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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Espalhe essa ideia!


NATAL 2010 - ESPALHE ESSA IDEIA

Que tal fazer algo diferente,
este ano, no Natal?
Sim ... Natal ... daqui a pouco ele chega .
Que tal ir a uma agência dos Correios e pegar uma das 17 milhões de
cartinhas de crianças pobres e ser o Papai ou Mamãe Noel delas?
Há a informação de que tem pedidos inacreditáveis.
Tem criança pedindo um panetone, uma blusa de frio para a avó...
É uma ideia.
É só pegar a carta e entregar o presente numa agência do correio até dia
20 de Dezembro.
O próprio correio se encarrega de fazer a entrega.

Imagine uma criança pobre, recebendo o presente que pediu ao Papai Noel...

DIVULGUE P/ SEUS AMIGOS DA LISTA
Na vida, a gente passa por 3 fases:
- a primeira, quando acreditamos no Papai Noel;
- a segunda, quando deixamos de acreditar e
- a terceira, quando nos tornamos Papai Noel

domingo, 21 de novembro de 2010

Eu acredito em Anjos!


Eu acredito em Anjos
Adenize Maria Costa

Quando pensei navegar no mar da tranquilidade, senti o mundo ruir sob meus pés.
De repente fiquei com minha dor e com meu filho.
Quando pensei que a dor me mataria e dia após dia me perguntava: por que comigo?
Encontrei refugio em minhas irmãs e em meus amigos
Quando fiz as pazes com a vida, quando me senti segura na busca de auto-afirmação percebi o quanto estava imatura.
Quando escolhi a vida de minha filha não tive dúvidas de que tinha feito a melhor escolha.
Quando me fechei em minhas dores, em meus problemas provei o sabor amargo da solidão.
Quando reconheci meus erros fui aos poucos recolhendo meus pedaços revi os meus conceitos, fiz uma releitura da minha vida e dos meus afetos.
Foi aí que encontrei forças para abrir as janelas da minha casa e nesse gesto tão simples pude perceber que Deus estava o tempo todo ao meu lado
Algumas vezes me pegando no colo, outras vezes chorando comigo e o tempo todo me mandando anjos para me resgatar. Anjos conhecidos: meus filhos, minha família e meus amigos. Anjos desconhecidos, pessoas estranhas que através de um gesto, de um olhar, ou de uma simples palavra me mostraram a face de Deus.
Comecei a acreditar que ainda tenho jeito, que cairei muitas vezes, sem dúvida, mas que existe beleza em saber levantar. E que não há nenhum problema em precisar de uma mão amiga para apoiar.
Os anjos me dizem tempo todo que Deus me ama do jeito que sou mesmo sabendo quem eu sou... Apesar dos meus defeitos e das minhas fragilidades...
Não tenho medo de dizer: eu acredito em Anjos !!!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tia Nastácia processa Dona Benta

TIA ANASTÁCIA PROCESSA DONA BENTACesar Cardoso
http://cesarcar.blogspot.com/2010/11/ato-literario-n-5-o-presidente-do.html#comments

Os advogados de Anastácia Dória, 78, conhecida como Tia Nastácia, entraram ontem com processo na 13ª Vara de Trabalho de Taubaté contra dona Benta Encerrabodes de Oliveira. Anastácia alega ter trabalhado para Dona Benta por 45 anos no Sítio do Picapau Amarelo, exercendo as funções de empregada doméstica, babá, governanta e agricultora, sem receber nenhum salário. E há três anos teria sido despedida e despejada de sua moradia, um barraco nos fundos da casa da fazenda, sem nenhuma indenização. Já os advogados de dona Benta afirmaram em juízo que Anastácia e Benta eram simples amigas e moravam juntas no sítio, nunca tendo havido nenhum vínculo empregatício entre elas. Segundo eles, Benta e Anastácia faziam várias atividades juntas e em comum acordo, como cozinhar, lavar, passar, varrer, cuidar da horta e das crianças. Os sobrinhos de dona Benta, Pedro Encerrabodes de Oliveira e Lucia Encerrabodes Cambará, conhecida como Narizinho, confirmaram em juízo as declarações da tia. E embora não tenha sido levado em consideração pelo juiz, causou frisson no tribunal o depoimento do travesti conhecido como Boneca Emília, que afirmou que Nastácia e Benta eram mais do que amigas, eram amigadas.

Um item apresentado como prova de trabalho pela acusação - o “Livro de Receitas de Dona Benta”- acabou sendo motivo de grande tumulto no tribunal pois nesse momento Tia Nastácia levantou-se e, bastante nervosa, acusou dona Benta de ter roubado dela todas as receitas publicadas na obra. O julgamento teve que ser interrompido até que a Anastácia fosse acalmada por seus advogados. Aguarda-se para amanhã o depoimento-chave do escritor Monteiro Lobato.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Duas suecas na Austrália

