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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Concurso Literário

De:
Biblioteca Pública Municipal de Piracicaba

Encaminho para ciência. Pode ser que tenhamos alguém interessado em participar do concurso
Um abraço
Lucila

Concurso para obras inéditas está com inscrições abertas


30 de setembro de 2010

Com informações do MEC

BRASÍLIA - Escritores brasileiros e de países africanos de língua portuguesa podem inscrever livros para a quarta edição do concurso Literatura para Todos que, neste ano, vai distribuir R$ 90 mil às nove melhores obras. As inscrições seguem até o dia 13 de outubro.

Para concorrer, os autores devem apresentar livros inéditos, dirigidos a neoleitores jovens, adultos e idosos em processo de alfabetização e matriculados em turmas de educação de jovens e adultos nas redes públicas da educação básica. Conforme o edital do concurso, as obras literárias devem ter narrativa atraente, favorecer o envolvimento afetivo e apresentar uma leitura do mundo.

A quarta edição vai selecionar duas obras dos gêneros: prosa (conto, novela ou crônica), poesia, texto da tradição oral (em prosa ou em verso); e uma obra de perfil biográfico e dramaturgia. Os concorrentes dos países africanos – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe – podem escolher uma das cinco modalidades.

As inscrições de autores brasileiros e africanos serão feitas com o envio dos originais. No Brasil, o livro deve ser enviado para o endereço: 4º Concurso Literatura para Todos – Ministério da Educação, Esplanada dos Ministérios, Bloco L, sala 209. CEP 70047-900 – Brasília – DF. Os africanos encaminham as obras para as embaixadas do Brasil em seus países.

Cada autor pode participar com um trabalho inédito, mas é admitida a co-autoria. Os originais devem ser apresentados em CD e em seis cópias impressas, em envelope único, lacrado e com pseudônimo. Está vedada a participação de servidores vinculados ao Ministério da Educação e de seus parentes. Professores das instituições federais, estaduais, confessionais e comunitárias de educação superior podem concorrer.

A página eletrônica da Secretaria de Educação Continuada, alfabetização e Diversidade (Secad) traz o Edital nº 5/2010 do ‘Literatura para Todos’.

Concurso

Criado em 2006, o concurso Literatura para Todos já selecionou 30 títulos nas edições de 2006 (dez livros), de 2007/2008 (nove, incluindo um livro que recebeu menção honrosa) e de 2009 (nove, incluindo uma menção honrosa. Desde 2008, a coleção integra o Programa Nacional de Biblioteca na Escola (PNBE) do Ministério da Educação.

http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2010/09/24/concurso-literatura-para-todos-ja-tem-comissao-julgadora-definida

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ourives de Rotinas

Ourives de rotinas
Carmen Maria da S. F. Pilotto

Armazenou por anos as pérolas do cotidiano e teceu um lindo colar. Guardado na caixa de veludo grená será utilizado a partir da aposentadoria.

PARABÉNS ESCRITORES DO GOLP - 1º ANO DO BLOG



Parabéns a todos os Escritores ontem  28 de setembro o Blog fez 1º ano de sucesso, esse é o primeiro de muitos.

Mara Bombo

Mil e uma...


Mil e uma...
Ana Marly de Oliveira Jacobino

A campainha toca bem na hora de uma das histórias de Malba Tahan. Vou atender. Fico sem reação, diante do que vejo! Bem à minha frente... um mercador árabe me oferece um tapete persa enrolado nas páginas das Mil e Uma Noites!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O passarinho dourado

O PASSARINHO DOURADO
Maria Emília Leitão Medeiros Redi

Faz muito tempo, muito tempo mesmo, em um pequeno vilarejo, ainda cercado por matas verdejantes, surgiu um misterioso pássaro dourado, cujo belo canto encantava a todas as pessoas.
Quem estava triste, desanimado, ao ouvir aquele canto sublime, ficava feliz novamente como num passe de mágica.
Então, as pessoas aproximavam-se da mata para contagiarem-se com a alegria inexplicável trazida pelo belo canto.
Mas, as pessoas não queriam só ouvir o canto do pássaro, queriam tomá-lo só para si.
Foi assim, que todos começaram a armar arapucas para aprisionar o pequenino ser de asas.
Em todos os lugares próximos das matas havia alguém disposto a aprisioná-lo.
Num belo dia de sol, onde no céu não tinha uma nuvenzinha sequer, o pequenino pássaro dourado foi apanhado em uma arapuca.
O Homem que tinha conseguido prender o pobrezinho, gritou bem alto:
- Agora quem quiser ouvir o canto mágico vai ter que me pagar com moedas de ouro. Vou ficar rico!
As pessoas correram para ver o pássaro dourado na gaiola em que o Homem o colocara; e, formavam fila, pagando dez moedas de ouro para poderem, assim, comprar o som mágico, que trazia a alegria e felicidade.
Mas, todos se surpreenderam... O passarinho estava encolhidinho na gaiola, tremendo de medo das pessoas, completamente silencioso!
O Homem ganancioso dava umas palmadas na gaiola e berrava: - Cante pássaro! Está me dando prejuízo. Se não cantar logo, arrancarei suas penas.
O pobrezinho se encolhia mais ainda. Tremia muito! O seu coraçãozinho fibrilava de terror.
Vinícius, um menino corajoso, de alma pura e coração bondoso, se aproximou do Homem egoísta e disse:
- Já que o pássaro não quer mais cantar, faça seu preço. Eu o comprarei com este saco cheinho de moedas de ouro.
Os olhos do Homem mau brilharam como diamantes lapidados. A ganância falou mais alto. E ele aceitou vender o pobre pássaro ao menino.
Quando o Homem entregou a gaiola ao menino, este a carregou com todo carinho e a levou para casa.
Vinícius tratou o pássaro com bondade e amor, dando-lhe o aconchego da paz e tranqüilidade.
Não demorou muito, o passarinho recomeçou a cantar.
Os habitantes da vila e arredores, vibravam de alegria com aquele som angelical.
Mas, Vinícius morria de dó de ver o pássaro dourado aprisionado. Acreditava que o pobrezinho cantasse mais por gratidão do que por vontade.
O que você faria se estivesse na situação de Vinícius?
Vinícius tomado de coragem e justiça, deixou de lado o apego que tinha pelo belo ser alado, e soltou-o da gaiola .
- Voe belo pássaro dourado! Voe livre pelos ares e encontre a sua alegria !!!
O pássaro voou pelo céu azul! Voou...voou...voou...
E... voltou a pousar no parapeito da janela.
Vinícius entendeu que era ali, ao lado dele, que o pequenino pássaro dourado tinha encontrado sua alegria.
E como acontece no final da maioria das estórias, os dois amigos foram felizes para sempre... Para sempre e ...mais um dia!

domingo, 26 de setembro de 2010

Doe Palavras


http://www.doepalavras.com.br/


Um movimento maravilhoso para levar mensagens de força a pacientes com câncer.
Vamos deixar lá nossa mensagem de carinho, de coragem, fluidos de amor e pensamentos positivos para quem está passando por provas muito difíceis.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Trem passado, memória presente

