Maria de Fátima Rodrigues
Saber falar, ser um orador é uma
arte, mas também um dom, assim como tudo que conseguimos aprender com
facilidade, e o fazemos com prazer. Acredito que seja porque já o possuímos em
nosso âmago, e muitas vezes somente descobrimos estes dons quando necessitamos
executá-los para uma tarefa, seja na escola, no trabalho, ou até mesmo
doméstica. Cantar, dançar, escrever, cozinhar, esculpir, desenhar, pintar,
administrar, fazer rir, representar, enfim, todas as artes que possamos
imaginar, muitas delas já estavam ali, bastando uma oportunidade para
“aflorar”!
Mas, existe algo inerente a todo ser humano que pode ser
despertado: saber ouvir! Não estou me referindo a escutar para aprender algo,
mas ouvir alguém a lhe contar algo, a desabafar um problema, uma dúvida, a lhe
contar como fez para resolver! E, incluo os profissionais que estudaram para
isso, como os psicanalistas, psiquiatras, psicólogos, terapeutas, assistentes
sociais, porque eles tiveram que aprender também, se é que realmente o
conseguem, há exceções, mas são poucos, esta que considero a mais complexa das
Artes!
Ouvir não é julgar atitudes ou dar conselhos. Ouvir, não é nem deixar o outro terminar de falar e começar a contar
outra história parecida que aconteceu consigo. Ouvir é uma arte que exige
sabedoria, equilíbrio emocional e acima de tudo amor incondicional ao próximo.
Exige experiência de vida e cicatrizes na alma! Ouvir é escutar o outro sem
julgamentos, pois cada um tem uma história de vida e suas atitudes foram ou são
tomadas de acordo com seus valores, não podemos fazer comparações com nada e
com ninguém.
É esquecer seus próprios
problemas e compromissos naquele momento, esquecer seu próprio ego, porque como
escreveu Khalil Gibran”... há os que dão pouco do muito que possuem, e fazem-no
para serem elogiados, e seu desejo secreto desvaloriza suas dádivas.”
A arte de ouvir... só poderão
utilizá-la, aqueles que aprenderam a ficar em “estado de graça”, e está ali apenas
com seu Deus Interior presente, e anular sua própria personalidade para estar
receptivo à do outro. Apenas isto, nada mais!
A humanidade está necessitando
mais do que nunca de pessoas que pratiquem esta Arte... e mais uma vez citando
Gibran:“... há aqueles que dão sem sentir pena nem alegria, e sem pensar em
sua própria virtude, assim como o mirto espalha sua fragrância, e
pelas mãos de tais pessoas Deus fala e através de seus olhos, Ele sorri para o
mundo.”
Acredito que saber ouvir seja a
Suprema Arte...o bálsamo para a ferida daqueles que precisam de cura física,
mental e espiritual!“Audi et alterem partem!”
(ouça o outro lado)