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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Lua Nova de Aquário




Clarice Villac
  
gestando perspectivas
de libertação
lúcida, diáfana, leve
sustentadas pela necessidade
da sinceridade plena
que se justifica
na originalidade dos sentimentos
que nascem junto com a gente

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Santa Maria, rogai por nós


Adenize Maria Costa

Noite de festa! Noite de alegria, de comemorações. Quem nunca foi numa festa em que ela seria “A Festa” e que se transformaria “Na Noite”: “A Noite” em que foi dado ou roubado o primeiro beijo, não importa, “A Noite” em que foi feito o tão esperado pedido de namoro, de casamento, quem sabe! Mas aquela foi: “A Noite” que entrou para a história...
Noite escura! Noite longa... Tantas noites escuras nós passamos e assim que o dia amanheceu só Deus sabe o quanto foi difícil reunir forças para prosseguir. Faz parte da vida? Sim, pode ser. A noite escura é aquela que a gente quer esquecer, que a gente reza para o dia amanhecer logo, assim quem sabe a sensação de ter despertado de um pesadelo ajude a esquecer mais rápido. A noite escura é marcada por tristeza, lágrimas, sofrimento, solidão...
A distância entre uma noite de festa, de alegria em noite escura é tênue basta “tomar um toco”, “um fora” como dizia na minha época, basta um fim de namoro, uma briga , uma discussão corriqueira com um amigo, basta um atraso, as vezes basta até alguém “da turma” desistir de ir na última hora... Essas pequenas e tolas situações podem tirar o brilho da alegria e podem, definitivamente, transformar a noite de alguém, principalmente dos jovens, numa terrível noite escura... Mas nada como um dia após o outro... O tempo é senhor de todos os remédios... Se a noite tornou-se escura por uma ferida “tão pequena”, relaxa! O Senhor Tempo vai curar com certeza!
Mas também tenho certeza que para todos nós, pais e mães, do mundo inteiro, uma noite de festa quando se torna noite escura pode tornar escura toda a nossa existência. É quando um filho, ainda jovem, com a vida inteira pela frente, cheio de planos para o futuro, cheio de saúde e de beleza sai de casa para se divertir e não volta. É quando se tem a sensação de ter sido desperto no meio de um pesadelo: de repente você está num ginásio, olhando um monte corpos e você ali, tentando identificar qual deles é o corpo do seu filho, da sua filha...
Que essa noite escura, que essa tragédia não caia no esquecimento. Que essa noite escura sirva de alerta...
Que todos os pais e mães que estão sofrendo as dores da perda que consigam vislumbrar um novo amanhecer em suas vidas, não é fácil, eu sei! Mas mirem-se no exemplo da Mãe de Jesus: Santa Maria, rogai por nós!

PRIVILÉGIO


Maria Cecilia Graner Fessel


Da janela de meu pequeno apartamento tenho uma vista que me alegra todas as manhãs, pois é um bairro com muitas árvores e assim também com muitos passarinhos. Até os barulhentos bandos de maritacas vem fazer suas revoadas por aqui! E quarteirão acima, do outro lado da rua, há uma antiga entidade beneficente que recebe crianças em tempo integral ou não, enquanto suas mães trabalham, creio que isso  faz já mais de 40 anos.
É uma pequena chácara cercada por muros e rodeada por novos conjuntos habitacionais mas que não se deixou sufocar pela expansão imobiliária. Há um prédio antigo, um grande sobrado com muitas janelas, talvez antigamente um orfanato, mas que nos dias de hoje deve englobar salas de aula, salas de recreação, biblioteca, brinquedotecas, administração
e outros departamentos necessários a quem acolhe dezenas de pequenos diariamente. Certamente terá refeitórios e salões para os dias de chuva.
Logo cedo vê-se lá um grande movimento de pessoas chegando, trazendo suas crianças ou entrando com seus carros para lá cuidar delas. Há então um período de calmaria,
talvez com um café matinal ou atividades internas e então vem a explosão de vida nos gramados que circundam o educandário!
De repente, os grupos de crianças, meninos e meninas vestidos em cores alegres, invadem as áreas verdes da antiga chácara, com seus gritos, sua pressa infantil de desfrutar os momentos de liberdade, de chegar primeiro aos balanços, gira-giras e escorregas da área de lazer, que a calmaria vai se esconder por trás das cortinas nas janelas vazias. Então ouço à distância o ranger das correntes num  nhécnhéc  contínuo enquanto cabecinhas de todas as cores surgem e desaparecem por entre os galhos das árvores baixas, ou giram velozmente
enquanto a roda vai virando. Também há crianças exploradoras, que ficam procurando galhos secos para brincar, ou chamam uns aos outros para ver algum novo ninho de pássaro nas grandes árvores mais antigas - parecem jabuticabeiras- ou simplesmente brincar de pega - pega pelo gramado.
Então volto a me ver em minha velha casa, com sua grande goiabeira perto do muro,
suas jabuticabas gigantes e lustrosas grudadas nos ramos, o pequeno gramado de minha mãe,
suas roseiras e lírios enfileirados, a parreira toda verdinha com seus cachos roxos amadurecendo, as cheirosas limas da pérsia  de meu pai , o grande gato rajado dormitando nas sombras e o tempo...ah, a lerdeza com que o tempo passava naquela época!
Depois um sinal chama as crianças, os balanços vazios inda ficam a balançar alguns segundos, o gramado suspira aliviado quando se vão os pezinhos que o pisavam, as árvores colhem o silêncio e as janelas agora emolduram atentos rostinhos afogueados...