Trem Passado, Memória Presente (in Tardes de Prosa)
Aracy Duarte Ferrari

Parece que ainda está bem nítido o som do apito do trem, do atrito estridulante das rodas de ferro nos trilhos, o visual arquitetônico das estações, a locomotiva e os carros. A Maria Fumaça, do século XIX, famosa, histórica e majestosa máquina a vapor, dirigida pelo maquinista e seu ajudante, usava o carvão vindo das minas do sul do país como combustível para a caldeira e por muitos anos, permaneceu como o melhor meio de transporte.
Reporto-me ao trem de passageiros e às incontidas emoções vivenciadas no bar da estação e ao longo da plataforma, o lugar mais importante da cidade, que era o ponto de encontro da juventude da época. Para lá se dirigiam aqueles que iam realmente viajar, os acompanhantes, que lá estavam apenas para se despedirem e um número expressivo de moços e moças, que lá iam somente para flertar. Para mim era um feliz momento. Quanta alegria... as moças bem trajadas, em grupos de três ou quatro, proseando, sorrindo, extravasando sentimentos, olhavam os moços, que permaneciam encostados às paredes do saguão.
Aquele vaivém divertido tinha um ritmo ou uma cadência própria. A fala era tão intensa e vibrante que, misturada aos outros sons, assemelhava-se a uma orquestra sinfônica. Os assuntos eram tão agradáveis e as conversas, cujos ecos alcançavam grandes distâncias e respondiam prontamente às indagações juvenis, eram as melhores do universo. Expectativas... Sempre havia um clima de ansiedade no ar, quando o trem apitava ao longe e, depois de um espaço de tempo, vinha se aproximando e chegava... trazendo para os nossos corações, batendo acelerados, novas expectativas, emoções e sentimentos, que acabavam envolvendo os jovens que estavam na estação e os de dentro do trem. Ocorriam cenas gestuais, olhares entrecruzados e até bilhetes escritos, às pressas, em papéis improvisados, que faziam as vezes de cartas de amor, fiéis testemunhas do amor à primeira vista e até daquele amor acontecido.
Porque o trem ficava na estação apenas de cinco a oito minutos, quase sempre, o tempo em que se desenrolava esse affaire era mínimo, mas o “aguenta coração” era intenso. Antes de voltarem para casa, os jovens faziam uma pausa no bar da estação para relaxar e saciarem a sede com os refrigerantes mais famosos daquela época: a gengibirra e a lendária cotubaína, cuja fórmula fora inventada por Thales Castanho de Andrade, grande escritor piracicabano e precursor da literatura infantil. O refrigerante era tão doce como seu livro “Saudade” e saboroso como os sonhos juvenis.
Eram assim os encontros na Estação da Paulista: certos, porque tinham data e horário prefixados, e também incertos, porque só as expectativas podiam imaginar o que iria ocorrer e como tudo ia terminar. Eram sempre momentos de beleza e graça, muitas vezes derivados de um único e exclusivo encontro, que nem por isso deixavam de ser entremeados das lembranças das pessoas, dos intensos sorrisos e de expressões poeticamente apaixonadas.
Novamente a saudade...! Daquele tempo em que eu contemplava a chegada e a partida do trem, participava do encontro dos jovens. Sobrando para o amanhã apenas sonhos que perdu¬ram, mesmo depois de passarem por várias gerações, porque as ferrovias, ainda hoje, cantam as suas poesias, dizem as suas prosas carregadas de encantos... Sonhar... Ah! Sonhar até ver chegar o próximo trem de passageiros.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

As duas árvores (Conto)

As duas árvores
Plantadas há décadas lado a lado, floresceram juntas em muitas primaveras. Uma oferecia alvos cachos perfumados, e a outra, rubros pingentes que eram oferecidos pelos enamorados às suas amadas. Abrigaram ninhos de passarinhos, e em troca, recebiam a paz do seu canto. Assistiram ao milagre de molengas lagartas transformarem-se em belíssimas borboletas. Sustentaram balanços para alegrar brincadeiras infantis. Quando as crianças adolesciam, e faziam de seus troncos confidentes e desenhavam corações com os nomes dos seus amores, aceitavam tudo com serenidade. Até a dor das marcas riscadas a canivete. Suas flores enfeitaram mesas festivas, formaram buquês de noivas e acompanharam muitos dos habitantes até a última morada, participando assim de todas as etapas de suas vidas.
Encorparam, e suas copas pareciam querer tocar o céu enquanto a circunferência de seus troncos alargava-se. Quem as avistava de longe, pensava tratar-se de uma única árvore porque suas copas se misturavam. As raízes se entrelaçavam e as flores caiam juntas formando um macio tapete colorido.
Atravessaram verões dando sombra amiga aos passantes. Despiam-se nos outonos, desfloresciam nos invernos, mas sempre renasciam nas primaveras, quando então reinavam majestosas, florejando e espargindo deliciosos odores.
A cidade cresceu, o progresso chegou, modernas avenidas foram tomando o espaço do verde. Até que um dia foi decretada a retirada das duas porque estavam atrapalhando. Tornaram-se um estorvo porque impediam a construção de um novo viaduto.
Funcionários da prefeitura chegaram com suas motoserras e, sem piedade, começaram a podar os galhos. No chão, a hemorragia verde misturava-se com as folhas maceradas e os troncos recebiam pesados golpes de machado espalhando o cheiro concentrado da seiva fresca que vertia dos cortes. Ninguém se apiedou delas e nada fizeram para impedir seu aniquilamento. As duas agarraram-se mais ainda entrelaçando suas raízes num mudo protesto, um pedido de socorro que ninguém percebeu. Apenas uma brisa amiga soprou solidária. O sol escondeu-se atrás das nuvens para não presenciar o triste acontecimento. Nem a lua apareceu naquela noite e nenhuma estrela ousou iluminar o céu que se cobriu de luto. Depois de horas do ensurdecedor barulho das serras enlouquecidas cortando os troncos carnudos, os funcionários desistiram de arrancar as raízes. Cobriram-nas com concreto e comemoraram o término da árdua missão.
Passou-se muito tempo, depois da construção da moderna rodovia. O chão começou a trincar e tímida fenda deixou antever um frágil brotinho verde em meio ao negror do asfalto. Antigos moradores, os que ainda se lembravam das duas árvores sempre abraçadas, ficaram curiosos para saber qual delas havia sobrevivido. Seria a de flores vermelhas? Ou sobrevivera a de flores brancas?
Quando no ano seguinte a primavera chegou com toda sua tradicional exuberância, tiveram a grata surpresa. Nem vermelhas, tampouco brancas. Resultado do idílio amoroso entre aquelas primitivas almas vegetais, nascera uma árvore com as mais lindas e cheirosas flores como ninguém jamais havia visto! E eram todas cor-de-rosa...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Convite Cultural - Esalq USP



15ªSEMANA DE ARTE CULTURA DA USP E 20ª SEMANA CULTURA L DA ESALQ
PROGRAMAÇÃO




Se Cristo tivesse cachorro...

SE CRISTO TIVESSE CACHORRO
Camilo Irineu Quartarollo
http://camilocronicas.blogspot.com/

Quando Maria chegasse à tumba com a pedra movida, ouviria alguns latidos ou uivos, mas não, acho que haveria um cão tranquilo, embevecido, ainda ali, olhando ao alto.
São Francisco é considerado o santo dos animais e da ecologia. Acalmou o lobo de Gubbio, que vivia a molestar as pessoas. O santo estendeu a mão ao lobo, a quem chamava de irmão. Aliás, esse santo tinha mania de chamar a todos de irmão e não era carioca. Dizem os teólogos que o lobo em tela podia ser um político de maus bofes, uma pessoa e não um quadrúpede. Mas o santo se dava bem com animais, como mostram os santinhos, com pombas nos ombros e coisas do tipo e a Igreja o atesta.
Com relação a Jesus, as escrituras não trazem em cena se Ele tinha algum cachorro; bom, eu tenho. Não sei se foi uma omissão acidental ou de propósito, para não lhe associar a imagem a algum deus pagão, com a cara de cachorro. Bem, o meu cão não é nenhum Anúbis e não tem poder sobre ninguém que não conquiste pelo coração. Mas ainda lanço uma possibilidade de Ele ter tido um lá em Nazaré mesmo.
Os cães são domésticos desde há muito tempo. Mesmo Ele numa parábola o diz sobre um cão que lambia as feridas de Lázaro. Os cães se lambem e lambem os outros, se misturam e procuram restos de comida. Se o cão remete ao temperamento do dono, como se diz, pergunto como seria o cachorro de São Pedro? Medroso, claro. O cão de Tomé, desconfiado. O de João, amoroso. O de Judas, traiçoeiro. O de Pilatos, indeciso. O de Kaifás, acusador. O de madalena, observador. O de Maria, solícito. O de José, trabalhador. O de Jesus, sem coleira e obediente.
Na tentação do deserto o cão podia mostrar os perigos dos precipícios que o diabo queria lhe atirar, acalmar a fome com um pouco de carinho, uivar à noite e jejuar, porque o cachorro jejua enquanto o dono não volta para casa. O cão tem uma força de vontade maior que os humanos e uma humildade em pedir, incomum na nossa espécie. Quando preso no Getsêmani, talvez o animal não atacasse os soldados romanos como fez Pedro, ou nem renegasse, mas seguiria Jesus por qualquer fresta que encontrasse. Apanharia junto com os flagelos impingidos ao filho do homem; se enxotado, voltaria para consolar o divino mestre.
Se tivesse cachorro estaria ao pé da cruz entre as pernas de João e Maria com os olhares caninos para cima e para os dois, triste. Na deposição, estaria lá como atrapalhando a lavagem do corpo e a colocação de essências aromáticas, mas presente guardando o dono. Depois de selar a pedra da tumba todos foram embora, mas ele ficaria mesmo indesejável, assustando os soldados romanos que acreditavam em outros deuses. No sábado não comeria nada, nem beberia, os cães são assim. E no domingo da ressurreição, pilar da fé cristã, ele seria a maior prova, porque o cachorro não abandona o dono – a tumba vazia e o seu olhar para o alto destruiria o último argumento de roubo do corpo. Agora já aceitaria comida dada pelas mulheres e seguidores, sinal que Ele, Vivo, o acarinhou a cabeça ao sair da tumba

