Esther Vacchi Passos
A casa onde eu nasci ficava
num sítio, feita de tijolos à vista, construída na beira da estrada. Era simples,
mas cômoda. Na parede da frente da casa e acima da porta da sala, a data escrita
em algarismos romanos, MCMXLVII, comum nas construções da época.
Na entrada do sítio, a porteira marrom
de madeira trançada, o caminho de terra batida onde passavam charretes, boiada,
que eu ficava olhando junto aos meus sete irmãos. Somente passava o carro que
levava as professoras à escola. O Sr. Eugênio era o motorista e um dos poucos
que tinha carro no bairro. O sítio, cercado com Pinhão Paraguai, dava frutos
que eram usados pela minha mãe para fazer sabão caseiro.
No jardim, minha mãe Olinda, plantava
flores e conversava com elas. No galinheiro, havia muitas galinhas poedeiras e um
galo que cantava na madrugada. Ele acordava meu pai Dante que levava frutas no
mercadão municipal. As frondosas mangueiras com seus frutos doces, onde as
crianças se lambuzavam “até os cotovelos” e também serviam para amarrar o
balanço de pneu. O terreiro de tijolos onde secava o café, feijão e milho,
servia para brincarmos de pega-pega e pula-corda.
No rancho, próximo ao terreiro de
tijolos, havia um poço com água cristalina e o tanque onde a mãe lavava as
roupas da família. Guardava ali também a carroça, ferramentas, milho no paiol, frutas,
cereais e uma moenda, de onde saía um delicioso caldo de cana caiana no fim de semana.
Havia também a cocheira onde ficava o burro e a égua. No domingo meu pai levava
os filhos para passear de charrete na casa da Nona Maria e o cão Joli fazia
companhia, em cima da charrete.
Na cozinha, o fogão a lenha deixava a
comida quentinha e gostosa. Dali saía o tradicional frango caipira com polenta,
as sopas “minestrones” e canjas no final de tarde. Minha mãe também fazia
bolachinhas de nata, bolo de fubá, crustoles e cufa, regados com chá de erva
cidreira.
Que saudade do cheiro da casa, da comida
do fogão a lenha, do quintal, dos animais, das frutas, das árvores frondosas, da
família e dos pais que já se foram.
Hoje, passo naquele local e sinto um
aperto no peito... Quantas recordações ali vividas. Resta apenas um terreno
vazio e abandonado. Os anos e momentos ali vividos ficarão guardados para
sempre na lembrança e passados de pai para filho e de filhos para netos...
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