domingo, 27 de janeiro de 2013

DOMINGO CINZENTO

(Foto Veja/Abril)


Daniela Daragoni Alves

Domingo triste, domingo cinzento
245 jovens almas partindo cedo demais
Sem aviso, sem uma segunda chance...
Almas que estavam conhecendo o sabor da juventude
Vivendo a alegria das amizades
A doçura dos romances.

Domingo triste, domingo cinzento
Como não ficar com a voz embargada
Como não chorar?
Se também sou mãe
Se também sou jovem
Se me dói o coração só de pensar...

Domingo triste, domingo cinzento
Um dia pra ficar num canto
Orando  pelas almas e pelas famílias
Um dia pra refletir sobre o quanto o nosso tempo é curto...
Um dia pra refletir sobre a vida.

sábado, 26 de janeiro de 2013

O que você está lendo?


Professor Zilmar Ziller Marcos

A maioria dos livros que leio, os leio no original inglês quando possível.
Em alguns casos, como este que estou lendo atualmente, não tenho noticia de que haja uma versão em português.
O que me atraiu nesse livro, além de ser o autor Francis Crick, prêmio Nobel co-decifrador da estrutura da molécula do DNA, foi o titulo "Uma Hipótese Surpreendente"(An Astonishing Hypothesis) e o subtítulo "A procura científica pela alma" (The Scientific Search for the Soul). Meu interesse aumentou ao ler na introdução que Francis Crick pretendia desenvolver a idéia de 'alma' relacionando-a com a nossa consciência de ser, explicando essa relação com o sentido da visão. A combinação desses três motivadores já seria suficiente para iniciar a leitura.
Entretanto, o sentido da visão tem intrigado-me há muito tempo pelo mistério a ser resolvido: a mágica realizada pelo cérebro de projetar uma imagem de volta ao local de origem da luz refletida pelo objeto. Com a curiosidade aguçada, dei uma olhada nas páginas do capitulo sobre a visão que bastou para confirmar meu interesse.
Pesquisando pela internet encontrei diversas revisões críticas sobre o livro de Francis Crick. Segundo um dos revisores, Ivan Yakovich, Dr. Crick desenvolveu seu texto como um extenso argumento para remover o caráter de espiritualidade ligado à alma.
O resultado dessas considerações é que minha leitura está sendo lenta, cuidadosa e com pausas para reflexão.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O que você está lendo?



foto arquivo
Rubens Leite do Canto Braga é autor do livro Basquete em Piracicaba.

Estou lendo “Comunidade Educacional das Trevas”, um alerta para pais, professores e alunos, dado pelo saudoso educador piracicabano Pedro de Camargo – “Vinícius” -, através de psicografia de Eliane Marcari.
            “Vinícius” fala de sua admiração e respeito pela consagrada educadora Martha Watts, de quem foi discípulo e que tanto o influenciou em sua formação e da solicitação para que o mesmo considerasse a possibilidade de um trabalho literário que discorresse sobre a educação de todos nós, enfocando principalmente a infância e juventude, experiência por ela vivida por tanto tempo e que abordasse sua continuidade pela vida eterna.
            Martha confidencia-lhe sua preocupação com o descaso de algumas famílias, educadores e autoridades para com esse importante assunto e “Vinícius” procura atender à solicitação de sua grande Mestra, que o autor chama de “Missionária do bem servir e do bem querer”.
            Em “Comunidade Educacional das Trevas” Pedro de Camargo, o “Vinícius”, procura explicar, através de um romance sério e repleto de ensinamentos, como uma plêiade de espírito abnegado trabalha para neutralizar as forças do mal e trazer de volta para as escolas os valores essenciais à evolução do ser humano.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Férias? Nem tanto o céu... Nem tanto o inferno!