sábado, 18 de setembro de 2010

Época de Ilusões

Passeata de Calouros da Esalq em 1942 - Rua Governador
http://gazetadepiracicaba.cosmo.com.br/conteudo/mostra_noticia.asp?noticia=1706754&area=26010&authent=343361516243370176120535767272

Época de ilusões
Elda Nympha Cobra Silveira

Na época de formatura dos alunos de faculdade vem à minha mente casos passados de boca em boca sobre as moças de anos atrás, aparentemente mais indefesas e mais ingênuas e românticas, (comportamento provavelmente advindo dos filmes musicais americanos), principalmente as que viviam nas cidades de interior, com poucas opções de divertimento, que proporcionassem contato com os rapazes. Muitas estudavam em colégios católicos, onde as classes não eram mistas, os lugares de esporte também não e até na igreja havia separação entre homens e mulheres.
No interior não era comum as mulheres cursarem a faculdade, o mais comum era cursarem o magistério. Houve um tempo, por exemplo, que em Piracicaba só existia uma faculdade: a "Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", a querida "Escola Agrícola", onde os homens eram maioria. Assim os "agricolões" eram muito valorizados pelas moças casadoiras da época. Anos mais tarde vieram outras faculdades e essa mentalidade se dissipou.
Os calouros começavam a chamar a atenção das garotas já no "desfile dos bichos" cuja tônica era a irreverência, a descontração e a comicidade, pois não passava de uma arruaça feita pelos calouros bêbados, pintados, com as cabeças raspadas e fantasiados de gregos, Nero, Sansão e outros personagens de filmes americanos, ou travestidos de mulher, com roupas da mãe ou da irmã. Depois desse desfile seria o baile onde eram apresentados para a sociedade local
O trote aplicado nos calouros chegava muitas vezes à barbárie, pois muitas vezes, eles eram submetidos a coisas que poderiam comprometer sua saúde. Alguns veteranos exageravam nas brincadeiras de mau gosto. Muitos ganhavam apelidos a partir desse começo de vida universitária e praticamente seus verdadeiros nomes não eram usados até o final do curso. Moravam em republicas como até hoje fazem, mas eram verdadeiros inferninhos.
O bonde que fazia a linha da Escola Agrícola vinha lotado e tinha tantos pingentes, que precisava um bonde reserva para poder dar conta da moçada. Nenhuma moça podia usar esse bonde nesse horário, porque era bastante importunada pelos galãs de plantão.
O baile de formatura era o momento para muitos namoros que tinham se iniciado durante as aulas se consolidassem, porque após quatro anos de convivência com a namorada e com a sociedade local os jovens já estavam adaptados ao modo piracicabano de viver e não eram mais vistos como forasteiros. Muitos rapazes encontraram aqui suas futuras esposas, no entanto, algumas namoradas não tiveram a mesma sorte: viveram a expectativa de conhecer a família do namorado para concretizar o namoro e dançar com ele a valsa de formatura, mas desencantadas, restaram plantadas na sala, já vestidas e maquiladas, esperando...esperando...esperando...
Podemos imaginar como ficou essa moça que viveu de ilusões, criando castelos, pensando que ele era seu príncipe encantado, fazendo projetos para o futuro com ele a seu lado A família torcia por esse casamento por ser muito bom para sua filha, o rapaz freqüentava a casa deles e era considerado como um futuro genro.
No dia seguinte, triste e desapontada, ela ficou sabendo, que a família do namorado trouxe a noiva para dançar a valsa de formatura com ele... Então, ele nem precisava explicar mais nada. Foi melhor que ele se revelasse antes que mais tarde.
Ela sabia que fora melhor assim, Deus iria lhe dar uma outra oportunidade...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Convite Cultural


CENTRO CULTURAL MARTHA WATTS
Rua Boa Morte, 1257 - Centro
Piracicaba - SP - CEP: 13.400-140
Tel. (19) 3124-1889
VISITE WEBSITE: http://www.unimep.br/ccmw

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ouvir ou escutar?

Ouvir ou escutar?
Maria MadalenaTricânico de C. Silveira
Dona Bárbara era uma senhora idosa, que morava sozinha em sua residência, desde sempre.
Tivera muitos filhos e filhas, agora todos casados e morando em suas próprias casas e cuidando de seus filhos.
Como isso acontecia no início do século passado, os filhos fizeram uma escala: cada dia uma filha ou uma nora ia visitá-la e verificava se tudo estava em ordem. Faziam as compras, supriam a geladeira, cuidavam da limpeza da casa e das roupas.
Dona Bárbara era uma senhora muito exigente e era muito difícil uma serviçal contentá-la com os serviços domésticos. Enfermeira ou acompanhante? Nem pensar. Ela bradava aos quatros ventos que não precisava.
As filhas e as noras revezavam e se esmeravam cada vez mais na limpeza e ordem de tudo, porque dona Bárbara, muito querida, recebia muitas visitas, principalmente para pedir-lhe conselhos e orientações sobre convivência familiar.
Estava aproximando o seu aniversário e toda a família queria comemorar os noventa anos com uma festa para ficar na história, mas o destino interrompeu os preparativos.
Dona Bárbara estava cochilando em sua cadeira preferida, quando a filha foi chamá-la para vir à mesa tomar o lanche da tarde. Ela, no entanto, já estava com os anjos no céu; foi uma passagem abençoada.
Surpresa geral aconteceu quando começaram a arrumar a casa depois do velório, pois teriam de desmontá-la. Lembranças e emoções tomavam conta do ambiente. Todos procuravam alguma coisa, mas o que procuravam não estava mais entre os pertences.
Irene, a filha mais velha, sai do quarto da falecida com um caderno nas mãos e vai em direção das outras mulheres da família, que estavam na sala de jantar pensando e conversando sobre quem estaria agora, na linha de frente, isto é, quem lhe tomaria o lugar.
– Vocês não vão acreditar, mamãe deixou tudo escrito aqui! Ouçam só as determinações:
– Para Irene e Mila deixo a minha cozinha, pois elas sabem muito bem cozinhar. Aprenderam comigo!
– Para Dora e Vera, deixo minhas máquinas de costura, elas sabem o porquê. Para Ângela e a Maria deixo todas as roupas da casa, elas também sabem o motivo.
– Vamos logo. O que tem mais ainda.
– Para a Inês, minha nora, deixo todas as minhas jóias... as do cofre e até as que eu estava usando.
– ????????? Continue.
– Ela vinha me visitar e ficávamos conversando, escutava minhas histórias, tinha paciência comigo. Enquanto eu falava do passado ela limpava minhas correntes, pulseiras, anéis e até os brincos da minha orelha . Quando ia embora, me sentia uma princesa! Não! Uma rainha.
– Tem mais, os móveis, façam o que quiserem. Amo muito vocês, amo todos igualmente.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A última gota



A Última Gota
Lídia Sendin

A torneira pingando parecia acompanhar o tique-taque do relógio da sala. Por alguns segundos, sua atenção foi desviada para o dueto compassado, mas logo a mulher voltou-se para os afazeres na cozinha, desligou o forno, espiou a panela cozinhando lentamente, passou um pano na pia e cuidadosamente arrumou pratos e talheres na mesa.
Com a esperança renovada suspirou e sentou-se no sofá, olhos fixos no telefone, “ não toque, não toque”, pensou. Levantou-se, espiou pela janela tentando afastar os pensamentos indesejáveis, marido atrasado, dinheiro contado, cara feia e pouca atenção e a comida no forno desligado. Agora era seu coração que fazia dueto com os pingos na cozinha. Não conseguia fechar a torneira, emperrada como sua vida. O soar do telefone estremeceu seu corpo, não precisava atender para ouvir a voz do outro lado: “não vou jantar”.
Foi para a cozinha guiada pelo pingar da torneira. Desligou a chama do fogão e a esperança.
Entre dois pingos o avental estava no chão, o pente ajeitava os cabelos e o batom vermelho realçava sua boca.
Agora sua raiva foi forte o suficiente para fechar a torneira. O que ouviu foi a porta batendo atrás de si, era a última gota, para ela também.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

É Primavera e a Seringueira Vive!


