Falando um pouco de Maria Cecília M. Bonachella
Leda Coletti ( maio de 2007)
Leda Coletti ( maio de 2007)
M. Cecília escreveu o livro “Três Fases” na Primavera de 1978. Ele se assemelha a essa estação. À medida que vamos lendo suas poesias, sentimo-nos como num jardim enfeitado das flores mais belas. Até os pássaros nós ouvimos e muitas vezes um deles, o que canta tão bonito, parece triste nos seus trinados. Associamos esse jardim paradisíaco e o pássaro cantante, à menina, depois jovem e mulher Maria Cecília. A tristeza é uma constante em seus versos rendilhados por linguagem, na mais das vezes suaves, que demonstram grande sensibilidade artística. Eis como a cantou:
“Tristeza/ fui eu quem te chamou para companheira/ Nunca mais poderei pedir que te vás”... O mesmo sentimento é expresso em “O Outro Eu”: “No fundo de mim mesma/ procuro o outro EU. /Esta que ora vive/ é a que sofre./ A outra_ mais feliz_/ essa morreu”...
Apreciei demais o que Mello Ayres escreveu referindo-se à Poesia - Menina de Maria Cecília, nesse seu 1º livro: A escritora Maria Cecília “ anseia escalar o céu, para depois descer ao seu mundo, enriquecida de estrelas”:..São dela os versos que se seguem: “Voltar com elas/ com aquelas estrelas,/ ó Deus.../ Eu preciso trazê-las /para o meu mundo./ Eu preciso trazê-las...” Apesar desses versos serem escritos na sua fase de menina, vejo neles a Maria Cecília que conheci. Foi aproximadamente em 1993 que tive esse privilégio. Plena, na fase madura. O seu entusiasmo pela poesia era latente. Ela realmente trouxe essas estrelas para nós, através de suas oficinas, das quais tive a felicidade de participar de várias. Em cada uma delas, passava esse encantamento para nós principiantes. Sempre valorizou o pouco que fazíamos e incentivava lendo para os demais, versos que compúnhamos. Que felicidade quando descobria tímidas metáforas! Ela que era pródiga nessas manifestações poéticas tão ricas de significado! Algumas, dentre elas, uma que o próprio título já constitui uma preciosidade: “ Balada do lado errado”:...Quanto menor/ a janela/ menos sol/ a entrar por ela./ Quanto maior/ o silêncio/ tanto mais nítida/ a voz interior...Em “Poema” ...Quem pediu à tarde/ que se despedisse/ para o sono? Foi o mar/ com a sua maneira/ delicada de pedir as cousas,/ que roçou meigamente/ as rochas e as dunas/ apagando as luzes”.
Muito generosa para boa parte dos que gostam de versejar, nunca deixou de semear palavras. Eis o que escreveu para os participantes da coletânea Oficina 13, livrete editado após uma das oficinas ministradas por ela. “Bem aventurada palavra/ crivada mesmo/ de enigmas/ Bem aventurados treze poetas/ artífices do verso/ embora cruzes/ cravos/ credos/ permeiem seus caminhos/ e atalhos. Vésperas de luas/ tardes/ ou poentes/ enfeitam seus trabalhos”.
Nestas oficinas ensinou-nos algumas técnicas poéticas, mas sem quaisquer imposições. Frisava que cada escritor tem o seu próprio estilo e à medida que vai tomando gosto e se aprimorando na arte de escrever adquire o seu próprio e escolhe compor poesias com versos rimados, metrificados, ou livres. E, embora em seus dois livros escritos, predominassem os versos livres, nos últimos tempos ela nos brindou com belos sonetos. Um deles, escrito na última coletânea do CLIP, em 2004:
Decisão (2001):
Não vou mais escrever; é minha escolha.
Hei de deixar os meus papéis em branco.
_ Tirem da minha frente - agora!- a folha
ou eu mesma a rasgo, ou então, a arranco.
Qual garrafa ao mar tendo presa a rolha
ou caramujo enrolado, eu me tranco.
Esta mágoa não mais meu peito molha
estou sendo sincera, o gesto é franco.
Já nem mais quero rimas, ser poetisa;
o verso se despede e agoniza
sem remorso. É o que a alma determina.
Não tem lugar no peito, nada inspira.
Não, nada existe: amor, nem ódio ou ira.
Apenas se extinguiu, secou a mina.
Em “Era Uma Vez Um País” seu 2º livro, escrito em 1992, Maria Cecília expressa a sua maturidade poética. Aborda temas gerais, utilizando-se mais da linguagem cadenciada de versos livres, com destaque a rimas e ricas metáforas. Também vislumbramos em suas páginas a mesma inquietação dos anos da juventude, mas como bem disse o príncipe dos Poetas, Lino Vitti “há uma fuga em perspectiva, mas com vontade de ficar”...Diria que foi uma feliz travessia, detendo-se na história do ser humano, nos seus sonhos, erros e tentativas de acertos, testemunhados em:
“Procuro
O tema certo
e não acerto
a imagem
prisioneira de um sonho:
chego perto”.
E como autêntica cristã não deixava de priorizar “o desfecho de paz e vitória / como filme final de bom enredo”.
Muito teria para falar sobre a querida amiga, mas deixarei para outros colegas, que abordarão outras facetas maravilhosas de sua brilhante personalidade.
Ao término dessa página gostaria de homenageá-la através de trovas, pois devo a ela o gosto por essa manifestação poética, despertada numa de suas oficinas literárias. Inicialmente, com a de sua própria lavra, por ocasião do lançamento do meu livro “Ensaiando Trovas e Quadras”, em 2002, e após, as que lhe dediquei na passagem desta vida terrena, para a celestial.
Leda: mais uma conquista
Mais um livro seu de versos
Isso mesmo, Leda, insista
Nesses temas mais diversos.
Homenagem Póstuma à Escritora e Poetisa Maria Cecília M.Bonachella
(extraído do livrete “É hora de trovar”, de minha autoria, 2007)
Ela me ensinou trovar
O amor, paz, dor e alegria.
Mostrou que soube trilhar
A vida com galhardia.
Na Terra foi sol, brilhou
Semeando muita poesia.
Agora no céu virou
Estrela-luz que irradia.
A fé cristã abraçou
na terrena travessia,
morada nova ganhou
Com Jesus, junto à Maria.
Querida Leda, linda homenagem
ResponderExcluirA "Mãe -Poeta" merece todas as homenagens. Parabéns! Ana Marly
ResponderExcluirPARABÉNS, querida Leda! Voce é a porta-voz do carinho e SAUDADE que sentimos da nossa grande POETISA-AMIGA MARIA CECILIA MACHADO BONACHELLA! DEUS A ABENÇOE! E À MARIA CECÍLIA A NOSSA ETERNA SAUDADE! Abraços,
ResponderExcluirMaria Emília Redi