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terça-feira, 19 de novembro de 2024

Texto de Ignácio de Loyola Brandão em sua coluna no Estadão


 Mulheres e livros
Ignácio de Loyola Brandão

Para Marcelo Rubens Paiva, resistente, resiliente

 

Mesmo que ainda não seja o ideal, há algo de novo no mundo dos livros. Fiquei emocionado quando, terça-feira passada, vi quinhentas pessoas lutando por um espaço no SESC Pinheiros para assistir  Itamar Vieira  Junior conversar com Walter Hugo Mãe.  Brilhantes e bem humorados. Eu regressava  de  três cidades nas semanas anteriores em feiras organizadas por mulheres à frente de academias locais. Como Rosana Celidonio, em Pindamonhangaba e  Ivana Maria em Piracicaba, à frente de um grupo que se reuniu há décadas em uma oficina literária e está junto até hoje. Finalmente, Araraquara chegou a sua terceira Fli-Sol, graças a tenacidade de Bernadete Passos, que levou forte time de autoras, da portuguesa Ana Filomena Amaral a Djamila Ribeiro,  da Academia Paulista de Letras, fundamental  na luta contra o machismo e  o preconceito contra negros. Ela veio de Nova York, onde leciona atualmente. E ouvimos a  especialista em envelhecer, Lilian Lianga, chinesa de 50 anos, que conhece todas as zonas azuis do mundo, onde as pesssoas chegam aos 120 anos.. Sem esquecer o encontro com a trans Amara Moira que  teve uma recepção entusiasmada. Assombrosa pela cultura e humor.   Mais tarde,  ao meu lado no jantar,  Amara passou horas a explicar a um professor de  línguas os estranhos termos do romance “Ulisses”, de James Joyce. Tudo tão claro que decidi, de novo, tentar a leitura

Corri, comprei “Neca”, romance de Amara, e penetrei em uma linguagem “moireana”. Joyce perde. Sabem o que é  “ocó”, “nenar”, “equê”,  “ruela”, “tombar a necka”,”cli”. E dai em diante?

         E de repente, percebi onde começaram essas  feiras a fomentar a leitura. Com uma gaucha destemida,  que por quarenta anos,  mulher que  nós ,escritores de todo o Brasil  amamos Tania Rösing, ex- professora da Universidade de Passo Fundo, criadora das Jornadas de Literatura, que ao serem encerradas  há pouco  abrigavam a cada ano sete a oito mil pessoas na plateia, vindas do país inteiro. Não por acaso a cidade gaúcha registra o maior índice de leitura do Brasil. Mas o sucesso das Jornadas  provocou o ciúmes de um reitor que deu um basta. A jornada terminou, depois de centenas de milhares de escritores terem passado por ela.

         A batalha de Tania não foi em vão. Sua ideia se multiplicou em feiras e festas que explodiram pelo país, junto ao sucesso da Flip e da Feira que Paulo Werneck realiza no Pacaembu, cada ano maior.  Benditas Tanias, Flips, Wernecks,  Ivanas,  Rosanas, Bernardetes, Giseles (Fli Poços),  Dulces, Adrianas e  imenso cartel  feminino em Ribeirão Preto há mais de duas décadas.



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