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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Amores caninos

Bianca Lobo


Um jovem turista cego tentava atravessar uma movimentada rua da cidade do Rio de Janeiro, mas a sinalização de trânsito apresentava defeitos, mudando da cor vermelha para a cor verde, em menos de oito segundos. Os motoristas estavam extremamente satisfeitos com o ocorrido, porque como todo mundo sabe, muitos cariocas sempre dão um jeitinho de avançar o sinal. Na melhor das hipóteses, ninguém que passou pela movimentada esquina percebeu que alguém desejava atravessar.

Quinze minutos se passaram e o paciente jovem continuava ali no cruzamento daquelas ruas, parado e com dores nas pernas; pois já havia caminhado bastante, desde que deixou a casa dos amigos onde estava hospedado.
Encontrar o caminho para chegar ao calçadão de Copacabana tornou-se um grande desafio. Os termômetros marcavam quarenta graus. O desejo de beber água côco, sentar-se na areia e sentir a brisa e o cheiro do mar, não permitiam que o jovem desistisse de seu objetivo.
Mais cinco minutos e a chegada de alguém que cheirava a sua mão e roçava-se em sua perna esquerda, suavemente. O rapaz, assim como quase todos os portadores de deficiência visual, possuía sentidos muito aguçados e através do olfato e do tato detectou a presença de um simpático cão vira-latas que morava em uma das praças do bairro. Um afago na cabeça, o rabo a balançar, sorrisos trocados e uma das patas levantadas a empurrar as costas do rapaz para a frente. O jovem entendeu a mensagem do inteligente animal. Ambos deixaram a calçada, caminhando na direção do outro lado da rua, fazendo com que os carros continuassem parados, mesmo depois do sinal estar verde. Missão cumprida. Na frente de um restaurante, o cachorro lambia as mãos do jovem, como se desejasse afagar a sua alma, com toda a ternura que só a inocência canina é capaz. O rapaz não cabia em si de tanta de tanta alegria e decidiu convidar o seu mais novo amigo para passearem juntos no calçadão.
O pôr-do-sol tornara-se ainda mais deslumbrante naquela tarde de domingo em Copacabana ─ uma homenagem especial a um cão anjo.

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