Adenize Maria Costa
Passava horas a fio conversando com os amigos. Raramente se dava ao trabalho de descer e sentar-se à mesa para as refeições. Acabava engolindo qualquer coisa na frente do monitor.
Tinha muitos amigos. Se um deles saía ou estava off-line em segundos recebia a informação: “Amigo-até-a-morte” acabou de entrar. Ou então “Levada-da-breca” está chamando sua atenção. Seus contatos eram dos mais variados tinha também “Loko-de-pedra”, “Chico-doido”, “paty-k-brun” e mais um sem número de nomes estranhos.
O bate-papo sem fim o mantinha preso no quarto, cada vez mais isolado do mundo. Os pais ficavam despreocupados porque o filho estava sempre em casa, a salvo da violência urbana. Chegava da escola e imediatamente ia para o quarto e de lá saía na manhã seguinte para ir ao colégio. Era assim que passava suas tardes e finais de semana.
Tinha apenas dois colegas no colégio com quem eventualmente falava. Em casa seus pais praticamente não ouviam sua voz. Vivia fechado em seu mundo. Parece que foi desaprendendo a falar. Estava, aos poucos, tornando-se um ser virtual. Sem voz, sem rosto, sem afetos. A vida passando tão rapidamente quanto os toques no teclado do computador, sem grandes mudanças, exceto ALT-TAB.
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