em sua alma
faça de sua rotina uma sina
que acalente multidões

Somos partículas de Deus
a serem espargidas pela terra
responsáveis em ser guarida
mesmo ao inimigo mais atroz

É um prazer compartilhar
de um sorriso ou de um abraço
força motriz necessária
aos fracos e desesperançados

E em uma cantiga serena
a vida vai se transformando
pois só com alegria e paz
podemos salvar nosso mundo...

UTOPIA
Dulce Ana da Silva Fernandez

A cor branca é poderosa!
No horizonte do mundo
Pomba alva, alegre, alvissareira
Trazendo no bico um ramo de oliveira
Rente ao ramo, rebentos verdejam...
O coração cheio de amor festeja!
Num tempo de Paz,
Que não existe.

PAZ
Leda Coletti

Se no mundo existir paz
o amor vai prevalecer
e o homem será capaz
de na terra bem viver.

Quando o homem compreender
que foi feito para o Além,
irá procurar viver
em paz, só fazendo o Bem.

TEMPO DE PAZ
Maria do Carmo Cherubim

As profecias
já estão chegando
rompendo o ritmo das catedrais
Mudos anjos esquecidos
se pensam sós
em seus cantos ancestrais

Aprisionados à inércia
que no Universo impera
vivem a vida.
Sem pensar as dores
desse mundo que se altera.

E o badalo dos sinos revela
a cadência nova das eras
Nova Terra...novo tempo de Paz

PAZ E POESIA
Raquel Delvaje

Quero me sentir em Paz!
A paz do coração
Que me faz solto
Como num porto
Barco a vela a velejar
Mar calmo, céu azul...
Quero me sentir em paz!
Na estrada, no céu,
E voar para bem longe,
No espírito de quem sonha
Com a paz...
E não quer encontrar
Nem armas, nem assaltos
Nem violências nem fome
Nem o frio da alma.
Quero me sentir em paz!
Em uma estrada sem buracos,
Sem curvas...
Para uma nova era
Somente paz!
Nada de guerra.
Deposito desde já
Em forma de poesia
Minha flor,
Símbolo do amor e da paz.

MINHAS BANDEIRAS DA PAZ
André Bueno Oliveira

Adoro a nuvem branca em céu sereno,
a brisa virginal das madrugadas,
a luz rubro-carmim das alvoradas,
o som da passarada em canto pleno!

Eu amo da cascata o pranto ameno,
os rios de minha infância: as enxurradas...
Poeta infante-idoso, eu creio em fadas,
que aos céus proveem estrelas, num aceno!

Não dá para aceitar que um ser humano,
ansioso por tornar-se soberano,
destrua os seres vivos desta terra!

Países, povos, lares dizimados...
Os sonhos, fauna, flora, decepados...
Não posso concordar que exista a guerra!

PAZ
Cassio Camilo Almeida de Negri

Todos os seres do mundo desejam a paz.
No entanto, notamos que a violência cresce a cada dia e ficamos mais e mais sem a paz desejada.
Tentamos então, encontrá-la de todas as maneiras, pedindo a Deus que a coloque em nosso caminho, divulgando-a através de passeatas, artigos nos jornais, frases de efeito, no entanto a violência continua...
Acabamos por perceber que a paz está diretamente ligada à autotransformação que se processa dentro de cada um de nós.
Temos de mudar, nos comportando como seres de paz. Nos nossos relacionamentos do dia a dia, nos papéis que exercemos de pais, professores, alunos, esposos.
Quando mudarmos, a paz interna será refletida no comportamento, nas ações e relações pessoais.
Assim, nos transformando, e através de nossos exemplos, vamos expandindo a onda vibratória de paz para todos.
“Quando eu mudo, o mundo muda”. Na próxima vez que nos observarmos com raiva, vamos transformar essa energia negativa em energia positiva de paz.
Ao acender a luz da paz em uma alma, o mundo inteiro pode ser aceso. De um, dez acenderão. De dez, cem acenderão. De cem, mil acenderão. No final, o mundo inteiro será aceso e então haverá a paz!
* Estas poesias e texto foram publicados na coluna "LETRAS E RIMAS" do Jornal de Piracicaba no dia 28 de maio de 2011

domingo, 29 de maio de 2011

Festas Juninas

Maria Cecilia Graner Fessel

São todas mais ou menos iguais, as de escolas, as de igreja, as de clubes, entretanto parece que perderam um pouco o encanto das antigas festinhas das eras A.I ou A.C (leia-se Antes da Internet, Antes do celular....).
Normalmente as festas juninas não eram só para homenagear algum santo, mas uma diversão para toda a família, e também uma forma de angariar fundos para reforma e pintura de capelas, de quadras e bibliotecas escolares, para instalação de bancos de remédios, e toda sorte de necessidades não resolvidas de uma comunidade.
Lá vendia-se de tudo, o tradicional quentão, pastéis, pipocas, bolos, doces e churrasquinho, e sempre havia as famosas barraquinhas de jogos de argola, de pescaria, de fazer a bola passar pela boca do palhaço ou derrubar garrafas e latinhas numeradas. Uma singeleza só.
Também havia “prestação de serviços”, oferecidos por mensageiros, que davam bastante lucro...Nas eras A.I e A.C., os adolescentes não mandavam SMS e torpedos, nem havia câmeras acopladas a telas para “ver sem ser realmente visto”. As pessoas olhavam-se ao vivo, falavam-se ao vivo e em cores. Dançar quadrilha não era só uma representação de cenas do campo, mas uma forma de se trocar de parceiros, tocar-se, sentir os perfumes uns dos outros, roçar os cabelos, envolver ou deixar-se envolver pela cintura ao fazer rodopios...Ali já se firmavam afinidades ou morriam ilusões, antes de um envolvimento maior, tudo sob o olhar da família, e entre as bombinhas e estalinhos jogados pelas crianças...
Por poucas moedas podia-se enviar enviar bilhetinhos amorosos pelo Correio Elegante, mostrar interesse em alguém mandando “ prendê-lo” ou “soltá-lo” da cadeia de bambus, jogar bingo, concorrer a prendas das mais variadas espécies. Aliás, não importava muito O QUE se ganhava, o gostoso era sair da festa com uma toalhinha de renda, um bolo confeitado, um jogo de xícaras, meia dúzia de guardanapos bordados, uma caixa de sabonetes, qualquer coisa já dava um sentimento de realização...E sempre havia a encenação do casamento caipira, os fogos de artifício, a fogueira.
Certa vez, quando ainda lecionava numa escola pública, os professores foram convidados a montar uma barraca para vender bolos, tortas e doces de sua própria fabricação.
Cada um trouxe orgulhosamente o que fazia de melhor, mas estávamos preocupados com o provável insucesso de um “certo” bolo de bananas, que a professora de Ciências fazia regularmente com os alunos, para ilustrar a ação química dos fermentos, e cujos restos acabavam indo parar na sala dos professores na hora do café. Não queríamos que ela se magoasse por não conseguir vender sua obra prima, pois o tal experimento sempre resultava numa coisa intragável...Pois é, para nossa grande surpresa, venderam-se todos os pedaços rapidamente, e cada aluno comprador fazia questão de elogiar cara a cara nossa exigente colega...em cuja matéria havia sempre o maior número de alunos tentando recuperar as péssimas notas...
Adivinhem qual a barraca que deu mais lucro aquele ano...

sábado, 28 de maio de 2011

Os "livro" ?!