Duas suecas na Austrália
William Moffitt Harris

Meu tio Julian, único irmão de minha mãe, após participar por cerca de três anos das fileiras do exército britânico na fronteira noroeste da Índia, deu baixa e foi com mais dois amigos para o interior da Austrália. Naquele tempo havia um projeto de colonização, interiorização e desenvolvimento sócio-econômico por parte do governo que previa alocar ex-combatentes numa reforma agrária onde distribuíam-se, por cabeça, glebas de um determinado tamanho em troca de um árduo trabalho por cinco anos. O plano consistia em fornecer as mínimas condições necessárias para a sobrevivência dos contratados, fornecendo-lhes barracas, mantimentos e implementos agrícolas desde equipamentos até sementes e assessoria técnica especializada. Na área onde aportaram meu tio e seus amigos, apenas o algodão fazia parte do projeto do governo. Nada mais podia-se plantar.
Havia na área dezenas de rapazes e algumas pessoas mais velhas que se instalaram na região como mão-de-obra. Agrupavam as barracas formando pequenas e alegres comunidades onde à noite, em torno da fogueira, bebiam, cantavam, dançavam e trocavam as piadas mais escabrosas do mundo. Vez por outra davam uma escapadinha para a cidade mais próxima a fim de encontrarem-se com raparigas de programa. Não havia condições para mulheres morarem nestes acampamentos devido às suas condições rústicas.
Um senhor sueco, bem mais velho que os rapazes estava lá havia uns quinze anos quando meu tio e seus amigos chegaram. Participava de todas as tarefas do acampamento, cortando lenha, fazendo a comida e cuidando da limpeza em rodízio com seus companheiros. Cantava bem, bebia como um gambá e tinha sempre um chorrilho de piadas para contar. Sua família enviava-lhe, ocasionalmente, correspondência incluindo fotos, algumas revistas e livros em sueco e inglês que ele repassava aos jovens.
A fim de tranquilizar a família, ele contava em suas cartas como apreciava o pôr-do-sol de sua varanda enquanto saboreava uma gintônica e como eram atenciosos os empregados. Descrevia com detalhes o sucesso que vinha tendo com seu gado. Pintava um quadro bucólico de felicidade e realização pessoal como fazendeiro. Os pernilongos incomodavam um pouco, sim, e o sol era particularmente muito ardido. Prometia, ano após ano, que iria logo se aposentar e voltar para sua terra.
De repente sua esposa faleceu. As suas duas filhas, agora já crescidas e donas de seus narizes, venderam sua propriedade na Suécia, compraram roupas novas, fizeram as malas e viajaram para a Austrália. Com bastante dificuldade, indagando aqui e acolá, fazendo várias baldeações em jardineiras bem desconfortáveis, acabaram surpreendendo seu velho pai e a todos com sua súbita aparição no acampamento no fim de uma bela tarde de sol, de tailleur e saltos altos.
Foi um corre-corre. As duas foram foco de atenção de todos os rapazes que agora, inclusive, cuidavam melhor da aparência, com roupas limpas, barba feita e tentativas de pequenos flerts. Boa parte deles não havia visto uma mulher durante meses a fio. As duas não falavam o inglês, o que dificultara muito sua chegada até o local. Não estavam acostumadas, certamente, a comunicar-se por mímica ou através do único interprete disponível, seu pai.
Um dos rapazes cedeu a sua barraca, que estava em melhores condições e outros dois construíram um reservado com fossa seca, acoplado a um chuveiro improvisado.
Após um convívio relativamente tranquilo de três ou quatro semanas, durante as quais as duas tentaram por toda a lei convencer o pai a retornar à pátria-mãe, houve um episódio que encerrou esta súbita visita e experiência australiana.
O acampamento foi repentinamente acordado de madrugada com os gritos desesperados das duas moças. Acenderam-se os lampiões e meia dúzia de pessoas saíram de suas barracas, inclusive o velho pai com sua lanterna nova que as duas haviam trazido da Suécia de presente. Ao sair de sua barraca o sueco apanhou um porrete que usava para matar cobras. O grupo correu para a barraca das moças, que ficava um pouco mais retirada a fim de lhes garantir um pouco de privacidade.
Um dos dois rapazes bêbedos já estava caindo fora da barraca segurando um dos olhos que havia machucado na refrega e outro lá dentro tentava, evidentemente, estuprar uma das moças. O grupo deixou a coisa por conta do velho que, literalmente, arrastou o rapaz para fora e lhe deu uma violenta sova com o porrete. Ainda correu atrás do outro que se refugiara no meio do grupo, levou-o para a clareira e só ficou satisfeito ao vê-lo desacordado de tanto que lhe atingira a cabeça. Estava furioso e, cuspindo fogo, tirou o revólver do coldre, mostrando-o ao grupo que agora já tinha engrossado com a presença de praticamente todos do acampamento.
- Se isto acontecer de novo, não hesitarei em matar a qualquer um de vocês. Entenderam?
Daí a dois dias, o velho sueco acompanhou suas filhas até o ônibus na estrada que ficava a quase dois quilômetros do acampamento. Deu instruções e algum dinheiro extra, além da passagem para o motorista, e despediu-se das duas. Desejou-lhes uma boa viagem e garantiu que jamais voltaria àquele clima frio da Suécia. Pediu-lhes que continuassem a escrever e enviar fotos.

Apresentado ao ramal paulista da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES em sua 176a Pizza Literária (17/03/05), na Jornada dos 40 Anos da Fundação da SOBRAMES (APM em S.Paulo, 05/05/05), na III Jornada Nacional da SOBRAMES (Fortaleza, 11/08/05) e aos Núcleos de Santos (05/11/05), de Santo André (30/09/06), de Araçatuba (21/10/06), de Taubaté (03/03/07), de Piracicaba (10/03/07) e de Ribeirão Preto (24/03/07) do Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL. Apresentado também em 14/05/07 na tertúlia literária (Academia em Poesia) realizada pela Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus “ em S. Vicente - SP. Apresentado em S. Gonçalo do Sapucaí – MG, em 12/07/10, na reunião literária do Movimento Literário Saberes e Sabores – MLSS. Pediatra Sanitarista, Prof. Doutor aposentado da Faculdade de Saúde Pública da USP; Fundador (05/05/05) e Coordenador Estadual do MMCL; Membro Titular desde 2003 da Associação Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES (BR, CE, PE e RS); Separatista e Dissidente da SOBRAMES-SP; Membro Honorário e Correspondente da Academia Maceioense de Letras; Membro Titular da Sociedade Brasileira de História da Medicina; Sócio Titular da Associação Paulista de Medicina; Membro Associado Remido da Associação dos Médicos de Santos. Associado Efetivo da Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” de S. Vicente – SP.