(foto Cassio Negri - Texto publicado em 10/09 no Jornal de Piracicaba www.jpjornal.com.br)

É Primavera e a seringueira vive!
Ivana Maria França de Negri

Escrevi há alguns meses, um réquiem para a seringueira que havia sido decretada morta, lamentando seu triste passamento.
Inicia-se o mês de setembro. Ipês derramam suas flores atapetando as ruas e calçadas. A Primavera retorna pontualmente, chegando em sua carruagem florida e deixando um rastro perfumado à sua passagem. E tal qual a fênix mitológica, nossa seringueira se espreguiça da longa hibernação e mostra sinais vitais, tímidas folhinhas verdes brotando nas extremidades.
Passo por ela quase todos os dias. Fiquei extasiada com sua ressurreição! Até a faixa negra, em sinal de luto, que havia sido amarrada ao seu redor como um protesto mudo contra a violência a que foi submetida, se desabraçou da árvore e caiu por terra.
E o que ninguém imaginava aconteceu. É certo que no fundo, todos nós acalentávamos uma certa esperança velada de que pudesse acontecer um milagre
Regada pelas lágrimas dos piracicabanos que prantearam a sua morte aparente, ela venceu os algozes que planejaram sua execução.
Adubada com o amor deste povo que ama a natureza, ela direcionou as parcas energias que ainda restavam em seu cerne para entranhar suas raízes no solo e beber a seiva da vida que a faria renascer.
Os galhinhos tenros multiplicam-se rapidamente. Os passarinhos, felizes com o retorno das folhagens acolhedoras, cantam felizes nos galhos reverdecidos. É o milagre da vida acontecendo novamente, em suas mais variadas formas e manifestações.
Mutilada, perfurada, envenenada, ela não se deu por vencida e saiu vitoriosa. Seus ferimentos estão cicatrizados e as chagas fecham-se lentamente.
O prédio imponente da nova Biblioteca Municipal está praticamente pronto e faltam poucos detalhes para a mudança definitiva do antigo prédio. E quando ocorrerem as festividades de inauguração, a cidade terá dois acontecimentos para comemorar: uma biblioteca novinha em folha com estruturas modernas para abrigar os preciosos livros, e a ressurreição da seringueira que estará esbanjando vitalidade novamente.
Existem vínculos ancestrais e sagrados do povo com a terra. Mesmo com todo o aparato moderno e as construções cada vez mais sofisticadas, a ligação com a terra persiste na essência de cada ser.
Um dia, todos os invólucros que usamos se transformarão em pó e se misturarão com a terra. É quando todas as criaturas se nivelam num mesmo patamar. Oriundos de qualquer reino da natureza, todos os envoltórios, sejam de carne, vegetais ou minerais, se mesclarão tornando-se adubo da terra.
Bem-vinda Primavera!

sábado, 11 de setembro de 2010

Convite Cultural



O poeta Irineu Volpato, coordenador do "Poesia ao Vento" , convida para o lançamento do seu mais novo livro de poemas, na próxima sexta-feira no SESC Piracicaba.

Acordando!


Acordando!
Maria MadalenaTricânico de Carvalho Silveira

Carmem Lúcia e Luis Otávio tiveram o casamento que sempre sonharam. Começaram a namorar quando ainda estavam na faculdade de medicina, ela se especializou em pediatria, ele em ortopedia.
Tiveram uma juventude de muito estudo, mas também de muitas alegrias. Viajaram a passeio e também a congressos.
Pertenciam a famílias importantes e de grandes fortunas, e quando resolveram marcar a data do casamento já estava tudo pronto, arquiteto e decorador para providenciar a casa e tudo mais que fosse necessário. Foi o casamento do ano. Tudo saiu como tinham planejado.
Morena de olhos verdes da cor do mar, Carmem Lúcia, nunca passava desapercebida onde estivesse; em sociedade ou na clínica, em que trabalhava, era querida por todos.
Depois do casamento, sua saúde começou a ficar debilitada e ela sempre desconversava quando os amigos lhe perguntavam:
– Está resfriada de novo? A doutora cuida de todo mundo e não sabe que resfriado mal curado é perigoso?
As enfermeiras e as colegas de trabalho sempre se preocupavam, mas a família achava que o problema era o exagero da carga horária do trabalho.
– Para que trabalhar tanto? Você não precisa! Quando vocês vão me dar netos que eu tanto quero? – insistia a mãe da moça.
Carmem Lúcia desconversava e se atirava cada vez mais ao trabalho, cuidando com carinho de seus pequenos pacientes.
Para comemorar o primeiro ano de casados, foram fazer uma segunda lua de mel. Carmem Lúcia voltou mais doente, foi direto para a casa dos pais para ser cuidada pela antiga empregada sua querida confidente.
Após todos os cuidados, Carmem, procurou o advogado da família para propor uma separação. Deixou nas mãos do Dr. Manfredini a incumbência de falar com seu marido para que a separação fosse amigável.
– Como separação? O que essa moça quer? – diziam os sogros.
– Filha, você tirou sorte grande! Todas as moças da cidade queriam se casar com seu marido! Pelo amor de Deus!
Quando chegou o dia marcado, Luis Otávio assinou a separação sem fazer nenhuma exigência. Até hoje ninguém sabe como o Dr. Manfedini conseguiu, e nem vão ficar sabendo, pois fazia parte do acordo.
– Dr. Luis Otávio, não ficaria bem, para sua família e seus clientes, vir a público o porquê da separação, pois mesmo que o processo corra em segredo de justiça, os escreventes dos cartórios teriam acesso ao processo e passariam a comentar a sua tara, a qual possui desde a época de universitário, quando tinha relação sexual com cadáver e atualmente obriga sua mulher a tomar banho gelado somente para lhe dar prazer. Por isso, amigável Dr. Luiz Otávio?
– Sim. Amigável e em segredo.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Fábulas recicladas