Carolina Ramos


Dói no ouvido, não?! Mas, não é para estranhar, pois é justamente isso que nos querem empurrar garganta abaixo! E só há duas opções , aceitar e engolir, ou não aceitar e estrilar. É o que faço, dentro de minha insignificância insatisfeita.
O artigo no plural já define a pluralidade - logo, o S da palavra seguinte é perfeitamente dispensável! Esta é a justificativa! Será que entendi errado?! Acho que não. Outros ouvidos mais apurados ouviram o mesmo que eu ouvi e seus fígados tiveram a mesmíssima reação do meu! Não, o do MEC! O Ministério da Educação aprovou! Sim, aprovou dando passagem livre a essa discrepância, que fere fundo a nossa sensibilidade!
E saber que existem tantos assuntos importantes a serem discutidos, a serem resolvidos e que tão poucos se importam com eles! Assuntos eleitoreiros, de brasas sopradas tão somente pelo bafo dos interesses e que, depois, são cobertas, novamente, pela inexpressiva cumplicidade das cinzas! Eis ciclo oportunista, que se repetirá, ao infinito, enquanto a humanidade existir!
Que pena, meu Brasil! Que pena que isto aconteça por aqui! Pena que ambicionem a riqueza do teu solo! Pena que a exuberância da tua natureza seja cobiçada e que o teu futuro seja comprometido pela ação corrupta! Sempre acomodados e permissivos, tudo isto é o que temos aceitado de cabeça baixa, fingindo indiferença e passividade, desprovidos daquele brio nobre que nos incitaria a dar um vigoroso e heróico: Basta!
Mas, enquanto este basta não chega, (chegará um dia?!) seguimos displicentes a postergar nossa responsabilidade, a permitir que nossos tesouros continuem a ser devassados e saqueados! Sem nos preocuparmos com o que não é preocupante, porque nossa apatia assim julga! E, é assim que nossos bens materiais e intelectuais vão sendo sub-repticiamente saqueados, na maioria das vezes, com raríssimas exceções, por quem é remunerado, para proteger esses bens e, criminoso, ignora a dignidade desse dever! Por quanto tempo se estenderá esta situação?! Alguém responderá?! E resultante dessa impunidade que atiça a ousadia, vemos agora o nosso maior patrimônio, a Língua Pátria, ameaçado por mais um desmando que, pasmem! , encontra respaldo e aceitação dos que têm absoluta obrigação de zelar por ele! Assim, da mesma forma que, em futuro próximo, estaremos falando tranquilo como “hablan nuestros hermanos hispánicos” , corremos também o risco de termos de aceitar “os livro”, “as esquisitice”, “as extravagância” que nos pretendem impingir, com o beneplácito dos que se deveriam escandalizar ante a afronta à integridade da nossa língua! Língua reconhecida por todos como riquíssima! Tão rica que chega a facilitar as lides poéticas! E as nossas crianças como ficarão ante este despropósito?! Que caos as espera, uma vez que a própria língua pátria, seu principal veículo de comunicação, para toda vida, já lhes chega profanada a partir da escola?! Desgostosa com esta possibilidade, ouso erguer minha voz, colocando meus pobres recursos linguísticos neste protesto, que, espero, seja alentado por vozes mais expressivas. Que não sejamos, uma vez mais, dolorosamente desrespeitados em nossos direitos de expressão! Chega de absurdos! Cansamos de ser saqueados!
E, assim como a Academia Cristã de Letras de São Paulo vem a público, encampando este meu protesto, é muito importante que entidades congêneres ergam também suas vozes, num repúdio nacional a tão lamentáveis desmandos que atingem frontalmente a todos os que amam as letras e, com toda a propriedade, procuram defender a dignidade da nossa Língua Pátria.
E, por isso mesmo, no final da frase anterior, desencantada como estou, poderia ter usado, entre aquelas aspas, uma outra palavra de pronúncia próxima, bem mais contundente e explícita, que me furto de aplicar porque não cabe.

Coleção Viver e Aprender

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Contando Histórias


Ivana Maria França de Negri

A imagem da avó de cabelos grisalhos presos num coque, óculos pendurados no meio do nariz e envolta num xale de crochê numa cadeira de balanço a contar histórias para os netinhos, virou clichê. As avós de hoje não têm cabelos brancos, malham em academias e não perdem tempo em cadeiras de balanço.
Mesmo com a avalanche de informações via internet, cinema em 3D e livros digitais, nada substitui o ato de contar histórias verbalmente pelos pais e avós.
Não existe criança que não fique atenta e encantada, ávida para ouvir uma boa história, floreada, reinventada, onde ela pode interagir, acrescentar detalhes e até mudar o destino da trama com um final que mais a agrade. Isso estimula a criatividade, atiça a imaginação e ainda estreita os laços familiares.
Minha neta de 3 anos, vegetariana, gosta de mudar o final da história dos 7 cabritinhos e o lobo mau. Diz que ele não é mau, virou vegetariano e ficou amigo da família de cabritos. Ela não gosta da parte em que ele devora os cabritinhos.
Muitos escritores creem que escrever para crianças é montar um texto bobinho recheado de palavras no diminutivo. Isso é menosprezar a capacidade intelectual delas, que não são tolas, e têm argúcia e entendimento muito maiores do que imaginamos. Elas gostam de desafios. Quanto mais complexo o texto, melhor.
Quando folheamos livros ilustrados junto a uma criança pequena que ainda não está alfabetizada, ela grava as imagens e as associa com nossas palavras. Um mundo novo se descortina e ela ainda recebe o aconchego, carinho e palavras doces de quem conta. Naquele momento, a criança se sente intensamente amada.
É uma pena que muitos pais, com a agenda lotada e jornadas duplas ou triplas de trabalho, não disponham de um tempinho livre para contar histórias aos pequenos, e acabam deixando essa tarefa para os canais da TV paga que transmitem desenhos 24 horas por dia. Ou as colocam para assistir dvds de histórias. E diante da frieza das máquinas, elas perdem o aconchego e ficam sem ouvir a doçura da voz das pessoas queridas.
Cada vez mais a infância fica órfã dessa felicidade simples e mágica.
Costumo contar histórias para minhas netas de 6,5 e 3 anos. E elas gostam que eu repita sempre as mesmas.
O americano Eric Carle, autor e ilustrador de mais de 70 livros infantis, procura não classificar os pequenos leitores como um grupo à parte. Diz que o desafio começa com a criança que tem dentro dele. Se consegue entretê-la, intui que está no caminho certo.
Para os leitores mirins que já estão alfabetizados, escolher as leituras é uma forma de independência saudável, mas deve ter sempre a supervisão dos pais e educadores pois os textos devem ser compatíveis com cada idade.
Viajar nas histórias, entrar nos cenários, vivenciar as aventuras, tudo isso faz parte de um mundo mágico que, descoberto na infância, perdura por toda a vida.
Pode-se perder tudo de repente: emprego, pessoas queridas, bens materiais. Só o que guardamos na memória e na alma permanece eternamente. E a leitura é um desses bens eternos que gatuno algum pode nos roubar.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A Rainha e a Plebeia (diferentes formas de ser)