Ana Marly de O. Jacobino

20 de Novembro! As notas já estavam publicadas. Excelentes, por sinal, tanto as minhas como as da minha irmã. Vovô Adão chegava de São Paulo descia na rodoviária e caminhava para a nossa escola. Fazer o quê? Ele se dirigia direto para a diretoria.
“Dona Salete, bom dia. Como está? Gostaria de saber como estão as notas das meninas, pois estou aqui para levá-las comigo para São Paulo de féria!?
“Tudo está muito bem e elas já passaram de ano somaram as melhores notas da classe, portanto, já as autorizo para sair de férias. Ah! Um dos responsáveis por elas deve aparecer por aqui, com os documentos pedidos para a matrícula.”
Nossos olhos brilhavam de alegria. Liberadas para as férias na casa dos nossos queridos avôs na capital de São Paulo, onde os passeios e as brincadeiras movimentavam a nossa vida.
Bem! Malas prontas as recomendações de práxis mamãe vinha com aquele pedido.
“Papai, por favor, as meninas precisam tomar o suplemento de vitaminas, cálcio e nutrientes essenciais para a saúde das suas netas.”
Vovô acentuava um sim, com a cabeça!
Eu olhava para a minha irmã e fazia uma careta. As férias a partir deste instante tornariam um horror.
São Paulo nos revelava novidades em cada esquina. Avenidas e ruas sendo construídos, prédios em construção, um verdadeiro canteiro de obras manipulando os nossos olhos. São Paulo tão volúvel em suas paixões, prédios históricos indo para o chão para apascentar a modernidade.
Os passos da vovó Irene pela grama do jardim nos alertavam!
“Meninas abram a boca.”
E, lá ia goela adentro uma colher de óleo de fígado de bacalhau. Caretas! Vovó nos presenteava com uma laranja lima para mascarar o sabor.
O tempo senhor da história e da memória trouxe aos meus olhos na noite de ontem, no momento em que comprava um suplemento de cálcio, aquela imagem tão conhecida… No rótulo um homem de terno e chapéu carrega nas costas um enorme peixe: Emulsão Scott (óleo de fígado de bacalhau).
Uma dúvida me acompanhou no caminho de volta para casa. Cheguei para a minha mãe e perguntei:
“Mãe, qual o motivo da senhora dar para a gente nas férias, óleo de fígado de bacalhau?!
“Aprendi com a minha mãe, que ele faz bem!”
Não consegui assimilar a resposta. Queria comprovação e fui perguntar para o farmacêutico. A partir do que ele falou vou voltar a tomar Emulsão Scott, ou melhor, óleo de fígado de bacalhau.
“O óleo de fígado de bacalhau é uma fonte grande de nutrientes essenciais, mas, difíceis de serem conseguidos na dieta dos nossos dias. Contém, ácidos graxos ômega-3, que é rico em vitaminas A e D pré-formadas, com pequenas quantidades de vitamina K, vital para a saúde do sangue e dos ossos.
“Hum! Deste modo fiquei com vontade de tomar uma boa colherada de óleo de figado de bacalhau. Pena, que ela não pode mais vir das mãos de minha saudosa avó Irene Giubbina!”

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

AGENDA DOS GRUPOS LITERÁRIOS PARA 2016




AGENDA DOS GRUPOS LITERÁRIOS PARA 2016
(Datas sujeitas a alterações)

Reuniões do GOLP – Grupo Oficina Literária de Piracicaba
Sempre na primeira quarta-feira do mês às 19h30 na Biblioteca Municipal

Fevereiro – dia 3
Março – dia 2
Abril – dia 6
Maio – dia 4
Junho – dia 1
Julho – dia 6
Agosto – dia 3
Setembro – dia 14
Outubro – dia 5
Novembro – dia 9

Dezembro – Confraternização – dia 10 às 15h na Biblioteca

Reuniões do CLIP- Centro Literário de Piracicaba
Sempre no último sábado do mês às 15h na Biblioteca Municipal

Fevereiro – dia 27
Março – dia   26
Abril – dia 30
Maio – dia 28
Junho – dia 25
Julho – dia 30
Agosto – dia 27
Setembro – dia 24
Outubro – dia 29
Novembro – dia 26