Fábulas Recicladas
Elda Nympha Cobra Silveira

Um pai não imagina o quanto sua presença representa para o filho durante a infância. Lembrando-me do meu filho, quando tinha quatro anos, quantas recordações chegam de volta: suas perguntas, suas risadas, seu biquinho de choro... O seu super-herói era o Ciborg e sempre que perguntavam se seu pai era o Ciborg ele imediatamente, sem titubear, respondia: “Claro que é!”
Com o tempo as situações mudam, os anos avançam e as impressões que as pessoas deixam uma nas outras também se modificam. As pessoas de dignidade, de caráter impoluto não precisavam assinar documentos, bastava um fio da sua barba ou bigode. Elas eram respeitadas e se respeitavam, suas palavras valiam e se projetavam pela sua moral, intransigência no respeito à sua dignidade, na vigência de bons costumes e caráter sem jaça.
Hoje, se agissem assim, seriam ridicularizados e considerados ingênuos e indubitavelmente seriam enganados. O conto do vigário é passado pelos espertos nas esquinas dos bancos, enganando pessoas idosas e ingênuas. Centenas de telefonemas perturbam as pessoas o dia inteiro, para conseguirem seus dados pessoais, nú¬mero dos documentos, de cartões de crédito, das contas bancárias.
Muitos conseguem, por meios escusos, ludibriar os incautos. Não é nem mais necessário invadir uma casa ou apartamento: o roubo é feito pelo telefone, ou pela internet, muitas vezes da própria cela do presidiário. Por incrível que pareça com a anuência da pessoa crédula ou amedrontada pelas ameaças dos ladrões.
Os tempos hoje são como os da fábula do Lobo e o Chapeuzinho Vermelho ou do Lobo e o Cordeiro, é só reciclar o assunto para a atualidade, porque o lobo está também na política, na internet, nas propagandas enganosas, nos relacionamentos duvidosos, no desrespeito pelo ser humano carente, na liberdade tolhida pelo abuso do poder, no desrespeito pela infância, desrespeito às autoridades e vice-versa, no cotidiano enfim. Nas fábulas, o lobo astuto é prepotente e sempre procura uma desculpa para poder comer o cordeiro, a raposa para poder comer o queijo do corvo.
Nas suas fábulas que se mantêm vivas até hoje, Esopo, La Fontaine e Charles Perrault usavam personagens representados por animais para instruir os homens. A arte de unir pensamentos filosóficos com um assunto jocosamente abordado ainda é preservada até hoje no mundo inteiro. Entre nós, por Dalton Trevisan e Maurício de Souza.
Os professores sempre foram tratados com dignidade e respeito, pois essa sempre foi profissão considerada pela comunidade como exemplar. Os alunos os tinham como modelo de conduta e caráter. Hoje são ameaçados de morte, sujeitos a represália quando repreendidos e com a anuência dos pais que lhes tiram a autoridade no encaminhamento da boa educação e da disciplina.
Será que teremos de pensar como a raposa de Esopo, que, decepcionada com a altura em que as uvas se encontravam, desistiu de comê-las e as desdenhou com a célebre frase: “As uvas estão verdes!” Sim estavam muito longe do seu alcance, mas não do nosso! Teremos de pensar como a raposa porque não temos mais esperança de solução para os desmandos, a corrupção, os engodos governamentais, as falsas promessas, os crimes abafados pela propina? Ou teremos que pensar como ela porque certamente sempre seremos eleitores enganados por falsas ideologias, que nos são imputadas pelos meios de comunicação, que nos dão de quebra, violência generalizada e pouca cultura?
Não! Não! Não! As uvas estão maduras e podemos apa¬nhá-las, é só nos propiciarem uma escada.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Santo do Pau Oco

Santo do pau oco
Cassio Camilo Almeida de Negri

Desde o ciclo do ouro, estou aqui de pé, mãos abertas, braços semi afastados, que todos pensam estar abençoando-os.
Estou coberto de poeira nesta penumbra, cheirando a óleo de peroba rançoso, se é que óleo de peroba rança.
Já fui atacado por cupins que quase destruíram meu corpo de madeira.
Já fui furtado, jogado em um baú por muitos anos, até que voltei para cá, deste altar mor, dominando a igreja. Presenciei centenas de missas e muitas promessas fizeram aos meus pés, talvez o que mais recebi foram promessas.
Milhares de pessoas me prometeram mil trocas, como se eu fosse um negociante, prometeram-me novenas, todo dia nove, dezenove, vinte e nove, e sempre querendo algo em troca. Outras tentavam negociar comigo, prometendo ir daqui até não sei onde a pé, ajoelhados, carregando uma cruz, e mil e uma outras negociatas.
Mal sabem que nunca negocio nada. A pessoa faz por merecer. Não influencio em nada a lei da causa e efeito, pois se eu carregar a cruz de outrem, esse alguém nunca aprenderá as lições da vida.
Ouvi muitos confessarem seus pecados e, na hora de assumir a culpa, punham-na nas costas do diabo, dizendo que ele as tentou, buscando dividir responsabilidades. Ora, faça-me o favor, você tem o livre arbítrio e meu Pai, o Todo Poderoso, nunca iria criar um ser tão mau e quase tão poderoso quanto Ele. Por falar em maldades, estas não existem, no fundo, são apenas oportunidades para o homem aprender lições e se transformar, por isso um dia foi dito “quem tem olhos para ver que veja”.
O que hoje interpretamos como um acontecimento mau, pode amanhã ser um grande aprendizado.
Muitas pessoas já passaram por essas portas e bancos, com os olhos cobertos pelos véus das ilusões e poucos conseguiram retirá-los evitando que a visão ficasse turva.
Tanto trabalho tive, perguntei até à minha mãe:– “Quem é você mulher? Quem é você realmente?” E ela não entendeu na época, demorou muito até entender que não tinha alma e sim que era a alma, coisa muito simples, mas muito sutil.
Não tenho expectativas de ninguém, apenas cumpri e cumpro minha missão. Não espero recompensas, apenas faço meu trabalho.
No fundo do templo, a porta se abre, entra uma noiva lindíssima, olhos cor de anil, com um véu a encobrir-lhe a visão, e sorrindo, cheia de ilusões. Habitando aquele corpo, duas almas, uma como uma luz em sua fronte e outra ocupando a luz de seu útero.
O santo sorri e diz a todos os presentes na linguagem da intuição:
– Espero não ter dado pérolas aos porcos, pois para o santo do pau oco, mais importante é o oco, pois ai é que fica o tesouro.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O plano de fuga

O Plano de Fuga (in Tardes de Prosa)
Raquel Delvaje

Ainda fujo de casa! – falou Leinha para si mesma – Eles vão ver, ainda fujo e ninguém vai me encontrar, aí vão me tratar bem. Do jeito que mereço!...
Leinha se sentia injustiçada. Como sua mãe ainda poderia bater nela, estando já com oito anos, com certeza seria a última surra, pois fugiria de casa. Não ia admitir mais essa situação. Eles iam ver! Todos daquela casa iam ver!
Mesmo sentindo na pele a injustiça, de repente, ela começou a perceber que não era tão inocente. Tudo bem, dessa vez ela admitiu que extrapolou um pouco, mas foi só um pouco também. Diacho de Chiquinho, esse sim tinha sorte, aprontou em todas com eles e na última vez, justamente na que foram pegos, ele não estava lá. E sua mãe ainda disse: “Meu Chiquinho não faz essas coisas”. A menina pôde ver nesse momento a auréola de santinho na cabeça de seu primo, encolhido por trás da tia Sebéstina.
– Safado! Nem se manifestou! Ficou lá nos olhando enquanto éramos arrastados para a guilhotina. Para o calvário... – Falou, entre os dentes, a prima, já bastante furiosa.
Já fazia algumas semanas que o divertimento daquela turminha encapetada era jantar às sete horas e depois se encontrar, todos eufóricos, para dar uma volta. Quando chegavam em frente àquela casa amarela, com um pequeno arbusto na frente, paravam e começavam a jogar pedras. Se o proprietário ameaçava sair, eis que corriam feitos loucos. Iam para casa e se comportavam como verdadeiros anjos, pelo resto da noite. “Que crianças boazinhas”, todos comentavam. “Comportamento exemplar...” Pois era assim que ficavam depois de aprontarem o mal feito.
E olha que isso durou! O coitado do homem da casa amarela já não sabia mais o que fazer e reclamava para alguns vizinhos. Ele morava numa rua em que havia poucas casas, motivo pelo qual a molecagem foi aguçada.
E Leinha, seus irmãos, primo Chiquinho e mais alguns amiguinhos se divertiam com a adrenalina do medo de serem pegos, mas ao mesmo tempo imaginando que isso jamais aconteceria. E foi justamente naquele dia, única vez em que Chiquinho disse que não ia, pois estava estudando para a prova ocorreu o inesperado. Foi nesse dia que o homem da casa amarela, com um pequeno arbusto na frente, teve a sensacional ideia de se esconder atrás da pequena árvore. Surpresa para todos os capetinhas! Ao jogarem suas pedras, sai daquele montinho de folhagens o maior monstro que eles poderiam ter visto na vida e agarra, pelo colarinho, o Romualdo. O mais tímido e mais medroso dos irmãos.
– Ai! Ai! Ai!...
Foi só isso que a menina pode ouvir, pois correu tanto... Percebeu também que cada membro daquela sociedade secreta correu para um lado. Chegou em casa, entrou e viu os outros dois irmãos lá. Já quietinhos, mas brancos que nem papel. Romualdo, o terceiro irmão não estava. O coração ficou na boca, pronto para sair pra fora. Sentou no sofá; passava na tevê o desenho formiga atômica, mas ela não via nada e nem olhava para os outros dois. Tudo, naquele momento, pareceu uma eternidade. Quando ouviu palmas... não saiu! A avó atendeu. Passada mais uma eternidade de segundos, são chamados. Os três. E estavam lá: o homem da casa amarela segurando Romualdo pelo colarinho, a avó, a mãe, tia Sebéstina e... O primo, esse último, todo imaculado, com certeza já tinha ouvido os elogios de sua mãe: “Meu Chiquinho não faz essas coisas”. Não é preciso nem comentar os olhares de condenação que se seguiram, os sermões e depois a surra quando já estavam dentro da casa. E esse era o motivo da revolta da pobre menina. No íntimo sabia de sua culpa, mas seu orgulho estava terrivelmente ferido.
Decidiu pôr seu plano em ação. Fugiria! E para isso precisava preparar tudo. Ela juntou um saquinho com biscoitos de maisena e uma garrafinha de água. E guardou no fundo do armário, por trás de uns potes. Preparou atrás de sua casa, em um terreno baldio, o lugar em que ficaria para sempre. E estava pronto todo seu plano de fuga.
Depois disso, os capetinhas ficaram quietos por um bom tempo. Houve algumas pequenas diabruras, mas que não vem ao caso agora, pois nunca ninguém descobriu. O importante é que, por um grande período, Leinha não se viu mais injustiçada. Até se esqueceu de seu mirabolante plano de fuga, que só foi lembrado, quando sua mãe, limpando os armários, achou um saquinho com dez biscoitos de maisena totalmente embolorados e uma garrafinha de água:
– Que será isso? – perguntou sua mãe.
Leinha olhou:
– “Vô sabê?..”.
Se a mãe tivesse levantado o rosto e olhado para a filha, teria visto o rubor em sua face.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Patriotismo