Richard Mathenhauer

Recentemente uma declaração da Rainha Silvia da Suécia, para quem não sabe, filha de uma brasileira, Alice Soares de Toledo (de família radicada em Porto Feliz , SP) e do empresário alemão Walther Sommerlath, causou polêmica na Europa. A filha de brasileira tornada Rainha após casar com Carl XVI Gustaf em 1976 disse que o pai, Walther Sommerlath, que viveu com a família algum tempo no Brasil e depois retornou à Alemanha, era membro filiado do Partido Nazista, porém, não tinha atividade no partido. Segundo os meios de comunicação internacionais, tanto a família Sommerlath quanto a Família Real Sueca pretendem, a pedido da Rainha Silvia, abrir processo que investigue o passado do próprio pai para tentar esclarecer sua participação no Partido Nazista, tanto quando esteve no Brasil como quando retornou à Alemanha.
A participação de Sommerlath como nazista, que faleceu em 1990, não era muito difundida, ganhando espaço na mídia após sua morte. Para a Rainha Silvia, que dentre outras atividades, mantém obras assistenciais no Brasil, país que admira (ela fala Português com fluência), esclarecer o passado do pai é algo importante, não apenas para a família, mas também para a história e para o seu próprio passado. Como Rainha, ela poderia, considerando ainda o fato de que o pai é falecido e ela não teve culpa se ele fora ou não membro do nacinal-socialismo, a Monarca Sueca poderia simplesmente se limitar às declaração feitas. Pôr um ponto final e deixar às especulações à imprensa. Mas, não. Ela quis esclarecer um fato que sabe não se restringir apenas à esfera familiar, mas, certo sentido, à História, particularmente européia.
Enquanto no Reino da Suécia a Monarquia não teme os fantasmas do passado e faz questão de esclarecer os pontos nebulosos, mesmo que não impliquem em repercussões políticas, no Brasil, esclarecer episódios nebulosos é matéria tratada com outra modalidade. A do “abafa”. É o caso do enriquecimento milagroso de Antonio Palocci. Se Lula blasfemou dizendo que Jesus e Judas teriam de fazer acordo para governar o Brasil, Palocci certamente é um fenômeno de multiplicação.
Claro que não se está a comparar o episódio de Palocci ao passado nazista do pai da Rainha Silvia. A comparação, ainda que possa ser vista como imperfeita, está no campo da coragem de investigar e prestar contas. A Rainha Silvia não deve politicamente prestar contas sobre seu pai já falecido sobre o qual não tinha responsabilidade, mas, um Ministro deve prestar contas, e quem deve dele comprar, em primeiro lugar, é sua chefia imediata, ou seja, a Presidente (que gosta de ser chamada de Presidenta), Dilma. Por que a Presidente não é a primeira a exigir que Palocci explique a sua fortuna milagrosa? Afinal, em quatro anos acumular uma fortuna que permita adquirir um apartamento de pouco mais de 6 milhões de reais não é para qualquer um não! (Ou diria ele, como um político de antanho, que ganhou várias vezes na Loteria?).
Se na Suécia (claro, estamos falando de um governo de primeiro mundo que tem um senso moral e ético mais avançados e um respeito maior pelo povo, mesmo quando os assuntos não dizem diretamente ao povo, mas à vida privada da Soberana) a Rainha não fugiu ao dever de consciência, já no Brasil, há muita gente fugindo do dever de ofício e para com o povo contribuinte. Palocci, que anos antes já havia se envolvido em saias justas voltou faceto ao Governo, é um dos homens mais poderosos da República, e como não querer dar satisfações ao povo? Afinal, quem não deve, não teme.
O que diferencia a Rainha e a Plebeia não é a origem, o Governo, o caso que cada qual tem de lidar. O que diferencia é que na Monarquia Sueca eles preferem tratar as coisas com transparência e responsabilidade (volto a dizer, mesmo que politicamente saber se W. Sommerath foi um ativo nazista ou não), enquanto no Brasil, país de plebeus (e falo de um estado de plebeu de espírito, como Platão falava de uma aristocracia de espírito), não se dá a mínima ao povo. Tudo fica como está. Logo cai no esquecimento até um novo escândalo, e, enquanto Josenildos da vida são massacrados (lembram-se do caso Palocci e da violação do sigilo bancário?), os grandes continuam sem se sentirem minimamente obrigados a prestar satisfações. E para que o fariam se seu (sua) chefe não os cobra? Eis a diferença que faz verdadeiros nobres e lamentáveis plebeus.

Amores caninos

Bianca Lobo


Um jovem turista cego tentava atravessar uma movimentada rua da cidade do Rio de Janeiro, mas a sinalização de trânsito apresentava defeitos, mudando da cor vermelha para a cor verde, em menos de oito segundos. Os motoristas estavam extremamente satisfeitos com o ocorrido, porque como todo mundo sabe, muitos cariocas sempre dão um jeitinho de avançar o sinal. Na melhor das hipóteses, ninguém que passou pela movimentada esquina percebeu que alguém desejava atravessar.

Quinze minutos se passaram e o paciente jovem continuava ali no cruzamento daquelas ruas, parado e com dores nas pernas; pois já havia caminhado bastante, desde que deixou a casa dos amigos onde estava hospedado.
Encontrar o caminho para chegar ao calçadão de Copacabana tornou-se um grande desafio. Os termômetros marcavam quarenta graus. O desejo de beber água côco, sentar-se na areia e sentir a brisa e o cheiro do mar, não permitiam que o jovem desistisse de seu objetivo.
Mais cinco minutos e a chegada de alguém que cheirava a sua mão e roçava-se em sua perna esquerda, suavemente. O rapaz, assim como quase todos os portadores de deficiência visual, possuía sentidos muito aguçados e através do olfato e do tato detectou a presença de um simpático cão vira-latas que morava em uma das praças do bairro. Um afago na cabeça, o rabo a balançar, sorrisos trocados e uma das patas levantadas a empurrar as costas do rapaz para a frente. O jovem entendeu a mensagem do inteligente animal. Ambos deixaram a calçada, caminhando na direção do outro lado da rua, fazendo com que os carros continuassem parados, mesmo depois do sinal estar verde. Missão cumprida. Na frente de um restaurante, o cachorro lambia as mãos do jovem, como se desejasse afagar a sua alma, com toda a ternura que só a inocência canina é capaz. O rapaz não cabia em si de tanta de tanta alegria e decidiu convidar o seu mais novo amigo para passearem juntos no calçadão.
O pôr-do-sol tornara-se ainda mais deslumbrante naquela tarde de domingo em Copacabana ─ uma homenagem especial a um cão anjo.

domingo, 22 de maio de 2011

O NOVO

Rosaly Aparecida Curiacos Almeida Leme

O novo desestabiliza e assusta. Como perdemos um pouco da nossa comodidade e segurança diante do novo, às vezes nos prendemos muito ao antigo e depois tentamos desprestigiar o novo para nos sentirmos mais cômodos.
Quando a novidade não for criada por quem vai executá-la, é necessário que, de alguma forma, o executor se sinta fazendo parte do processo de criação, só assim ela será bem aceita.
Se os que vão por em prática o novo, só porque é novo, e isso não for assumido com entusiasmo, está fadado ao insucesso.
Entender e analisar o novo é parte importante de quem vai por em prática.
Nem tudo o que é velho precisa ser descartado. Nem tudo só porque é novo é bom e deve ser abraçado.
Equilíbrio e bom senso fazem parte do processo. O que deveríamos fazer é transformar sempre, tentando otimizar todos os passos de um processo.
Não deu certo:não jogue fora, transforme. Não ponha uma pedra em cima de uma ação inadequada.Quem gosta de carregar pedra?
Não mate e nem jogue fora uma ação mal sucedida.Quem gosta de carregar defunto ou perder?. Transforme todas as ações de vida, otimizando-as.
Quem de bom senso colocaria estrume de animal sobre uma mesa coberta com uma toalha de linho branca?
Mas se esse estrume for colocado na terra de um vaso ele se transformará em flor, assim ele irá como adorno na mesa. Transformar é adequado.
Se a receita da vovó era boa você pode usá-la nos fogões modernos e não precisa reaprender a ascender o fogão de lenha, se a sua mensagem antiga for boa você pode enviá- la via Internet.
Mas também você pode criar novas receitas ou adequar receitas antigas, para isso você deverá conhecer o paladar de quem vai ingeri-las. Mais importante do que a receita é a pessoa para quem você prepara o alimento.
Retomar para avançar, ou ainda melhor, para crescer em espiral.
Esta obra direciona a todas as pessoas envolvidas com a educação, sejam elas professores de escola particular e/ou de escola pública, tanto de educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio regular ou profissionalizante) e ensino superior, pais, catequistas, educadores de rua, trabalhadores de escola e responsáveis por cursos de capacitação de profissionais, de trabalhadores de empresas e de comércio e de executivos.
Em educação todos os insucessos devem ser transformados e as ações otimizadas.
Cuidado para não jogar a criança junto com água suja do banho.
Cuidado para não usar de saudosismo incoerente e inadequado.