Meditando

Meditando
Ruth Carvalho Lima de Assunção

Ninguém foge às suas raízes. A força enigmática e brutal dos impulsos de uma raça, do grupo familiar, do DNA exerce sobre o indivíduo o tacão de suas origens.
Muito embora o ambiente torça em diversos setores a individualidade dos seres humanos, estes continuam dependentes de sua ancestralidade. Como escapar desse comprometimento secular que nos prende, nos enlaça e não nos deixa usufruir de outras opções?
É no campo emocional, intelectual e espiritual que nossas diferenças se manifestam, mas em destaque, os dotes físicos tão evidentes.
Ser humano, uno e indivisível, com todas suas diferenças e semelhanças tem agora um grande desafio à frente, um desafio que o levará à paz ou à guerra, à vida ou à morte.
A sustentabilidade do planeta continua, em ritmo acelerado, a cair na degradação, entrando num funil sem perspectivas.
Mas o momento exige uma postura inteligente, no qual semelhanças e diferenças se unam a fim de salvar este nosso lar que está em processo de destruição.
Esta grande dádiva que nos foi dada gratuitamente pelo onipotente criador, para nos deleitarmos com sua grandiosidade e beleza, não pode desaparecer em função da negligência e ambição do ser humano.
Há muito já deveríamos estar cientes de nossa fragilidade, de nossa impotência, mas também de nossa força em torno de um ideal, no caminho da paz e união.
É desolador pensarmos que nossa poesia, nossos sonhos e fantasias se diluirão perante o espetáculo destruído de uma natureza morta, sem rios, sem montanhas, sem atrativos.
Semelhanças e diferenças deverão se confraternizar para num esforço comum unirem seus esforços, em prol desta causa que envolve VIDA.

sábado, 13 de novembro de 2010

A casa onde nasci

A CASA ONDE NASCI
Esther Vacchi Passos

Foi naquela casa estilo antigo e simples, mas confortável, que nasci e vivi até me casar.
Fogão de lenha, comida gostosa e bem quentinha, no café da manhã manteiga com bengala ou pão avião fresquinho que o padeiro trazia de madrugada na carroça, e deixava na cesta no portão. Tinha polenta tostada na chapa, bolacha de nata, crustoles, café e leite à vontade no caldeirão.
Em frente à casa, um jardim com flores que atraía borboletas coloridas, quintal grande onde eu brincava com meus irmãos e o cachorro Juli que sempre acompanhava as brincadeiras. Na mangueira, um balanço feito de pneu e corda. A jabuticabeira carregada onde subíamos no galho mais alto para saborear os frutos negros e doces.
Nos fundos da casa, um grande rancho onde guardávamos o carrinho com frutas, o paiol com milho, moenda de cana, ferramentas e outros pertences. O poço com água fresquinha e adocicada ao lado o tanque onde mamãe lavava roupas com sabão em pedra feito no tacho, estendendo-as em seguida ao sol para deixá-las branquinhas.
No galinheiro, muitas galinhas e ovos caipiras à vontade, o galo sempre presente com seu canto vibrante.
No pasto o burro e a mula sempre dispostos a trabalhar no arado e no carrinho para levar as frutas no mercado municipal, sempre fresquinhas e saborosas, colhidas no dia.
À noite reunidos, papai contava histórias engraçadas e riamos muito, e depois da oração costumeira, pedíamos a bênção aos pais para dormir.
Foi uma infância saudável, simples, mas feliz com a família. O tempo passou e mudei de lugar. Hoje tenho a minha família que construí com muito amor.
Só que aquele recanto onde nasci, cresci e vivi com meus pais e irmãos, hoje está apenas na minha recordação, com saudades!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Biblioteca Municipal - primeira reunião do Golp

Primeira reunião do Grupo Oficina Literária de Piracicaba nas novas e amplas instalações da Biblioteca Municipal de Piracicaba. O Golp, com mais de 20 anos de existência, já teve outros locais de reunião como as salas do Engenho CentralO ambiente agradável e silencioso entre os livros inspira Lucia, Madalena, Carmen, Ivana e Cassio

Lucia, Madalena, Leda, Carmen e Ivana


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Mulas-sem cabeça

Mulas-sem-cabeça
Richard Mathenhauer

Houve um tempo em que mula-sem-cabeça era apenas uma assombração que povoava a vida das crianças, mormente daquelas levadas e ingênuas. Eu próprio, que fui uma criança pacata, vez ou outra era advertido da existência de tão excepcional ser, e não foram poucas as noites que me via com a cabeça coberta com o medo deste animal ceifado. A tal mula-sem-cabeça, conforme os anais da história, foi concebida do conúbio sexual de padre caído em tentação; resultado desse pecado, era a mulher conceber o bebezinho bizarro que tinha por mister assombrar as pessoas.

Modernamente, assim como muitos outros personagens encantados, a Caipora e as Fadas, por exemplo, vão-se aos poucos morrendo. Saci-pererê? Ah, diga isso a uma criança ou adolescente que usa essas calças coloridas e esses cabelos exóticos para você ver o quanto sabem ser sarcásticas estas criaturinhas. E embora os seres fantásticos desapareçam do imaginário infanto-juvenil, a vida toma-lhes de empréstimo o nome para identificar alguns seres menos fantásticos e que também tem por vezo nos assombrar.

Assim, eis que surgem algumas mulas-sem-cabeça que vêem na obra de Monteiro Lobato racismo, especificamente aos negros (agora que o termo racismo abrange mais que etimologicamente o termo define), especificamente no livro “Caçadas de Pedrinho.” Por conseguinte, o Conselho Nacional de Educação sugeriu que “Caçadas de Pedrinho” não seja distribuído nas escolas do país, após aceitar denúncia de que a obra é racista. Isso não é uma novidade. Anos atrás já se debatia o racismo na obra do Lobado. Certamente o livro “polêmico” contribuiria e muito para o aumento do racismo entre os jovens e crianças, assim como algum livro deve ter influenciado esses que andam pondo fogo em morador de rua.