PATRIOTISMO
Ruth Carvalho Lima de Assunção

JAPoneis tem quatro filhos...
Faz muito tempo a gente iniciava o hino da Independência da forma acima.Era uma gozação da criançada que se divertia, mudando as letras do nosso hino, escrito por D. Pedro, comemorando a nossa emancipação.
Outros tempos, quando os jovens ainda admiravam A Pátria pelo seu valor intrínseco, suas belezas naturais, suas riquezas, seus vultos históricos sempre lembrados.
Em datas comemorativas desfilavam com galhardia e respeito, numa demonstração de amor à Pátria. Nos dias de hoje desconhecem o hino de nossa emancipação econômica.
E política que irrompeu no gesto e brado daquele que foi nosso primeiro
imperador, fato registrado no célebre quadro de Benedito Calixto, grande artista plástico que o Brasil já teve.
Verdade ou farsa? Uma encenação dando ao príncipe a garantia do poder sobre a colônia que já vacilava e poderia passar para mãos alheias.? E foi aí que num gesto enfático o príncipe resolveu garantir a posse. Em hora oportuna, com sabedoria e perspicácia garantiu a Portugal a posse da terrinha.
Um sentimento de brasilidade foi tomando o coração do brasileiro. Agora tinham Pátria . O amor à terra foi crescendo. Agora eram brasileiros de corpo e alma.
Diferentes culturas foram se estabelecendo, a miscigenação e o potencial econômico do país favorecendo o crescimento e a ganância pelo poder de homens sem Pátria, sem Deus e sem leis.
Por trinta moedas, em nome do progresso, árvores centenárias vão dando lugar à cultura da cana , da soja e criação do gado, devastando florestas, favorecendo a emissão de gases poluidores, tendo como resultado o aquecimento de nosso planeta.
O poder, construído nos alicerces da devastação e miséria do povo, que bem disse o presidente está na m... vinga-se do homem, destruindo o planeta.
E agora as cabeças pensantes deste mundo que parece ser global querem encontrar a saída para esta situação estarrecedora, querem reverter o quadro que pintaram.
Primeira tentativa, um fracasso. Outras tentativas virão. Talvez seja tarde demais.
Mas ainda há um caminho de luz, de razão, de entendimento, de verdade.
Só acontecerá o imprevisível quando o homem baixar a cabeça, fartar-se de generosidade e destronar sua sede de poder.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

PRIMAVERA

PRIMAVERA
Elda Nympha Cobra Silveira

Existe no ar o prenuncio de primavera que chega tão de mansinho, quase sem percebermos. A mudança que caracteriza cada estação, aqui no Brasil não são marcantes como noutros países.
Estamos esperando a primavera e se tarda ou não, não quero me importar! O dia da libélulaila ou a noite da mariposa não perdem seu valor por ser breve essa fase de seu ciclo vital. A validade não precisa estar relacionada ao tempo, à durabilidade. Dás respeito ao momento presente no tempo e no e espaço por que o presente só é presente uma vez e num só lugar.
Quero ver as flores nos galhos que estavam hibernando, desprovida de folhas.
Quero sentir o cheiro da flor da laranjeira nos pomares, o perfume dos campos de alfazema do sul do meu país e ver os jardins floridos e as mini-roseiras encantando meu terraço. As vezes existe uma necessidade de estar só para poder usufruir sozinha, mais téte-à-téte a contemplação das flores, para extrair delas um dialogo intimo. Pois elas estavam aqui para nos dizer que tudo é cíclico e que cada fase tem sua beleza e seu significado.
Há hora de plantar e a hora de colher. Há hora de invernar e outonar..
A primavera é a estação da juventude da nossa vida, efêmera e fugaz, mas com toda esperança, espírito jovial e ilusões, beleza e alegria.
Podemos estar no inverno da vida ou no outono dela, sentindo o pulsar da esperança, ter um ideal despreocupado usufruindo apenas sem obrigatoriedade de um emprego ou educação de filhos menores.
Apenas deixar-se florir espargindo bondade, carinho e tolerância. É estar na fase outonal, mas florindo sempre, principalmente para si próprio. A primavera volta todos os anos e assim podemos tê-la dentro das estações da nossa vida.

domingo, 5 de setembro de 2010

Jogando conversa fora

http://ludovicosilva.blogspot.com/

JOGANDO CONVERSA FORA
Ludovico da Silva

Não se sabe se a velhice é um prêmio ou um castigo. É isso que se fala à boca pequena. Há uma razão de ser para que ela seja assim entendida. Acontece que se a saúde não passar por nenhum abalo pelos caminhos da vida, isto é, se a pessoa chega à terceira ou quarta idade em perfeitas condições físicas e espirituais tudo bem. Mas nem sempre é assim. O passar do tempo deixa marcas no organismo que exigem atenção, e a procura de um médico –– ou de vários –– é indispensável. Bem, daí são recomendações mil. Na alimentação, nos exercícios físicos, nas caminhadas, repousar cedo, evitar isto e aquilo e, principalmente, muito cuidado com as intempéries, sobretudo no inverno. Quando a pessoa chega na terceira idade ela leva nas costas a aposentadoria, merecida, afirmam, depois de algumas décadas de trabalho árduo. Mas, quando chega perto dessa situação, um sem-número de conselhos bate na sua cabeça, recomendações de amigos nem sempre bem aceitas. Dizem para tomar cuidado, porque parar de repente pode ser complicado. É preciso arranjar outro emprego, nem que seja leve, somente para ocupar espaço, preencher a vida ociosa que passará a ter. Pior quando falam que fulano bateu as botas depois de pouco tempo aposentado. Um outro bateu com as dez porque não agüentou tanta ociosidade. Um terceiro passou para o andar de cima porque ficou isolado, sem a companhia dos colegas de trabalho, e tinha dificuldades em fazer novas amizades.
Bem, acho que esse é um tipo de conselho extremamente desagradável. O primeiro pensamento que vem à cabeça do aposentado é poder gozar a vida, viajar, conhecer lugares nunca antes visitados, sem ter que levantar de madrugada, com horário estabelecido para entrar no trabalho.
E tem mais. Como é saudável para o espírito e para a mente reunir-se com pessoas, ainda que sem aquela amizade íntima, para prosear, jogar conversa fora! Falar de política, futebol ou mesmo amenidades para passar o tempo.
Uma passada por praças e jardins da cidade, nas manhãs de sol preguiçoso, é suficiente para preencher de uma maneira bastante alegre o tempo que uma pessoa precisa depois de aposentado.
Claro que os tempos são outros. Casais juntam-se as mãos, caminham sem muita pressa e ao primeiro banco à disposição sentam-se. Ficam a admirar o céu azul, as flores que enfeitam os jardins, a mansidão das andorinhas nos seus vôos sem destino ou mesmo a algazarra das crianças brincando nos escorregadores, balanços, gangorras, e se distraindo com outros brinquedos, sob olhares dos pais sempre atentos.
Duas senhoras de cabelinhos lisos e brancos conversam animadamente à sombra de frondosa árvores, uma segurando uma bengala, para qualquer eventualidade, e outra um guarda-chuva, prevendo mudança do tempo.
Avós levam os netos a passear, compram presentes, guloseimas, mesmo para os gordinhos, para o desespero das mães. Brincam com eles, distraem-se, voltam ao tempo de criança. Isso não é bom para um aposentado? O que não é bom é ficar isolado, triste, esquecido na cadeira do papai em um canto da sala, recebendo uma nesga de sol que se infiltra pelas frestas das janelas. Não poder assistir a programas da televisão porque os olhos teimam em diminuir a distância e os ouvidos pedem a proteção das mãos em conchas.
Jogar conversa fora também faz parte da felicidade de quem já cumpriu suas obrigações na vida. Depois, é preciso esquecer o ditado que afirma que é mais bonito o choro de uma criança que o sorriso de um idoso. Bonito mesmo é que ambos possam sorrir juntos.