sábado, 21 de maio de 2011

Prosa e Verso - A Tribuna Piracicabana

Há 11 anos a coluna PROSA E VERSO, coordenada pelos escritores Ludovico da Silva e Ivana Negri, é publicada no jornal A TRIBUNA PIRACICABANA para mostrar a produção de textos e poesias dos integrantes do Golp e outros escritores e poetas piracicabanos.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O vento e as flores

Ludovico da Silva

O vento chegou de mansinho e acariciou as flores do jardim.
Alegres e agradecidas, as flores ensaiaram um bailado.
O vento foi embora, mas prometeu voltar. E voltou.
O tempo passou e das flores despertaram sementes viçosas. O vento as levou para longe, para dar vida a outros jardins.
Faça como o vento: semeie flores no jardim de sua vida.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Lição de Cidadania


Maria Cecilia Graner Fessel

Semanalmente participo de uma reunião das sras. do quarteirão, onde partilhamos nossas experiências de vida à luz da fé cristã. Ultimamente temos discutido as mudanças de atitude necessárias à salvaguardar a “saúde” de nosso planeta.

Embora as práticas ecológicas façam parte de meu currículo de professora, essas mulheres simples e fortes me surpreenderam por sua adesão irrestrita a esse programa, inclusive dando-me novas idéias sobre o tema. Elas se preocupam com o futuro dos filhos, netos e sobrinhos, que estão arriscados a viver num ambiente cada vez mais poluído, bebendo água cada vez mais contaminada, e vendo os resíduos se acumularem nos ecossistemas ao seu redor. E assim fazem o que podem.

Essas mulheres levantam-se bem mais cedo do que eu, varrem suas calçadas e sarjetas, recolhem os resíduos e os embalam para serem posteriormente recolhidos pelas varredoras. E lá se vão folhas secas, bitucas de cigarros, palitos de sorvete e doces, etc, que entupiriam os bueiros com as chuvas. (Confesso que às vezes me envergonho de minha calçada...)

Em suas casas, acondicionam separadamente os restos orgânicos, e depois as latas e vidros vazios, as embalagens de leite, os muitos folhetos de propaganda que jogam nas garagens e nas ruas, as garrafas plásticas, enfim, tudo que é reciclável e será recolhido pelos coletores, embora irregularmente.

Elas cortam, abrem e lavam as caixinhas de leite vazias, as garrafas , as latinhas , enfim tudo que possa fermentar e contaminar o ambiente. Comprimem papéis e embalagens, e procuram, sempre que possível, acondicionar o lixo em caixas descartadas de papelão, em vez de usar sacos plásticos.

A economia de água também as preocupa. Recolhem água das máquinas de lavar roupa para esfregar quintais e calçadas. Uma delas, ao reformar sua casa, instalou um coletor das chuvas que vai direto para uma caixa fechada, de onde retira a água para molhar suas plantas, lavar a garagem e o quintal.

Essas mulheres são como o terreno fértil e bom onde, caindo as sementes da responsabilidade ambiental, assumiram seu papel de co-participantes com empenho e dedicação. Elas podiam ir às escolas e dar aulas de cidadania!

Agora, um relato interessante, até engraçado, foi sobre as reuniões de famílias nas chácaras, onde se criou o hábito de substituir pratos de louça , talheres e copos de vidro por similares de plástico, descartáveis. Num caso citado, a conscientização era tão forte, que os descartáveis passaram a ser recolhidos após as refeições, limpos com papel e lavados, antes de serem embalados para reciclagem, o que acabou gerando a pergunta óbvia: Já que lavamos os descartáveis antes de descartar, não é melhor voltar a usar as louças, os copos de vidro e os talheres de metal?!

De todas essas discussões surgiu uma solicitação urgente ao poder público de nossa cidade: planejar e implantar uma coleta seletiva regular, constante, efetiva, em todos os bairros da cidade.

terça-feira, 17 de maio de 2011

As três décadas da Brahama Kumaris em Piracicaba


OM SHAMTI

Brahma Kumaris – 30 anos  (clique aqui)
Ivana Maria França de Negri

São três décadas trabalhando por um mundo melhor, colocando na prática atitudes esquecidas atualmente tais como gentileza, doçura, tranquilidade, misericórdia, respeito, humildade, perdão, honestidade, cooperação, paciência, entre outras virtudes.
Um grupo de voluntários anônimos que arregaça as mangas e coloca literalmente as mãos na massa. Dedicam suas vidas à nobre causa de melhorar o mundo.
Um bando de “formiguinhas” que fazem a diferença, nas palavras do palestrante da noite festiva, Ken O’Donnel, quando foram devidamente comemorados os 30 anos de atividades da Brahma Kumaris em Piracicaba. O tema da palestra foi “Sustentabilidade”, palavra muito em voga atualmente, mas ele enfatizou a sustentabilidade interior, que nada mais é do que cuidar. Cuidar das pessoas e do planeta como um todo.
A Organização Brahma Kumaris surgiu na Índia em 1937 com a finalidade de trabalhar pela paz e logo se espalhou por cento e trinta países com sete mil escolas, sendo que todo o trabalho das organizações é voluntário e gratuito.
Ida Meirelles foi a fundadora da sede em Piracicaba há 30 anos, e a primeira reunião para um pequeno grupo de pessoas foi na casa dos seus pais, Nelson e Livica Meirelles. Desde então, o trabalho nunca mais parou, tendo a entidade passado por vários endereços até a inauguração da sede própria, uma doação.
Centenas foram as atividades nestes anos todos, inúmeras palestras, cursos de meditação, programas Vivendo Valores na Educação, na Saúde, entre outras.
Não sou frequentadora assídua como meu marido, mas admiro muito a postura deles, sua atenção e delicadeza, sempre recebendo todos com sorrisos, a casa impecável, cheirando a limpeza, com flores em arranjos naturais perfumando o ambiente. Cada pessoa é recebida com a amigável saudação “Om Shanti” que significa “eu sou um ser de paz”.
As palestras e cursos levam à descoberta da própria essência interior. E depois da meditação, todos saem em estado de graça, com muita paz e alegria nos corações.
Também é louvável a maneira de colocar amor em tudo o que fazem, como no ato de cozinhar. E a comida é vegetariana por amor a todas as criaturas viventes. Nenhum prato leva carne e nem ovos, e são todos muito gostosos.
Em cada evento, todos saem com pequenos mimos e o tradicional tuli, um doce delicioso, feito com nozes, ameixa e coco.
E essas grandes almas trabalham humildemente nos bastidores, longe dos holofotes, sem aquela ânsia de aparecer que acomete a maioria. Mas fazem a diferença para um mundo melhor, mais humano e harmonioso. OM SHANTI.

