Maria
Cecilia Graner Fessel
Crianças tem fases de interesse
por determinados assuntos que desafiam nossa capacidade de explicar. É preciso
não mentir jamais para elas, mas também tornar compreensíveis fatos e
acontecimentos que vivenciam.
Ultimamente, por diversas razões
(uma delas a morte de nossa gata Mila, com quase 20 anos), nosso neto de 4 anos
tem mostrado grande interesse sobre o que é morrer. E por vê-lo seriamente
preocupado com o tema , quis florear essa realidade chocante da vida - de que
todos somos perecíveis- com um enfoque ecológico. E assim lhe disse, usando uma
cena que ele mesmo já observara com muita preocupação, apaixonado que é por
máquinas em geral:
“ Você já viu esses carros velhos
que ficam amontoados num depósito ? O que acontece com eles? Vão enferrujando,
as portas vão caindo, a lataria vai desmanchando, um dia eles viram um monte de
ferro que vai esfarelando, esfarelando, até virar pó. E as árvores, elas também
não duram para sempre. Depois de dar flores ou frutas bastante tempo, elas vão
murchando, perdendo galhos, secando, até virar um monte de folhas e galhos
secos pelo chão...”
-E a Mila, vovó, como ela
morreu?
“Ela também ficou velhinha, as
pernas cansadas não queriam mais andar, ela não comia mais quase nada, foi
respirando cada vez mais fraquinho, fraquinho, até parar de respirar, e o
coração parar de bater”.
O menininho ficou ali parado,
pensando, depois :
-E por que a gente enterra os que
morrem, hein, vovó?
“ É que acontece a mesma coisa
que você viu no ferro velho...Quando um bicho, ou uma pessoa morre, eles não se
movem mais, não respiram mais, não ouvem mais, não fazem mais nada, igual a uma
árvore que caiu, só vão secando, secando, até virar pó, que acaba misturando
com o pó da terra...”
-Mas por que, vovó?
“ Porque a terra misturada com
esse pó, por toda parte, quando chove e a água penetra no chão, vira uma
mistura nova, muito boa para as plantas...”
- Para as árvores?!Mas como?!
“ As raízes das plantas chupam a
água que entrou no chão e essa mistura é tão boa que com ela as plantas fazem as folhas, as flores, as frutas, tudo
que é verde e bonito”
Satisfeito ou não, o menino
ficou pensativo até chegarmos ao parque da Agronomia, onde íamos passar umas
horas. Aí, quando pisamos no grande gramado do campus, rodeado de grandes
árvores, eu o ouvi falar baixinho, para si mesmo, com um certo respeito:
- Nossa...aqui embaixo deve ter
um monte de coisas mortas...”