Lei do Silêncio



Lei do Silêncio
Ivana Maria França de Negri

Sempre ouvi dizer que as leis são válidas para todos, indistintamente. Mas parece que aqui em Piracicaba essa regra não é respeitada.
O cidadão comum que paga os impostos pontualmente, certamente será enquadrado na Lei do Silêncio se fizer alguma festinha em casa. Mas os eventos culturais, que duram dias, às vezes semanas inteiras produzindo barulho infernal, estão isentos. Para eles, foi liberada qualquer extravagância, sem punição.
Em dias de eventos do calendário festivo da cidade, não se pode dormir. São altíssimos decibéis e bombas ensurdecedoras que varam as madrugadas. Azar de quem mora perto dos locais onde se realizam as festas.
O Legislativo Municipal aprovou um Projeto de Lei Complementar alterando a Lei do Silêncio, que é de âmbito federal. Eventos cívicos, folclóricos, culturais, recreativos ou religiosos, não precisam se preocupar com os ruídos que produzem. Podem adquirir microfones mais potentes e caixas de som cada vez maiores.
Mesmo sendo ilegal um município discordar de uma lei federal, a remodelação foi aprovada do mesmo jeito, com a desculpa de preservar tradições. Mas os ouvidos dos piracicabanos não serão preservados.
Total desrespeito ao cidadão que madruga para trabalhar e teria direito de dormir em paz para repor as energias para o dia seguinte. Mas quem se importa com o descanso do trabalhador? Quem se importa com o sono dos idosos?
Morei por muitos anos quase em frente a uma igreja muito barulhenta. Virava e mexia alguém pichava seus muros com dizeres tipo “Deus não é surdo”. Eles retocavam a pintura e prosseguiam com a barulheira.
Um poeta escreveu sabiamente os versos: “Na quietude das capelas Deus ouve nossas preces”. Grande verdade! Para que Ele nos ouça não é preciso gritar.
A Festa do Divino (nada tenho contra a festa em si, que fique bem claro, apenas acho que o som poderia ser moderado) inicia seu ritual bem cedo, às 6h da manhã. Morteiros estrondosos nos fazem acordar com o coração aos saltos. Por que tem que ser às 6h da manhã? E isso dura uma semana inteirinha. Azar de quem mora nas imediações do Engenho Central. E os pobres cães, que têm ouvidos muito sensíveis, se escondem sob a cama e ficam tremendo de medo com o rabinho entre as pernas. Talvez nem os encarregados de soltar os morteiros saibam o real significado do ato que executam.
Hoje em dia virou moda dizer que o que é cultural ou religioso deve ser preservado, não pode ser mudado ou profanado. Rituais religiosos que arrancam olhos e dentes de animais sem anestesia e os deixam sangrar até a morte, não estão inclusos nas leis de proteção aos animais. Em nome da liberdade de cultos e liturgias, as religiões de matriz africana ficam isentas de punição pela Lei de Crimes Ambientais. Nesse caso, a lei também não é igual para todos.
É preciso quebrar paradigmas. Se as novas gerações não os quebrassem estaríamos ainda, por conta da “tradição”, queimando pessoas nas fogueiras como na época da Inquisição e escravizando pessoas negras vindas da África.
Lamentável que o cidadão comum seja tão desvalorizado. Preservem-se as tradições! Que se danem os ouvidos e a saúde da população!

Concurso Cultural - Talentos da Maturidade

http://www.talentosdamaturidade.com.br/concurso
A cada ano, novas histórias, novas experiências

Talentos da Maturidade

Vamos juntos reconhecer e apoiar obras e iniciativas que fazem a diferença para cada um de nós e para a sociedade também.

Há 11 anos, o Concurso Talentos da Maturidade vem sendo marcado por novas e emocionantes histórias. E isso só é possível porque construímos essa iniciativa juntos: nós, os artistas com 60 anos ou mais e os amigos e familiares que fizeram questão de apoiar os participantes.

Criado em 1999, em homenagem ao Ano Internacional do Idoso, o Talentos da Maturidade é mais do que um concurso, é uma iniciativa transformadora que tem como intuito despertar um novo olhar da sociedade sobre a Terceira Idade.

Desde 2009, o site tem se tornado um canal de comunicação e interatividade direta dos participantes com todas as obras inscritas e com a história do Concurso. E mais ainda, permitiu a participação efetiva e o apoio do público em geral.

Para a edição de 2010 trazemos uma grande novidade: os participantes e o público sugeriram e juntos criamos mais uma categoria no Concurso, a de Fotografia. Afinal, acreditamos que esta é mais uma possibilidade para quem tem 60 anos ou mais poder mostrar o seu talento.

E é assim, ano a ano, que conseguimos, juntos, trazer novidades pertinentes que podem enriquecer ainda mais a experiência dos participantes.

Artes Plásticas, Fotografia, Literatura, Música Vocal e Programas Exemplares. Seja qual for o seu talento, inspire-se e inscreva suas obras ou prepare-se para apoiar esses grandes artistas. As inscrições vão de 15 de junho a 30 de setembro, e nós ficaremos muito felizes em contar com a sua participação.

sábado, 4 de setembro de 2010

No tempo do pó-de-arroz

NO TEMPO DO PÓ-DE-ARROZ
Ludovico da Silva
Não sei, mas as moças que fazem tratamento com cremes na atualidade, por certo, não têm conhecimento de como outrora eram utilizados os produtos para a limpeza e conservação da pele. Mas as jovens senhoras da década de quarenta do século passado devem bem se lembrar dos cosméticos usados na época. Bem diferentes das indústrias multinacionais de hoje, não havia tanta multiplicidade de escolha. O pó de arroz “Lady”, o ruge e o batom e praticamente só. Havia, também, o creme Rugol, desnecessário acentuar a sua finalidade, senão como preparado para mandar às favas as rugas. Esses produtos eram vendidos em lojas de armarinhos e boticas, usados para torná-las mais bonitas, claro, sobretudo, em festas familiares, como casamentos, batizados e missas, assim necessário sempre que um visual menos castigado pelo tempo o exigisse em qualquer comemoração. Até vendedores ambulantes, que perambulavam pelos bairros retirados da área central da cidade, sítios e fazendas, levavam em suas bugigangas esses produtos, além de botões, rendas, peças de tecidos de brim, colchetes, carretéis de linhas para diversos tipos de costura, dedais e outros tantos objetos de interesse das senhoras. Não raras vezes, na falta de moeda corrente, a venda tinha sentido de troca, como antanho acontecia, com ovos, frangos, galinhas, mesmo produtos hortifrutigranjeiros.

Hoje já existe um número incontável à escolha, inclusive no tratamento da face, colo e braços, tendo em vista as mudanças de clima, principalmente o sol inclemente que prejudica muito a pele.

