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quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

ARTIGO DE NATAL


                       

                                                                       Pedro Israel Novaes de Almeida

                  A vida de colunista colaborador é um martírio.
            Na semana que separa o Natal do Ano Novo, a exigência é escrever a respeito de temas relacionados à época. Nada relacionado à corrupção, safadagem, desemprego e política.
            Papai Noel é um verdadeiro herói. Percorre o mundo todo, obrigado a usar roupas pesadas, até em países quentes.
            Fabrica brinquedos sem o incômodo dos regulamentos que tratam de patentes, impostos e selos do Inmetro. A distribuição não está sujeita a qualquer alfândega, e o estacionamento é feito sobre os telhados, o que impede qualquer multa.
            O bom velhinho toma para si a culpa pela pãodurice de determinados pais, que enfrentam a reação dos filhos dizendo que a escolha foi de Noel. Tem dificuldades em selecionar presentes, nos tempos modernos, e nota o vertiginoso aumento de meninos que pedem bonecas e meninas que pedem estilingues.
            Em ano eleitoral, recebe estranhos pedidos, como Lula Livre, Fora Temer e Mito Já. Uma multidão resolveu encomendar um Habeas Corpus preventivo, em caso de condenação em segunda instância.
            Meninas e meninos encomendaram uma indicação segura, de aplicadores de silicone, principalmente em glúteos e seios. Noel estranhou o pedido de jovens, que encomendaram calças jeans previamente rasgadas.
            Garis pediram, desesperados, para não serem presenteados com os panetones de sempre, com uma uva passa a cada quilo de massa. Pediram também a distribuição generalizada de sacos de lixo grandes, pois já não suportam sair por aí, equilibrando saquinhos de supermercado.
            Entidades sociais, de defesa animal, emitiram notas de protesto contra os engraçadinhos de sempre, que confundem renas com veados, e pediram o apoio de Noel.  Algumas entidades imploraram que Noel passe a usar um helicóptero, livrando as renas de tanto esforço.
            Ambientalistas pediram ajuda ao bom velhinho, para a proibição de lampadinhas chinesas, nas árvores de Natal, que acabam sempre torradas. O Corpo de Bombeiros subscreveu o pedido.
            O pedido mais numeroso veio de pessoas do mundo inteiro, encomendando rojões que estouram nos fundilhos dos fogueteiros. Cães e gatos aplaudiram o pedido, clamando pela excomunhão dos idiotas que insistem na ridícula e doentia mania de soltas fogos sonoros.
            Migrantes fizeram pedidos mas não conseguiram informar endereços, mas Noel deve encontra-los, rastreando sofrimentos e incertezas. Pobres em geral fizeram a emocionante encomenda de cura das viroses, seguidamente diagnosticadas por médicos cubanos.
            A todos, um feliz natal, de preferência sem a visita das dezenas de cunhados, cunhadas e filhos, que se dedicam a um cansativo abrir e fechar de geladeira. A todos, um próspero Ano Novo, repleto de promessas de emprego e discursos.
            À Polícia Federal, desejo um ano trabalhoso, repleto de mandados de prisão, busca e apreensão. Consegui, afinal, escrever um artigo comentando o Natal e Ano Novo.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Deus Conosco



Lídia Sendin

Mais um Natal se aproxima,
Abraços, presença e luz,
Que ao mundo todo ilumina
E ao comércio seduz.

Hoje falamos de amor,
E de adeus ao Ano Velho,
Mas poucos veem o Senhor
Que nos trouxe o Evangelho,
Boas Novas de Esperança
Para um futuro de paz
E também boas lembranças
Do passado ele nos traz.

Num mundo de ansiedades,
Medos e depressão,
Há que buscar a verdade
No Cristo da Salvação.
E é nesse Jesus que renasce,
Que está o alivio da dor,
Pra quem nele permanece
Deus Conosco é o Senhor.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

VISITA DE TODOS OS DIAS



Maria Madalena Tricânico de Carvalho Silveira

O moço da guarita abre a chancela e como de costume, faço meu cumprimento e informo meu destino.
- Bom dia! Vou no Recanto dos Livros!
Vou dirigindo e admirando o paisagismo brilhante, resultado da chuva no dia anterior. Fico até com vontade de cantar, rezar e acabo agradecendo a Deus por tanta beleza.
Passando pelos corredores, vejo uma senhora alta, loira e bem vestida. Fico com vontade de conversar e antes que eu fale alguma coisa, ela me surpreende com sua simpatia.
- Estou esperando uma visita. Ele vem todos os dias! Você precisa conhecê-lo, vai gostar muito dele e seu nome é Cauam...vamos conversar um pouco ou você está muito ocupada?
Sentei numa cadeira ao seu lado, e antes que eu pudesse fazer qualquer pergunta, ela me questionou:
- Você é casada, teve filhos, quantos?
- Sou viúva, meu marido viajou antes do combinado para o andar de cima. Tive  duas filhas e dois filhos. Falo tive porque hoje estão casados e cuidam de mim. E a senhora?
- Ah! Então você tem netos?
- Tenho três netas,  cinco netos e mais os filhos de meus amigos que me chamam de vó. Já tenho uma neta casada. A senhora nasceu em Piracicaba? Faz tempo que é moradora no Lar?
-O que vocês fazem  lá no Recantos dos Livros?
- Nós recebemos os livros, arrumamos nas prateleiras conforme o assunto, limpamos e vendemos por preços módicos. Trazemos guloseimas para partilharmos com nossos colegas voluntários e com as visitas que vem comprar livros, CDs, discos de vinil ou revistas. No final do expediente, o valor arrecadado é levado para o presidente do Lar. A senhora não conhece nosso Recanto?
-Conheço...será que minha visita vem?!
- Gostaria de conhecer sua visita, mas tenho que voltar para minha missão. Meu pensamento começou a me questionar. Percebeu como só você falou? Ela só faz perguntas! Qual seria sua profissão quando ainda trabalhava? Crio coragem e pergunto!
-Eu? Ah! Trabalhei muito, muito mesmo e em tantos lugares. Nunca fui de ficar parada... e você qual sua profissão, fez faculdade?
Olho para ela e tenho certeza que foi jornalista. Olho com mais carinho ainda em consideração aos meus amigos jornalistas e a minha neta primogênita jornalista dos tempos modernos. Esta eu perdi...esta eu perdi! Vim ciente que ia escrever sua história.
- Me dê licença mas preciso ir. Outro dia conheço o Cauam!
-Não! Ele vem vindo...olhe que lindo...veja seu caminhar.
- Olho por todo o jardim e não vejo nada até que um cachorro de porte médio,  cor caramelo de olhos e pelos brilhantes, chega de mansinho e se aconchega bem perto de suas pernas.
-Ah! Meu amigo...como você demorou...
Observo a cena da senhora conversando com sua visita diária e percebo que ela esqueceu de mim e que minha presença se tornou desnecessária. Parece que estou vendo meu marido, mineiro das Minas Gerais, rindo e falando – Foi buscar lã e saiu tosquiada.