domingo, 15 de maio de 2011

Sonhando e Aprendendo


 Adenize Maria Costa

Sempre que viajo ou quando saio do trabalho a noite, olho para a cidade toda iluminada e me recordo de um sonho que tive e tenho certeza absoluta que Deus falou comigo através dele.
Certa vez sonhei que estava na casa da minha irmã em Jundiaí. Conversávamos animadamente e, quando me dei conta, já havia anoitecido e não teria mais ônibus pra voltar. Pensando que na manhã seguinte teria que trabalhar, decidi voltar a pé, cortando caminho e se por acaso conseguisse alguma carona poderia chegar a tempo.
Andava por uma estrada de terra, num lugar ermo, distante da cidade e de repente vi uma bola de luz cair do céu bem ao meu lado. Num primeiro momento tive medo, tentei fugir, me esconder e daquela luz uma voz me dizia: “Não tenha medo. Vim pra te fazer companhia” e eu perguntei: “Quem é você? O que você quer de mim”? E a voz respondeu: “ Eu sou um Anjo. Vim para te acompanhar e para te proteger”. Fiquei meio desconfiada. Olhava para a luz e percebia que seu contorno se assemelhava a uma pessoa, mas não podia ver o rosto.
Percebendo minha desconfiança Anjo, me chamava pelo nome e me fazia recordar de situações vividas na minha infância, para me fazer acreditar que ele era de fato um Anjo e que já me conhecia. Diante disso fui perdendo o medo e respondendo às suas perguntas. Até que o Anjo me disse: “Você já voou”? “É claro que sim”! Respondi.
Ele riu e disse: ”Não! Estou falando de voar sem ser de avião! Eu sei que você nunca voou assim. Quer experimentar?” Disse isso e me estendeu a mão, segurei firme, fechei os olhos e ele rindo e me dizia: “Não tenha medo! Pode abrir os olhos. Nós já estamos voando e logo, logo chegaremos a Piracicaba”.
Depois dessas palavras comecei a me sentir mais segura e a curtir o voo. Fiquei por um tempo observando as estrelas, o céu límpido, sem contar aquela sensação gostosa que dá quando a gente sonha que está voando.
Passado aquele deslumbramento voltamos a conversar, e eu falava a respeito das minhas dificuldades, dos meus problemas , pois naquele momento da minha vida passava por um problema que me tirava a paz.
O Anjo me ouvia em silêncio e de vez em quando eu o olhava para conferir se estava prestando atenção no assunto, mesmo sem poder ver seu rosto, sabia que me ouvia, me sentia segura. De repente ele interrompeu meu discurso e disse: “Adenize, olhe pra baixo. Você reconhece esse lugar”?
“Sim, é a minha cidade”- respondi. E ele completou: “ Está vendo aquele monte de luzes acesas lá embaixo? Imagine que cada luz daquelas representa uma casa e que nessa casa mora uma família e que pelo menos uma pessoa dessa família nesse momento está passando por um problema semelhante ou pior que o seu. Quando seu problema parecer sem solução voe e olhe de cima”.
Nesse momento acordei, olhei o relógio. Tinha tempo de sobra pra me levantar, sentei-me na cama e agradeci a Deus por não desistir de mim, mesmo quando estou dormindo.

sábado, 14 de maio de 2011

Espaço Poesia - ÉSOPO


Carmen Maria da Silva Fernandes Pilotto

Pedro e o lobo
a fábula reincidente
de lama e engodo
que o povo permeia
em nossa nação.

Obstinada gente
suporta e encorpa
a cultura do roubo
a idolatria do corpo
a insistência do copo
e a cobiça do ouro.

Onde está o cerne
de nossa alma doente
contaminada pelo vírus
de um sêmen consensual
que alastra devastadoramente
com injustiça, ignorância e ignobilidade?

Desintegrados pelas mentiras
sorrimos risos de falsas almas
saudamos com palmas que entoam sons
no vazio dos imorais.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Virtual

Adenize Maria Costa

Passava horas a fio conversando com os amigos. Raramente se dava ao trabalho de descer e sentar-se à mesa para as refeições. Acabava engolindo qualquer coisa na frente do monitor.
Tinha muitos amigos. Se um deles saía ou estava off-line em segundos recebia a informação: “Amigo-até-a-morte” acabou de entrar. Ou então “Levada-da-breca” está chamando sua atenção. Seus contatos eram dos mais variados tinha também “Loko-de-pedra”, “Chico-doido”, “paty-k-brun” e mais um sem número de nomes estranhos.
O bate-papo sem fim o mantinha preso no quarto, cada vez mais isolado do mundo. Os pais ficavam despreocupados porque o filho estava sempre em casa, a salvo da violência urbana. Chegava da escola e imediatamente ia para o quarto e de lá saía na manhã seguinte para ir ao colégio. Era assim que passava suas tardes e finais de semana.
Tinha apenas dois colegas no colégio com quem eventualmente falava. Em casa seus pais praticamente não ouviam sua voz. Vivia fechado em seu mundo. Parece que foi desaprendendo a falar. Estava, aos poucos, tornando-se um ser virtual. Sem voz, sem rosto, sem afetos. A vida passando tão rapidamente quanto os toques no teclado do computador, sem grandes mudanças, exceto ALT-TAB.

Fábulas recicladas


ilustração de Doré
 Elda Nympha Cobra Silveira

Um pai não imagina o quanto sua presença representa para o filho durante a infância. Lembrando do meu filho, quatro tinha quatro anos, quantas recordações chegam de volta: suas perguntas, suas risadas, seu biquinho de choro... O seu super-herói era o Ciborg e sempre que perguntavam se seu pai era o Ciborg ele imediatamente, sem titubear, respondia: “Claro que é!”
Com o tempo as situações mudam, os anos avançam e as impressões que as pessoas deixam uma nas outras também se modificam. As pessoas de dignidade, de caráter impoluto não precisavam assinar documentos, bastava um fio da sua barba ou bigode. Elas eram respeitadas e se respeitavam, suas palavras valiam e se projetavam pela sua moral, intransigência no respeito à sua dignidade, na vigência de bons costumes e caráter sem jaça.
Hoje se agissem assim, seriam ridicularizados e considerados ingênuos e indubitavelmente seriam enganados. O conto do vigário é passado pelos espertos nas esquinas dos bancos, enganando pessoas idosas e ingênuas. Centenas de telefonemas perturbam as pessoas o dia inteiro, para conseguirem seus dados pessoais, numero dos documentos, de cartões de crédito das contas bancárias. Muitos conseguem, por meios escuso, ludibriar os incautos. Não é nem mais necessário invadir uma casa ou apartamento: o roubo é feito pelo telefone, ou pela internet, muitas vezes da própria cela do presidiário. Por incrível que pareça com a anuência da pessoa crédula ou amedrontada pelas ameaças dos ladrões.
Os tempos hoje são como o da fábula do Lobo e o Chapeuzinho Vermelho ou do Lobo e o Cordeiro é só reciclar o assunto para a atualidade, porque o lobo está também na política, na internet, na propagandas enganosas, nos relacionamentos duvidosos, no desrespeito pelo ser humano carente, na liberdade tolhida pelo abuso do poder, no desrespeito pela infância, desrespeito às autoridades e vice-versa, no cotidiano enfim. Nas fábulas, o lobo astuto é prepotente e sempre procura uma desculpa para poder comer o cordeiro, a raposa para poder comer o queijo do corvo.
Nas suas fábulas: Esopo, La Fontaine, e Charles Perrault, que se mantêm vivas até hoje, usavam personagens representados por animais para instruir os homens. A arte de unir pensamentos filosófico com um assunto jocosamente abordado ainda é preservada até hoje no mundo inteiro. Entre nós, por Dalton Trevisan e Maurício de Souza.
Os professores sempre foram tratados com dignidade e respeito, pois essa sempre foi profissão considerada pela comunidade como exemplar. Os alunos os tinham como modelo de conduta e caráter. Hoje são ameaçados de morte, sujeitos a represália quando repreendidos e com a anuência dos pais que lhes tira a autoridade no encaminhamento da boa educação e da disciplina.
Será que teremos de pensar como a raposa de Esopo, que decepcionada com a altura em que as uvas se encontravam, desistiu de comê-las e as desdenhou com a célebre frase: “As uvas estão verdes!” Sim estavam muito longe do seu alcance, mas não do nosso! Teremos que pensar como a raposa porque não temos mais esperança de solução para os desmandos, a corrupção, os engodos governamentais, as falsas promessas, os crimes abafados pela propina? Ou teremos que pensar como ela porque certamente sempre seremos eleitores enganados por falsas ideologias, que nos são imputadas pelos meios de comunicação, que nos dão de quebra, violência generalizada e pouca cultura?
Não! Não! Não! As uvas estão maduras e podemos apanhá-las, é só nos propiciarem uma escada.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Minha mãe Maria Emília e a missão de ser mãe *