Eu, que fui um leitor de Monteiro Lobato, nunca fui mais nem menos racista por isso. Claro, não é toda a obra deste genial brasileiro que foi mais que um escritor profícuo, mas um visionário, um patriota, um sonhador, um empreendedor que mesmo à revelia da sorte e da perseguição política (ele chegou a ser preso) persistia nos seus objetivos, que se encontra, segundo os entendidos, com vestígios de racismo. Lobato estava inserido num contexto, vinha de uma educação diferente da que hoje recebemos, e não seria estranho que na sua obra se encontrem rastros disso. Se ele retrata uma época, mister é aplicar os termos desta época. Aliás, ler um autor é ler sua época. Portanto, no meu parco conhecimento literário e na minha humílima opinião de leitor, considero a sugestão do Conselho, ela sim, racista.

Ademais, se formos considerar racista este livro, com definições pejorativas e passagens que depreciam os afrodescendentes, teríamos de rever muitas obras, nacionais e estrangeiras, que visitam nossas bibliotecas públicas e particulares. E não somente os livros: filmes, minisséries, novelas. Um exemplo atual é o seriado exibido pela TV Record, “Todo Mundo Odeia o Cris”. Alguém já viu? Não vou reproduzir falas, deixo o convite ao leitor que gosta de aprofundar-se nas discussões (ainda que discussões descabidas como esta) que veja um episódio deste seriado. Acho que em termos de racismo, ali sim o pessoal que pleiteia a abominação de “Caçadas de Pedrinho” encontraria material farto para suas reivindicações. (Note bem: não estou dizendo que o seriado é racista, porque, felizmente, consigo apreender a mensagem do seriado, ainda que apresentada de forma cômica).

Racismo e discriminação, esta que é a manifestação do preconceito, devem ser combatidos a todo instante, porém, é necessário que haja um mínimo de bom-senso. Uma obra pode sim ter vestígios de preconceito, racismo, ofensa não somente aos negros, mas a homossexuais, judeus, a mulheres, “et coetera”.Creio não ser preciso ter mestrado e doutorado em literatura e história para considerar que uma leitura deve ser feita no seu contexto histórico-cultural; ela deve, quando apresenta ou sugere racismo, no caso, servir de estímulo à discussão, ao debate, e não deve ser pura e simplesmente proibida, enfiada no fundo de uma prateleira longe dos olhos dos incapacitados à crítica, segundo os censores. E mais, existe uma imensa diferença entre um livro que defenda o racismo e um livro que, por razões histórico-culturais, tem passagens que são, ou podem ser, consideradas racistas. (Espero que ninguém delire em comparar propaganda racista com literatura que aborda racismo sobre o ponto de vista de retratar a cultura de uma época).

Sugerir a proibição deste livro às escolas garantirá que não teremos novas “sugestões” e por extensão, visto que a criatividade humana é vasta, um novo catálogo à guisa do Índex Librorum Prohibitorum – aquele catálogo da Igreja de Roma dos livros proibidos? E, numa conjuntura maior (visto que neste país tudo é possível), um novo “Bücherverbrennung” – aquela histeria coletiva nazista de fazer fogueiras com livros considerados impróprios?

Se se busca um país realmente menos racista e preconceituoso, não é pelas vias da proibição, das “sugestões” como esta que se alcançará êxito. É pela discussão, pelo debate, pela análise, pela liberdade que o cidadão tem de acesso ao conhecimento para a construção de novos conhecimentos. O resto é folclore.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Até dezembro...

Até dezembro...
Adenize Maria Costa

Interessante como a vida nos surpreende; pessoas passam pela nossa vida das mais variadas maneiras. E o contrário também é verdadeiro: nós passamos pela vida das pessoas e muitas vezes teremos a oportunidade de passar uma única vez na vida de alguém.
Ontem num evento de confraternização dos escritores da Editora In House uma pessoa passou pela minha vida para me fazer crescer. Alguns minutos de conversa foram suficientes para ver ali uma pessoa rara, um ser humano fantástico.
Seu nome: Sônia. Uma mulher de meia idade que atua com entusiasmo na defesa dos animais. Faz um belíssimo trabalho na cidade de Itupeva. Sônia trabalha em favor da vida... Seus olhos brilham quando fala do seu trabalho.
Mas o que me chamou a atenção, foi o fato de contar com tanta naturalidade que está com câncer e que ao perceber que o corpo já não está mais aguentando as sessões de quimioterapia se encorajou e perguntou ao médico quanto tempo lhe resta. Com muita tranquilidade contou-me ainda que, quando questionada, pela psicóloga, sobre qual a maior dificuldade desse momento disse que é o fato de desprender-se de suas coisas, de seu trabalho, das coisas que escreveu sobre os animais. Foi aconselhada a ir aos poucos se desfazendo e se desprendendo... Reuniu os familiares e começou a fazer a partilha de “seus bens”. Distribuiu com seus entes queridos seu pequeno tesouro e com expressão muito segura, lívida disse que ao tomar essa atitude o impacto “do prazo” passou a doer menos.
Disse-me que quer aproveitar ao máximo cada minuto do tempo que lhe resta, mesmo enfrentando as dificuldades dos deslocamentos, os cansaços, o incômodo de carregar fraldas na bolsa, e ela fala isso sorrindo... Aliás, o sorriso brota com muita facilidade em seu rosto. Rosto que não esconde os reflexos da quimioterapia: as sobrancelhas ralas, as maçãs do rosto ruborizadas pela febre... Mas o brilho dos olhos, é uma celebração à vida, é o retrato de sua alma.
Plagiando o Padre Fábio: “ Sônia tem câncer, mas o câncer não tem Sônia.”
Essa passagem de Sônia pela minha vida foi uma grande lição. As vezes por tão pouco sucumbimos, queremos desistir, praguejamos e maldizemos as adversidades que de vez em quando nos esbarram, não é verdade?
Não pude esconder minha fraqueza, minhas lágrimas eram de emoção por ter o privilégio de por alguns minutos estar tão perto de uma pessoa que, a mim, é sinônimo mais concreto de Coragem...
A mim o tempo parece curto, mas para Sônia existe muita vida até dezembro ...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sanhaços