Naquele tempo, as senhoras chegavam até o balconista das lojas de armarinhos ou das boticas e pediam uma caixinha, que era de papelão, do pó de arroz “Ladi”, assim mesmo, e não “Leide”, a verdadeira pronúncia, título dado a certas damas da aristocracia inglesa. Época em que os Farmacêuticos preparavam em seus laboratórios particulares, que ficavam nos fundos das farmácias, as poções recomendadas pelos médicos, para tudo quanto era doença. Por sinal, as farmácias tinham um aspecto muito próprio para a especialidade, armários envidraçados de madeira escura e uma espécie de divisória, mais ou menos de um metro de altura, com colunas artisticamente confeccionadas por marceneiros, que separavam no atendimento ao público. Claro, não faltava um banco para descanso enquanto o interessado aguardava o preparo do remédio ou até mesmo para bate-papos entre amigos, em momentos de descontração. Lembro-me muito bem disso, não estou enganado. Vale lembrar ainda que em todo início do ano os boticários distribuíam almanaques, muito procurados, como Capivarol, que trazia dicas as mais variadas sobre época de plantações, curiosidades, como uma carta enigmática, e Saúde da Mulher, dirigida exclusivamente às senhoras.

Na verdade, muito tempo se passou até que a vaidade feminina exigisse novos produtos, para sua satisfação, bem como atrativo aos jovens conquistadores. Então, a multiplicidade de bases para a aplicação dos produtos essenciais passou a fazer parte do consumo diário de uma forma mais atraente para mocinhas e senhoras de todas as idades.

Uma volta ao passado faz bem, não apenas como recordação de uma época muito especial para senhoras, mas igualmente tantas são as curiosidades, que, por certo, ficaram guardadas na história do tempo.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Prêmios e Homenagens

Ana Marly de Oliveira Jacobino, coordenadora do Sarau Literário Piracicabano, recebeu Medalha de Mérito Cultural, na área de Literatura, pela sua contribuição à cultura na cidade e região. O prêmio foi entregue pela Secretaria de Ação Cultural e teve outros laureados em outras áreas.
Carla Ceres esteve no Rio de Janeiro recebendo o prêmio a que fez jus pelo miniconto que enviou à ABL - Academia Brasileira de Letras, e obteve o segundo lugar, pelas mãos do ex-presidente da ABL, acadêmico Arnaldo Niskier. Participou do chá dos imortais ao lado de grandes escritores brasileiros. Parabéns para ambas, que elevam o nome da cidade de Piracicaba!

Aprendendo a viver

Aprendendo a Viver (in Tardes de Prosa)
Aracy Duarte Ferrari

Fazia já algum tempo que aquela senhora deixara para trás o casarão estilo neoclássico, no qual se encontrava uma valiosa biblioteca. Foi lá, numa tarde de inverno, ambiente aconchegante, saboreando o chá estilo britânico, que decidiu retirar alguns livros de autores consagrados. Tudo para dar um toque especial, cultural naquele exato momento.
Dos vários autores selecionados – José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, Castro Alves, José Marti, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Paulo Coelho, Sérgio Faraco, Caio Porfírio de Andrade, Olavo Bilac, Adélia Prado, Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Mario de Andrade, Fernando Pessoa e outros, tomou a decisão: — propôs com critério classificá-los para leituras futuras, enquanto que, para o dia, começou com o livro de Fernando Pessoa. Abriu-o aleatoriamente, saboreando um poema como a abelha faz ao sugar o néctar. Destinou maior tempo e reflexão para a estrofe:
“… E que é inútil apressar o outro, a não ser que ele deseje isso.
Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar”.
Saborear obras é como sentir a brisa bater em seu rosto na orla da praia, sentir o impressionante reflexo das luzes acesas a enfocar os cristais. É lindíssimo…
O poema floresce, são as palavras que fluem, brotam livres e soltas, despertam emoções adormecidas. Tudo acontece livremente sem coerção, sem aparato das arestas e nem ventos contrários que perturbem a pureza das sensações humanas.
Terminada a leitura da estrofe citada, analisou verso por verso, releu a biografia do autor, situou-se no contexto poético, às vezes mágico, e divagou a mil por hora. Bateu forte em seu ego e assimilou realmente a diferença entre “Eu” e o “Outro”, o limite da individualidade, o direito de ir e vir, a liberdade de expressão, respeito mútuo, sentimento de religiosidade, a existência de caminhos diversos e as diferenças de aptidões.
O importante também é saber que, o ontem aconteceu, é passado. O passado já não existe, o hoje é hoje, mas também findou-se; o futuro será o amanhã calmo, tranquilo ou turbulento, cinzento ou azul anil mesclado com fatos pitorescos ou carregado de situações traumatizantes, desgastantes!
Mas por que tantos questionamentos?
O ser humano é capaz de lançar seus pensamentos, ultra¬passar fronteiras bem além do horizonte. Saberá também discernir boas ocasiões, selecionar e eliminar barreiras que provocam distúrbios.
Não é necessário anexar ao viver limites e lapidações com qualquer tipo de instrumento para que o indivíduo tenha uma adequada formação. Para isso a condição “sine qua non” é ser livre em suas opções.
Assemelhar-se aos pássaros que voam alegremente, sol¬tos, livres, adentrando e explorando o espaço do reino vegetal. Todos os animais obedecem e interagem com o ecossistema numa relação harmoniosa, procurando fazer o que querem sem a ação impositiva inibindo-os ou acionando-os. Não precisam de reforços materiais externos e leis rígidas, obedecem a natureza!
A água do reino mineral (o rio), também livremente, assume a própria natureza corre em seu leito, umedece as terras que o margeiam, abriga os peixes, mata a sede dos animais, segue sua trajetória e continua descer rio abaixo abrindo seus afluentes. Obedece com rigor somente as leis da natureza, rejeita ações coercitivas impostas a ele.
Esse trinômio: o ser humano, pássaro e rio tem cada qual sua finalidade terrena e ações inerentes para exercê-las. Por exemplo, para assumir sua trajetória, o homem, ser pensante, afronta-se com as mais divergentes ações, porém, estando ele preparado e assumindo sua escala de valores, está com os parâmetros bem definidos para o bem viver. No entanto, é preciso entender muito destas afirmações: não julgar para não ser julgado, quando necessário erguer a cabeça, construir sólidos caminhos, distinguir anos de apeguismo barato, aceitar derrotas e saborear vitórias.
Não esquecer que amigo é sempre amigo, que Deus é onipotente, onisciente e onipresente, e a importância da família. Mas, cuidado com sentimentos interiorizados como respeitar a opinião pública, sem anular a sua, ter critério para julgar e resolver conflitos, que o dinheiro é a mola propulsora em economia, mas não na relação dual pessoa-pessoa. Aceitar suas limitações, lutar para o bem e não para atingir a perfeição, evitar erros gritantes, ter equilíbrio das emoções, distinguir as verdades lógicas e ontológicas.
Percebe-se muitas vezes as realizações interrompidas por imposições e apressamentos. Para tanto, não permitir a presença de ações ásperas que venham contestar a formação integral, humanista exigida neste século XXI.
É necessário constantemente estar atento, se preciso for, fechar as aberturas das interferências como imposições, lapidações, opressões que batem em desencontro com seu ideal e filosofia de vida. Lembrar-se constantemente da liberdade que age como um farol na postura humana. O farol, além de indicar a direção de algo, ilumina o cérebro.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Cartas de Amor III


CARTAS DE AMOR III
Elias Jorge

Querida, algo me preocupa no momento, quando me vejo envolvido por uma espécie de clareza que se atribui aos insanos. Escrevo minhas cartas a ti e, mentalmente, sinto receber as respostas. Sinceramente não sei como reagir a essa situação, se real ou irreal, se fruto da minha mente, ou das lembranças a que estou algemado. Estas me provocam e às vezes me machucam, pois o amor que jorrava de ti para mim jamais o percebi no melhor momento da vida. Desertor que fui de tuas virtudes, por castigo vivo agora o gelo do arrependimento. E por este vou cavando buracos no silêncio para esconder-me de mim mesmo. Mas em vão. Breve o cobertor do frio das horas paradas deverá me agasalhar. Beijo-te, retalhando meu coração com lâminas de amor, para que sintas o quanto te amei sem ter sabido demonstrar.