Noite de lançamento do livro de poesias com as duas filhas, Maria Fernanda e Maria Carolina
 
Maria Fernanda de Medeiros Redi

Ser mãe não é apenas alimentar, mas fazer a melhor comida do mundo.
Lasanha, feijoada, bacalhoada, cordeiro a vinha d’alho, tiramissu, pavê de chocolate
Almoço de noivado, almoço de casamento.
Minha mãe cumpriu bem essa missão.

Ser mãe é mostrar piedade e temor de Deus,
Devoção aos seus Santos e amor à Santa Mãe de Deus, Maria.
Minha mãe cumpriu bem essa missão.

Ser mãe é educar para o Bem, formar nos valores cristãos, corrigir os erros,
Ensinar a ter solidariedade e espírito de serviço,
Incentivar e elogiar cada mínima boa atitude.
Minha mãe cumpriu bem essa missão.

Ser mãe é proteger, defender, ajudar e ensinar a superar frustrações,
Acolher no colo nossa cabeça insone por preocupações, nosso coração pesado de angustias.
Minha mãe cumpriu bem essa missão.

Ser mãe é fazer as filhas se sentirem realmente amadas e especiais,
Ter orgulho de suas conquistas, por simples que sejam,
Dizer: “filha como você está bonita”.
Minha mãe cumpriu bem essa missão.

Ser mãe é apoiar nas filhas a independência, o viver no mundo com dignidade e autonomia,
o cumprir os compromissos assumidos,
Mesmo que isso requeira distância física, muita saudade e abnegado desprendimento.
Minha mãe cumpriu bem essa missão.

Ser mãe é sempre dizer às filhas: “eu te amo”,
Dedicar-lhes poesias,
Ensiná-las o gosto pela leitura, dar-lhes cultura.
Minha mãe cumpriu bem essa missão.

Ser mãe é fazer jus ao compromisso de fidelidade matrimonial,
Amar e respeitar seu cônjuge e pai de suas filhas,
Dedicar-lhe atenção e cuidados.
Minha mãe cumpriu bem essa missão.

Ser mãe é ensinar a filha a ser mãe,
Ser, na prática, a melhor avó do mundo,
Dar banho na netinha, niná-la escondido a noite inteira,
Fazer os bem-nascidos e lembrancinhas, mimar com presentinhos e com um lindo quartinho.
Conseguir da pequena espontâneos e risonhos: “Vovó fofinha, te amo”; “Delícia, adorei” (ser sua netinha).
Minha mãe cumpriu bem essa missão.

Ser boa mãe exige todo cuidado espiritual, material, físico, psicológico e moral com as filhas.
Minha mãe cumpriu plenamente essa missão e outras que Deus lhe dava.
Acolheu com coração grande de mãe, de amiga, quem dela se aproximou.
Ouvia a todos, tinha empatia com suas dores e alegrias.
Exultava com o bem dos outros. Compadecia-se com o sofrimento alheio.
Ajudava. Aconselhava. Rezava. Dava esperança.
Foi caridosa e entusiasta. Foi Professora. Foi amiga. Foi esposa. Foi escritora, poetisa e muito mais.

Por tudo isso, digo:
“Muito, muito obrigada, minha mãe.
“Graças e glória a Deus, que ma deu gratuitamente,
“Perdão mãe por eu não ter sido tão merecedora.
“Prometo tentar ser também uma boa mãe.
“Eu te amo, mãezinha. Eu te amo para sempre e mais um dia”.

* Texto lido na missa de sétimo dia

Língua Judiada


Pedro Israel Novaes de Almeida

Não será fácil erradicar alguns atentados à língua pátria, pois os erros já fazem parte do dia-a-dia da população, inclusive de sua parcela letrada.
Políticos são especialistas em conclamar os pares a evitarem as cadeiras. Vivem, com orgulho, propondo que todos sentem na mesa, para conversar.
A omissão de uma simples crase pode transformar um prefeito assistencialista em pedófilo, caso o anúncio oficial noticie que o prefeito deu de comer as crianças. No português corrente, é comum o lamento pelas percas, que ocasionaram menas disposição para produzir.
Nas receitas culinárias e conselhos domésticos, é comum a existência de utilidades embriagadas, pois, não raro, é sugerida a utilização de panos de prato embebedados em álcool. São muitos os plenários municipais onde os oradores confessam que vévem auxiliando o povo.
No trânsito, a utilização de termos indevidos pode soar estranha, se o cidadão alegar que foi atropelado enquanto passava pela faixa de pederastas. O novo modismo envolve o afetuoso beijo no coração, procedimento fatal.
Existem casos em que não há maltrato à língua, mas ofensa ao senso. Assim, portar uma mensagem de que Deus é fiel é como bradar que a água é molhada.
Vez ou outra, algum entendido resolve declarar que alguma expressão que usamos, à exaustão, não é correta, e não é fácil modificar um antigo hábito. Assim, sempre dissemos que há risco de vida, quando na verdade o risco é de morte.
Grande parte dos brasileiros busca fortalecer o sentimento de grupo, e acaba atropelando a língua, com expressões do tipo “a gente vamos”. Algumas colocações sempre deixam dúvidas, como a notícia de que determinada pessoa suicidou-se. Ora, o suicídio só pode ser contra si próprio.
Os corretores de textos, automáticos nos computadores, mais corrigem que ensinam, e continuamos escrevendo errado, na certeza de que haverá a providencial correção. Outrora, em presença de dúvida quanto à grafia correta de Bahia, mudávamos a história para o Paraná, e os corretores de texto aboliram tal martírio.
É enorme a distância entre o idioma escrito e a língua falada, e todos estranhamos o cidadão que fala da mesma maneira que escreve. O correto seria nossos ouvidos estranharem o português mal manejado, mas, em nossa ignorância, tendemos a considerar pernóstica a boa fala.
Mal falávamos o português do Brasil, e trataram de modificá-lo, buscando igualá-lo ao utilizado por outros povos. A medida é estressante e desnecessária, pois força a derrocada de antigos hábitos, já presentes em nosso dia-a-dia.
Enquanto professores de português buscam desmistificar o idioma, diversas emissoras de rádio e TV tratam de cultivar erros grosseiros. Enquanto isso, o MSN cuida de popularizar tais erros, em versão abreviada.
Não somos versados no idioma, e, quando alguém diz haver comprado a vista, ficamos em dúvida se adquiriu um olho ou fez alguma compra em parcela única. Certo ou errado, o idioma acabou salvando o articulista, em semana sem assunto.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Em criança ( p/ Maria Emília L. M. Redi)