Dezembro - Confraternização dia 10 às 15h na Biblioteca

Reuniões intermediárias do CLIP
Sempre na primeira quarta feira após o dia 15, às 14h30  -  Rua Voluntários de Piracicaba, 994
        
                  Março – dia 16
                  Abril – dia 20
                  Maio - dia 18
                  Junho – dia 15
                  Julho – dia 20
                  Agosto – dia 17
                  Setembro – dia 21
                  Outubro – dia 19
                  Novembro – dia 16

 Dezembro - Confraternização dia 10 às 15h na Biblioteca

Sarau Literário Piracicabano  
Geralmente na terceira terça-feira do mês às 19h30 no Museu Prudente de Moraes Barros ou na ESALQ
  

Fevereiro - dia 16
Março - dia 15
Abril - dia 19
Maio - dia 17 
Junho - dia 21
Julho - dia 19
Agosto - dia 16
Setembro -  dia 20
Outubro - dia 18
Novembro - dia 22
Dezembro - data a ser agendada - sarau em Poços de Caldas 

Dezembro - Confraternização dia 10 às 15h na Biblioteca



Prosa & Verso


Não percam, toda semana, aos sábados, página inteira dedicada à literatura, poesias e eventos literários

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Toque de Ternura* - Poesia premiada de Leda Coletti


Leda Coletti

No barranco, a pedra enorme
de aparência tão disforme
sugeria ações vazias,
mascaradas fantasias.

Insinuava mil ardis
frieza, atitudes vis
aos que tinham ilusões,
que aqueciam corações.

Nela um dia cai semente
pequenina, tão somente
e por milagre viveu.
Então, linda flor nasceu.

Eis que o colibri chegou,
se encantou e a  beijou,
ósculo tão  demorado,
terno, muito apaixonado.

Neste instante criou-se elo,
o feio se tornou belo
e, na minúscula fenda
o amor se  fez oferenda.

*  Esta poesia recebeu Menção Honrosa no XIV Concurso Nacional de Poesias do Clube dos Escritores Piracicaba


domingo, 20 de janeiro de 2013

Parabéns a dona Dayr pelos cem anos



Jaime Leitão

Cem anos
não são cem horas
nem cem dias.
Cem anos
são o tempo largo e extenso
que alguns privilegiados alcançam
Dona Dayr
alcança a marca dos centenários
Como Niemeyer
dona Canô
 o cineasta Manoel de Oliveira
 e a minha tia Lourdes.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

TOQUE NO CORAÇÃO



Elda Nympha Cobra Silveira

João sempre se preocupava em prover uma vida financeira melhor para sua família e por essa razão pouco tinha convívio familiar com todos,  sua esposa procurava compreender,mas sentia muita falta desse relacionamento. Onde ficaram seus sonhos de parceria e companheirismo, formadores de um verdadeiro lar? Seus filhos pouco o viam e o sentia excluso de suas vidas. Ele diariamente saia com o raiar da aurora e só voltava com o luar, encontrando seus filhos ainda pequenos dormindo em suas caminhas. Só pensava na parte financeira, no consumismo, galgar um status condizente com a exigência da sociedade.
Ele pensava que a vida era efêmera e que era necessário se tornar realizado o mais breve possível, para poder gozar melhor sua vida com sua família e assim visando só vivia para o futuro e não vivia o presente.
Os seus sentiam falta do colo que acolhe,  a carícia de um olhar, um sorriso contagiante e a disponibilidade de trocas de amor e momentos lúdicos.
Certa noite pode chegar mais cedo em casa e ao passar pelo quarto do seu filhinho ouviu-o orando:- “Papai do Céu meu papai está vivo e não posso vê-lo, nem brincar  com ele. Ele só está comigo quando sonho com ele. Se ele morrer ele terá tempo para mim, como nos sonhos. ? Mas não quero assim!”
João ouviu tudo e emocionado percebeu que a vida era muito curta e que nada de sua vida teria sentido se não tocasse o coração das pessoas que amava, e que eram seu maior tesouro e davam sentido ao seu viver enquanto durasse.
Não era tarde para mudar e refazer seu modo de viver em família. O filho e sua esposa  ainda teriam muito com que se orgulhar dele e usufruir do seu amor.  