SANHAÇOS
Maria Lucia Prado Almeida

Numa rua movimentada do bairro Perdizes, em São Paulo, pássaros lindos de cores cinza-claro e azul, sanhaços, fizeram seu ninho numa folha de palmeira, junto ao tronco.
Ao serem vistos, lá já estavam dois filhotes; durante cerca de vinte dias, foi emocionante acompanhar e fotografar, a uma pequena distância,o que ali se passou: o casal junto do ninho;a alimentação introduzida nos bicos dos pequenos filhotes; a proteção dada pelo corpo da mãe sobre eles, em dia de chuva, até mesmo já grandes, ficando visíveis apenas suas cabeças;a alimentação quando já ocupavam o ninho todo;um bater rápido das minúsculas asas, impedindo que um deles caísse do ninho,e, finalmente,o passarinho que ainda restava, no galho, antes do grande voo,levando as cores e o canto da família.
Poucos dias antes da chegada da nova estação, a visão do ninho vazio, mas, para sempre, a lembrança da mensagem de beleza e esperança dada pela vida, através de seres tão pequenos.
Voam e cantam os sanhaços, é Primavera!

sábado, 6 de novembro de 2010

VI Concurso de Contos e Crônicas UNICULT- Unimep - Conto premiado


O QUADRO
Ivana Maria França de Negri
(1o lugar no VI Concurso de Contos e Crônicas - 8o UNICULT da UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba)

O moço moreno de dentes alvos, cabelos encacheados e negros, chegara há pouco do interior. Trazia na bagagem apenas uma mochila com algumas roupas surradas, uns quadros sem moldura numa sacola e os apetrechos para pintar: vários pincéis e a sua inseparável caixa de tintas coloridas.
Instalou-se numa pensão barata no centro da capital e acertou com a dona da casa que pagaria conforme a venda dos quadros.
Montou a barraquinha na praça e logo atraiu curiosos. Todos os quadros retratavam sua cidade natal. Havia bucólicas paisagens, o rio que serpenteava manso, as montanhas grandiosas, a cachoeira e o largo horizonte a perder-se de vista. As pessoas sentiam-se atraídas por aqueles locais tão encantadores, pois na grande metrópole quase nem se via o céu, sempre cinzento, envolto por uma névoa densa que encobria o brilho do sol. E os arranha-ceús uniam-se nas alturas formando uma barreira que impedia a visão dos horizontes.
Nas cercanias da praça havia uma universidade e era caminho dos estudantes passar pela feirinha fazendo estardalhaço, ecoando suas vozes como a algazarra que os passarinhos fazem no verão e espalhando a alegria própria da idade.
Uma estudante chamou a atenção do rapaz. Sentiu-se atraído por ela imediatamente, despertando algo dentro dele como se fosse um poderoso ímã, impelindo-o para perto dela e forçando a junção dos dois.
Ela era de uma beleza ímpar, dona de um maravilhoso e cativante sorriso. Corpo bem feito, pernas torneadas, e o cabelo loiro e longo escorria sedoso pelos ombros. A jovem estudante parou para admirar os quadros e ele ofereceu-lhe um deles. Ela explicou que não podia comprar naquele dia, mas o pintor insistiu e disse que era um presente. A moça agradeceu, levou o quadro, e o jovem nunca mais parou de pensar nela, seduzido por seu porte majestoso de deusa grega.
Sonhava com a moça todas as noites. Descobriu seu nome e soube que morava ali perto. Mas ela não lhe dava a atenção que ele gostaria de receber.
Resolveu pintar um quadro dela e empenhou-se naquilo como se daquela obra dependesse a sua própria existência.
A dona da pensão até estranhou que o jovem não viesse mais fazer as refeições regularmente. Esquecia-se de almoçar, de jantar, muitas noites passou em claro, e quando se dava conta, já estava amanhecendo.
A primeira coisa que fez foi o esboço do retrato e a escolha criteriosa das cores. Para a pele, usou o bege, um tiquinho de magenta, umas gotas de ocre, e foi misturando as tintas até atingir o tom exato da pele acetinada da jovem.
Os olhos foram desenhados vagarosamente, queria capturar o brilho e encontrar o mesmo tom de verde esmeralda. Alguns toques de amarelo ficariam perfeitos, conferindo à modelo olhos semelhantes aos de uma gata. Enquanto se esmerava no desenho dos olhos, mergulhava naquele mar verde e denso e embriagava-se. Os olhos pareciam fitá-lo sedutoramente. Às vezes, parava de pintar e ficava por tempo indeterminado em doce contemplação, adorando aquela divindade que ia adquirindo vida.
Alguns dias depois, começou a delinear os lábios. Vermelhos e carnudos, podia até sentir a textura deles, mornos, envolvendo os dentes perolados. Conseguia degustar o sabor adocicado deles. Perdeu a conta de quantos dias ficou acertando os contornos do rosto, os pequenos sulcos, as nuances, cada mínimo detalhe para a perfeição da obra.
Enquanto pintava o retrato, trancado naquele quartinho mal iluminado, aproveitando as réstias de sol que entravam pelas frestas da janela entreaberta, na casa da moça aconteciam fatos estranhos. A mãe achava que a filha estava pálida demais e a fisionomia, sempre alegre, um tanto tristonha. O sangue escapulia de suas faces descoloridas. E os lábios ressequidos, perdiam a coloração saudável.
Debilitada, não tinha ânimo para frequentar a faculdade e a família achou por bem procurar ajuda médica. Consultaram um, depois outro e mais outro profissional, mas nenhum daqueles sábios doutores descobria a causa da sua fraqueza.
Submeteram-na a diversos exames, até os mais sofisticados e modernos, mas todos constatavam uma anemia profunda e irreversível, sem causa aparente.
Enquanto isso acontecia com a jovem, o moço pintava o quadro como se estivesse em transe, num ritual sagrado. Suas mãos tremiam enquanto o pincel deslizava suavemente pela tela. Ele conseguia captar pequenos detalhes, que passariam despercebidos da maioria das pessoas, e tão perfeitamente, que ele próprio admirava-se da tepidez do quadro. A cada dia sua obra adquiria mais vida. Colocava a mão sobre a pintura e a sentia quente, pulsando.
Quando esboçou o colo, e por fim desenhou os cabelos, colocou uns toques de tinta dourada que deram aos fios um brilho natural, parecendo fios de seda. Podia sentir o perfume deles.
Pintou as mãos bem claras, com dedos finos e longos, e coloriu as unhas em tons róseos. Ficou por horas intermináveis retocando cada particularidade dos dedos. Fechava os olhos e beijava aquelas mãos, sentindo a pele macia, completamente fascinado.
A moça se consumia a cada dia. Sentia seu vigor físico abandonando-a e a palidez ficava cada vez mais evidente. Parecia um plantinha murcha por falta de ser regada. Não tinha fome, e o brilho dos cabelos havia desaparecido. A pele não possuía mais viço. Tinha a nítida impressão de que algo muito forte sugava sua energia vital.
Apática, os olhos opacos fitavam apenas um ponto da parede, onde pendurara o quadro do moço. Mergulhava naquela paisagem singela tentando extrair alguma energia daquelas paragens ensolaradas.
No derradeiro dia, quando finalmente terminaria o quadro, o moço amanheceu em estado de graça. Faltavam apenas alguns mínimos detalhes, os retoques finais para a perfeição da sua obra prima. Pintara o quadro com a alma, colocara nele toda a fúria de sua paixão, toda a volúpia e o seu desejo ardente pela formosa jovem.
Chegou bem perto do peito e podia ouvir o som que vinha dele semelhante a um ruflar de asas cadenciado. Sentiu o cheiro dos cabelos que desciam macios pelos ombros e a quentura dos lábios macios. Mergulhou por entre as tramas da tela do quadro completamente alucinado, em êxtase profundo.
A jovem, em sua casa, com olheiras profundas e lábios roxos, desfalecera para desespero dos pais que não sabiam mais o que fazer para fazê-la voltar à vida.
No quartinho infecto da pensão barata, a dona bateu na porta, pois há dias o moço não saía de lá. A porta estava destrancada. Quando a mulher entrou, não viu o pintor ali.
Suas roupas estavam espalhadas, a caixa de tintas aberta e as bisnagas de tinta sem tampas. Pincéis ainda molhados denotavam sua presença recente no quarto.
No cavalete, um quadro estranhamente belo de uma jovem donzela, cujos olhos verdes, expressivos e fulgurantes, a fitavam de soslaio como se vida tivessem.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Premiação do Escriba de Poesias 2010 e lançamento da antologia

