Pedro
Israel Novaes de Almeida
Os
jornais de outrora são inesquecíveis.
O envio,
hoje realizado pela internet, era feito pela colagem do material datilografado
em grande papel branco, levado pessoalmente à gráfica. Articulistas,
forçosamente datilógrafos, eram fregueses contumazes dos aparelhos de fax da
região.
Ao
traduzir o texto do fax ao papel branco, funcionários, não raro, e sempre
inadvertidamente, acabavam trocando ou omitindo palavras. Autores tinham
grandes dificuldades em explicar que Deus não é mau, e o bandido nem sempre é
bom.
A coluna
social era intensamente vigiada, para evitar comentários que podiam gerar
confusão, bem como fotos em que apareciam, em destaque, autoridades e
respectivas amantes.
A coluna
policial não tinha as frescuras de hoje, em que o cidadão preso em fragrante,
réu confesso, deve ser nominado simplesmente como “suspeito”.
Na parte
dos esportes, as derrotas da equipe local acabavam sempre creditadas a erros de
arbitragem ou má fase. As cartas à redação eram publicadas quando não
quilométricas.
Era
preciso verificar se tais cartas eram de fato manifestações espontâneas ou
mensagem encomendada pelo elogiado. Erros de português eram consertados, quando
possível avaliar a mensagem enviada.
Colaboradores
não se cansavam de enviar artigos, alguns maravilhosos e outros sofríveis. A
recusa na publicação de algum artigo podia significar a perda de um leitor, até
mesmo anunciante.
Nas
redações, o ambiente era de correria e camaradagem, e todos, com raras exceções,
viviam em virtuosa pobreza. Quando do fechamento da edição, não faltava algum
curioso para a elaboração do horóscopo.
Os
proprietários de jornais das pequenas e médias cidades pareciam andar
uniformizados: um surrado paletó, um carro quase aposentado, papel e caneta.
Ainda hoje, o responsável pela coluna social, ou política, é a chave do sucesso de jantares e promoções do jornal.
Naquele
tempo, havia a convivência pacífica entre adeptos de diferentes ideologias, e
hoje notamos a crescente partidarização das redações, com enorme perda de
qualidade e confiabilidade da publicação.
A
partidarização é uma ameaça constante a rádios, TVs locais e jornais, iludindo
leitores, autores e anunciantes, até ganharem a fama de “parciais”, caminho certo
ao descrédito e até encerramento de atividades.
As
redações são ambiente estressados e felizes. Continuem !
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