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Quando não se tem mais nada a dizer



 Olivaldo Júnior
            Seria tão bom se eu me calasse e nunca mais incomodasse a quem me odeia. No entanto, enquanto o canto rodeia, rompo a cadeia em que me pus, ou me puseram, não sei, há muito tempo na Terra. A terra tem um cheiro tão doce quando a chuva chega e se impõe sobre ela, molhando a dureza, o chão. Faz tempo que eu não molho a dureza do meu sertão. Faltam-me lágrimas, não? Sim, faltam-me gotas de orvalho íntimo, coração.
            A beleza, quando não se tem nada a dizer, fala por mim. O difícil mesmo é ser belo, é ser mais que o cerebelo, atingindo, em cheio, o irmão alheio, à mercê do nada. Nada é mais triste do que não se ter nada a dizer. A partir do nada, nenhuma estrada, nenhum tijolo pode ser posto. Vide o desgosto. A carência tem cara de quem não tem nada a ser dito. Quanto vale um coração bonito? Coração não é só feito de sangue e músculo, cadência e força. Coração tem flama na alma de quem o tem. Tenho tanta pena no coração que vou virar um passarinho. Mas não choro, não... Faltam-me as lágrimas.
            Quando não se tem mais nada a dizer, fala-se do tempo, de onde, quando, como e por que vai fazer sol, se é que vai fazer. Fazer falta é dizer ao próximo que você vale a pena. Pena que as palavras não dizem tudo. Tudo o que eu tinha a dizer me faz ficar quieto. Cala-te, boca... Boca não serve quando fala demais. Mas é vício de quem pode falar falar pelos cotovelos. Vê-los tão quietos me faz suspirar e pensar no quanto me esquecem. Prece não é só com palavras. Sai de mim a minha essência e percorre o espaço: é você? Se você sabe quem eu sou, por que não me diz nada? Sua ausência é vã.
            Vamos andar um pouco, viver um pouco, que a vida é breve, leve como um pássaro no azul. Azul é minha sina, não vivo sem ele. Amigo, quanto azul, no verde dos olhos a quem sobra esperança. Cansa um pouquinho, para um bocado, mas vai. Quando não se tem aonde chegar, chega-se assim mesmo. Queria tanto chorar, quem sabe, passava. Mas passo e lhe peço que se lembre de mim. Enfim, há milágrimas no paraíso.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O BEBÊ DA CRIS



Maria de Fatima Rodrigues

... veio sorrateiro,
tiquinho que quer ser gente.
Não vai demorar nadinha,
e logo vamos saber:
será ninhinha ou nininho?

- Mamãe Cris, não fique “baba”,
não vou te dar trabalho.... prometo!

Quero nascer neste mundo,
ue tá complicado... êpa, êpa.

Mas, nem tudo está perdido
neste planeta,
Tem nosso Criador,
que tudo conduz,

Só vou te levar Luz,
muita Luz!!

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Tempo de Faxina na Alma

Ano Novo, tempo de faxina na alma
Ivana Maria França de Negri




Fim de ano é tempo de limpar a alma. Assim como de vez em quando a gente faz uma limpeza geral na casa, arrasta móveis, esvazia gavetas,  arruma os armários, retira os tapetes, lava os lustres e janelas, sempre é bom faxinar o espírito. E não existe data melhor para fazê-lo do que no final do ano para recomeçar o próximo com ânimo renovado.
E como não sabemos qual será o último ano de nossa jornada por aqui, então é bom caprichar, como se fosse sempre o último.
Para que guardar mágoas, rancores e antipatias que nada trazem de bom além de enferrujar nosso  espírito? E assim como a ferrugem corrói e vai tomando conta de tudo, cultivar maus sentimentos vai corroendo a alma como um câncer que se espalha e fica difícil  conter. Desinfetar a alma de sentimentos ruins faz bem para a própria pessoa e para os que a cercam. Lavar e purificar-se por dentro faz parte da higiene. Não só o corpo precisa ser banhado. O espírito carece de limpezas periódicas. Nada deve ficar guardado por muito tempo, pois embolora, cria mofo e acaba nos aprisionando. É preciso se livrar das teias.
Varrer a tristeza é bem difícil, principalmente quando ela está impregnada nas dobras da alma por causa de pessoas queridas que partiram para outra dimensão. Mas podemos transformar a tristeza em uma saudade gostosa, relembrar as conversas e bons momentos vividos.
É preciso jogar fora a preguiça. Fazer exercícios, movimentar-se, aproveitar bem o tempo pois ele se escoa rapidamente. 
Quando nos damos conta, as crianças cresceram, os adultos envelheceram, os amigos se distanciaram e muitas pessoas queridas já empreenderam a grande viagem.
É hora de utilizar as boas ideias.  De que adianta ter muitas ideias se não as colocamos em prática?
E por último, dar ênfase ao abençoado trabalho. É preciso ocupar as mãos e a mente. Mas também precisamos deixar algumas horas livres para brincar com as crianças, cuidar das plantas e dar atenção aos animais de estimação.  Não é ociosidade ficar às vezes  balançando numa rede e lendo um bom livro. Isso renova as energias para outros trabalhos.
Nada de mau agouro, maus pensamentos, de pessimismo e pressentimentos ruins.
Deixar sempre o coração limpo e a alma livre para receber novos amores, novas amizades, novas experiências. A natureza nos ensina que é preciso desfolhar para florescer, podar para renascer e morrer para viver a verdadeira Vida. Feliz Vida Nova!