Maria Emília - 2 anos
 Eloah Margoni



Em criança, gostava de escalar telhados e muros. Punha uma escada no fundo do quintal e olhava ao longe os terrenos baldios, com trilhas de pessoas e de um ou outro cavalo de carroça, ali na Cidade Jardim. A ideia de voar me ocorria, mas sem bom resultado prático. Hoje, acho que deveria ter tentado mais. Acabaria, certamente, conseguindo.

Havia eco, esta reverberação misteriosa do som. Crianças, moleques soltando pipas falavam alto. Tinha certa inveja dos meninos e de sua liberdade maior do que a nossa, a feminina. Soltar papagaios era uma atividade séria e sagrada; quem duvidaria disso? As crianças tinham ares compenetrados neste tipo de folguedo, que parecia feliz trabalho. Lamentava não me ser permitido fazê-lo! Mas não posso reclamar tanto. Subia em árvores, falava com elas, delas caia e andava solta pelo bairro a um ou outro pretexto; muito feliz estava em vários momentos, infelicíssima em outros, mas o real motivo das excursões e andanças era a exploração dos caminhos, a contemplação, o sonho, a relativa liberdade. Cores e vozes faziam desenhos no ar. Se olhássemos muito firmemente o azul do céu, este se transformava em filamentos agitados, em pontos vivos de luz, elétricos, mais que elétricos, os quais tudo permeavam. Ainda é assim. É esse o recheio das coisas do mundo? É isso que inventa e cria os objetos? Codificação da matriz?

Cuidado nas manhãs chuvosas pra não pisar num sapo, cuidado pra não andar na enxurrada; tem caco de vidro. Cuidado com os raios, com o carro, com estranhos. E grandes lagartixas eu via caçando insetos, à noite, ao redor da luz mortiça do terraço. Sonhos infantis, idéias tolas, bases poderosas para a criação de eventos futuros, gestávamos em nossas almas plásticas.

Também havia ansiedade e tédio. Uma parte de mim sabia que havia um mundo mais externo, como cascas de cebola, à beira daquilo tudo; mundos outros com coisas ocultas, maravilhosas e terríveis. Enigmas a serem descobertos e desvendados, ousados feitos a serem realizados, que dependiam totalmente de nós com nossas botas de sete léguas, com nossas ilusões e criações especiais, as quais devem ser regadas a qualquer custo, a qualquer preço, sejam quais forem as durações ou sejam quais forem os desvios insuspeitados de nossas vidas. Pois, se devidamente cultivadas e percebidas, continuarão sempre lá ou num lugar especial qualquer, mesmo depois de nossas mortes, que afinal fazem parte desta trama toda, como um fio, um fio na rede sem fim, fio de mel e ouro.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Minha mãe e eu

Marisa Bueloni

Minha mãe e eu temos um montão de histórias. Já são 19 anos da sua partida e parece que foi ontem!...

Fomos uma bela dupla - minha mãe e eu. Ela se chamava Josefina e eu a provocava, querendo saber por que minha avó lhe dera este nome. Ela ria e ficava brava ao mesmo tempo. “Eu gosto do meu nome, oras”. Eu respondia rindo: “Mas eu não, dona Josefina!”.

Ela contava que no grupo escolar era vítima da brincadeira “Josefina da perna fina”. Mas minha mãe tinha pernas normais, bonitas, nem finas, nem grossas. E só Deus sabe o que aquela mulher andou e trabalhou, o bem que ela praticou, as procissões a pé, as rezas, as visitas a parentes e doentes, os caminhos santos e belos que minha mãe percorreu neste mundo.

Ah, mãe querida! Se saudade matasse!... Lembro de uma valsinha que minhas irmãs mais velhas punham para tocar numa vitrolinha portátil. Dançavam a música que dizia:

Ela é a dona de tudo

Ela é a rainha do lar

Ela vale mais para mim

Que o céu, que a terra, que o mar

Ela é a palavra mais linda

Que um dia o poeta escreveu

Ela é o tesouro que o pobre

Das mãos do Senhor recebeu


Mamãe, mamãe, mamãe

Tu és a razão dos meus dias

Tu és feita de amor e esperança

Ai, ai, ai, mamãe, eu cresci

E o caminho perdi, volto a ti

E me sinto criança

 
Mamãe, mamãe, mamãe

Eu te lembro o chinelo na mão

O avental todo sujo de ovo

Se eu pudesse, eu queria outra vez, mamãe,

começar tudo, tudo de novo!...


Se eu pudesse começar tudo, tudo de novo!... Se pudesse ter a chance de voltar a ser criança no seu colo tão doce. Que saudades do seu perfume suave, uma colônia que impregnava seu armário, suas roupas. Lembro-me do seu potinho de “rouge”, que hoje é o nosso “blush”. Ela gostava de um batom discretíssimo e, nos últimos anos, usava um esmalte de um tom rosa esmaecido, chamado “Rosa Rei”.

Minha mãe completou apenas o 4º ano primário, mas saiu da escola com um diploma preciosíssimo: a sabedoria da vida. Ninguém foi mais sábio e mais prudente do que minha mãe. Ela e “Dona Vida” eram assim, ó. Não dava um passo em falso. Conhecia todos os territórios, os próprios e os alheios.

Ah, como eu gostava de brincar com ela, de atormentá-la, de mexer com dona Josefina o tempo todo! Na minha viagem de lua-de-mel, meu lindo e eu estávamos em Florianópolis, hospedados num andar bem alto do hotel. Resolvi mandar um postal para ela, com os seguintes dizeres: “Querida mamãe. A viagem foi boa e aqui é lindo. Só que meu marido quer fazer umas coisas e não sei se está certo. Deixo ou não? Já pensei em me atirar do 12º andar... Ah, ah, ah... Beijos da filha que a ama muito.”

Fala sério, gente. É postal que se mande para a mãe?

Bom, ela o recebeu e consta que adorou, se matou de rir. E eu, lá em Floripa, eufórica com o que a turma dos Correios ia pensar. Se é que algum carteiro atento se deu ao trabalho de ler. Sempre na minha de provocar, de transgredir. Aos 20 e pouco, ninguém tem muito juízo mesmo, né? Época mais linda da vida! Ô saudade matadeira!

Enfim, minha mãe e eu tínhamos nossos segredinhos. E ela era bem rígida. Mas com um coração do tamanho da Amazônia. Seus olhos brilhavam quando eu a convidava para uma volta de carro ao centro da cidade. “Espera aí que vou me arrumar um pouco”. E surgia com seu vestido florido, perfumada e risonha. “Vamos?”. Sim, vamos, mãe, que a vida passa rápido demais.