Na Biblioteca Pública Municipal "Ricardo Ferraz de Arruda Pinto" - rua Saldanha Marinho 333 - acontece no dia 13 de novembro, a entrega dos prêmios e o lançamento da antologia dos selecionados.

A mordida do cachorro louco

A mordida do cachorro louco
William Moffitt Harris

Quando estive no Rio de Janeiro, em 1986, para participar do Congresso de Pediatria Comunitária, eu me vi diante de uma diária proibitiva no Hotel Glória e resolvi procurar algum lugar lá por perto em condições mais modestas. Indicaram-me um hotel nas imediações, cujo nome, no momento, não me recordo. Era numa rua estreita, a duas ou três quadras da Praia do Flamengo com uma calçada larga, talvez até mesmo um calçadão. Já estava escurecendo.
Ao me aproximar do balcão, o recepcionista foi logo perguntando:
- O senhor vai querer companhia para esta noite?
Expliquei que procurava um quarto ou apartamento para deixar minhas coisas já que viera participar de um congresso no Glória. Estava sozinho e assim queria continuar. Ele me olhou de uma forma meio esquisita e continuou:

- É melhor o senhor ficar aí no apartamento da frente, porque lá em cima, o prédio inteiro treme durante a noite.
Fiquei pensando: será que os alicerces não são firmes e o trânsito da avenida se faz sentir ou será que no Rio existiriam abalos sísmicos quase imperceptíveis a não ser no alto dos edifícios, como no espigão da Av. Paulista em São Paulo?
Olhei o apartamento e tudo parecia em ordem. Por via das dúvidas, fechei as venezianas e baixei as duas folhas da janela em guilhotina, que dava para a calçada. Guardei minhas coisas, apanhei a pasta do evento, larguei a chave na portaria e fui para o Glória.
Havia viajado boa parte do dia para chegar ao Rio e estava com sono e cansado. Assisti à abertura do evento e voltei, após comer alguma coisinha, tomei um banho e fui dormir. Era uma noite quente.
Lá pelas onze e meia da noite acordei sufocado. Um espasmo de glote me atormentava. Não conseguia respirar e fiquei desesperado. Abri a porta e fui parar no meio da calçada. Apoiei-me num poste e de relance percebi que minhas unhas arroxeavam. Não conseguia respirar e estava tudo escurecendo.
Não era a primeira vez que eu havia passado por isto, em consequência da fumaça de cigarro, e eu sabia que não podia perder a calma. Respirando superficialmente, sem forçar a garganta, devagarzinho tudo se resolveria.
Na calçada havia umas dez pessoas sentadas às mesas de ferro, tomando cerveja e fumando. Pela janela do meu apartamento entrava direto a fumaça dos rapazes que estavam à mesa defronte à mesma.
Um senhor mais idoso, bastante preocupado, aproximou-se e fez duas perguntas, que jamais esquecerei pela sua sinceridade, sua inocência e seu impacto.