sábado, 5 de janeiro de 2013

O CANTO DO CISNE (Em homenagem ao Maestro Egildo P. Rizzi)


Uma das últimas fotos do maestro Egildo Pereira Rizzi com sua esposa Silvia ( no lançamento do livro da escritora Myria Machado Botelho - na Biblioteca Municipal - foto arquivo de Ivana Negri)

                                                                   Zilmar Ziller Marcos

UMA FRAÇÃO DE SEGUNDO, este é o intervalo entre comando do maestro e a resposta dos músicos da orquestra sinfônica. Esse pequeno lapso de tempo tem, no público já concentrado para apreciar as músicas do programa, o efeito de gerar, em suas mentes, uma premonição do que os seus ouvidos e sua visão captarão em seguida. Não há extensão de tempo suficiente para que esse registro subliminar se manifeste como uma expectativa consciente. Mas é esse pequenino intervalo, entre cada uma das combinações dos movimentos dos braços e mãos do maestro que, na sua continuidade e harmônica coerência com a sequência de notas produzidas pelos instrumentistas da orquestra, capta a atenção dos ouvintes e os coloca como cativos até o gesto final de conclusão da peça executada.
Esse efeito é sentido em sua plenitude pelas pessoas presentes que têm, já registradas em sua memória, as informações necessárias para interpretar os gestos do maestro. . O ouvinte já educado forma uma ligação com a sonoridade da orquestra através da “mis-em-scene” do maestro.
Aos seus movimentos de marcação de compasso, somam-se os movimentos do corpo, indicadores de ritmo e da expressividade que solicita continuadamente dos músicos.
E o apreciador, já sintonizado, vai captando esses estímulos, de cujo somatório resulta, no mais profundo do seu ser, no reduto de suas experiências anteriores, a sensação de estar vivendo um momento de sublime devaneio, que dificilmente poderá ser recontado a quem não o experimentou pessoalmente.
Já estive presente em diversos concertos, apreciei condução de orquestras e conjuntos regidos por diversos condutores. Todavia, ainda não me havia ocorrido interpretar a natureza da ligação que se estabelecia entre o público e a orquestra, e nem, também, questionar porque nem sempre essa parceria ocorria.
Essa fração de segundo, mencionada no título acima, tomou forma, como caminho para o entendimento, no dia 20 de dezembro passado, assistindo ao concerto “A Noiva da Colina”, no Teatro do Engenho “Erotides de Campos”. O programa, reunindo obras de destacados compositores piracicabanos, foi executado pela Orquestra Sinfônica de Piracicaba, com coral de vozes mistas e solistas para alguns números, sob o comando do Maestro Egildo Pereira Rizzi. Alias, entenda-se que, adrede à sua subida ao pódio para reger os músicos, já havia o Maestro laboriosamente preparado a decoração (arranjos orquestrais) de todas as peças do programa e os ensaios para o aprimoramento do recital.    
Conheço o maestro Egildo Pereira Rizzi há muitos anos, por isso não me surpreendeu vê-lo adentrar o palco com suas passadas cautelosas e exalando modéstia em doses desproporcionais à sua estatura. Percebo agora, que o que me surpreendeu, e provocou estas reflexões, foi vê-lo crescer e criar a impressão de que tinha o peso e o volume da orquestra em seus braços. Qual Davi transmutado em Adamastor, colocou o público todo em plena sintonia com as músicas apresentadas, pois nem uma só vez os aplausos espocaram inoportunos, foi sempre na deixa do maestro Rizzi. Todavia, oh Dor! Qual cisne ferido deu-nos sutilmente, ao final, um indício de que seria este o seu último canto.