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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

JORNAIS DE OUTRORA

                       
                                                           Pedro Israel Novaes de Almeida

            

            Os jornais de outrora são inesquecíveis.
            O envio, hoje realizado pela internet, era feito pela colagem do material datilografado em grande papel branco, levado pessoalmente à gráfica. Articulistas, forçosamente datilógrafos, eram fregueses contumazes dos aparelhos de fax da região.
            Ao traduzir o texto do fax ao papel branco, funcionários, não raro, e sempre inadvertidamente, acabavam trocando ou omitindo palavras. Autores tinham grandes dificuldades em explicar que Deus não é mau, e o bandido nem sempre é bom.
            A coluna social era intensamente vigiada, para evitar comentários que podiam gerar confusão, bem como fotos em que apareciam, em destaque, autoridades e respectivas amantes.
            A coluna policial não tinha as frescuras de hoje, em que o cidadão preso em fragrante, réu confesso, deve ser nominado simplesmente como “suspeito”.    
            Na parte dos esportes, as derrotas da equipe local acabavam sempre creditadas a erros de arbitragem ou má fase. As cartas à redação eram publicadas quando não quilométricas.
            Era preciso verificar se tais cartas eram de fato manifestações espontâneas ou mensagem encomendada pelo elogiado. Erros de português eram consertados, quando possível avaliar a mensagem enviada.
            Colaboradores não se cansavam de enviar artigos, alguns maravilhosos e outros sofríveis. A recusa na publicação de algum artigo podia significar a perda de um leitor, até mesmo anunciante.
            Nas redações, o ambiente era de correria e camaradagem, e todos, com raras exceções, viviam em virtuosa pobreza. Quando do fechamento da edição, não faltava algum curioso para a elaboração do horóscopo.
            Os proprietários de jornais das pequenas e médias cidades pareciam andar uniformizados: um surrado paletó, um carro quase aposentado, papel e caneta. Ainda hoje, o responsável pela coluna social, ou política, é a chave  do sucesso de jantares e promoções do jornal.
            Naquele tempo, havia a convivência pacífica entre adeptos de diferentes ideologias, e hoje notamos a crescente partidarização das redações, com enorme perda de qualidade e confiabilidade da publicação.
            A partidarização é uma ameaça constante a rádios, TVs locais e jornais, iludindo leitores, autores e anunciantes, até ganharem a fama de “parciais”, caminho certo ao descrédito e até encerramento de atividades.

            As redações são ambiente estressados e felizes. Continuem !

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