Pedro
Israel Novaes de Almeida
A vida de colunista colaborador é um
martírio.
Na semana que separa o Natal do Ano
Novo, a exigência é escrever a respeito de temas relacionados à época. Nada
relacionado à corrupção, safadagem, desemprego e política.
Papai Noel é um verdadeiro herói.
Percorre o mundo todo, obrigado a usar roupas pesadas, até em países quentes.
Fabrica brinquedos sem o incômodo
dos regulamentos que tratam de patentes, impostos e selos do Inmetro. A
distribuição não está sujeita a qualquer alfândega, e o estacionamento é feito
sobre os telhados, o que impede qualquer multa.
O bom velhinho toma para si a culpa
pela pãodurice de determinados pais, que enfrentam a reação dos filhos dizendo
que a escolha foi de Noel. Tem dificuldades em selecionar presentes, nos tempos
modernos, e nota o vertiginoso aumento de meninos que pedem bonecas e meninas
que pedem estilingues.
Em ano eleitoral, recebe estranhos
pedidos, como Lula Livre, Fora Temer e Mito Já. Uma multidão resolveu
encomendar um Habeas Corpus preventivo, em caso de condenação em segunda
instância.
Meninas e meninos encomendaram uma
indicação segura, de aplicadores de silicone, principalmente em glúteos e
seios. Noel estranhou o pedido de jovens, que encomendaram calças jeans
previamente rasgadas.
Garis pediram, desesperados, para
não serem presenteados com os panetones de sempre, com uma uva passa a cada
quilo de massa. Pediram também a distribuição generalizada de sacos de lixo
grandes, pois já não suportam sair por aí, equilibrando saquinhos de
supermercado.
Entidades sociais, de defesa animal,
emitiram notas de protesto contra os engraçadinhos de sempre, que confundem
renas com veados, e pediram o apoio de Noel.
Algumas entidades imploraram que Noel passe a usar um helicóptero,
livrando as renas de tanto esforço.
Ambientalistas pediram ajuda ao bom
velhinho, para a proibição de lampadinhas chinesas, nas árvores de Natal, que
acabam sempre torradas. O Corpo de Bombeiros subscreveu o pedido.
O pedido mais numeroso veio de
pessoas do mundo inteiro, encomendando rojões que estouram nos fundilhos dos
fogueteiros. Cães e gatos aplaudiram o pedido, clamando pela excomunhão dos
idiotas que insistem na ridícula e doentia mania de soltas fogos sonoros.
Migrantes fizeram pedidos mas não
conseguiram informar endereços, mas Noel deve encontra-los, rastreando
sofrimentos e incertezas. Pobres em geral fizeram a emocionante encomenda de
cura das viroses, seguidamente diagnosticadas por médicos cubanos.
A todos, um feliz natal, de
preferência sem a visita das dezenas de cunhados, cunhadas e filhos, que se
dedicam a um cansativo abrir e fechar de geladeira. A todos, um próspero Ano
Novo, repleto de promessas de emprego e discursos.
À Polícia Federal, desejo um ano
trabalhoso, repleto de mandados de prisão, busca e apreensão. Consegui, afinal,
escrever um artigo comentando o Natal e Ano Novo.
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