- O senhor foi mordido por um cachorro louco? O senhor quer que chamemos uma ambulância?
Dei sinal para que não se preocupasse e comecei a rir pelas circunstâncias. Fui melhorando aos poucos e daí a uns dez minutos já havia voltado ao restitutio ad integram.
Voltei ao meu quarto e fui dormir.
No dia seguinte, num dos intervalos, tomando um cafezinho com outros congressistas, perguntei inocentemente ao Paulo César, um amigo novo que havia ganho havia dois anos no Rio, se abalos sísmicos no Rio ocorriam com frequência. Lembro-me de que mencionei o que ocorre nos últimos andares dos edifícios bem altos do “espigão da Paulista” em São Paulo (Avenidas Paulista, Dr. Arnaldo, Alfonso Bovero e Heitor Pentado) com pequenos abalos várias vezes por semana.
Contei a história do hotel. A turma caiu na gargalhada. Disseram-me que aquela área era a da “luz vermelha” e que o hotel era de alta rotatividade.
Paulo César fez-me apanhar minhas coisas e levou-me para a sua casa na Barra da Tijuca onde fiquei até o fim do evento.

Capítulo do livro do autor Era Uma Vez Um Menino Travesso. São Paulo: Legnar Editora, 2004. (esgotado) Apresentado nas seguintes tertúlias literárias do Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL; 90ª em 13/12/08 em Sto. André, na 104ª em 20/06/09 em Piracicaba, na 106ª em 15/08/09 em S. Caetano do Sul, na 107ª em 19/08/09 em Sorocaba e na 117ª em 05/12/09 em Taubaté. Apresentado também na reunião da Academia em Poesia da Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” em 18/10/09 no Clube Elos em S. Vicente – SP. Apresentado na tertúlia literária de 14/06/2010 do Movimento Literário Saberes e Sabores – MLSS em S. Gonçalo do Sapucaí – MG.

Pediatra Sanitarista, Prof. Doutor aposentado da Faculdade de Saúde Pública da USP; Fundador (05/05/05) e Coordenador Estadual do MMCL; Membro Titular desde 2003 da Associação Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES (BR, CE, PE e RS); Separatista e Dissidente da SOBRAMES-SP; Membro Honorário e Correspondente da Academia Maceioense de Letras; Membro Titular da Sociedade Brasileira de História da Medicina; Sócio Titular da Associação Paulista de Medicina; Membro Associado Remido da Associação dos Médicos de Santos. Associado Efetivo da Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios “Frei Gaspar da Madre de Deus” de S. Vicente – SP

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Madrugada

Madrugada
Carmen Maria da S. F. Pilotto

O banho dos raios de luar limpou sua alma das impurezas da sordidez humana. Renovada suspirou e recostou-se para o sono dos justos.

Morte, mistério da vida!

Morte, mistério da vida!
Leda Coletti

No dia em que escrevi a crônica para os amigos que se foram desse plano terrestre, o fiz sentindo uma saudade gostosa de todos, que me infundiu muita paz interior. Deve ser a irradiação do novo mundo em que vivem, continuação deste e com certeza bem melhor.
Quando algo triste acontece para nós, dizemos que tudo vai passar: “ Deus fecha uma porta, mas abre uma janela”. De fato, dia após dia sentimos nas mínimas ações o mistério da Vida. Não posso e nem penso que esta vai acabar, pois acredito na sua continuidade; sinto que uma etapa nova vai surgir, para o nosso crescimento pessoal em todos os sentidos.
Certa vez, escrevendo como desejaria o meu céu, referi-me ao desejo dele ter só irmãos que se amem, sem medo de confessar e testemunhar esse sentimento tão bonito.É assim que penso sobre os queridos parentes, amigos que nos antecederam. Imagino-os fazendo o que mais gostavam: meu pai tocando seu violão, Maria crochetando e costurando para os novos companheiros, meus nonos e avós contando suas histórias. Talvez haja atividades desconhecidas para nós mortais e até mais prazerosas. É tudo tão misterioso, tão desconhecido!
Escrevi uma mensagem no meu livro” 366 Reflexões do dia-a-dia, a qual resume o significado de morte para nós cristãos : “ Morte: sinônimo de Vida, se aceitamos o Mistério do Amor!”
Mesmo que seja diminuta nossa fé, vivemos felizes e prontos para servir o próximo, pois assim a cadeia não irá se soltar. Ao contrário, os elos se solidificarão e poderemos gozar intensamente as delícias do Reino de Deus, desde já. Mas, acredito, será no final da travessia nesse Planeta, que a Verdadeira e Plena Vida acontecerá!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O milagre dos gatos do Cemitério

