Maria Madalena Tricânico de Carvalho Silveira
O moço da guarita abre a chancela
e como de costume, faço meu cumprimento e informo meu destino.
- Bom dia! Vou no Recanto dos
Livros!
Vou dirigindo e admirando o
paisagismo brilhante, resultado da chuva no dia anterior. Fico até com vontade
de cantar, rezar e acabo agradecendo a Deus por tanta beleza.
Passando pelos corredores, vejo
uma senhora alta, loira e bem vestida. Fico com vontade de conversar e antes
que eu fale alguma coisa, ela me surpreende com sua simpatia.
- Estou esperando uma visita. Ele
vem todos os dias! Você precisa conhecê-lo, vai gostar muito dele e seu nome é
Cauam...vamos conversar um pouco ou você está muito ocupada?
Sentei numa cadeira ao seu lado,
e antes que eu pudesse fazer qualquer pergunta, ela me questionou:
- Você é casada, teve filhos,
quantos?
- Sou viúva, meu marido viajou
antes do combinado para o andar de cima. Tive
duas filhas e dois filhos. Falo tive porque hoje estão casados e cuidam
de mim. E a senhora?
- Ah! Então você tem netos?
- Tenho três netas, cinco netos e mais os filhos de meus amigos
que me chamam de vó. Já tenho uma neta casada. A senhora nasceu em Piracicaba?
Faz tempo que é moradora no Lar?
-O que vocês fazem lá no Recantos dos Livros?
- Nós recebemos os livros,
arrumamos nas prateleiras conforme o assunto, limpamos e vendemos por preços módicos.
Trazemos guloseimas para partilharmos com nossos colegas voluntários e com as
visitas que vem comprar livros, CDs, discos de vinil ou revistas. No final do
expediente, o valor arrecadado é levado para o presidente do Lar. A senhora não
conhece nosso Recanto?
-Conheço...será que minha visita
vem?!
- Gostaria de conhecer sua
visita, mas tenho que voltar para minha missão. Meu pensamento começou a me
questionar. Percebeu como só você falou? Ela só faz perguntas! Qual seria sua
profissão quando ainda trabalhava? Crio coragem e pergunto!
-Eu? Ah! Trabalhei muito, muito
mesmo e em tantos lugares. Nunca fui de ficar parada... e você qual sua
profissão, fez faculdade?
Olho para ela e tenho certeza que
foi jornalista. Olho com mais carinho ainda em consideração aos meus amigos
jornalistas e a minha neta primogênita jornalista dos tempos modernos. Esta eu
perdi...esta eu perdi! Vim ciente que ia escrever sua história.
- Me dê licença mas preciso ir.
Outro dia conheço o Cauam!
-Não! Ele vem vindo...olhe que
lindo...veja seu caminhar.
- Olho por todo o jardim e não
vejo nada até que um cachorro de porte médio,
cor caramelo de olhos e pelos brilhantes, chega de mansinho e se
aconchega bem perto de suas pernas.
-Ah! Meu amigo...como você
demorou...
Observo a cena da senhora
conversando com sua visita diária e percebo que ela esqueceu de mim e que minha
presença se tornou desnecessária. Parece que estou vendo meu marido, mineiro
das Minas Gerais, rindo e falando – Foi buscar lã e saiu tosquiada.
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