E quando ela começava a contar do seu tempo de moça na roça, morando no sítio? Ficávamos horas ouvindo na cozinha, com um bule de café e bolo de fubá quentinho. E como foi que ela conheceu meu pai, o noivado, o começo da vida de casados, os filhos pequenos. Ah, meu Senhor da glória, eu coloquei a foto clássica do casamento dos meus pais, em preto e branco, num quadro de chorar de lindo, na parede acima da cristaleira. Fiz o mesmo com a foto do casamento dos meus sogros. Estão os dois pares ali, eternizados, cheios de esperança e alegria! Afinal, haviam acabado de dar o “sim” um para o outro. E para Deus.

Mãe adorada, quantos “sim” a vida tem nos pedido!... E os “não”, mãe? Os “foras” que a gente vai levando pela vida afora? Sua doce presença já não está entre nós para nos consolar. Lembro de quando reclamávamos de tudo, minhas quatro irmãs e eu, porque precisávamos de mais roupa, mais sapato, mais isso e mais aquilo, e ela dizia: “Tenham paciência. Agradeçam por tudo. Olhem para quem não tem nada”. E ia cada uma prum canto meditar...

Minha mãe gostava de rezar. De rezar o terço de joelhos, junto com meu pai, os dois de cabeça baixa, cheios de respeito, diante das imagens do Imaculado Coração de Maria e do Sagrado Coração de Jesus. Minha única irmã solteira, Rosa Maria, ainda tem os dois quadros, mandou colocar moldura nova e dourada e ficou um sonho de lindo!

Mãezinha santa e gloriosa! Até hoje me lembro de um susto colossal! Foi logo depois do enterro dela. Voltávamos do cemitério todos abatidos, naquela tristeza dolorosa. À noite, ao me deitar, vieram-me uns pensamentos. “Mamãe, para onde a senhora foi?”. Naquele estado de vigília, meio dormindo, meio acordada, de repente, subi. Subi altíssimo. Vi-me numa altura fantástica e olhava para baixo. Tudo estava escuro, um verde-escuro estranho. Eu via o rio da minha cidade, o mato das margens, carros passando lá embaixo nas ruas. Foi assustador. Eu não tinha corpo, mas eu “existia” com minha mente apenas, meu espírito. A lembrança daquela subida (seria a chamada “viagem astral”?) ainda mexe comigo.

Josefina, minha mãe! Eternamente, Josefina! Mulher, moça, menina. Minha mãe, tão grande e tão pequenina! A bênção, minha mãe, Josefina.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O DOM DE SER MÃE


pintura de Emile Munier
Adenize Maria Costa

Ser Mãe é ser agraciada com o dom mais sublime que Deus pode dar ao ser humano.
A capacidade de gerar vida, de dar ao outro a possibilidade de ser, de existir.
Ninguém existe por acaso. Se hoje estamos aqui é porque alguém foi capaz de renunciar-se a si mesma para que pudéssemos nascer.
Infelizmente, de vez em quando nos deparamos com mães que abandonam, que jogam no lixo, que abortam... Essas não compreenderam a ventura e a grandeza da maternidade. Não entenderam e recusaram o projeto de Deus para suas vidas.
Ser mãe é dizer sim à Vida.
Ser mãe é tornar totalmente dispensável dizer: “Eu te amo”, porque os gestos, o cuidado, o carinho falam por si só e porque as palavras nem sempre são capazes de traduzir os sentimentos.
Ser mãe é carregar no ventre e na alma a marca indelével do Amor.
Amor verdadeiro que não exige nada em troca, amor que se doa sem se queixar, amor que nem sempre é pago com amor, e mesmo assim ama, acima de tudo.
Amor que cura o joelho esfolado na infância, o coração partido na adolescência e que acolhe com sabedoria as angustias da vida adulta.
Amor que não escolhe, mas acolhe, amor que abriga, que sustenta.
Amor que não acaba, que não esgota.
Neste dia expressamos nossa gratidão a você que é sinônimo de Amor.
Nosso carinho e gratidão a você que é tão especial e tão importante nas nossas vidas.
Obrigado, mãe por nos ensinar a amar.
Obrigado, mãe pelo seu amor e sua dedicação
Mãe, o seu amor humano é uma amostra do Amor de Deus por todos nós.
Feliz Dia das Mães!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Quitutes caseiros

Bolo de fubá
Ludovico da Silva

De tempos em tempos minha cachola abre o seu baú de guardados e me põe de volta ao passado, com recordações por demais agradáveis vividas no convívio familiar. Sabem os não muito antepassados que, antigamente, tudo era feito em casa. Não havia quase nada preparado industrialmente e colocado à disposição do consumidor. Como acontece agora. É só chegar no supermercado e uma visita às gôndolas resolve qualquer problema, mesmo que seja de última hora, por ocasião de uma visita inesperada. Muito particularmente, foram as famílias italianas, ou as delas descendentes dando continuidade, que trouxeram do país de origem comidas que acabaram incorporadas ao cardápio brasileiro, notadamente as massas dos mais variados tipos.
Naqueles tempos assava-se o pão no forno feito no quintal, nem sempre ao abrigo das intempéries. A dedicada dona-de-casa preparava a massa na cozinha, que ficava durante algum tempo em vasilha para que crescesse. Enquanto esperava o momento exato para assar, acendia o forno para o aquecimento necessário. E nem precisava de aparelho para saber se ficava no ponto exato. Era na base do olhômetro, pois o fogo provocava ondas externas e facilmente sabia-se que era a hora de enfornar. Nos bairros rurais usavam-se muito, e talvez ainda se usem, folhas de bananeiras para assentar a massa já transformada em diversos pães, de peso que oscilavam de 500 gramas para um quilo. Depois de certo tempo, a abertura da boca do forno era necessária para acompanhar a evolução do cozimento. Ganhando a cor esperada os pães eram retirados, utilizando-se de uma pá de madeira com cabo comprido. Alimento para o café da manhã por uma semana.
Quanta coisa deliciosa se fazia antigamente pelas mãos caprichadas das donas-de-casa. Aliás, dizia-se mesmo que eram mãos de ouro, porque tudo saía bem-feito. Meu pensamento me leva ao quintal de minha casa e vejo minha mãe colhendo goiaba, abóbora, pêssego, figo, laranja (falava-se em laranja azeda ou cavalo), mamão verde, batata e outras frutas para transformá-las em apetitosos doces. E os bolos? De fubá, de milho ou aquele coberto com fatias de bananas, que, se me lembro bem, em casa era chamado de “cufa”. Podiam ser bolos comuns, mas davam água na boca. E os pudins, os manjares brancos? Tem mais. O curau, a pamonha e o arroz-doce?
Já morando na cidade, minha mãe reunia minhas tias aos domingos para jogos de cartas. Inocentes, como escopas simples e de 15. Sem discussões. Era para passar o tempo e bate-papos prolongados, recordar o passado, falar de gente amiga, relembrar parentes que se desligaram das famílias e foram para longe. Depois de algum tempo, a jogatina era interrompida para a degustação de um gostoso “crostoli”, acompanhado de café feito na hora. Esse quitute era feito com massa aberta com rolo de macarrão (dizem que muitas mulheres também se utilizam dele para amansar marido, mas não tenho prova), depois transformada em lâminas estreitas e finas, cortadas em pedaços pequenos, fritas e salpicadas com açúcar cristal. Quem não conhece não sabe o que é bom. Só de escrever dá água na boca.
Ah, mas quantos quitutes saborosos se faziam no passado pelas mãos abençoadas das donas-de-casa! E isso não provoca um sentimento de saudade de quem viveu esse tempo?