O milagre dos gatos do cemitério
Ivana Maria França de Negri

Como fazia todas as tardes de terça-feira, encaminhou-se ao cemitério para “visitar” seus entes queridos. Sabia muito bem que eles não se encontravam sob os túmulos, apenas seus restos mortais, mas mesmo assim, gostava da paz e tranquilidade daquele lugar solene e arborizado, longe do barulho e do corre-corre da cidade.
Quase nunca trazia flores. As que ofertava a seus mortos eram ramalhetes espirituais. Por certo eles não necessitavam de prendas materiais e deveriam apreciar muito as braçadas de flores que trazia em pensamento, perfumadas com seu amor.
Preferia passar numa loja ali perto e gastar o dinheiro das flores em pacotes de ração para gatos e distribuir aos muitos animais abandonados por pessoas desalmadas, naquele cemitério. Estes sim, precisavam de comida para sobreviver. Eram meigos, dóceis e retribuíam o alimento se enroscando nos seus pés carinhosamente.
Ficou muito triste ao saber pela senhorinha que cuidava dos gatos que eles deveriam ser despejados do local por estarem “perturbando”. A quem poderiam incomodar se os habitantes daquele local estavam todos mortos? Quanta maldade e ignorância, meu Deus!
Ao sair, passou pelo túmulo que mais a intrigava. Era muito antigo e ostentava uma escultura magnífica e muito bem talhada de Cristo. O artista, provavelmente um escultor europeu – antigamente as estátuas e mármores eram importados - esculpiu um Cristo pensativo, de olhar duro cujo semblante era sério e acusador. Ela sempre tentava decifrar o que diziam aqueles olhos inquiridores naquela fisionomia grave.
Naquela tarde, porém, uma cena inusitada chamou-lhe a atenção: no colo pétreo do Cristo sentado, entre os drapeados de suas vestes, dormiam dois gatinhos filhotes abraçadinhos, em seu rom-rom peculiar, sem se darem conta que estavam em colo sagrado. Na sua inocente irracionalidade, e sem pressentir os riscos que corriam de serem capturados e mortos, dormiam tranqüilamente, sem noção do espetáculo que compunham.
Desejou ardentemente ter uma máquina fotográfica em mãos para flagrar aquele momento mágico a fim de eternizá-lo.
Nesse instante, levantou os olhos e olhou para o semblante de Cristo, que tantas vezes fitara e tivera medo.
Sua fisionomia estava serena e ostentava um maravilhoso sorriso
...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cemitério da Saudade

CEMITÉRIO DA SAUDADE
Ruth Carvalho Lima de Assunção

Os traumas, inquietações, momentos inspiradores e sonhos vão continuamente, como num filme, desfilando em imagens que sustentam o dia a dia do ser vivente.
Um cotidiano de rotinas se desenrolando e fazendo da vida aquela colcha de retalhos de cores vivas e acariciantes, e muitas vezes exaltando o negror das desventuras e frustrações. Os artifícios da mente humana vão se valendo dos recursos artísticos, no gerar um ganho onipresente, na instalação do mistério do olhar.
Os corpos dos heróis da Grécia Clássica não poderiam ser sepultados sem uma mortalha, sem o sudário. Uma homenagem singela aos seus homens ilustres.
Em nosso outono as folhas secas atapetam ruas e jardins. Já se prenuncia a próxima estação, que virá depois dos casacos e cobertores. Mas retornará cheia de encantos em suas múltiplas tonalidades, tornando o brilho do olhar mais intenso.
Um lindo sol resplandece, a bola de fogo surge iluminando um novo dia, um novo renascer. O mesmo Pai Nosso, nas inquietações de cada dia, que levantam questionamentos, que aprofundam novos conceitos.
O cemitério se desloca do centro da urbe e vai ocupar o alto da colina, tornando-se um monumento em destaque, na preservação da memória Piracicabana.
Numa dessas manhãs de sol abro o jornal, e nos Serviços Funerários deparo com a notícia do falecimento de uma ex-professora de História, Irmã Margarida. Reporto-me aos tempos de estudante e vou me lembrando de suas lições admiráveis, o conteúdo de suas histórias sobre o crescimento da cidade, com suas mudanças e seu desenvolvimento.
Um dos temas de seus enfoques foi o toque estético dado ao Portal de Entrada do Cemitério. Em suas palavras “ao arquiteto Serafim Corso e ao construtor Carlos Zanota coube a responsabilidade de assinarem o projeto do portal de entrada, destaque aos anjos em relevo.
O local transformou-se em cemitério público em 1872, tendo anteriormente servido de espaço para que os protestantes enterrassem seus mortos. A instalação do portal foi proposta em 1906 e pode ter sido no postal do cemitério de Gênova, construção de caráter monumental.
O portal foi trazido da Alemanha e a epígrafe foi pintada pelo pintor piracicabano, Joca Adâmoli.
Irmã Margarida baixa à sua última morada na terra, quase ao findar do dia. Nós, amigos, parentes e professores nos despedimos e vamos em grupos, percorrendo as ruas, admirando, aprendendo e sentindo o carinho e o zelo com que artistas estrangeiros e filhos da terra cuidaram de nossos heróis, os cidadãos que contribuíram para o desenvolvimento da cidade, no sentido social, artístico e cultural.
E vamos, num constante deslumbrar, olhando os túmulos, obras de arte, que nos foram deixadas por exímios artistas, escultores de outras plagas e da cidade que fizeram de nosso Cemitério da Saudade um recanto de paz, uma exposição a céu aberto.
E vão desfilando à nossa frente os túmulos da família Dutra, artistas plásticos de renome internacional, Benedito Dutra e seu filho Rossini, Fabiano Lozano no encantamento de seus acordes musicais, Erotides de Campos com a magia de sua flauta e sua belas composições, destacando-se a Ave Maria, que encantou o mundo, Prudente de Moraes, o presidente inesquecível, em seu rico mausoléu. E tantos outros personagens ilustres de nossa história.
Artistas da cidade também deram a sua contribuição para perpetuarem nos muros externos do cemitério a sua inspiração, retratando nossas riquezas naturais.
Um eterno gozo de eternidade paira no ar, nesse ambiente de paz, respeito e carisma, oferecendo aos visitantes do cemitério-arte um novo olhar aos admiradores da arte e da poesia.