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domingo, 10 de abril de 2022

CONCLUSÃO INESPERADA



Maria Cecilia Graner Fessel
                                                           
               Crianças tem fases de interesse por determinados assuntos que desafiam nossa capacidade de explicar. É preciso não mentir jamais para elas, mas também tornar compreensíveis fatos e acontecimentos que vivenciam.
               Ultimamente, por diversas razões (uma delas a morte de nossa gata Mila, com quase 20 anos), nosso neto de 4 anos tem mostrado grande interesse sobre o que é morrer. E por vê-lo seriamente preocupado com o tema , quis florear essa realidade chocante da vida - de que todos somos perecíveis- com um enfoque ecológico. E assim lhe disse, usando uma cena que ele mesmo já observara com muita preocupação, apaixonado que é por máquinas em geral:
               “ Você já viu esses carros velhos que ficam amontoados num depósito ? O que acontece com eles? Vão enferrujando, as portas vão caindo, a lataria vai desmanchando, um dia eles viram um monte de ferro que vai esfarelando, esfarelando, até virar pó. E as árvores, elas também não duram para sempre. Depois de dar flores ou frutas bastante tempo, elas vão murchando, perdendo galhos, secando, até virar um monte de folhas e galhos secos pelo chão...”
                  -E a Mila, vovó, como ela morreu?
               “Ela também ficou velhinha, as pernas cansadas não queriam mais andar, ela não comia mais quase nada, foi respirando cada vez mais fraquinho, fraquinho, até parar de respirar, e o coração parar de bater”.
               O menininho ficou ali parado, pensando, depois :
               -E por que a gente enterra os que morrem, hein, vovó?
               “ É que acontece a mesma coisa que você viu no ferro velho...Quando um bicho, ou uma pessoa morre, eles não se movem mais, não respiram mais, não ouvem mais, não fazem mais nada, igual a uma árvore que caiu, só vão secando, secando, até virar pó, que acaba misturando com o pó da terra...”
                 -Mas por que, vovó?
               “ Porque a terra misturada com esse pó, por toda parte, quando chove e a água penetra no chão, vira uma mistura nova, muito boa para as plantas...”
               - Para as árvores?!Mas como?!
               “ As raízes das plantas chupam a água que entrou no chão e essa mistura é tão boa que com ela as plantas  fazem as folhas, as flores, as frutas, tudo que é verde e bonito”
                 Satisfeito ou não, o menino ficou pensativo até chegarmos ao parque da Agronomia, onde íamos passar umas horas. Aí, quando pisamos no grande gramado do campus, rodeado de grandes árvores, eu o ouvi falar baixinho, para si mesmo, com um certo respeito:
               - Nossa...aqui embaixo deve ter um monte de coisas mortas...”

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